Chamas em meio a Tempestade

994 Words
O som distante de tiros cortava a madrugada enquanto a cidade lá embaixo parecia dormir alheia à guerra silenciosa que acontecia no morro. Danilo permanecia na varanda de seu quarto, os olhos fixos no horizonte, onde as luzes do Rio piscavam como pequenas estrelas distantes, inacessíveis. A inquietação que o consumia não se limitava ao território que ele comandava; era um fogo interno, uma luta constante entre o desejo e a razão, entre a dureza que precisou forjar e a ternura que brotava dentro dele toda vez que via Cecília. Ela havia se tornado o centro de seu mundo sem que ele percebesse, a chama que queimava todas as defesas que ele erguera contra o amor. Mas naquele momento, ali sozinho, ele se perguntava se aquela chama poderia resistir à tempestade que se aproximava. --- Cecília acordou com a luz fraca do amanhecer filtrando pelas frestas da janela. Ainda exausta pela tensão constante dos últimos dias, levantou-se devagar, sentindo o peso das incertezas que rondavam sua mente. Mas havia também uma força que crescia dentro dela — a certeza de que, apesar do medo e das ameaças, ela não desistiria. Não daquele lugar. Nem de Danilo. Ao sair do quarto, esbarrou com Lívia na cozinha, que a olhou com preocupação. — Ele não para de trabalhar — disse a irmã de Danilo. — Está cada vez mais fechado, mais distante. Você sente isso? Cecília assentiu. — Eu sinto. Mas sei que não posso deixá-lo sozinho agora. Lívia sorriu com um misto de simpatia e respeito. — Você tem coragem, Cecília. É essa coragem que ele precisa para não se perder na escuridão. --- Naquele dia, Danilo convocou uma reunião com seus aliados mais próximos. A ameaça de Ramon estava maior do que nunca, e as informações de traição dentro do grupo pesavam como uma pedra em seu coração. — Se não descobrirmos quem está passando informação, vamos perder tudo — disse ele, a voz dura, mas controlada. — Ivan será interrogado novamente. E dessa vez, não haverá espaço para mentiras. Subir, seu braço direito, manteve a postura rígida, mas havia uma preocupação clara no olhar. — Precisamos ser rápidos e precisos. A gente não pode permitir que a guerra se espalhe para a família. Danilo assentiu, sabendo que a próxima fase da batalha definiria não só o futuro do morro, mas também de todos que amava. --- No meio da tarde, Cecília encontrou Danilo no terraço da casa, observando o morro com o olhar distante. Ela se aproximou silenciosa, sentindo o peso da responsabilidade que ele carregava. — Danilo — chamou ela, suavemente. Ele virou-se, e o olhar duro se suavizou por um instante. — Você não devia estar aqui — disse ele, mais para si mesmo do que para ela. — E onde eu deveria estar? — replicou ela, firme, aproximando-se. — Eu não sou mais aquela garota do Leblon que vocês queriam controlar. Eu estou aqui, no seu mundo, porque escolhi estar. Houve um silêncio carregado, até que Danilo estendeu a mão e segurou o rosto dela, os dedos quentes acariciando a pele. — Você é diferente, Cecília. Mais do que eu imaginava. O coração dela disparou, e a proximidade dos corpos fez a tensão crescer. --- Mais tarde, já noite, Danilo e Cecília se encontraram no quarto dele. A distância que ele tentava manter se desfez quando ele puxou ela para perto, a boca procurando a dela num beijo urgente, carregado de desejo e medo. — Eu não posso perder você — confessou ele, entre beijos. — Você não vai — respondeu ela, deslizando as mãos pelo peito dele. — Nem eu vou desistir de você. O corpo de Danilo se arqueou com o toque dela, a paixão crescendo até que ambos perderam a noção do tempo e do espaço. Cada gesto, cada suspiro, era uma luta contra os fantasmas do passado, uma promessa de um futuro que eles ousavam sonhar juntos. --- No dia seguinte, a guerra no morro tomou uma nova dimensão. Novos ataques, novas perdas, e a sensação de que o inimigo se aproximava cada vez mais. Danilo recebeu uma ligação anônima com informações sobre um possível traidor, mas a voz do outro lado era coberta por ruídos e ameaças veladas. Ele soube, naquele instante, que não podia confiar em ninguém completamente. --- Durante uma reunião tensa, Ivan foi chamado novamente para prestar contas. Os olhares se cruzavam, carregados de suspeita e ressentimento. — Se está traindo o grupo, é melhor falar agora — disse Danilo, com a voz firme. Ivan encarou Danilo, o silêncio preenchido por uma tensão quase palpável. — Eu não vou mentir — falou ele, a voz firme. — Mas também não vou entregar tudo o que sei. A desconfiança de Danilo aumentava, e a necessidade de agir se tornava urgente. --- Enquanto isso, Cecília tentava manter a cabeça erguida, mesmo quando a realidade ameaçava esmagá-la. Ela sentia o peso de ser alvo dos inimigos, de ser uma peça numa guerra que ela não escolheu, mas que agora fazia parte de sua vida. Numa conversa sincera com Danilo, ela confessou seus medos. — Eu tenho medo de perder você — disse, a voz embargada. Danilo segurou as mãos dela com força. — Então fique ao meu lado. Juntos, somos mais fortes do que qualquer ameaça. --- Naquela noite, após mais um dia exaustivo, Danilo e Cecília se entregaram à paixão novamente, como se cada toque pudesse afastar o perigo que rondava. Os corpos se entrelaçaram com urgência e ternura, em um ritmo que só os dois conheciam. Era mais do que desejo; era uma necessidade de conexão, de encontrar no outro a força para seguir lutando. --- Por fim, o capítulo fecha com Danilo observando Cecília adormecer nos seus braços, a certeza de que, apesar das batalhas, das traições e do medo, o amor que crescia entre eles era a única coisa verdadeira naquele mundo de sombras. E que, enquanto houvesse amor, haveria esperança.
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