Capítulo 1 – Entregue ao Capo

547 Words
Aurora Mancini No submundo implacável da máfia, a palavra dada é lei, um pacto selado com sangue e honra sombria. Uma promessa não é mera formalidade, mas um juramento vinculativo com consequências eternas. Quebrá-la é assinar a própria sentença de morte, uma afronta imperdoável que clama por retaliação brutal. Cumprir uma promessa, por mais árdua ou perigosa que seja, é a própria essência da lealdade e do respeito dentro da organização criminosa. A vida de um mafioso pende por um fio tênue, onde a fidelidade à palavra empenhada é a única garantia de sobrevivência em meio a traições e vinganças implacáveis. A promessa ecoa como um decreto inquebrável: cumpra ou prepare-se para enfrentar a fúria da Cosa Nostra. Eu era o preço. A moeda de sangue. A filha de um homem fraco que ousou trair a Cosa Nostra. E por isso, fui entregue como se ainda vivêssemos no século XV — um acordo selado não com alianças, mas com sangue e silêncios. Chovia quando o carro parou diante dos portões da Villa Vitale. A água batia no vidro como se o próprio céu tentasse me alertar: não entre. Fuja. Mas eu não tinha mais para onde correr. Meu pai não teve coragem de me olhar. Apenas desceu do carro e abriu a porta com dedos trêmulos. — Anda, Aurora. Não me faça passar vergonha. Vergonha. Como se entregar a própria filha fosse um gesto de honra. Saí do carro com os saltos afundando na lama. Usava um vestido preto, simples, como se estivesse de luto. E de certa forma... eu estava. Luto por mim. Pela menina que acreditava que o amor do pai bastava para protegê-la de monstros. O portão se abriu com um rangido metálico. Dois homens armados esperavam. Sérios. Impassíveis. Como se receber uma garota como pagamento fosse rotina. — Senhorita Mancini — disse um deles, assentindo com a cabeça. — O Capo está à sua espera. Capo. Salvatore Vitale. O novo chefe da família mais temida da costa sul italiana. Criado no ferro e na violência. Respeitado por muitos, temido por todos. Eu só o conhecia de fotos: jovem, olhos de predador, sorriso que mais parecia uma ameaça. E agora ele seria meu... dono? Engoli em seco e entrei na casa. O cheiro era forte. Couro, madeira antiga, vinho caro e pólvora. Salvatore me esperava no alto da escada, de terno preto, sem gravata. As mangas arregaçadas revelavam braços marcados por tatuagens e cicatrizes — vestígios de um reinado construído com dor. Ele me olhou por um longo tempo. Depois, desceu lentamente os degraus, como um rei vindo receber um sacrifício. — Então... você é a promessa quebrada que me mandaram costurar com a alma. A voz dele era baixa, controlada, cortante. — Eu sou Aurora — respondi, tentando manter firme o que restava da minha dignidade. Ele se aproximou tanto que pude sentir sua respiração quente. Seus olhos escuros queimavam os meus, como se já soubesse tudo que eu escondia — os medos, as mágoas, as feridas. — Aurora — ele repetiu meu nome, quase num sussurro. — A partir de hoje... você será a minha punição favorita. E ali, debaixo daqueles olhos gelados e daquela boca c***l, eu entendi: Naquele mundo, ou você quebra... Ou aprende a ser tão fria quanto ele.
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