DAMON
Depois que aquela garota derrubou bebida na minha roupa, perdi o fio da meada sobre o que vim fazer aqui.
Tem horas que eu não aguento ouvir o Silas tentando nos enrolar com suas desculpas de não ter os bebês para nos entregar. De fato, ele é um imprestável e parece que o seu pai não percebe isso.
Perder a paciência com ele aconteceu há tempos comigo.
Sentamos para reunião e mais uma vez estava ele e o seu pai, o Daddy, tentando nos convencer com desculpas.
Desculpa estas que já ouvimos mais de uma vez.
— … Então em garanto que semana que vem os bebês estarão com vocês — concluiu Silas e eu não me contive.
— Me poupe das suas desculpazinhas. Seria melhor a gente levar essas mulheres para parir na nossa casa, que garantiria os bebês em nossas mãos.
— Damon! — Thomas tentou me repreender.
— Não seria uma má ideia. — considerou Dimitri.
— Estou cansado dessas desculpazinhas. Com essa é a quarta promessa que nos faz esse mês. Tenho cara de santo, por acaso? Pega as suas promessas e soca no…
— Damon! — Thomas tapou a minha boca e o Silas e seu pai ficaram me encarando curiosos com a minha fala.
Tirei a mão do meu irmão do meu rosto e levantei da cadeira.
— Quero datas. Uma última data. Ou não temos mais nenhum futuro negócio. — Bati minha mão na mesa.
— Duas semanas para ter certeza da entrega. — Silas estava roendo as unhas.
— DUAS SEMANAS? — exclamei indignado. — Mas você havia falado um semana há minutos atrás! — Olhei para o meu irmão diante desse absurdo. — Eles estão querendo nos enrolar mais uma vez. Vocês não estão enxergando? Já se foram milhões em prejuízo. Uma semana. — Me virei para o Daddy e seu capacho. — Uma semana ou negócio quebrado. — Resolvi me retirar após o aviso.
Ao abrir a porta encontrei aquela garota. A mesma garota que derrubou vinho em mim e ela estava segurando uma bandeja com mais bebida.
“Será que ela tá me procurando para terminar de me batizar com esse uísque?”
“Bem a cara do Silas mandar fazer isso. Vai ver ele a chamou enquanto ouvia o meu discurso de descontentamento”
— VOCÊ… Você está ouvindo a nossa conversa? — A arrastei para longe dali, ainda irritado com a reunião.
Ela me encarou assustada e quase derrubou a bebida novamente.
“Era só o que me faltava, uma desengonçada ouvindo o que não deve!”
— Não! Eu não ouvi sobre a conversa!
— Você quer que eu acredite numa garçonete? A mesma garçonete que derrubou bebida no meu terno italiano?
— Sim! — afirmou ao mesmo tempo que teve dúvida.
Só pode ser piada. Isso é um assunto confidencial.
Eu ri, cocando a minha barba.
— Olha, garota, você me pegou num péssimo dia, digo PÉSSIMO dia.
— Mas eu não ouvi nada. Não fiz nada, nem tenho nada a ver com essas crianças. Juro. — Ela suplicou.
— Ah... então você ouviu, né? — Encarei sua cara lisa.
Ela mordeu os lábios arrependida pelo que falou antes.
— Eu disse bebês? Bebês de bebida. Eu quis dizer bebidas.
— Então você andou bebendo. — Me diverti vendo sua cara de desespero. Porque não tem outra explicação.
— Não. Digo, talvez. Água. Você quer beber uísque? Eu trouxe... — Ela se virou toda nervosa, colocou a bandeja em cima de uma mesa e arrastou um copo direto para mim.
Isso mesmo, na minha roupa. Como eu havia previsto.
— p***a!
Dei um passo para trás, afastando meus braços do tronco, enquanto minha roupa pingava.
— Esse está sendo seu passatempo agora? Me molhar? Da próxima vez trarei um guarda-chuva ou uma capa…
— Me desculpa. É que você me deixou nervosa.
Ela puxou o seu avental na altura do meu peito, tentando limpar a sujeira que fez e sua farda, que já era curta, ficou minúscula.
