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3402 Words
Quando sua sócia chegou, Rachel m*l podia conter-se, tão grande a excitação, lenho um plano — anunciou, puxando Grace Kingsolver pelo braço e fechando a porta da loja. —  Oh, Rachel tem um plano. — Grace, uma n***a alta e elegante, guardou a bolsa devagar, sabendo que pro­blemas viriam pela frente. — Palavras capazes de encher os corações das pessoas normais do mais puro terror. —  Desta vez é realmente uma boa idéia. Vou ajudar Lauren a reatar com Luke. Grace fechou os olhos, num gesto que podia ser interpretado apenas como um pedido silencioso de paciência. —  Menina, você perdeu a cabeça. E sabe disso, não é? —  Não, não perdi a cabeça. Se o tivesse visto agora, na pada... —  Espero que tenha tido o bom senso de não falar nessa idéia absurda com ele. —  Bem, ainda não disse nada. —  Obrigada, Deus, por esse favor! —  Se você ao menos me ouvisse por um... Grace apontou para o relógio de parede. —  Hora de abrir a. loja. Rachel saiu de trás do balcão e destrancou a porta da frente, não sem antes fazer uma careta para a sócia e amiga. Nos anos de faculdade, Grace havia sido tão decidida e impulsiva quanto a colega de quarto. Juntas, tinham deslanchado uma campanha para transformar o campus num local mais acessível aos estudantes por­tadores de deficiências físicas' e também haviam pas­sado umas férias de verão na América Central, aju­dando a construir casas para os sem-teto. Abrir uma pequena butique em Hurricane Beach parecera às duas a maior de todas as aventuras. Porém estavam mais velhas agora. Ambas com trin­ta e quatro anos. E desde que começaram o negócio juntas, dez anos atrás, Grace tinha mudado. Rachel odia­va pensar no fato, entretanto não havia como ignorar a verdade. Grace simplesmente se tornara adulta. Con­tudo, diferentemente da amiga, não pretendia ceder à pressão da chegada da maturidade. — Diga-me, por favor, quando você já não estiver suportando o suspense e então lhe contarei o resto do meu plano. Rachel conseguiu ficar em silêncio enquanto ajeitava as peças da coleção de primavera-verão nas prateleiras. O que sobrara da coleção de inverno seria remarcado para a liquidação que deveria começar na semana se­guinte. Mas assim que Grace abriu a caixinha de pa­pelão com os enroladinhos de amêndoas, não resistiu. —  Os dois estão infelizes — ela falou muito séria, trazendo café em duas canecas da Disney. —  Eles lhe confessaram isso? Ou você anda lendo mentes outra vez? —  Jimmy me contou que Luke nem sequer gostaria de estar aqui. Se não fosse por aquele imprestável do irmão... Grace desviou o olhar. —  Oh, Deus, desculpe-me, querida. Falo demais. —  Não há necessidade de se desculpar. Não vou ter um ataque de nervos.   Verdade. Se Grace fosse do tipo histérico, o desa­parecimento de Nick Costas, um mês atrás, sem dúvida a teria feito desmoronar. Rachel se preocupara quando a amiga se apaixonara perdidamente, sabendo dos pro­blemas que Nick tivera com as drogas. Porém a atração entre aqueles dois fora forte demais para ser resistida. Nick passara quase toda a vida adulta entrando e saindo de clínicas especializadas na recuperação de vi­ciados. E quando, há cinco anos, sobrevivera à morte da esposa sem uma recaída, todos o julgaram curado. Demonstrando enorme senso de responsabilidade, assu­mira os negócios da família e se mostrara um bom pai para Kieran, a filha adolescente. Infelizmente, fora re­descobrindo aos poucos seu amor pelas drogas, uma de­pendência que se revelara mais poderosa do que a paixão por Grace, ou do que o amor que sentia pela filha. Diante da insistência de Grace, Nick acabara se in­ternando numa clínica, mas acabara saindo de lá três dias depois, no meio da noite. Desde então, ninguém tornara a vê-lo. — Nick provocou uma grande confusão — Grace falou baixinho. — Quem poderia culpar Luke por não estar satisfeito diante da obrigação de limpar a sujeira deixada pelo irmão mais velho? Entretanto isso não significa que ele queira a ex-esposa de volta, sabia? Rachel ignorou o comentário. Claro