Capítulo 4

1368 Words
  No outro dia, a coisa correu melhor. Alex e Daniel já começaram a conversar no portão, antes de entrar, como velhos conhecidos. Dessa vez a discussão era pra saber se o melhor disco do Depeche Mode era o Violator ou o Music for the Masses. Ai Daniel dizia: - Personal Jesus é f**a pra c*****o. Você já viu a letra?  - Vi sim. Mas eu ainda prefiro Strangelove. É bom pra dançar.  Daniel achava graça. - E você por acaso dança alguma coisa?  - Os dois riam. Daniel chegava a uma conclusão: - Os dois discos são bons. - Alex queria saber se Daniel já tinha ouvido o último disco da Legião Urbana: - Sonzeira cara. O Descobrimento do Brasil, eu tenho.  Daniel se surpreendia:  - Você tem? Preciso ir gravar umas fitas na sua casa.  Até a Jéssica falou um oi meio sem graça. Porém ela estava por fora. Os assuntos que eles conversavam, ela não entendia. "Papo de retardado", ela pensou.  Daniel estava gostando de conversar com o colega. Dessa vez ele não estava se sentindo tanto um peixe fora d’água na escola. Apesar de que as meninas sempre lhe davam atenção em qualquer lugar onde fosse. Mas isso não era tão bom, porque os outros rapazes acabavam ficando com raiva dele por causa disso. Sempre tinha uma irmã ou uma paquera de outro cara, que ele acabava pegando, o outro se doendo e dando merda no final. Como agora o papo era com homem, não tinha perigo. A não ser que a magrela resolvesse pegar ele na rua. Aí ele ia ter que apanhar quieto, porque não batia em mulher.  A conversa não acabava. Tinham muito pra falar. Alex perguntava: -Você já viu o filme do The Doors?  - Não, Daniel não tinha visto. - Ah é muito bom cara. Você não tem videocassete na sua casa? - e o outro respondia:  - Não tenho.  - Ah tá, senão te emprestava. Tenho gravado.  - Valeu cara.  As aulas passaram depressa. Mas no intervalo, duas meninas se aproximaram. Alex vivia olhando pra elas com o canto do olho. Elas eram morenas, perfumadas, com um corpo que a Jéssica não teria nem se nascesse de novo. E só pra variar, ele era sempre ignorado com sucesso. Mas agora elas estavam ali, sorrindo para eles e puxando conversa.  - Oi, sou a Bia. Essa é minha amiga Vanessa. E aí Alex, não vai apresentar o seu amigo?  - Meu nome é Daniel. Muito prazer.  Alex olhava para o amigo com o canto do olho, meio surpreso. Daniel olhava pra elas sem muito interesse.   - Então meninas, o que vocês queriam mesmo?  As duas ficaram vermelhas feito um tomate. Não contavam com essa resposta. Achavam que ele iria puxar conversa. Ser simpático. Mas a cara dele não dizia nada disso. E uma delas respondeu.  - Minha amiga quer saber se você tem namorada.  - Não, não tenho. Mais alguma coisa? - E esperou.   Aquilo acabou de desarmá-las. Acharam melhor ir embora.  -  Ah, não, não era nada, era só isso! Tchau! Até mais Alex.  -Tchau meninas.  Os dois ficaram olhando elas se afastarem. Daniel ficou pensando: "Devem ser as gostosas da escola. Acostumadas a ter um bando de virjão atrás delas. Aqui não, querida. Quem manda aqui sou eu. Alex estava quieto chutando uma pedrinha. Daniel resolveu falar:  - Cara tem hora que isso me cansa sabia? Que merda, essas meninas parece que nunca viram homem. - Meu Deus cara, me ensina esse truque, porque não é de hoje que eu tou de olho nessas duas. E elas nunca nem olharam na minha cara. Você m*l chegou e elas vêm puxar conversa! - Pensei que a sua mina fosse aquela magrinha. A Jéssica. - Não, a Jéssica é só minha amiga cara. A gente mora na mesma rua. - Daniel olhou pra ele com o canto do olho, pensando: "Ah então ele não pega nem a magrela. Deve ser um virjão mesmo." - Bom, já que você é a fim delas, nós podemos ver isso depois. Posso tentar ajeitar pra você.  Alex adorou: "Uau. Isso não era um amigo, era um tesouro. A coisa estava ficando cada vez melhor."   