Gabrian
O nome é Gabrian Varella.
Se você procurar por ele no Google, vai encontrar matérias sobre negócios, capas de revista, entrevistas em eventos de gala e, claro, aquela imagem limpa e brilhante de um empresário de sucesso. Vai ver fotos minhas em frente a jatos particulares, segurando taças de champanhe caras, ao lado de políticos, investidores e atrizes. Vai ler sobre minhas empresas — joalherias, mineradoras, importadoras — e vai pensar que minha vida é uma sequência de vitórias impecáveis.
Mas a internet… ah, a internet só mostra o que eu deixo ver.
O que ninguém sabe — ou pelo menos, o que ninguém ousa dizer em voz alta — é que toda essa fortuna começou com algo muito mais bruto e perigoso do que ações na bolsa. Eu não nasci em berço de ouro. Cresci vendo meu pai suar num galpão de marcenaria e minha mãe fazer milagres com pouco dinheiro pra pôr comida na mesa. Aos dezessete anos, já tinha entendido que honestidade não pagava as contas e que o mundo pertencia a quem sabia jogar sujo sem deixar pegadas.
O meu jogo começou no submundo das pedras preciosas.
Pedras ilegais, arrancadas de minas clandestinas no meio do nada, carregadas por homens que ganhavam uma miséria e transportadas em sacos que jamais passavam por inspeção oficial. Eu era apenas um intermediário no começo — o garoto que conhecia as pessoas certas, que sabia a quem vender e, mais importante, como não chamar atenção.
E eu era bom nisso. Bom demais.
Aos vinte e dois anos, já tinha um círculo de contatos que incluía garimpeiros, atravessadores e compradores no exterior. Eu não precisava me sujar de lama; bastava fazer os acordos certos, pagar os subornos certos e garantir que cada pedra desaparecesse do mapa antes que algum fiscal percebesse que ela existia. O dinheiro vinha rápido, mas o risco também. E risco, para mim, sempre foi combustível.
Com o tempo, aprendi a arte de lavar esse dinheiro. Nada de ostentar sem propósito — um erro que muitos cometem e que os leva direto pra cadeia. Não. Eu abri empresas legítimas, diversifiquei investimentos, comprei imóveis em nome de terceiros e me cerquei de advogados e contadores que, oficialmente, não sabiam de nada… mas que, no fundo, conheciam bem a regra mais importante: lealdade compra-se. E eu sempre paguei muito bem por ela.
Hoje, aos trinta e dois anos, sou conhecido como o “rei das pedras” no circuito empresarial. Tenho participação em casas de leilão, redes de joalherias, mineradoras e importadoras que movimentam milhões. Mas o que me mantém no topo não é apenas o dinheiro. É o controle.
Controle sobre meus negócios.
Controle sobre minha imagem.
Controle sobre as pessoas.
E sim… controle sobre mim mesmo.
À primeira vista, pareço frio. E de fato, sou. Mas aprendi que, nesse jogo, charme é uma arma tão poderosa quanto uma pistola. E eu uso as duas, se necessário. Não é por acaso que sempre tenho mulheres ao meu redor em eventos sociais — modelos, socialites, atrizes. Algumas me querem pelo dinheiro, outras pelo perigo. Nenhuma fica por muito tempo. E isso nunca foi um problema para mim.
Mas deixa eu te contar sobre ontem à noite…
Era um jantar no terraço do Hotel Saint Rémy, vista panorâmica da cidade iluminada. Evento beneficente. Champagne importado circulando nas bandejas de garçons impecavelmente vestidos. Eu estava de terno sob medida, gravata perfeitamente alinhada, relógio suíço que custou mais do que alguns apartamentos no centro.
À minha esquerda, um político sorridente demais. À direita, uma atriz famosa que insistia em tocar meu braço a cada frase que dizia. Eu sorria para todos, mas minha mente estava em outro lugar — na reunião que teria à meia-noite, num armazém afastado da cidade, onde uma nova remessa de pedras acabara de chegar.
Eu não podia me dar ao luxo de errar.
Não agora.
E é nesse ponto que minha vida se equilibra: um pé no mundo do luxo e outro no abismo. Sei que, se um dia eu vacilar, não vai ser a polícia que vai me derrubar… vai ser alguém mais perigoso.
O que eu não imaginava, naquela noite, era que um terceiro tipo de perigo já tinha começado a me cercar.
Um perigo com olhar intenso, sobrancelhas marcantes e uma determinação que faria qualquer criminoso pensar duas vezes.
Mas isso… é assunto pra depois.
Se tem uma coisa que aprendi cedo na vida é que poder não se pede, se conquista.
E, acredite, nem sempre a conquista é bonita.
Minha história começa bem antes de ternos sob medida e jantares em terraços iluminados. Antes de investir milhões em joalherias, mineradoras ou leilões internacionais. Antes de aparecer nas capas das revistas e ser considerado o “empresário do ano”. Antes mesmo de perceber que o mundo seria dividido entre os que se vendem e os que compram.
