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3000 Words
A QUEDA DOS PODEROSOS ERA PURA REALIDADE. No dia anterior, Luke Costas estivera envolvido até o pescoço com os tubarões de Wall Street. Na manhã daquele dia, estava mergu­lhado até os cotovelos na farinha. E a escolha fora sua. Bem, mais ou menos. — Não tenho certeza se sou bom para... O protesto pareceu perder a importância no instante em que thea Aurélia lhe lançou o olhar. Luke sempre se sentira intimidado sob o olhar da tia desde quando, aos seis anos, fora apanhado tirando biscoitos koulourakia de um jarro de vidro exposto sobre o balcão. E desde que. na companhia do primo Jimmy, havia substituído toda a canela da padaria por uma areia escura. Fora seu tio Nikos quem os tinha pego em flagrante, porém, fora Au­rélia e sua mãe, Leda, quem lhes lançara o Olhar. Matriarcas gregas eram mestras do Olhar e costu­mavam usá-lo de maneira bastante efetiva para man­ter seus homens na linha, enquanto perpetuavam o mito de que eram os machos quem estavam no coman­do. Pelo menos era essa a teoria de Luke. — Ok, ok — ele concordou. — Já está na hora de eu aprender. O olhar suavizou e thea Aurélia sorriu. — Esse sim, é meu menino. Imaginando o que seus colegas investidores de Wall Street pensariam se pudessem vê-lo agora, Luke meteu as mãos no vasilhame enorme, onde os ingredientes para a receita de pão haviam sido colocados, e pôs-se a amassá-los. Thea Aurélia sorriu satisfeita. Theo Nikos sorriu também, tendo o cuidado de não desviar a atenção dos temperos que estava preparando para se­rem usados durante todo o dia. — Trabalhar a massa feito você é algo que aquele seu irmão inútil nunca conseguiu aprender — Aurélia o incentivou, mantendo-se firme na fiscalização da temperatura do forno enquanto retirava algumas as­sadeiras da máquina de lavar louças. — Mostre-lhe o que é amassar de verdade. Aquilo não era muito difícil. De fato, fora Nick quem, com suas atitudes irresponsáveis, acabara trazendo-o de volta à Flórida, ainda que temporariamente. Inte­ressante mesmo seria "amassar" o irmão e lhe ensinar uma ou duas coisinhas... Não que estivesse se sentindo muito feliz em Nova York. A vida como sócio minoritário de uma pequena, embora respeitada, corretora era estressante e Wall Street uma selva. Tivera momentos em que pensara em mandar tudo pelos ares e dar as costas àquele centro financeiro sem olhar para trás. Especialmente em momentos como o dia em que Malika rompera o noivado, acusando-o de não se interessar por nada, além das altas e baixas da bolsa de Nova York. Talvez a rejeição não o tivesse incomodado tanto se não hou­vesse acontecido dois anos depois de Katrina ter lhe devolvido o mesmo anel, acompanhado de palavras quase exatamente idênticas. Às vezes se perguntava se as duas mulheres não tinham se conhecido em algum lugar. Talvez, mas apenas se também houvessem se en­contrado com Lauren no meio do caminho. Afinal, as re­clamações de Lauren eram bastante similares quando se decidiram pelo divórcio, uma eternidade atrás. Quem sabe se, aos trinta e cinco anos, já não era hora de abandonar Wall Street. Fora o que dissera a Bailey Bookman, o outro sócio minoritário e seu com­panheiro mais freqüente nas andanças pelas noites solitárias de Nova York. Bailey, que havia engordado sete quilos desde que se tornara sócio da corretora e vivia às voltas com medicamentos para pressão alta, o brindara com um olhar cético. —   O que o incomoda é o rompimento do noivado, não é? —   Não. Bem... talvez um pouco. A questão é que estou farto de tudo isso. — Luke fizera um gesto amplo, abrangendo o escritório