Quando sua sócia chegou, Rachel m*l podia conter-se, tão grande a excitação, lenho um plano — anunciou, puxando Grace Kingsolver pelo braço e fechando a porta da loja.
— Oh, Rachel tem um plano. — Grace, uma n***a alta e elegante, guardou a bolsa devagar, sabendo que problemas viriam pela frente. — Palavras capazes de encher os corações das pessoas normais do mais puro terror.
— Desta vez é realmente uma boa idéia. Vou ajudar Lauren a reatar com Luke.
Grace fechou os olhos, num gesto que podia ser interpretado apenas como um pedido silencioso de paciência.
— Menina, você perdeu a cabeça. E sabe disso, não é?
— Não, não perdi a cabeça. Se o tivesse visto agora, na pada...
— Espero que tenha tido o bom senso de não falar nessa idéia absurda com ele.
— Bem, ainda não disse nada.
— Obrigada, Deus, por esse favor!
— Se você ao menos me ouvisse por um... Grace apontou para o relógio de parede.
— Hora de abrir a. loja.
Rachel saiu de trás do balcão e destrancou a porta da frente, não sem antes fazer uma careta para a sócia e amiga. Nos anos de faculdade, Grace havia sido tão decidida e impulsiva quanto a colega de quarto. Juntas, tinham deslanchado uma campanha para transformar o campus num local mais acessível aos estudantes portadores de deficiências físicas' e também haviam passado umas férias de verão na América Central, ajudando a construir casas para os sem-teto. Abrir uma pequena butique em Hurricane Beach parecera às duas a maior de todas as aventuras.
Porém estavam mais velhas agora. Ambas com trinta e quatro anos. E desde que começaram o negócio juntas, dez anos atrás, Grace tinha mudado. Rachel odiava pensar no fato, entretanto não havia como ignorar a verdade. Grace simplesmente se tornara adulta. Contudo, diferentemente da amiga, não pretendia ceder à pressão da chegada da maturidade.
— Diga-me, por favor, quando você já não estiver suportando o suspense e então lhe contarei o resto do meu plano.
Rachel conseguiu ficar em silêncio enquanto ajeitava as peças da coleção de primavera-verão nas prateleiras. O que sobrara da coleção de inverno seria remarcado para a liquidação que deveria começar na semana seguinte. Mas assim que Grace abriu a caixinha de papelão com os enroladinhos de amêndoas, não resistiu.
— Os dois estão infelizes — ela falou muito séria, trazendo café em duas canecas da Disney.
— Eles lhe confessaram isso? Ou você anda lendo mentes outra vez?
— Jimmy me contou que Luke nem sequer gostaria de estar aqui. Se não fosse por aquele imprestável do irmão...
Grace desviou o olhar.
— Oh, Deus, desculpe-me, querida. Falo demais.
— Não há necessidade de se desculpar. Não vou ter um ataque de nervos.
Verdade. Se Grace fosse do tipo histérico, o desaparecimento de Nick Costas, um mês atrás, sem dúvida a teria feito desmoronar. Rachel se preocupara quando a amiga se apaixonara perdidamente, sabendo dos problemas que Nick tivera com as drogas. Porém a atração entre aqueles dois fora forte demais para ser resistida.
Nick passara quase toda a vida adulta entrando e saindo de clínicas especializadas na recuperação de viciados. E quando, há cinco anos, sobrevivera à morte da esposa sem uma recaída, todos o julgaram curado. Demonstrando enorme senso de responsabilidade, assumira os negócios da família e se mostrara um bom pai para Kieran, a filha adolescente. Infelizmente, fora redescobrindo aos poucos seu amor pelas drogas, uma dependência que se revelara mais poderosa do que a paixão por Grace, ou do que o amor que sentia pela filha.
Diante da insistência de Grace, Nick acabara se internando numa clínica, mas acabara saindo de lá três dias depois, no meio da noite. Desde então, ninguém tornara a vê-lo.
— Nick provocou uma grande confusão — Grace falou baixinho. — Quem poderia culpar Luke por não estar satisfeito diante da obrigação de limpar a sujeira deixada pelo irmão mais velho? Entretanto isso não significa que ele queira a ex-esposa de volta, sabia?
