CAPÍTULO 29
VALÉRIA NARRANDO
O carro seguia firme, e a música ainda tocava baixinho, criando um clima que era difícil explicar. Eu olhava pela janela, vendo o mundo passar rápido do lado de fora, mas por dentro… tudo tava lento. Era como se meu corpo tivesse aqui, mas minha cabeça ainda estivesse lá atrás, remexendo nos escombros de tudo que vivi.
O cheiro do couro do banco misturado com o perfume do Morte me dava uma paz estranha. Era uma sensação nova. E ao mesmo tempo, assustadora. Eu não sabia o que ia encontrar naquela reunião. Só sabia que ia ser a primeira vez em muito tempo que eu entrava em algum lugar sem estar encolhida atrás de ninguém. Dessa vez, eu ia do lado. Ombro a ombro. Na mesma altura.
— Tá tranquila? — ele perguntou, sem tirar o olho da estrada.
Assenti devagar.