Eu nasci com pouca sorte e muita ambição. Cresci em um bairro onde todos conheciam o sabor da derrota antes de completarem vinte anos. Meu pai, um homem honesto e teimoso, tentava fazer o pouco que tinha durar, e minha mãe era a fortaleza silenciosa que segurava as pontas da casa. Então, eu aprendi desde cedo a observar: cada gesto, cada palavra, cada oportunidade desperdiçada. Aprendi que ninguém entrega nada de graça e que simpatia não põe comida na mesa.
Foi nesse cenário que descobri o mundo das pedras. Mas não qualquer pedra. Pedras que valiam mais do que um apartamento na zona sul, que brilhavam tanto sob a luz que quase cegavam, e que poderiam colocar um homem comum em uma prisão perpétua se ele não soubesse lidar com elas.
Minha primeira negociação foi um teste.
Um garoto como eu, ainda sem dinheiro, sem influência, com nada além de ousadia e uma vontade de ferro. Fui atrás de emprego e acabei sendo apresentado a um pequeno garimpo clandestino, isolado em uma região onde até o sol parecia desconfiar de quem passava. O homem que me recebeu olhou para mim como se eu fosse uma mosca tentando engolir um elefante. Ele disse que, se eu quisesse entrar nesse mundo, teria que provar que merecia. Que dinheiro fácil não existia e que confiança valia mais que ouro.
A primeira pedra que eu toquei era bruta, irregular, mas valiosa. Um diamante que, nas mãos certas, poderia virar milhões. Eu a segurei, senti seu peso, observei cada detalhe. E, naquele momento, decidi que nada me impediria de conquistar o que eu queria.
Não demorou para que eu construísse meu próprio esquema. Aprendi a escolher contatos, avaliar riscos e, acima de tudo, a manter distância daquilo que pudesse me comprometer. Eu não precisava ser o mais forte, nem o mais violento; precisava ser o mais esperto. E eu era.
Enquanto o mundo me via como um garoto promissor no mercado de pedras preciosas, eu me tornava mestre na arte de desaparecer. Cada transação era um passo calculado: quem receberia a mercadoria, como pagar sem deixar rastros, quais empresas usar para lavar o dinheiro. Eu comecei pequeno, comprando e vendendo em mercados discretos. Depois, expandi minha rede, usando empresas de fachada, amigos confiáveis e contas em paraísos fiscais que nem o mais meticuloso auditor ousaria investigar.
E, claro, precisava manter minha fachada pública impecável.
A imagem é tudo. Um sorriso no jantar certo, um aperto de mão calculado, uma entrevista em revista elogiando meu “espírito empreendedor” e “compromisso com o desenvolvimento do setor de mineração”. As pessoas adoram acreditar naquilo que querem ver. Para elas, eu era um empresário de sucesso, um visionário, um exemplo a seguir. m*l sabiam que minha vida real acontecia nos bastidores, longe de câmeras e aplausos, onde cada decisão podia significar fortuna… ou fim.
O que poucos sabem — e que quase ninguém ousaria imaginar — é que eu também aprendi a usar charme como ferramenta de sobrevivência.
Mulheres, claro, sempre notam. Mas não era apenas sobre atração; era sobre poder. Um olhar certo, uma palavra no momento exato, e eu conseguia abrir portas que dinheiro algum conseguiria. Havia beleza na manipulação sutil, na arte de fazer com que acreditassem que me estavam escolhendo, quando, na verdade, eu escolhia tudo.
Por isso, cada evento social era um palco. Cada jantar, cada coquetel, cada brinde com desconhecidos ricos ou influentes, era uma oportunidade. Eu estudava todos os presentes: suas ambições, medos, desejos. Alguns tentavam me enganar; eu deixava, sorrindo por dentro. Outros se tornavam aliados, sem nem perceber. E aqueles que representavam perigo… bem, eu aprendia a neutralizá-los sem que soubessem.
Não se engane: minha vida não era só glamour e poder.
Havia solidão. Uma solidão confortável, se você souber apreciá-la. Confiança é um luxo que não posso me dar, e lealdade é uma moeda cara demais para qualquer um que não entenda meu mundo. Amigos? Tenho poucos. Família? Distante. Paixões? Passageiras. Mas essa solidão me dá algo que muitos não têm: liberdade absoluta para agir.
No entanto, havia momentos em que refletia sobre tudo isso. Em que olhava para minha coleção de pedras, meu império de fachada, os carros importados e os imóveis e pensava: até quando eu posso manter tudo sob controle? Até quando minha fachada vai resistir?
A resposta, claro, eu nunca encontrava.
E foi nesse equilíbrio delicado entre luxo e perigo, charme e cálculo, solidão e poder, que eu me tornei Gabrian Varella. Não apenas um nome de sucesso, mas uma lenda silenciosa em um mundo que nunca entenderia completamente quem eu realmente era.
Enquanto escrevo essas linhas, sentado em minha cobertura, olhando a cidade que nunca dorme, posso ouvir as vozes de cada negociação, cada risco calculado, cada passo que me trouxe até aqui. O aroma do café recém-preparado se mistura com a lembrança do meu primeiro contato com o mundo das pedras ilegais. Cada memória é uma lição, cada lição é uma arma.
E ainda assim… apesar de todo o poder, toda a riqueza, toda a capacidade de controlar o mundo ao meu redor, existe algo que eu não consigo dominar. Algo que sempre escapou ao meu controle.