Rachel ignorou o comentário. Claro que Luke iria querer Lauren de volta. Quem não a desejaria? A perfeita e talentosa Lauren? E quanto ao inverso... Vira Luke poucas horas atrás. O rosto bonito e sensual. Ah, aqueles olhos. Aqueles ombros largos. Aqueles braços musculosos. Aquelas mãos. Aqueles cabelos escuros, prematuramente grisalhos nas têmporas. A pele morena... Luke Costas era um homem por quem qualquer mulher seria capaz de morrer, e...
Chega de pensar nisso.
— De qualquer modo, tudo de que preciso é descobrir uma maneira de fazer com que Lauren passe algum tempo em Hurricane Beach.
— Eis aí algo que eu gostaria de ver, considerando que sua irmã não põe os pés nesta cidade há anos. Mas o que eu queria mesmo saber é o que colocou essa idéia maluca na sua cabeça.
— Deixe comigo — Rachel falou, terminando de comer o último enroladinho e lambendo os dedos como uma menininha. A entrada de duas freguesas- pôs um ponto final na conversa. Enquanto a sócia se apressava a atendê-las, Rachel levou as canecas para a pequena cozinha nos fundos da loja, sentindo-se inquieta com a pergunta de Grace. Sabia muito bem o que havia colocado aquela idéia na sua cabeça, mas era algo que não gostaria de discutir nem com a melhor amiga.
Quando ouvira a notícia de que Luke Costas estaria de volta à cidade, experimentara aquela mesma sensação que lhe era tão familiar quanto alarmante.
Sentira-se assim pela primeira vez ainda adolescente, no dia do retorno às aulas após as férias de verão. Tímida e insegura porque teria de enfrentar uma escola nova, lembrava-se de ter rezado para que o chão se abrisse sob seus pés. Bem, suas preces foram de certo modo atendidas. Acabara escorregando no passeio e caindo no chão de joelhos, os livros voando pelos ares. Por um longo instante permanecera paraLaurenda, convencida de que nunca mais seria capaz de enfrentar o olhar dos estudantes que a cercavam e pareciam se divertir com o incidente t**o.
De repente alguém se aproximou e a segurou pelo braço, para ajudá-la a se levantar.
— Você está bem? — indagou uma voz calma e profunda.
Ao erguer os olhos, viu-se diante de Luke Costas. Lembrava-se dele desde a época do primário e também sabia que seus pais eram donos da melhor padaria de Hurricane Beach.
— Claro — ela murmurara desconcertada.
— Ótimo.
Então ele sorrira. O sorriso mais incrível que jamais havia visto. Dentes perfeitos e muito brancos contrastando com a pele morena. E quando aqueles dedos longos a tinham tocado, sentira-se arrepiar.
Em princípio, pensara que a reação intensa à proximidade de seus corpos fora mútua, porque Luke logo rompera o contato, ocupando-se em juntar os livros espalhados.
— Bem-vinda ao colégio — ele dissera, entregando-lhe os livros e tornando a sorrir antes de deixá-la ali de pé, com os joelhos arranhados, a autoconfiança abalada e os instintos femininos à beira de desabrochar.
Rachel se acreditara apaixonada por Luke Costas durante os dois anos seguintes, até que ele fora embora da cidade ao entrar na Universidade de Miami. Quando voltara a encontrá-lo, anos depois, sofrera a decepção de vê-lo surgir na casa de seus pais, de mãos dadas com Lauren. Felizmente, durante o namoro, o casal pouco aparecera em Hurricane Beach e quando enfim se casaram, Rachel já se considerava curada daquela paixão adolescente. Pelo menos fora o que pensara. Mas, com certeza, nunca imaginara que um dia seus caminhos tornariam a se cruzar.
A reunião mensal da Associação dos Comerciantes de Hurricane Beach se arrastava ao que lhe parecia horas, enquanto os presentes debatiam planos para os eventos comemorativos da entrada da primavera. O Festival de Primavera, como costumavam chamar. Luke olhou as horas pela enésima vez, pensando como trinta minutos podiam ter o peso da eternidade. Se não fosse pelo irmão, não seria obrigado a estar ali.
Quando entrara no salão, ficara surpreso ao reconhecer tantos daqueles rostos, depois de uma ausência de doze anos.
Lá estava o corpulento e calvo Ike Forenza, dono do café italiano, a gorducha Glenda Hendricks, proprietária de uma loja de roupa esporte, Maida, da galeria de arte e Quentin Somersby, o florista.
