PRÓLOGO - O início do plano
Kayra Selik
Ninguém estava pronto para a morte dele. Muito menos eu.
O céu está cinza e não porque vai chover. Não há nuvens pesadas lá em cima, mas tudo parece apagado hoje. Cinza como o gosto amargo na minha boca. Sem cor, sem brilho, sem energia.
Nada.
Meu pai, Selman Selik, está mortö.
E enquanto o caixão desce lentamente ao chão, como se até a terra estivesse relutando em recebê-lo, uma lágrima quente escorre pelo canto do meu rosto. Não choro aos prantos. Não grito. Não me desespero.
A dor aqui dentro é silenciosa, mas devastadora.
Ele é enterrado como um sultão. Com honra, com discursos longos de falsos aliados. Eu vi homens que nunca gostaram dele prestarem homenagens de cortar os pulsos. Falsidade embalsamada em palavras doces.
Mas eu estava com ele.
Eu, a filha mais velha. A única a quem ele mostrou esse trono com os olhos abertos.
O meu pai não era apenas o líder da família Selik. Ele era o coração que fazia tudo pulsar. E talvez por isso ninguém jamais esperava a sua morte. Muito menos eu.
Foi rápido. Um infarto, disseram. Ironia c***l para quem passou a vida escapando de balas, venenos e facadas. Morreu sozinho no seu escritório, o lugar onde passamos tantas noites, quando eu o observava revisar mapas, contratos, registros da rede subterrânea que sustentava tudo.
Lembro da risada dele.
Lembro do jeito como me ensinava a segurar uma faca: “não com medo, Kayra… com intenção”.
E lembro também do aviso:
“Não vá querer demais, minha filha. Eles nunca vão deixar.”
Eles. Os homens desse conselho medieval. Donos de anéis de ouro e túnicas bordadas. Aqueles que acreditam que uma mulher nasceu para servir chá, gerar filhos e abaixar a cabeça.
Hoje, diante da cova aberta, eu sei exatamente o que vai acontecer: não vão me deixar herdar nada. Vão querer me calar com um casamento arranjado e tomar o poder como abutres em volta da carniça.
Mas eu não vou permitir.
Já tenho o plano. Já tenho o nome. Emir Selik.
Um filho ilegítimo, criado fora da Turquia, forjado com sangue e documentos antigos que ninguém ousaria questionar.
Eu serei esse filho. Não como Kayra, mas como Emir.
Frio. Cauteloso. Mortal.
Vou observar, vou ficar quieta como a pólvora antes da explosão.
Mas sei o preço: para ser Emir, preciso enterrar Kayra. A filha, a mulher, os sonhos de liberdade que um dia ousei ter.
E talvez essa seja a parte mais c***l da minha herança.
Porque se meu pai morreu sozinho em sua cadeira de poder, eu vou morrer no trono.
Mesmo que, para isso, eu precise matar a última parte viva de mim.
- OBS: A plataforma censura algumas palavras e a forma que eu evito isso é usando o trema (Ä) esses dois pontinhos em cima. Assim, vocês não ficam perdidos. Me siga no inst @aut.gsilva
AVISO: NÃO TEREMOS CENA DE ESTUPRÖ, NÃO TERÁ MOCINHO VIOLENTO COM A MOCINHA OU ALGO SEMELHANTE.