— Tempo? — Perguntou ele me questionando.
— Sim, tempo, aliás, você não foi o único que sofreu aqui, tá bom?
Ele respirou fundo e disse:
— Eu nunca disse que você não sofreu, Jennifer.
— Eu sei que não, mas fala como se eu tivesse culpa disso tudo. — Engoli seco.
— Jennifer, a culpa foi nossa por não ter tido um relacionamento saudável o suficiente... — Falou abaixando a cabeça e logo me olhando de volta dizendo:
— E o bebê? — Perguntou animado e assustado ao mesmo tempo. — Eu... Eu... Sou pai? — Ele disse um pouco bobo.
Me levantei do balcão e comecei a andar na cozinha de um lado para o outro.
— Eu perdi ele... — Tentei segurar o choro, sempre que eu falava nisso, a vontade de chorar era grande. — Eu o gerei e ele estava perfeito, eu olhei aqueles cabelos pretinhos iguais ao seus, os olhos iguais aos meus, as suas covinhas, ele era uma mistura perfeita de nós dois, Caio... — Pausei já deixando algumas lágrimas escorerem sobre o meu rosto e continuei: — Eu não pude o pegar no colo, os médicos logo o levaram para tomar injeção e depois disso, eu nunca mais o ví...— Pausei de novo e nem havia percebido que eu estava em prantos. — Eu perguntava desesperadamente por ele e todos me ignoravam, minha mãe não queria falar, ninguém falava nada, eu fiquei depressiva e quase morri, eu já não conseguia comer direito, pois o meu único motivo tinha ido embora sem ao menos eu ter notícias, e eu posso dizer que senti a mesma dor que você sentiu, mas de um modo diferente... — Falei soluçando de tento chorar.
O Caio se levantou do balcão e veio em minha direção, o mesmo me abraçou tão forte, tão forte, que eu chorei mais ainda, um abraço daqueles era tudo o que eu precisava naquele momento.
Eu sentia as suas mãos quentes deslizando sobre as minhas costas e aquele pequeno ato me trouxe uma inexplicável paz e um conforto incrível, aos poucos fui parando de chorar.
Quando me acalmei finalmente, eu me soltei dele lentamente e disse em voz baixa sem o encarar:
— Obrigada... Eu precisava disso...
— Ei, não precisa agradecer, você sofreu muito mais do que eu, e estava sozinha... — Falou passando uma de suas mãos em meus cabelos.
Por um lado, ele estava certo, meus pais estavam lá sim, mas eles viviam no trabalho, não que eles não se importassem comigo, mas eu estava ali de "intrusa", sobre a gravidez? Ficaram decepcionados comigo e os pais de Caio nem ficaram sabendo, bem... Pelo menos não por mim...
— Está tudo bem, é passado, seguimos as nossas vidas, certo? — Falei tentando quebrar aquele clima pra lá de estranho que havia entre nós dois.
— Jennifer, é um passado que está presente, entende? Eu sinto que ainda não acabou, tem alguma coisa ainda. — Falou ele me encarando.
Eu sorri fraco e disse:
— Foi apenas isso, Caio, você fez a sua escolha naquela praça e eu fiz a minha indo embora, perdemos nosso filho, sofremos em silêncio um pelo outro e nós aprendemos com isso, acredito assim, então não tem mais nada, o que passou, passou... Não podemos viver no passado. — Falei aquilo sentindo um nó se formar em minha garganta.
— Jennifer... — Falou colocando uma de suas mãos em meu rosto e continuou falando: — Por que é tão difícil de acreditar em mim?... — Falou num Tom triste.
— Caio, não complique as coisas, por favor, só... Só vai embora... Eu não consigo mais te olhar... — Falei abaixando a minha cabeça e segurando o choro novamente...
Uma parte de mim dizia que aquilo na era mentira, mas a insegurança reinava em mim e eu já não tinha mais controle sobre isso...
— Tudo bem... Estou indo... — Falou já se retirando da cozinha, escutei o barulho da porta se abrindo e logo em seguida a batida de leve...
Suspirei, eu não esperava que fosse assim, sinceramente? Eu esperava que ele fosse me ignorar, rir de mim ou algo do tipo, mas eu... Eu sinto que ainda tem sentimentos em algum lugar, o que não era pra acontecer...
Passei as mãos pelos cabelos e senti uma imensa vontade de me jogar na cama e chorar, mas eu não podia, eu tinha que enfrentar aquela confusão que surgiu em mim, em tão pouco tempo de chegada...
Algumas lágrimas silenciosas começaram a descer pelas minhas bochechas e logo em seguida ouvi batidas na porta.
O meu coração bateu fortemente ao pensar nas probabilidades de ser o Caio novamente.
Fui até a porta e atendi dando de cara com a Bia.
— Meu Deus, o que aconteceu aqui? — Falou me abraçando.
— Ele veio aqui... — Falei sorrindo fraco ao mesmo tempo que as lágrimas insistiam em cair sobre o meu rosto.
— E aí? — Falou Bia me guiando até o sofá.
— Ele disse que não me traiu, que ela o agarrou e ele logo em seguida a repreendeu.
— Olha, Jennifer, quer saber? Eu não duvido não, sabe? Você sabia que ela era louca por ele naquele época e é até hoje, ela faria qualquer coisa pra ter ele. — Falou Bia me encarando.
— Mais Bia, como vou saber se é verdade mesmo essa história? E mesmo se for, não importa mais.
Bia soltou uma gargalhada e disse:
— Vai deixar ela ganhar assim de você, Jennifer? Está na hora de dar o troco, aquela lambisgóia detonou com a vida de vocês, ela literalmente acabou com um relacionamento lindo.
— E as provas? — Falei desacreditada.
— Jennifer, por favor, amiga, acorda... Depois que você se foi o Caio se tornou irreconhecível, ele perdeu o sorriso, perdeu o brilho dos olhos, aquele jeito brincalhão dele... O Caio que você namorou, quando você partiu, partiu juntamente com você.
Ao escutar aquelas palavras, me senti uma tola...
— Se ele realmente me amava, Bia, por que ainda está com ela, em? Esse foi um dos motivos pra eu ficar mais desacreditada ainda com essa história de que foi ela que o beijou...
A Bia suspirou fundo e disse:
— Ele só está com ela, porque ele sabe que ela não vai abandonar ele em momento algum, Jennifer, por mais i****a que ele seja...