Varella

1104 Words
O dia começa cedo, mesmo quando a noite anterior foi longa. Alguns pensam que luxo é sinônimo de preguiça, mas na minha vida ele é resultado de disciplina, controle e, sobretudo, planejamento impecável. Meus despertadores tocam antes do sol nascer. A primeira coisa que faço é revisar relatórios das empresas — todas as minhas empresas — desde a joalheria na avenida central até a importadora que ninguém suspeita que seja fachada. Cada número, cada transação, cada movimento é registrado em planilhas que só eu entendo por completo. A rotina parece banal para quem olha de fora, mas para mim é um mapa do império que construí. Cada cifra é um passo adiante, cada contrato fechado é mais um elo no meu domínio. Após o café — simples, forte, sem açúcar, como gosto — eu reviso mensagens criptografadas. São ordens, confirmações e atualizações do que acontece fora da luz pública. O coração do meu império é o tráfico de pedras preciosas. Mas não se engane: não é só pegar uma pedra e vender. O processo começa muito antes, nas profundezas de minas ilegais que exploram diamantes, esmeraldas e rubis sem registro algum. Para acessar essas minas, precisei investir milhões em pessoas locais, subornos e infraestrutura mínima para que ninguém suspeitasse da presença de alguém de fora. Cada contato foi escolhido com cuidado: líderes de garimpo, operadores de transporte clandestino, especialistas em avaliação de gemas. Alguns conheci pessoalmente; outros só por confiança mútua e reputação. Lealdade é comprada, e eu sou generoso quando sei que o retorno vale cada centavo. A extração das pedras envolve um verdadeiro exército de pessoas: operários, guardas, motoristas e corretores. Cada um recebe pagamento acima da média do que poderia ganhar legalmente, justamente para garantir que nunca me traiam. O custo é alto, mas é um preço que se paga pelo silêncio e pela eficiência. Não importa se são homens ou mulheres, jovens ou experientes: todos têm algo a perder se quebrarem a confiança. Meu império, ao contrário do que muitos imaginam, não depende apenas de intimidação; depende de saber exatamente quanto cada pessoa precisa para permanecer fiel. É uma ciência, quase uma alquimia de risco e recompensa. Uma vez extraídas, as pedras passam por um processo de transporte extremamente controlado. Cada carregamento é dividido, registrado em códigos internos que ninguém além de mim e dois parceiros de confiança compreendem. O transporte é feito de forma que, se um ponto falhar, o restante do sistema continua intacto. O método envolve empresas legítimas, contêineres legais e, claro, documentos falsificados. Cada papel assinado, cada selo oficial, é uma máscara que esconde o que realmente acontece. Aprendi cedo que grandes fortunas caem não por falta de poder, mas por descuido burocrático. E eu não descuido. O próximo passo é a venda. Não é qualquer mercado que me interessa. Os compradores são selecionados com o mesmo rigor que os meus aliados: investidores internacionais, colecionadores discretos, joalheiros renomados que sabem que o preço do segredo é mais alto que o preço do diamante. Cada negociação é um jogo. Um passo em falso, e o risco de exposição é imediato. Mas cada vitória, cada pedra vendida, acrescenta milhões às contas cuidadosamente distribuídas entre empresas de fachada, contas pessoais e fundos em paraísos fiscais. É um ciclo contínuo: extração, transporte, venda, reinvestimento, expansão. O império cresce e eu cresço com ele, sempre dois passos à frente de qualquer sombra. Mas o dinheiro não é o fim, é o meio. O verdadeiro poder está no controle. É saber que cada movimento, cada palavra, cada gesto meu influencia dezenas de pessoas sem que elas percebam. A rotina do império exige atenção constante. É preciso gerenciar não só a produção e venda das pedras, mas também manter a imagem pública impecável. Meus investimentos legítimos são cuidadosamente escolhidos para reforçar essa fachada: leilões, redes de joalheria, filantropia discreta. Tudo reforça a narrativa que o mundo vê: Gabrian Varella, empresário visionário, dono de um império ético, impecável, admirável. Para manter tudo funcionando, precisei formar um núcleo de confiança. Três homens e duas mulheres ocupam posições-chave: responsáveis por finanças, logística, transporte, contato com garimpeiros e controle das informações internas. Cada um recebeu uma soma que qualquer pessoa comum chamaria de vida inteira de salário. Alguns começaram como empregados comuns, outros como intermediários no mercado clandestino, mas todos passaram pelo mesmo teste: lealdade absoluta, eficiência sem questionamento e capacidade de agir sem hesitar. Eles me entendem, sabem como funciona meu código e compartilham a obsessão pelo império. Sem eles, nada seria possível. Minha rotina diária, embora envolva luxo e eventos sociais, é calculada. Cada reunião é uma oportunidade de observar, testar e consolidar minha rede de poder. Eu estudo meus parceiros e rivais, e cada gesto de atenção ou desdém é calculado para extrair informação sem que ninguém perceba. Aprendi que a percepção de poder é tão importante quanto o poder real. As pessoas devem acreditar que você está sempre no controle, mesmo quando os ventos mudam e a tempestade se aproxima. Os eventos sociais, que muitos consideram lazer, são para mim exercícios de diplomacia, persuasão e vigilância. Cada sorriso que dou, cada aperto de mão, cada brinde é medido. Aprendi a ler intenções em segundos: quem deseja subir na vida, quem deseja derrubar outro, quem é um aliado silencioso. É como um tabuleiro de xadrez infinito, e eu sou mestre em prever movimentos futuros. E enquanto isso, claro, mantenho minha vida pessoal… ou o que chamo de vida pessoal. Nada de relações profundas ou complicadas. Mulheres entram e saem da minha rotina com frequência, algumas atraídas pelo perigo, outras pelo luxo. Nenhuma interfere na estratégia, nenhuma questiona meu controle. Cada relacionamento é um teste: saber se posso manipular, encantar e, se necessário, dispensar, sem deixar rastros emocionais que me comprometam. À noite, quando o mundo parece descansar, eu reviso o que foi feito. Relatórios de transporte, extratos de vendas, atualizações de aliados. Cada pedra vendida, cada operação concluída, cada pagamento feito é uma nota em uma sinfonia complexa que só eu consigo ouvir. O império exige vigilância constante. Um detalhe esquecido pode custar milhões, ou pior, tudo que construí. Essa é minha vida: controle, poder, luxo e perigo. Cada dia é um equilíbrio delicado entre ser o empresário que todos veneram e o rei das pedras que ninguém ousa desafiar. Cada pedra vendida é uma vitória, cada operação concluída é uma prova de que ainda estou no topo. E, ainda assim, sei que o mundo que me cerca é instável. Qualquer movimento errado e o castelo de cartas desmorona. Mas por enquanto, o castelo permanece de pé. E eu… continuo a ser Gabrian Varella.
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