confortável e elegante. —   Não entendi qual é a parte da qual está farto. Será o dinheiro? O prestígio? Ou talvez a perspectiva de que mais dessas duas coisas estejam a caminho? Existe a possibilidade de que o sucesso o esteja dei­xando deprimido. —   Quem sabe não é apenas o medo de passar a sofrer de pressão alta e a certeza de que não tenho vida pessoal? Fora a vez de Bailey mostrar desinteresse com um dar de ombros. —   Não superestime a importância de ter vida pes­soal. É apenas o caminho mais fácil de terminar pa­gando os olhos da cara a um advogado, para cuidar de outro divórcio. —   Vou me afastar por uns tempos, Book. Eu lhe disse, um ano atrás, que estava pensando seriamente no assunto. —   Um ano atrás você estava falando em manter barcos pesqueiros na região de Key West. Claro que continuaria trabalhando como consultor financeiro. E agora me vem com essa história de padaria? Ora, va­mos, Costas. Você não'está apenas escapando momen­taneamente de uma situação. Parece fora de si. —  Não será para sempre — Luke argumentara. — Seis meses no máximo. —  Quando seus pais o tiverem por perto não o dei­xarão escapar mais. Você nunca conseguirá voltar para Nova York. Acredite-me. Na verdade, sua família o estava pressionando a voltar para a Flórida desde que o irmão havia aban­donado os negócios e filha adolescente. Porém Luke não pretendia explicar esses detalhes a Book. — Seis meses. Então estarei de volta. Repetira aquela promessa a si mesmo dezenas de vezes durante sua última semana em Nova York. Por­que Bailey estava certo, claro. Quando Luke falara em deixar Wall Street, pensara em manter uma atividade independente, sem laços de família que o prendessem a um determinado lugar, sem tias e tios vigiando cada um de seus movimentos, ou mamãe e papai alimen­tando esperanças de que esse filho correspondesse às expectativas, não os desapontando como o primogênito o fizera. Não, ficar com massa até os cotovelos na padaria da família Costas, em Hurricane Beach, Flórida, não era sua idéia de estilo de vida alternativo. Obrigado, Nick. Se Wall Street podia ser descrita como uma selva, a Padaria Costas não era, exatamente, um parque de diversões. Umas doze pessoas, todas da família, cor­riam de lá para cá, gritando num híbrido de grego e inglês, batendo portas de fornos, fechando geladeiras, empilhando assadeiras e disputando utensílios de co­zinha. Luke sentia-se sufocar, sabendo quanto todos ali esperavam sua contribuição. Seis meses, ele se reas­segurou. Nada mais. — Parece um hospício — Luke comentou, virando-se para o tio assim que Aurélia e Leda se afastaram, conversando ininterruptamente como apenas as mu­lheres são capazes. Nikos deu de ombros. —  Costumo ver fotos de Wall Street nos jornais. As coisas aqui não me parecem piores. —  Wall Street eu entendo. —  Aqui não há muito o que entender. Fazemos o que é necessário, uma tarefa após outra. O trabalho fica pronto e a vida continua. Luke suspirou fundo. A vida, realmente, sempre con­tinuava em Hurricane Beach. Nada havia mudado des­de que trabalhara ali no seu último ano de colégio. Thea Aurélia, corada por causa do calor, ainda man­tinha um olho nos fornos. Theo Nikos ainda comandava as gerações mais novas, para cima e para baixo. Demetri, pai de Luke, reinava nos balcões, particularmente à frente da caixa-registradora, enquanto a esposa, Leda, encarregava-se dos pacotes. Na realidade, en­tretanto, ninguém conseguia se manter distante do território alheio e o resultado era o mais perfeito caos, barulhento, apesar de amigável. Adolescente, Luke odia­ra ter que trabalhar ali, a proximidade constante com