CAPÍTULO 24 RENATA NARRANDO: Quando chegamos em casa, preparei um café rápido e um pão com margarina pra mim, enquanto Ana Clara se sentava no chão da sala e espalhava os cadernos. Ela fazia uns rabiscos coloridos, concentrada, a língua de fora num gesto fofo que só ela tinha. O barulho do morro seguia lá fora — motos subindo, vizinhos falando alto, funk tocando no fundo. Tudo parecia normal. Depois de um tempo, ela pediu um desenho na televisão, e eu aproveitei pra sentar no sofá, descansar as pernas e deixar a cabeça viajar. Mas não demorou muito até o som de batidas fortes ecoar na minha porta. Não eram batidas comuns, não eram de vizinho pedindo açúcar nem de criança brincando. Eram socos duros, impacientes, que fizeram meu coração disparar no mesmo segundo. Levantei devagar, com o