que Luke iria querer Lauren de volta. Quem não a desejaria? A perfeita e ta­lentosa Lauren? E quanto ao inverso... Vira Luke poucas horas atrás. O rosto bonito e sensual. Ah, aqueles olhos. Aqueles ombros largos. Aqueles braços muscu­losos. Aquelas mãos. Aqueles cabelos escuros, prema­turamente grisalhos nas têmporas. A pele morena... Luke Costas era um homem por quem qualquer mulher seria capaz de morrer, e... Chega de pensar nisso. — De qualquer modo, tudo de que preciso é descobrir uma maneira de fazer com que Lauren passe algum tempo em Hurricane Beach. — Eis aí algo que eu gostaria de ver, considerando que sua irmã não põe os pés nesta cidade há anos. Mas o que eu queria mesmo saber é o que colocou essa idéia maluca na sua cabeça. — Deixe comigo — Rachel falou, terminando de comer o último enroladinho e lambendo os dedos como uma menininha. A entrada de duas freguesas- pôs um ponto final na conversa. Enquanto a sócia se apressava a atendê-las, Rachel levou as canecas para a pequena co­zinha nos fundos da loja, sentindo-se inquieta com a pergunta de Grace. Sabia muito bem o que havia co­locado aquela idéia na sua cabeça, mas era algo que não gostaria de discutir nem com a melhor amiga. Quando ouvira a notícia de que Luke Costas estaria de volta à cidade, experimentara aquela mesma sen­sação que lhe era tão familiar quanto alarmante. Sentira-se assim pela primeira vez ainda adolescen­te, no dia do retorno às aulas após as férias de verão. Tímida e insegura porque teria de enfrentar uma es­cola nova, lembrava-se de ter rezado para que o chão se abrisse sob seus pés. Bem, suas preces foram de certo modo atendidas. Acabara escorregando no pas­seio e caindo no chão de joelhos, os livros voando pelos ares. Por um longo instante permanecera paraLaurenda, convencida de que nunca mais seria capaz de enfrentar o olhar dos estudantes que a cercavam e pareciam se divertir com o incidente t**o. De repente alguém se aproximou e a segurou pelo braço, para ajudá-la a se levantar. — Você está bem? — indagou uma voz calma e profunda. Ao erguer os olhos, viu-se diante de Luke Costas. Lembrava-se dele desde a época do primário e também sabia que seus pais eram donos da melhor padaria de Hurricane Beach. —  Claro — ela murmurara desconcertada. —  Ótimo. Então ele sorrira. O sorriso mais incrível que jamais havia visto. Dentes perfeitos e muito brancos contras­tando com a pele morena. E quando aqueles dedos longos a tinham tocado, sentira-se arrepiar. Em princípio, pensara que a reação intensa à pro­ximidade de seus corpos fora mútua, porque Luke logo rompera o contato, ocupando-se em juntar os livros espalhados. — Bem-vinda ao colégio — ele dissera, entregando-lhe os livros e tornando a sorrir antes de deixá-la ali de pé, com os joelhos arranhados, a autoconfiança abalada e os instintos femininos à beira de desabrochar. Rachel se acreditara apaixonada por Luke Costas du­rante os dois anos seguintes, até que ele fora embora da cidade ao entrar na Universidade de Miami. Quan­do voltara a encontrá-lo, anos depois, sofrera a decep­ção de vê-lo surgir na casa de seus pais, de mãos dadas com Lauren. Felizmente, durante o namoro, o casal pouco aparecera em Hurricane Beach e quando enfim se ca­saram, Rachel já se considerava curada daquela paixão adolescente. Pelo menos fora o que pensara. Mas, com certeza, nunca imaginara que um dia seus caminhos tornariam a se cruzar. A reunião mensal da Associação dos Comerciantes de Hurricane Beach se arrastava ao que lhe parecia horas, enquanto os presentes debatiam planos para os eventos comemorativos da entrada da primavera. O Festival de Primavera, como costumavam chamar. Luke olhou as horas pela enésima vez, pensando como trinta minutos podiam ter o peso da eternidade. Se não fosse pelo irmão, não seria obrigado a estar ali. Quando entrara no salão, ficara surpreso ao reco­nhecer tantos daqueles rostos, depois de uma ausên­cia de doze anos. Lá estava o corpulento e calvo Ike Forenza, dono do café italiano, a gorducha Glenda Hendricks, pro­prietária de uma