os parentes ameaçando sufocá-lo. Já na universidade, nas suas visitas à família durante as férias, desenvol­vera uma certa ternura pelo lugar. Porém agora... em especial agora, quando cada um dos Costas de Hurri­cane Beach o tomava, erroneamente, como o patriarca-em-treinamento, tinha a sensação de que não de­moraria a voltar a odiar cada detalhe que o cercava. Não era à toa que Nick costumava se drogar até o total esquecimento. O caos foi alcançando dimensões inimagináveis à medida que os últimos minutos antes das oito horas se esgotavam. Dali a instantes as portas da padaria estariam oficialmente abertas ao público e começaria o movimento das vans para a retirada das encomendas feitas pelos vários restaurantes e hotéis da cidade. Theo Nikos estava gritando, thea Aurélia batendo por­tas de fornos e Leda se lamentando do estado da massa que o filho fora encarregado de preparar. — Oh, não, não, não — ela reclamou; benzendo-se antes de apalpar a massa. — Tudo errado. Aurélia olhou por sobre o ombro da cunhada. — Está certo. — Excessivamente dura! Sem chance de recuperação! — Não pode ser. — Aurélia tirou a massa das mãos de Leda. Luke deu um passo para trás, enfarinhado até os co­tovelos, perguntando-se por que todos haviam insistido para que seu primeiro dia fosse dedicado ao preparo de pão. — Talvez eu devesse me lavar e ajudar meu pai com... — Você fique onde está — a mãe o advertiu. E de Aurélia, o olhar. De repente, uma voz suave soou às suas costas. — Se eu fosse você, seguiria as ordens sem discutir. Alguma coisa familiar naquela voz o deixou momen­taneamente inquieto. Não era a irmã, ou uma das pri­mas, ou mesmo a sobrinha. Entretanto... Ao virar-se, a inquietude inicial deu lugar à com­pleta consternação. — Rachel. Ela sorriu, o mesmo sorriso de puro contentamento infantil, marca registrada daquelas garotas McCallister. — Você se lembra de mim. Claro que se lembrava de Rachel. As meninas McCallister o tinham assombrado durante toda a adoles­cência, lindas, amigáveis e muito fora do alcance do filho de simples imigrantes, donos de loja. Elas eram a personificação dos sonhos de cada rapaz de Hurricane Beach. Até que, ao entrar para a universidade, a re­beldia e a solidão haviam atirado uma delas em seus braços. Lauren, a indiferente. Os dois tinham se casado e os sonhos não tardaram a ser desfeitos. Lauren McCallister fora o grande fracasso de Luke. Um ideal atingido apenas para se tornar amargo. Fizera um ótimo trabalho evitando pensar no seu casamento durante esses últimos anos. E quando, relutantemente, concordara em voltar para casa e ajudar a família a endireitar a confusão que Nick deixara para trás, não esperara que reminiscências antigas se tornassem um problema. Todos os membros da família Costas, cada um a seu tempo, haviam feito questão de assegurá-lo de que sua ex-esposa raramente punha os pés em Hur­ricane Beach. E agora, ali estava a ex-cunhada. Rachel não deveria lhe causar problemas. Afinal, não era nem um pouco parecida com Lauren. Mesmo depois de todos esses anos, ela mantinha a aparência de menina, como se fosse uma fada do bosque. Cabelos longos, louro-avermelhados, soltos displicentes sobre os ombros, presos apenas por uma tiara delicada. 