Capítulo 3:

1556 Words
Alfonso Os saltos incomodam mais do que eu conseguiria imaginar em anos. Não sei como as mulheres conseguem andar nisso sem perderem os dedos dos pés. Mas como diria meu pai, sempre que você deseja algo um pouco de sacrifício tem que ser feito. Esse é o sacrifício que estou fazendo pra provar minha inocência. Suspiro de alívio quando chego à minha república, porque ela ainda é minha república e se Deus quiser hoje à noite vou descobrir quem roubou o time. Não há nada mais eficaz pra fazer um homem falar do que bebida e mulheres e meu time inteiro estará na casa essa noite. Algumas garotas me olham torto quando subo os primeiros degraus da casa e entro. A meia calça que estou usando pinica minha perna, me impedindo de andar como uma pessoa normal, é um verdadeiro inferno isso daqui. Os olhares continuam e pioram quando atravesso a porta e chego na sala. - Ora, ora olha o que temos aqui! - Kristopher grita e usa a cerveja pra me apontar. Todos os olhares na sala se voltam pra mim e não gosto nenhum pouco disso. - Oh minha filha de onde foi que você surgiu, do inferno? - Tyler me encara debochado. Com medo de abrir a boca, abaixo a cabeça e tenho vontade de me encolher. Nunca me importei com a minha altura, mas naquela momento tenho vontade de encolher e sumir. - Deve ser amiga do Christian, vai saber se isso ai não é um traveco querendo ser traçado pela gente. - Ethan debocha e a sala inteira ri. Dou as costas e decido ir embora, é óbvio que essa ideia foi péssima, onde eu estava com a cabeça quando resolvi me vestir de mulher e vir aqui? - Sabia que você é f**a pra c*****o? - Tyler me encara se colocando no meu caminho. - Vem cá, você é homem? Porque não sei se reparou, mas aqui é uma festa pra gatinhas, não pra um cão chupando manga como você. Além de tudo é brega pra se vestir, dá uma olhada no nível das garotas dessa festa. Tyler puxa uma garota e envolve seus ombros com o braço. Não sei como ela aguentou com o frio que está fazendo lá fora, mas ela está de saia, uma blusinha decotada e saltos altíssimos. Tenho que concordar que ela é gostosa pra c*****o e adoraria t*****r com ela se pudesse. - Oh filha do capeta, se manda, ninguém aqui tá afim de brochar com você. - Ethan debocha e Kristopher se mata de rir ao lado dele. Fico com v****************a resposta atravessada à eles, arrancar a peruca e revelar quem sou, mas isso seria uma péssima ideia. Vejo um dos caras do time cochichar algo no ouvido de uma garota sentada no colo dele. Ela se levanta e vem na minha direção. Pra minha surpresa ela joga a bebida na minha roupa. - Ops, pensei que ia ajudar no visual, mas piorou. A sala inteira começa a rir e fico sem saber o que fazer. Conheço a maria-patins, é uma das moradoras da casa das populares e me lembro de que ela já implorou pra t*****r comigo uma vez. Vou fazer questão de marcar o rosto dela e coloca-la no seu lugar quando voltar a estar por cima. - Anda baranga, some daqui. - um copo de plástico vazio atinge meu rosto e outros começam a ser jogados em mim. Antes que seja linchado dou as costas e saiu correndo pra fora da casa, ouvindo todos gargalharem e rirem da minha cara. Nunca me senti tão humilhado na minha vida, minha vontade é voltar lá pra dentro e falar umas boas pra todo mundo, mas como fazer isso se até meu filme como Poncho Hernandez está queimado? Sem escolhas começo a andar sem rumo, só querendo sumir de perto daquela casa. Estou sem grana pra chamar um táxi, e não tenho coragem de pedir outro favor pro Christian. Sempre zombei do cara e acho que ele já fez muito por mim, deslocando essa roupa e esse disfarce ridículo. Pena que não deu certo. Continuo andando algumas quadras até meus pés não aguentarem mais e então me sento num banco. É um alivio arrancar aqueles sapatos. Olho pra noite escura que está ficando cada vez mais fria, tenho certeza que logo vai começar a nevar e apesar de estar com meu celular não sei o número do Christian e não tem como ir até a casa dele a pé e implorar que me deixe dormir na casa dele. Até chegar lá meus pés congelaram ou morreram dentro desses saltos. m***a o que eu faço?     