loja de roupa esporte, Maida, da ga­leria de arte e Quentin Somersby, o florista. E, deveria ter imaginado, Rachel McCallister. Ela lhe tinha sorrido e acenado ao vê-la entrar, apon­tando para a cadeira desocupada ao seu lado. Porém Luke preferira se sentar do outro lado da mesa, entre Quentin e o velho Thompson, da farmácia. Era interessante notar que as pessoas ali reunidas haviam mudado quase tão pouco quanto a cidade. A alameda Gulfview, por exemplo, ainda corria ao longo de três quadras defronte do mar, suas lojas ocupando a calçada larga, paralela à praia, e oferecendo produtos variados e da melhor qualidade. Encravada numa curvatura do Golfo do México, a pe­quena cidade sempre conseguira evitar o tipo de turista que havia tomado conta da costa da Flórida. Em Hurricane Beach não existiam hotéis chiques, apenas pou­sadas discretas e uma dúzia de chalés prontos para se­rem alugados. A maioria dos turistas habituais que, du­rante a alta temporada elevava a população local para perto de dez mil habitantes, possuía casa própria e a mantinha fechada durante o inverno. Os universitários ainda não tinham descoberto aquele recanto aprazível e, se o tivessem, com certeza não encontrariam motivos para voltar lá. A cidade não oferecia parques aquáticos, campos de golfe em miniatura ou boates da moda, com suas luzes de néon e músicas ensurdecedoras. E os moradores de Hurricane Beach gostariam que sua rotina permanecesse assim. Para escapar ao tédio crescente e na esperança de pôr um ponto final naquela reunião interminável, Luke se apresentou como voluntário para chefiar o comitê en­carregado de organizar a queima dos fogos de artifício, que marcaria o gran finale do Festival de Primavera. Dali a uma hora, as pessoas começaram a se levantar. Mas, infelizmente, não era o fim do encontro, apenas o intervalo para o café. Luke permaneceu sentado, mesmo sabendo que o certo seria se confraternizar com os pre­sentes, todos velhos conhecidos. Entretanto, nunca fora bom ator e detestava fingir. A verdade era que não se sentia nem um pouco feliz de estar na cidade e tampouco queria passar o resto da vida preparando massa e brin­cando de ser pai de uma adolescente m*l-humorada. O aniversário de quinze anos de sua sobrinha fora no domingo anterior. Muitos doces, um pouco de mú­sica, um vai-e-vem constante de primos e sobrinhos. Sobre a mesa de mogno da sala de jantar, uma pilha de presentes. Kieran m*l saíra do quarto o dia inteiro. Dera o ar da graça somente para comer bolo e abrir os presentes, a maioria dos quais recebera com tamanha falta de entusiasmo que beirava a insolência. Ela passara horas trancada no quarto, sentada diante do maldito com­putador que o pai lhe dera. Luke entendia muito bem a motivação por trás daquele pequeno gesto de apa­rente generosidade do irmão. Dar à filha acesso à In­ternet significava ter mais tempo livre para se dedicar aos seus prazeres favoritos. Esforçando-se para não pensar no comportamento totalmente irresponsável e mesquinho do irmão, fez menção de se levantar. Talvez devesse se esforçar para ser gentil e conversar com as pessoas. Porém, antes de se mover, alguém sentou-se ao seu lado. Rachel. Maldição. — E então? Você. conseguiu acertar? O ponto da massa? — ela perguntou sorrindo, as covinhas irre­sistíveis dando-lhe um ar de menina. — Não creio que esteja correndo o risco de me tornar expert em culinária — Luke respondeu, procurando manter uma conversa civilizada. Não havia motivo para ser ríspido com Rachel McCallister apenas porque sua vida estava temporariamente fora de prumo. De repente ocorreu-lhe que a mulher ao seu lado podia já não se chamar McCallister. Quantos anos desde que a vira pela última vez? Seis? Oito? Neste espaço de tempo estivera noivo duas vezes, portanto, era bem possível que Rachel tivesse encontrado o sr. Certinho e se casado, embora não houvesse sinal de aliança na mão esquerda. Observando-a, perguntava-se se aque­les olhos haviam sido sempre tão espetacularmente verdes, os cabelos sedosos tão louros e brilhantes... Na memória