0 vestido de tecido fino parecia flutuar ao redor do corpo esguio, terminando logo aci­ma dos tornozelos, um deles enfeitado por uma correntinha de ouro com pequenas conchas. Os pés cal­çavam sandálias de tiras, as unhas bem-cuidadas pin­tadas com esmalte transparente. Não, Rachel em nada o fazia se lembrar da ex-esposa, portanto não havia com o que se preocupar. A menos... — O que você está fazendo aqui? — ele perguntou, um olhar rápido para ò relógio de parede confirmando que a loja ainda não estava oficialmente aberta ao público. Apenas membros da família deveriam ser admitidos ali dentro antes e depois do horário comercial. Aquela sempre fora a regra. O sorriso luminoso pareceu se apagar no rosto bonito. Suas palavras tinham soado ríspidas demais. De repente, uma pontada da velha culpa voltou a atormentá-lo. Mas antes que Rachel pudesse responder, Aurélia a avis­tou, o entusiasmo se traduzindo num grito de boas-vindas. Luke se retraiu diante da visão da tia envolvendo a doce Rachel num abraço apertado. Todos a estavam tra­tando como se fizesse parte da família, quando nunca haviam recebido Lauren nem com a metade daquele calor, mesmo quando ela pertencera à família! Que estava acontecendo? Você vai ficar me devendo, Nick. E muito. Rachel deslizou a mão sob o balcão envidraçado e, usando um guardanapo de papel, retirou alguns enroladinhos de amêndoas colocando-os numa caixinha de papelão, como costumava fazer todas as manhãs antes de caminhar mais dez metros e abrir a Rêve Rags. Naquele dia, entretanto, sentia-se estranha­mente consciente ao realizar os movimentos rotinei­ros. Seus dedos tremiam, o coração palpitava. Estaria ele olhando-a? — E então, vamos ter que tirar todo o dinheiro das mãos de meu sobrinho antes de transformá-lo num padeiro, hein? — Aurélia brincou cutucando-a e falan­do alto o bastante para que todos ouvissem. Fechando a caixinha de papelão devagar, Rachel sorriu e olhou por sobre o ombro. Luke Costas estava de pé junto à porta, fitando-a de uma maneira que nunca fora capaz de entender. Nunca, nem há vinte anos, quando ele causara sua primeira desilusão amorosa. Tampouco agora o compreendia. Eram inescrutáveis os sentimentos escondido por trás daqueles olhos cas­tanhos e profundos. Infinitamente profundos e insondáveis. Ele sempre fora assim, distante e contido, desde quando pela primeira vez o notara, ainda no colégio. Como, ela se perguntava, teria sido ser casada com Luke? Rachel obrigou-se a ignorar o pensamento. Não tinha intenção de se atormentar imaginando o impossível. —  Tem apenas uma maneira de transformá-lo num padeiro — ela falou num tom leve e despreocupado, re­mexendo dentro da bolsa até encontrar a carteira para pagar a compra. — Precisamos lhe arranjar um avental. —  Ah! — Aurélia riu com prazer, apontando um dedo para o sobrinho. — O que foi que eu disse? Esse menino precisa de um avental. Não foi isso mesmo que eu falei, Leda, duas horas atrás? Impassível, Luke cruzou os braços sobre o peito, apa­rentemente se esquecendo de que estava coberto de massa até os cotovelos. —  Não preciso de avental. —  Talvez ele não tenha nascido para ser padeiro — Rachel comentou, sufocando o riso. — Talvez devesse sair com os barcos. Os filhos de Aurélia operavam a mais bem-sucedida frota pesqueira do Golfo, abastecendo diariamente os restaurantes locais e mercados com peixes frescos. Du­rante uns seis meses, Rachel namorara Jimmy, o mais velho dos irmãos, porém o cheiro de camarão parecia de tal modo entranhado no rapaz, que se acreditara ameaçada de perder o amor pelos frutos do mar se continuasse encontrando-o. Além de tudo, os beijos de Jimmy haviam sido sem­pre polidos e doces, quando Rachel estava convencida de que devia existir algo mais. O amor deveria ser algo assim como um furacão se apossando de seu corpo, uma emoção capaz de virá-la pelo avesso. Decidira pôr um ponto final no relacionamento e agora, para sua satisfação, Jimmy estava casado com uma linda jovem grega de Nova Jersey, cujos pais conheciam