E, deveria ter imaginado, Rachel McCallister.
Ela lhe tinha sorrido e acenado ao vê-la entrar, apontando para a cadeira desocupada ao seu lado. Porém Luke preferira se sentar do outro lado da mesa, entre Quentin e o velho Thompson, da farmácia.
Era interessante notar que as pessoas ali reunidas haviam mudado quase tão pouco quanto a cidade. A alameda Gulfview, por exemplo, ainda corria ao longo de três quadras defronte do mar, suas lojas ocupando a calçada larga, paralela à praia, e oferecendo produtos variados e da melhor qualidade.
Encravada numa curvatura do Golfo do México, a pequena cidade sempre conseguira evitar o tipo de turista que havia tomado conta da costa da Flórida. Em Hurricane Beach não existiam hotéis chiques, apenas pousadas discretas e uma dúzia de chalés prontos para serem alugados. A maioria dos turistas habituais que, durante a alta temporada elevava a população local para perto de dez mil habitantes, possuía casa própria e a mantinha fechada durante o inverno. Os universitários ainda não tinham descoberto aquele recanto aprazível e, se o tivessem, com certeza não encontrariam motivos para voltar lá. A cidade não oferecia parques aquáticos, campos de golfe em miniatura ou boates da moda, com suas luzes de néon e músicas ensurdecedoras.
E os moradores de Hurricane Beach gostariam que sua rotina permanecesse assim.
Para escapar ao tédio crescente e na esperança de pôr um ponto final naquela reunião interminável, Luke se apresentou como voluntário para chefiar o comitê encarregado de organizar a queima dos fogos de artifício, que marcaria o gran finale do Festival de Primavera.
Dali a uma hora, as pessoas começaram a se levantar. Mas, infelizmente, não era o fim do encontro, apenas o intervalo para o café. Luke permaneceu sentado, mesmo sabendo que o certo seria se confraternizar com os presentes, todos velhos conhecidos. Entretanto, nunca fora bom ator e detestava fingir. A verdade era que não se sentia nem um pouco feliz de estar na cidade e tampouco queria passar o resto da vida preparando massa e brincando de ser pai de uma adolescente m*l-humorada.
O aniversário de quinze anos de sua sobrinha fora no domingo anterior. Muitos doces, um pouco de música, um vai-e-vem constante de primos e sobrinhos. Sobre a mesa de mogno da sala de jantar, uma pilha de presentes.
Kieran m*l saíra do quarto o dia inteiro. Dera o ar da graça somente para comer bolo e abrir os presentes, a maioria dos quais recebera com tamanha falta de entusiasmo que beirava a insolência. Ela passara horas trancada no quarto, sentada diante do maldito computador que o pai lhe dera. Luke entendia muito bem a motivação por trás daquele pequeno gesto de aparente generosidade do irmão. Dar à filha acesso à Internet significava ter mais tempo livre para se dedicar aos seus prazeres favoritos.
Esforçando-se para não pensar no comportamento totalmente irresponsável e mesquinho do irmão, fez menção de se levantar. Talvez devesse se esforçar para ser gentil e conversar com as pessoas. Porém, antes de se mover, alguém sentou-se ao seu lado. Rachel.
Maldição.
— E então? Você. conseguiu acertar? O ponto da massa? — ela perguntou sorrindo, as covinhas irresistíveis dando-lhe um ar de menina.
— Não creio que esteja correndo o risco de me tornar expert em culinária — Luke respondeu, procurando manter uma conversa civilizada. Não havia motivo para ser ríspido com Rachel McCallister apenas porque sua vida estava temporariamente fora de prumo.
De repente ocorreu-lhe que a mulher ao seu lado podia já não se chamar McCallister. Quantos anos desde que a vira pela última vez? Seis? Oito? Neste espaço de tempo estivera noivo duas vezes, portanto, era bem possível que Rachel tivesse encontrado o sr. Certinho e se casado, embora não houvesse sinal de aliança na mão esquerda. Observando-a, perguntava-se se aqueles olhos haviam sido sempre tão espetacularmente verdes, os cabelos sedosos tão louros e brilhantes...
