Capítulo 01

1809 Words
Olívia Hummer - Olha quem está de volta? - Grita Stephanie correndo em minha direção quando abro a porta do apartamento. - Sempre linda! - Eu sei, amor. - Digo lhe dando um beijo na bochecha. - Me conta, como você está? Entro no meu quarto com Steph atrás de mim. Abro as malas e coloco as roupas no cesto enquanto a ouço falar sobre suas férias maravilhosas em Recife no último semestre, sobre seu novo namorado gato e sua família louca. - Mas e você? - Steph me puxa para me sentar na cama ao seu lado. - Não te vejo desde o primeiro ano do ensino médio! Nem imagina como fiquei ao receber sua mensagem perguntando se eu não queria dividir o apartamento com você. O que você tem feito? Me jogo cansada da viagem. Acabei de chegar de São Paulo e agora acho que consigo ficar de vez aqui na cidade. - Eu fui acabar os estudos nos Estados Unidos e trabalhar como modelo para o meu tio, lembra do meu tio Lucas? - Claro, seu tio é um gato. -Steph me dá um tapa no braço e eu reviro os olhos. - Pelo jeito sua queda pelo meu tio ainda não acabou, não é? - Pergunto rindo e belisco seu braço. - Claro que não, se por acaso ele me der bola eu acho que eu troco o Gustavo na hora. – Eu rio de sua brincadeira e ela logo volta a falar. - Mas e então, o que mais você fez? - Eu trabalhei por lá por um tempo e... - Ah, então a linda veio fazer moda? - Steph me pergunta e eu n**o. - Deixa eu acabar de falar? - Peço. Somos duas tagarelas, então é difícil conseguirmos deixar a outra falar. - Nossa, grossa! - Steph me mostra a língua e eu dou de ombros. - Mas então, eu aprendi muito bem inglês e comecei a dar aula de português para os gringos em uma escolinha de idiomas. Descobri que adoro ensinar e você sabe que eu sempre adorei ler de tudo, sabe? Desde jornal até... - Até bula de remédio. - Ela se intrometer novamente na minha narrativa. - Você é doente, sabia? - Cala a boca! - Rebato e volto a falar - Aí eu pensei: Vou fazer letras. - Você sempre foi aleatória, não é? - Steph cruza os braços. - Numa hora modelo, outra hora professora. Mas dá para juntar as duas profissões, sabia? - O quê? Como, querida? - Pergunto sem entender. - Você sabe... Atriz de filme pornô, as professoras são um fetiche bem... - Cala a boca! - Grito rindo e Steph me olha com cara de metida. - Eu acho que com essa boca os caras iam adorar assistir você pagando uma bo... Nem a deixo terminar e lhe dou outro tapa no braço. - Ficou agressiva desde a última vez que te vi. - Ela diz e eu a puxo para um abraço. - Eu estava com saudade de você e das suas piadas indecentes. - Digo e ela me aperta em seus braços também. - Eu também estava com saudade de você e da sua loucura. - Ela diz. Nos afastamos e ficamos conversando sobre tudo e sobre nada ao mesmo tempo. Tinha saudade dela. Saudade do ensino médio e de como as coisas eram tranquilas quando éramos apenas adolescentes tentando passar de ano e tentando conseguir fazer o melhor trabalho da turma. - Você lembra do João Miguel? - Steph me pergunta enquanto cozinha alguma coisa. - Claro que sim, ele era uma comédia. - Então, ele acabou de mandar mensagem falando que deveríamos nos encontrar para fazer algo juntos. Ele também começa a faculdade esse semestre. A maioria de nós tirou um ano sabático, menos a Marina. - A Marina é uma nerd. Não me surpreenderia se no final ela for a mais bem sucedida de todos nós. - Falo me sentando na banqueta da cozinha. - Ela já é mais bem sucedida do que a gente. - Steph diz experimentando sua comida. - Ela está trabalhando como auxiliar de advocacia e vai entrar no segundo ano da faculdade. Comprou um apartamento, um carro e ainda por cima eu tenho certeza de que já deve estar quase casada com o namoradinho dela. - Eles estão juntos ainda? - Pergunto chocada. - Eles estão juntos desde o fundamental! - Arregalo os olhos e percebo que no ranking ela está no nível perfeitinha da mamãe. - Então, todo mundo sabe que namoro do ensino médio quase nunca dá certo e eu vou ser sincera. - Steph coloca as mãos na cintura. - Eu sinto uma invejinha de ela ser o 1% que dá certo. - Não deveríamos ter sido as populares, mas sim as nerds. - Reflito mordendo o lábio inferior. - Aí meu Deus! - Steph arregala os olhos. - É por isso que os humilhados serão exaltados? A gente fazia bullying com ela, mas agora ela virou a mesa e deu vários tapas na nossa cara. Steph coloca a mão na testa teatralmente. - Me sinto espancada! - Ela se abaixa e agarra as mãos na pia. - Chamem una ambulância! Dou risada da sua atuação e sigo até o fogão para ver o que ela estava cozinhando. - Parece bom. - Digo pegando uma colher para experimentar. - Parece bom, mas se fosse da Marina estaria incrível! - Steph mantém a pose de derrotada e eu apenas dou de ombros. - Você não mudou nadinha. - Aponto rindo e ela se levanta me