os Costas desde antes de ambas as famílias terem imigrado para os Estados Unidos. — O que me diz, thea Aurélia? — ela perguntou. — Quem sabe não seria melhor mandá-lo acompa­nhar Jimmy? — Nos pesqueiros? Oh, não, querida, esse menino não nasceu para lidar com barcos. Olhe só essas mãos. Luke tentou protestar, mesmo sabendo que de nada adiantaria resistir. A tia já o havia segurado pelo pulso e praticamente o arrastava para perto de Rachel. — Repare nesses dedos. Longos e esguios. Mãos de artista. Mãos perfeitas para lidar com a massa. Em silêncio, Rachel estudou as mãos que lhe eram estendidas para inspeção. De fato, tratavam-se das mãos de um homem com inclinação para algum tipo de trabalho manual, sem no entanto darem a impres­são de executarem serviços pesados. — Nick — Aurélia continuou —, nunca teve essas mãos. Ah, Luke nasceu para ser padeiro. Quanto a isso tenho certeza absoluta. Rachel franziu a testa, parecendo duvidar, e tomou as mãos de Luke nas suas, examinando-as com atenção. Talvez ele acabasse sorrindo. Sempre acreditara que na família Costas, tão grande e barulhenta, o sorriso fosse algo geneticamente inevitável. — Tem mesmo certeza? Não sei não... Creio que essas palmas sejam um tanto rígidas. Ele pode impedir que o fermento faça a massa crescer, você sabe. Aurélia afastou a idéia com um aceno de mão, uma expressão de desgosto no rosto. — Ra! Impedir que a massa cresça. Vocês, americanos! Nem um traço de sangue grego no seu sangue, disso tenho certeza. Mesmo um pouquinho só de um bom sangue grego e nunca a ouviria dizer uma tolice dessas. Então Aurélia se afastou, chamando pelo marido para checar o forno número dois e deixando-a só com Luke. —  Quer dizer que você voltou para casa — Rachel comentou, soltando a mão forte e morena. —  Por enquanto, pelo menos. —  Sei o que está querendo dizer. Eu costumava pensar que quando pusesse os pés fora dessa cidade, seria de uma vez por todas. Mas quando finalmente parti, m*l podia esperar terminar a faculdade para retornar. Luke concordou com um breve gesto de cabeça, virando-se para olhar na direção dos fornos, onde o ba­rulho de conversa era incessante. —  Foi bonito de sua parte voltar — Rachel insistiu. — Nem todo mundo o faria. —  Que posso fazer se sou assim? Luke Costas, ver­dadeiro modelo de filho. —  Você está amargo. — Outra vez ela lhe dava a impressão de poder ler nas entrelinhas, percebendo o que preferira calar. — Amargo em relação a Nick. Ao sentir o peso daquele olhar, Rachel teve certeza de haver cruzado a linha frágil entre interesse ami­gável e pura intromissão. —  Desculpe-me — falou sem jeito. — Tenho ten­dência a me esquecer de que algumas coisas não são da minha conta. Mesmo em se tratando de família. —  Família? Aparentemente eleja não a considerava como parte da família. — Bem, já fiz parte da sua família, ainda que de maneira indireta... Acho que vou deixá-lo voltar ao trabalho agora. Quando Luke não demonstrou nenhuma intenção de continuar a conversa, Rachel abriu a caixa-registradora, depositou o dinheiro relativo à compra que acabara de fazer, guardou a caixinha de papelão na bolsa enor­me que carregava e virou-se para sair. Ele continuava a fitá-la com aquela expressão indecifrável, que sempre conseguira desconcertá-la. Mesmo quando ainda era casado com sua irmã. Um estranho casal os dois tinham formado. Lauren já a deixava inquieta naquela época também. — Se não quer trabalhar agora, poderemos continuar nossa conversa — ela acrescentou num tom de voz pro­positadamente alegre, ainda em busca de um sorriso. um       
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