Anne   - Any... - Marjorie me chama, tiro os olhos do livro e a encaro. - Tem uma garota lá fora e está começando a nevar. Me levanto do sofá e vou até a janela onde ela está. Vejo a garota e talvez por estar de costas não a reconheço. - Será que ela não é daqui? - pergunto. - Pelas roupas, provavelmente ela não é da casa das populares. Será que ela se perdeu? - Vou descobrir já. - respondo. Coloco minhas pantufas confortáveis e quentinhas, minha blusa de lã a e saio pra fora.     Alfonso   Estou quase decidindo me deitar naquele banco e passar a noite ali, mesmo correndo o risco de morrer congelado, quando ouço uma porta se abrir e fechar. Olho pra trás e vejo Anne se aproximar. Espera ai, Anne? Anne Gonzales? Droga é ela mesma e está vindo na minha direção. Merda, era só o que me faltava, não acredito que fui sentar no banco justo na calçada da casa das meninas menos populares do campus e que a líder delas, que por sinal me detesta, está vindo falar comigo. Me levanto decidido a ir embora, antes que ela tenha a chance de me expulsar. - Hei moça, você tá perdida? Seu tom amigável é o que me faz virar pra ela e encará-la. Está com umas pantufas engraçadas do ursinho pufe, uma calça de moletom preta e uma blusa de lã gigante que vai até o meio de suas coxas. Está super m*l vestida, mas quem sou eu pra julgar quem dos dois está mais arrumado? - Moça você tá perdida? - ela pergunta de novo. Aceno com a cabeça com medo de abrir a boca e ela me reconhecer e me expulsar dali. - O que aconteceu com você? Afino a voz o máximo que consigo, me preparando pra encrenca se ela me descobrir. O vestido molhado continua gelado na parte da frente me deixando com mais frio ainda. - Eu fui assaltada! - invento a primeira coisa que me vem à cabeça. - Que horror, você está bem, eles machucaram você? Sua preocupação me pega de surpresa e n**o com a cabeça. - Já sei o que aconteceu, você fugiu deles e se perdeu é isso? Você não estuda na faculdade daqui acertei? - Sim, me perdi! - continuo, afinando minha voz, feliz por ela não me reconhecer. Christian tinha razão fiquei ridículo e irreconhecível nessa fantasia de mulher. - Você quer ir à polícia? Eu posso chamar um táxi e acompanhar você. - Não, eu nem vi o rosto deles, foi tudo muito rápido. Prefiro não ir à polícia. Nem pensar ir à polícia, os caras poderiam me confundir com um travesti e eu estaria com problemas. - Você tem pra onde ir? - Não! - abaixo a cabeça. - Tá muito frio aqui fora e é perigoso você ficar aqui, está tendo uma festa uns quarteirões adiante e os caras bêbados podem acabar mexendo com você. Bom.... Você quer entrar e passar a noite aqui? - ela aponta a casa atrás de nós. - Moro aqui com umas meninas e você pode passar a noite com a gente e amanhã você volta de onde tiver vindo. O que acha? Seu gesto me pega de surpresa e como estou sendo guiado pelo frio concordo com um aceno de cabeça. - Ótimo, a propósito meu nome é Anne, qual é o seu? Puts e agora? Preciso pensar em algum nome, mas de repente não me vem nenhum a cabeça. - A... Al... Alfonsina! - disparo. Alfonsina? p***a Poncho não tinha nome pior pra você escolher? Provavelmente esse c*****o de nome nem existe. Depois dessa ela vai associar esse nome ridículo e deduzir quem você é. Mas pra minha surpresa Anne não deduz nada, apenas franze as sobrancelhas e diz. - É um nome diferente, mas achei interessante. Bom Alfonsina vamos entrar, algo me diz que você precisa de uma cama quentinha e chocolate quente. - ela sorri e pisca pra mim. - Obrigada! - suspiro com a voz afinada, agradecendo do fundo do coração. Eu poderia beijar Anne pra agradecer a oferta que acabou de me fazer. Não, melhor não. Definitivamente o frio tá começando a afetar minha cabeça. Eu beijando Anne? Que ideia mais estapafúrdia. Sem perder mais tempo sigo Anne pra dentro da casa. Talvez no fundo, ela não seja a garota chata que eu pensei que fosse. Ela tem um sorriso e um rosto bonito e até que é legal. Ou talvez o lance é que ela só seja chata com os garotos. Que bom então que ela acha que sou uma mulher.
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