📕 NARRADO POR NILO TAVARES Ela ainda tava com o peito inflado de raiva. Mas algo, naquele último “não sou tua propriedade”, quebrou de leve a muralha que ela levantava com tanta pressa. Uma rachadura fina. Quase imperceptível. Mas eu vi. E onde tem rachadura… tem entrada. Inclinei um pouco o rosto, observando cada detalhe. O cabelo desgrenhado. A boca seca. O orgulho tentando esconder a fome. O orgulho tentando esconder tudo. — “Quantos anos tu tem, hein?” — soltei, de repente. A voz veio mais baixa, mas ainda carregada. Ela demorou dois segundos. Parecia medir o peso da resposta. — “Dezessete,” falei antes dela responder. — “É isso, né? Dezessete. m*l saiu da p***a da escola.” Ela piscou, firme. Mas quando abriu a boca… — “Faço dezoito hoje.” — disse, sem desviar o olhar