ficara guardada a lembrança de que as garotas McCallister eram bastante parecidas entre si. Porém, agora não tinha dúvidas de que Rachel em quase nada fazia lembrar Lauren. E não era só a maneira de vestir. Lauren, por exemplo, jamais usaria os cabelos longos, soltos sobre as costas. Rachel possuía um brilho diferente no olhar, algo que nunca notara na ex-esposa. Aliás, algo que nunca percebera em nenhuma das mulheres com quem saíra, sempre sérias e contidas. —  Culinária é uma arte, você sabe — Rachel estava dizendo. — Eu nunca poderia cozinhar bem. Agora, Lauren, ela, sim, entendia do assunto. —  E mesmo? —  Lauren é maravilhosa. Imagino que você tenha co­nhecimento de como minha irmã está se saindo bem profissionalmente. Isto é, suponho que vocês dois man­tenham contato, uma vez que a separação foi amigável, sem brigas, ou animosidade. A última coisa que Luke queria era falar sobre a ex-mulher. Assim, levantou-se. —Acho que vou tomar uma xícara de café. No mesmo instante Rachel ergueu-se também, fitando-o de frente. Com a passagem do tempo, acabara se esquecendo de como ela era alta, a mais alta das irmãs. — É descafeinado. Não servirá para mantê-lo acor­dado durante o resto da reunião. Eu sempre bebo muito café forte antes de vir para cá. Pronto, contei meu segredo. Mas não diga nada a ninguém. Ele sorriu e antes de se dar conta do que estava acon­tecendo, sentiu dedos delicados o segurarem pelo braço. — Eu tinha certeza de que conseguiria! Um sorriso! Uau! Obrigada. Você ainda tem um sorriso estontean­te, sabia? Embora não tivesse intenção, Luke acabou rindo. Ne­nhuma das pessoas com quem convivera nos últimos anos seria tão transparente ao demonstrar satisfação. Pelo visto Rachel não era adepta daquele jogo tão comum hoje em dia, o de manter o controle das emoções acima de tudo e negar qualquer reação espontânea. —  Não, eu não sabia. —  Aposto que sim — ela o contradisse, acompanhando-o até a mesa onde o café era servido. — Lauren deve ter lhe dito vezes sem conta. —  Ouça, quanto a Lauren... —  Oh, ela tem se saído muito bem. Creio que você deve estar a par do programa de apoio que minha irmã criou para adolescentes grávidas. Não é maravi­lhoso? Dedicar a vida a ajudar os outros. Fico encan­tada com o que ela é capaz de fazer. Luke serviu-se de café na esperança de que alguém aparecesse e interrompesse o monólogo de Rachel sobre sua ex-esposa. Infelizmente ninguém surgiu para sal­vá-lo e foi obrigado a escutar um relato detalhado das maravilhas operadas por Lauren. Da maneira como Rachel falava, parecia até que a irmã estava a caminho da santificação. E quando se decidiu a deixar claro que qualquer coisa relacionada à ex-mulher não o interes­sava, a reunião recomeçou. Salvo. A sensação de alívio durou pouco. O último item agendado era a formação dos vários comitês. Rachel se apresentou como voluntária para trabalhar no grupo encarregado dos fogos de artifício. E foi a única. Assim que a reunião terminou, Luke tentou escapar sem ter que falar com Rachel. Não que não adorasse ser constantemente lembrado de que era o único culpado pelo fracasso de seu casamento com a Maravilhosa e perfeita Lauren, ele pensou cheio de ironia. Porém, m*l havia ganhado a calçada, ouviu-a chamando-o. — Espere. Vou acompanhá-lo durante parte do trajeto. Seria muito rude dizer "não, obrigado"? Em Nova York não teria que se preocupar com isso, pois a falta de de­licadeza no trato com as pessoas era generalizada e con­siderada uma conduta aceitável. Mas não aqui, no Sul. Sem outra alternativa a não ser tolerar a companhia da ex-cunhada, resolveu conduzir a conversa, antes de ser obrigado a escutar mais histórias de "Minha Irmã, a Santa." — E então? Conte-me o que tem feito todos esses anos. A estratégia deu resultado. Rachel recomeçou um novo monólogo, falando de coisas tão diferentes quanto a construção de casas para os sem-teto e uma galeria de arte junto à praça Jackson, em Nova Orleans. Não foi mencionada a existência de um marido. —  Você tem que visitar nossa loja, a Rêve Rags. Minha, ex-colega de