Na memória ficara guardada a lembrança de que as garotas McCallister eram bastante parecidas entre si. Porém, agora não tinha dúvidas de que Rachel em quase nada fazia lembrar Lauren. E não era só a maneira de vestir. Lauren, por exemplo, jamais usaria os cabelos longos, soltos sobre as costas. Rachel possuía um brilho diferente no olhar, algo que nunca notara na ex-esposa.
Aliás, algo que nunca percebera em nenhuma das mulheres com quem saíra, sempre sérias e contidas.
— Culinária é uma arte, você sabe — Rachel estava dizendo. — Eu nunca poderia cozinhar bem. Agora, Lauren, ela, sim, entendia do assunto.
— E mesmo?
— Lauren é maravilhosa. Imagino que você tenha conhecimento de como minha irmã está se saindo bem profissionalmente. Isto é, suponho que vocês dois mantenham contato, uma vez que a separação foi amigável, sem brigas, ou animosidade.
A última coisa que Luke queria era falar sobre a ex-mulher. Assim, levantou-se.
—Acho que vou tomar uma xícara de café.
No mesmo instante Rachel ergueu-se também, fitando-o de frente. Com a passagem do tempo, acabara se esquecendo de como ela era alta, a mais alta das irmãs.
— É descafeinado. Não servirá para mantê-lo acordado durante o resto da reunião. Eu sempre bebo muito café forte antes de vir para cá. Pronto, contei meu segredo. Mas não diga nada a ninguém.
Ele sorriu e antes de se dar conta do que estava acontecendo, sentiu dedos delicados o segurarem pelo braço.
— Eu tinha certeza de que conseguiria! Um sorriso! Uau! Obrigada. Você ainda tem um sorriso estonteante, sabia?
Embora não tivesse intenção, Luke acabou rindo. Nenhuma das pessoas com quem convivera nos últimos anos seria tão transparente ao demonstrar satisfação. Pelo visto Rachel não era adepta daquele jogo tão comum hoje em dia, o de manter o controle das emoções acima de tudo e negar qualquer reação espontânea.
— Não, eu não sabia.
— Aposto que sim — ela o contradisse, acompanhando-o até a mesa onde o café era servido. — Lauren deve ter lhe dito vezes sem conta.
— Ouça, quanto a Lauren...
— Oh, ela tem se saído muito bem. Creio que você deve estar a par do programa de apoio que minha irmã criou para adolescentes grávidas. Não é maravilhoso? Dedicar a vida a ajudar os outros. Fico encantada com o que ela é capaz de fazer.
Luke serviu-se de café na esperança de que alguém aparecesse e interrompesse o monólogo de Rachel sobre sua ex-esposa. Infelizmente ninguém surgiu para salvá-lo e foi obrigado a escutar um relato detalhado das maravilhas operadas por Lauren. Da maneira como Rachel falava, parecia até que a irmã estava a caminho da santificação. E quando se decidiu a deixar claro que qualquer coisa relacionada à ex-mulher não o interessava, a reunião recomeçou.
Salvo.
A sensação de alívio durou pouco. O último item agendado era a formação dos vários comitês. Rachel se apresentou como voluntária para trabalhar no grupo encarregado dos fogos de artifício. E foi a única.
Assim que a reunião terminou, Luke tentou escapar sem ter que falar com Rachel. Não que não adorasse ser constantemente lembrado de que era o único culpado pelo fracasso de seu casamento com a Maravilhosa e perfeita Lauren, ele pensou cheio de ironia. Porém, m*l havia ganhado a calçada, ouviu-a chamando-o.
— Espere. Vou acompanhá-lo durante parte do trajeto.
Seria muito rude dizer "não, obrigado"? Em Nova York não teria que se preocupar com isso, pois a falta de delicadeza no trato com as pessoas era generalizada e considerada uma conduta aceitável. Mas não aqui, no Sul. Sem outra alternativa a não ser tolerar a companhia da ex-cunhada, resolveu conduzir a conversa, antes de ser obrigado a escutar mais histórias de "Minha Irmã, a Santa."
— E então? Conte-me o que tem feito todos esses anos.
A estratégia deu resultado. Rachel recomeçou um novo monólogo, falando de coisas tão diferentes quanto a construção de casas para os sem-teto e uma galeria de arte junto à praça Jackson, em Nova Orleans. Não foi mencionada a existência de um marido.
— Você tem que visitar nossa loja, a Rêve Rags. Minha, ex-colega de quarto na universidade e eu a abrimos há dez anos.