Os dias iam passando. E a cada dia que passava, os dois descobriam mais coisas em comum. As músicas. Os livros. Daniel também gostava de ler. Os mesmos livros que Alex. Jack Kerouac. Quem, em milhas de distância, tinha ouvido falar em Kerouac? Ele tinha. E Daniel sempre dizia: - Um dia saio por aí perdido que nem ele.  Também liam Stephen King. Carrie a Estranha. E diziam: "Dá até medo de verdade cara."  Os filmes.  Laranja Mecânica. Alex adorava. - Você sabia que tem o livro também?  - Não, não sabia.  - Te empresto.  - Hair.  - Filme louco demais cara.  - Queria ter vivido naquele tempo.  Poesias. Daniel às vezes escrevia algumas coisas. Alex ficou muito curioso para ler. Sim, um dia ele mostraria. Daniel ainda não tinha tido coragem de ficar com nenhuma menina da escola. Não queria confusão. E o cansaço do trabalho estava tirando a libido dele. O pouco entusiasmo que ele tinha, guardava para o amigo. Jéssica também tinha ficado de lado. Magoada, parou de procurar Alex e ir na casa dele para conversar e jogar videogame. E ele nem sentiu falta dela. Só Daniel reparava nela de vez em quando, quando a via olhando para os dois com um ar ressentido. E pensava consigo mesmo, meio divertido: "Calma baby, um dia eu falo com você de pertinho. Ou não." Na verdade, ele achava ela muito feia. Mas mesmo assim, tinha pena.   Nos dias de folga, Daniel ia na casa do Alex. Jogar videogame e ouvir música. Finalmente assistiu o filme do Doors que ele queria tanto ver. Muito louco. O cara era f**a. O r**m de ficar lá é que não podia fumar. Mas tinha entrado em boa amizade com todo mundo da casa. Até com o molequinho, o irmão mais novo. Tiaguinho. O moleque era um capeta. Mas era engraçado demais. Gostava de jogar bola com ele, ensinar a bater figurinha e trapacear no jogo de bolinha de gude.   Na verdade ele, Daniel, tinha tido sempre pouco tempo pra brincar. Desde pequeno tendo que cuidar de si mesmo. E aquilo tudo era muito bom. Não se lembrava de ter se divertido tanto antes. Em lugar algum. Nem nos braços de nenhuma menina, por melhor que fosse. Sim, eram coisas diferentes. Mas ele não estava sentindo tanta falta. Será que o Alex ainda era mesmo virgem?  Que tinha cara de virjão tinha. Jeitão de bobo, com certeza. Mas as coisas estavam mesmo mudando. Um dia Alex quis aprender a fumar. Daniel ficou meio preocupado. Achava que isso ainda ia dar merda. mas no fim acabou dando de ombros. Afinal, não era pai dele. Mesmo assim, se sentiu no dever de avisar. Afinal, ele era seu amigo. Seu melhor amigo. E começou dizendo:  - Cara, isso não é bom, estraga os dentes, deixa cheiro na sua roupa, custa caro manter e ainda vai arrebentar o teu pulmão. E não tem gosto de nada. Só de fumaça. - Ué, se é assim tão r**m, por que você ainda fuma? - Comigo é diferente, eu sou viciado. Se eu fico sem, passo m*l, começo a tremer, fico com dor de cabeça, desesperado pra dar uma tragada. Você não precisa fazer isso. Se eu soubesse como era, nunca tinha entrado. - Mesmo assim, eu quero tentar. Passa o cigarro aí. Como faz? - Coloca na boca e puxa a fumaça.   Alex quase morreu engasgado. Não parava mais de tossir. Ao mesmo tempo que tossia, cuspia e engasgava, falava: - Nossa c*****o, que merda, que r**m!! As lágrimas saltaram dos olhos. Do lado dele, Daniel ria até não poder mais, e dizia, sacudindo a cabeça: - A primeira vez é assim mesmo. Tenta de novo, mais devagar, puxa só um pouquinho de fumaça.  Alex estava adorando tudo aquilo. E ainda tinha um prazer secreto: o prazer do proibido. Agora sim, ele estava virando homem. Estava saindo da barra da saia da mãe, estava fazendo as coisas por ele mesmo. Ah, se a Jéssica soubesse.      
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