quarto na universidade e eu a abri­mos há dez anos. —  Grace. —  Sim. Imagino que saiba sobre Grace. —  Sei quem é Grace. — Mais uma das pequenas con­fusões criadas por Nick. Apesar de tudo, Luke experimen­tou uma pontada de tristeza. Sentia falta do irmão. Pelo menos do irmão que conhecera antes de as drogas o terem destruído. Doía-lhe pensar que não fora capaz de salvá-lo,- de protegê-lo dos perigos do mundo. —  Foi idéia de Grace — Rachel estava dizendo. — A loja. Oferecemos tanto roupas de grifes famosas quanto peças de seda pintadas a mão. —  Passarei por lá qualquer dia desses — ele res­pondeu educadamente, sem intenção de cumprir a pro­messa. — Quando tiver algum tempo livre. —  Claro que terá tempo livre. Dentro de seis meses estará acostumado ao ritmo de Hurricane Beach e per­ceberá que não é preciso correr como na cidade grande. —  Não sei se ficarei aqui tempo bastante para isso. —  Oh, verdade? —  Sim. — Luke estava convencido de que não devia explicações a ninguém, por isso não se importava de parecer lacônico. Entretanto, estava começando a des­cobrir que Rachel McCallister não se deixava dissuadir facilmente. —  Por que não? — ela indagou. — Sabe, nunca acre­ditei que você fosse continuar trabalhando na bolsa de valores indefinidamente. —  É mesmo? — Embora preferisse mudar de as­sunto, a observação o surpreendera e acabara falando sem pensar. —  Você é o tipo que gosta de lidar com as pessoas, assim é difícil imaginá-lo brincando com dinheiro o dia todo. —  Não se trata de brincar com dinheiro — ele ar­gumentou, embora soubesse que em Wall Street for­tunas eram ganhas e perdidas do dia para a noite. —  Oh, eu sei que o que acontece na bolsa é impor­tante, apesar de não compreender exatamente como. Porém você sempre pareceu dar mais importância ao contato com as pessoas do que ã fria manipulação do dinheiro. Foi... Lauren quem me disse isso. —  Lauren? — Era impossível imaginar Lauren fazendo uma observação dessas a seu respeito. Sua ex-esposa nunca gostara de trocar confidências, nem mesmo com as irmãs. — Ouça, sobre Lauren... — Sim? O que falar sobre a mulher com quem estivera ca­sado e que não passara de um erro da juventude? Nada do que dissesse seria apropriado aos ouvidos de Rachel. —  Foi uma pena como tudo aconteceu — falou afinal. Pelo menos não se tratava de uma completa mentira. —  Oh, sei que faria bem a Lauren ouvi-lo se expressar dessa maneira. Sei que minha irmã também tem seus pesares. E ter se casado comigo com certeza estaria em pri­meiro lugar na lista, Luke pensou irônico. — Falar sobre essas coisas sempre foi difícil para minha irmã. Nunca soubemos o que aconteceu real­mente entre vocês dois. Luke não era nenhum t**o. Já fora longe demais e sabia quando era hora de parar e mudar de assunto. — Foi há muito tempo atrás — desconversou. A observação seria suficiente para fazer qualquer pessoa normal desistir. Mas não Rachel. — Porém você não deixou de amá-la, ou algo seme­lhante, não é? Com certeza não tinha a menor intenção de explicar que Lauren e ele, provavelmente, jamais haviam se amado de verdade. O que sentiram um pelo outro não passara de entusiasmo passageiro, um sentimento infantil, so­bre o qual fora impossível construir uma relação adulta e duradoura. —  Não, nada semelhante. —  Então, o que foi? Luke parou e fitou-a por alguns segundos, sem saber o que dizer. Rachel retribuiu o olhar com um sorriso franco. — Você vai ter que me dizer que não é da minha conta. É a única maneira de me fazer calar. De acordo com Grace. — Boa noite, Rachel. Ele se afastou devagar, resistindo à tentação de olhar para trás. Mesmo quando a escutou avisá-lo, em alto e bom som: — Mas isso só funciona temporariamente. Sou persistente. Apesar da irritação, Luke riu. —  E eu, teimoso. Onde ficamos? —  Numa batalha de vontades? —  Desista, McCallister. Você já está fora de campo. — Rachel não mais fazia parte da família e não seria obrigado a se dobrar àquela persistência. Ou às lem­branças que ela despertava.  
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