abraçando. - Senti sua falta! - Ouço ela dizer e a abraço novamente. Eu não queria ter saído no meio do ensino médio, mas foi totalmente necessário. Eu não conseguia mais ficar aqui naquela época, mas agora eu já superei. Eu já superei, certo? Eu acho que já superei. *** Passei a tarde conversando com Steph, colocando todos os assuntos em dia. Falamos literalmente de tudo, desde fofocas até filmes e séries que estávamos assistindo no momento. A noite decidimos sair com João Miguel e nos reunirmos com o pessoal do colegial. Passo um tempo arrumando minhas coisas e enfim encontro algo legal para vestir depois de desfazer minhas malas e organizar tudo para manter uma ordem mental e visual. Nos encontramos com o pessoal do colegial em um bar perto do apartamento que vamos morar por tempo indeterminado. O bar era calmo, com um estilo rústico e aconchegante. Chegamos na mesa e lá estava João Miguel, Lucas, Ana Clara, Steph e eu. Fazia três anos que não via essa galera. - Olha, se não é a Hummer! - Grita Lucas assim que me vê. Nos aproximamos da mesa e nos sentamos cada uma em uma ponta. - Você está mais bonita, a maioridade fez bem para você. - Lucas arqueia a sobrancelha e eu dou risada. Ele continuava com a mesma casa de b***a que sempre teve. - Uma cantada na sua segunda frase. - Comento rindo. - Acho que algumas coisas nunca vão mudar. - Nunca, apenas a Marina. - Aponta Ana Clara e eu dou risada. Ao que parece o time dos populares virou o time dos invejosos decadentes que ainda fazem bullying, porém agora fazemos bullying com nós mesmos. - Vamos lá, a gente aproveitou a adolescência. - Digo dando de ombros tentando animar a áurea deprimente que se apossou da nossa mesa. - Ana, você catou todos. - Aponto para Ana que sorri concordando. - Lucas, você deu em cima de todas. - Ele concorda também rindo. - João, todo mundo amava e ainda ama você, e você Steph, ganhou todos os concursos de beleza da época. - E você... Você foi levar uma vida invejável nos Estados Unidos. - Ana Clara diz com pose de metida e eu forço o meu melhor sorriso. Aquilo era verdade, minha vida nos Estates era invejável mesmo que eu não queria ter ido. Mas tive que ir, não conseguia ficar aqui, era muito difícil ver... - Oli. - Chama Steph e eu volto a atenção à mesa. - Vai comer alguma coisa? - Batatas e mandioca! - Sorrio para o garçom e já peço minha bebida. A noite estava tranquila e divertida, estava com saudade deles. Refletia sobre isso quando meu olhar cruza com o de alguém. Era um homem conversando e bebendo com os amigos. Minha atenção se voltou completamente para ele. O desconhecido vestia uma camisa social branca dobrada nos antebraços e uma calça preta. Seu estilo era social e casual ao mesmo tempo. Simples, mas atraente demais para eu não parar por alguns momentos. Ele me olha e ficamos presos um ao outro por alguns segundos. Seu cabelo preto estava bagunçado, seus olhos me encaram e eu fico observando-o por alguns minutos. Que homem... Nossa. João fala comigo, desvio meu olhar para o responder e logo volto a observar o homem desconhecido. Ele tinha virado para conversar com um de seus amigos e logo seu olhar procura o meu. Vejo ele levantar a garrafa de cerveja levemente me dando um aceno e sorri de lado. Faço o mesmo com o meu copo de caipirinha e desvio o olhar para a minha mesa, voltando a atenção nos meus amigos que estavam em uma sessão nostálgica de acontecimentos que eu não conhecia, já que os havia deixado no meio do caminho. Nos levantamos no final da noite para ir embora, deixo eles irem na frente e fico no final da nossa fila desajeitada para passar pelo bar que já estava lotado. Ao passar pelo grupo do meu homem sexy desconhecido, ele para na minha frente sorrindo. Sorrio de volta e ele morde levemente o lábio inferior. Ele era bem lindo e logo imagino seus lábios nos meus, deveria ser delicioso. - Oi. - Ele diz baixo já que não queria chamar atenção dos seus amigos do que estava acontecendo bem ao lado deles. - Oi. - Respondo simples. - Você... - Ele deixa a frase morrer e vejo seu olhar alternar entre meus lábios e meus olhos. - Amanhã, aqui. - Digo simplesmente quando minha boca fala mais rápido do que meu cérebro consegue pensar e ele concorda com a cabeça rindo do meu jeito direto. - Te espero. - Ele sussurra no meu ouvido me deixando passar. Entro no Uber que Steph tinha chamado para nós. Minha colega de quarto nem desconfia de que amanhã à noite eu tenho um encontro com um cara muito gato e que eu literalmente acabei de marcar. Está bem, faz dois dias que eu estou no Brasil e eu já estou atrás de macho. Se minha mãe me visse ela provavelmente tentaria me matar ou então iria fingir que não me conhecia, algo que ela faz e sempre fez muito bem. Algumas coisas nunca mudam...
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