— Me desculpa!
Mas ignorarei o detalhe das belas pernas que ela tem.
— Damon? — chamou Dimitri apressado. — Isso lá é hora de dar em cima das garçonetes? Bora terminar o que viemos fazer aqui e depois você faz o que quiser.
E mais uma vez meus irmãos caindo no conto do vigário do Daddy.
— Deixa, garota. — Segurei sua mão nervosa, a fazendo parar de esfregar seu avental em mim. — Você não vai conseguir reverter nada fazendo isso.
E logo ficarei com uma ereção se continuar olhando para essas pernas. Aí que não terá como reverter mesmo.
“O Daddy caprichou na seleção dessas garçonetes”
— Desculpa. — Ela continuou aflita.
— Continuaremos nossa conversa depois. — A deixei ali na intenção de voltar para a sala.
— Novata? — Outra garçonete apareceu e me encarou de cima a baixo enquanto ficava ao lado da desastrada. — Você tá dando em cima do sócio do chefe? — Ela tentou sussurrar numa tentativa falha.
— Mas é claro que não! — retrucou num tom ofensivo.
“Como se você não fosse adorar deitar comigo…” — Balancei a cabeça em negação com esse pensamento e um sorriso quis surgir em meus lábios, mas me contive.
— Então vamos. Se apresse, tem várias mesas para gente atender. Não é hora de ficar arranjando gorjeta. — A garota a puxou pelo braço.
— Gorjeta? Do que você está falando? — Ela acompanhava contra sua própria vontade.
“Então ela faz programa?” — Fiquei com esse questionamento.
Entrei na sala assim que elas sumiram de vista e lá estava o Daddy conversando com o meu irmão mais velho.
Dimitri ouvia as lorotas do Silas e eu me vi no papel de aceitar a decisão que eles tomaram enquanto era banhado com uísque.
Saímos da sala com a reunião concluída e somente quando fiquei sozinho com meu irmão, pude perguntar sobre o que foi acertado.
Meu irmão respirou fundo.
— Basicamente o mesmo de sempre.
— Desse jeito vamos falir. Eu não assinarei mais embaixo desses acordos.
Peguei um copo de uísque e dei um gole seguro da minha decisão.
— O que você quer dizer com isso? — Ele ergueu a sobrancelha preocupado.
— Estou fora dos negócios com esses dois. Não vou mais perder meu tempo, dinheiro e paciência com eles. Se você tem vocação para palhaço, lamento, mas eu não tenho.
— Você não pode fazer isso!
— Pois estou fazendo agora. — Me afastei dele enquanto tomava o meu uísque.
Já me livrei de um problema, agora só falta me livrar do outro, a garçonete.
Mais a frente, cruzei com mais um m****o da família que me tira a paciência: Violet.
— Damon! Você por Aqui! — Ela veio em minha direção, toda animada.
Como se ela não soubesse que a cada quinze dias eu estou aqui.
— Violet. — A cumprimentei desanimado.
— Tudo bem? Parece chateado.
— Quando que a sua família não me deixa chateado, não é? — Me contentei com esse fato.
— Eles são difíceis, mas eu não. Você não quer sair pra jantar? Que tal? Espairecer… Conheço um restaurante ótimo.
— Deixa eu adivinhar: um restaurante que também é do seu pai. Como tudo por aqui…
Ela deu uma risada.
— Fazer o que, não é? Mas o chefe é brasileiro e tem um cardápio maravilhoso. Além de ter a minha companhia, é claro.
— Olha… fiquei até sem ar com sua ideia. Proposta tentadora, mas preciso recusar.
De maneira alguma sairei com essa grudenta. Já não bastam os problemas que ela já me arranjou.
— Por que não?
— Porque tenho outros compromissos agora. Um compromisso bem importante, para ser mais sucinto. Me dá licença. — Me afastei dela observando a destrambelhada servindo outras mesas.
Eu não posso deixar essa menina com toda a informação que ouviu atrás da porta por aí. Se não sabe segurar um copo, imagina um segredo?
Preciso arranjar um jeito de resolver isso sem causar burburinho.