— Grace.
— Sim. Imagino que saiba sobre Grace.
— Sei quem é Grace. — Mais uma das pequenas confusões criadas por Nick. Apesar de tudo, Luke experimentou uma pontada de tristeza. Sentia falta do irmão. Pelo menos do irmão que conhecera antes de as drogas o terem destruído. Doía-lhe pensar que não fora capaz de salvá-lo,- de protegê-lo dos perigos do mundo.
— Foi idéia de Grace — Rachel estava dizendo. — A loja. Oferecemos tanto roupas de grifes famosas quanto peças de seda pintadas a mão.
— Passarei por lá qualquer dia desses — ele respondeu educadamente, sem intenção de cumprir a promessa. — Quando tiver algum tempo livre.
— Claro que terá tempo livre. Dentro de seis meses estará acostumado ao ritmo de Hurricane Beach e perceberá que não é preciso correr como na cidade grande.
— Não sei se ficarei aqui tempo bastante para isso.
— Oh, verdade?
— Sim. — Luke estava convencido de que não devia explicações a ninguém, por isso não se importava de parecer lacônico. Entretanto, estava começando a descobrir que Rachel McCallister não se deixava dissuadir facilmente.
— Por que não? — ela indagou. — Sabe, nunca acreditei que você fosse continuar trabalhando na bolsa de valores indefinidamente.
— É mesmo? — Embora preferisse mudar de assunto, a observação o surpreendera e acabara falando sem pensar.
— Você é o tipo que gosta de lidar com as pessoas, assim é difícil imaginá-lo brincando com dinheiro o dia todo.
— Não se trata de brincar com dinheiro — ele argumentou, embora soubesse que em Wall Street fortunas eram ganhas e perdidas do dia para a noite.
— Oh, eu sei que o que acontece na bolsa é importante, apesar de não compreender exatamente como. Porém você sempre pareceu dar mais importância ao contato com as pessoas do que ã fria manipulação do dinheiro. Foi... Lauren quem me disse isso.
— Lauren? — Era impossível imaginar Lauren fazendo uma observação dessas a seu respeito. Sua ex-esposa nunca gostara de trocar confidências, nem mesmo com as irmãs. — Ouça, sobre Lauren...
— Sim?
O que falar sobre a mulher com quem estivera casado e que não passara de um erro da juventude? Nada do que dissesse seria apropriado aos ouvidos de Rachel.
— Foi uma pena como tudo aconteceu — falou afinal. Pelo menos não se tratava de uma completa mentira.
— Oh, sei que faria bem a Lauren ouvi-lo se expressar dessa maneira. Sei que minha irmã também tem seus pesares.
E ter se casado comigo com certeza estaria em primeiro lugar na lista, Luke pensou irônico.
— Falar sobre essas coisas sempre foi difícil para minha irmã. Nunca soubemos o que aconteceu realmente entre vocês dois.
Luke não era nenhum t**o. Já fora longe demais e sabia quando era hora de parar e mudar de assunto.
— Foi há muito tempo atrás — desconversou.
A observação seria suficiente para fazer qualquer pessoa normal desistir. Mas não Rachel.
— Porém você não deixou de amá-la, ou algo semelhante, não é?
Com certeza não tinha a menor intenção de explicar que Lauren e ele, provavelmente, jamais haviam se amado de verdade. O que sentiram um pelo outro não passara de entusiasmo passageiro, um sentimento infantil, sobre o qual fora impossível construir uma relação adulta e duradoura.
— Não, nada semelhante.
— Então, o que foi?
Luke parou e fitou-a por alguns segundos, sem saber o que dizer. Rachel retribuiu o olhar com um sorriso franco.
— Você vai ter que me dizer que não é da minha conta. É a única maneira de me fazer calar. De acordo com Grace.
— Boa noite, Rachel.
Ele se afastou devagar, resistindo à tentação de olhar para trás. Mesmo quando a escutou avisá-lo, em alto e bom som:
— Mas isso só funciona temporariamente. Sou persistente.
Apesar da irritação, Luke riu.
— E eu, teimoso. Onde ficamos?
— Numa batalha de vontades?
— Desista, McCallister. Você já está fora de campo. — Rachel não mais fazia parte da família e não seria obrigado a se dobrar àquela persistência. Ou às lembranças que ela despertava.