Alfonso
Acordo na manhã seguinte, me sentindo disposto e pronto pra arrebentar no gelo e convencer meu pai a devolver minha mesada. Desço as escadas e antes de chegar, ouço os burburinhos na cozinha.
- Bom dia galera! - os rapazes me olham com desconfiança e cara f**a e fico sem entender o que houve. - O que deu em vocês? Estão chateados por causa da bronca de ontem? Relaxem, hoje vou dar um show e amansar meu pai, vão ver como ele vai ficar alegrinho depois do treino. - sorrio.
- Poncho você mexeu no cofre ontem? - Kristopher pergunta.
- Não, por quê?
- O dinheiro que a gente ta juntando a meses pra passar as férias no Canadá sumiu. - Ethan responde. - Eu chequei ontem à tarde um pouco antes de sairmos e estava tudo lá. Você foi a única pessoa que ficou sozinho na república ontem à noite, você pegou a grana?
- O que? - arregalo os olhos. - Vocês estão achando que eu peguei a grana? Que eu roubei vocês?
- A gente só quer saber se você pegou. - Tyler me encara. - É muito estranho seu pai cortar sua mesada ontem e hoje a gente descobrir que o dinheiro sumiu.
- E por que vocês estão achando que fui eu? - pergunto, perdendo a paciência. - Todo mundo sabe a senha do cofre, qualquer um pode ter aberto e pegado a grana.
- Mas você é o único que ficou sem mesada Poncho. - Kristopher me encara. - A gente só quer saber se você pegou e quando pretende devolver, sem a grana não tem viagem.
- Eu sei disso, mas como logo você Kristopher tem coragem de me acusar de pegar a grana? Eu não peguei dinheiro nenhum, fiquei trancado no meu quarto ontem, apaguei antes de vocês chegarem.
- Ta, mas se não foi você foi quem? Ficamos todos juntos ontem. - Ethan olha em volta.
- Não fui eu ta legal? Outra pessoa pegou e ta deixando eu assumir a culpa e isso não é atitude de homem, se eu quisesse pegar a grana eu falava com vocês antes e não ia pegar tudo de uma vez. - esbravejo.
- Ele tem razão gente, às vezes outro rapaz do time pegou o dinheiro e levou lá pra sala do treinador, sei lá, a gente vive dizendo que aqui não é seguro. - Kristopher diz e agradeço em silêncio por ele ficar do meu lado.
- Então vamos esperar a hora do treino e pergunto pros outros caras. O time todo pode não morar aqui, mas todos tem acesso à casa e ao cofre. Foi m*l acusarmos você Alfonso, mas de todos na casa você é o que mais teria motivos pra pegar o dinheiro e ficou sozinho aqui ontem. - Tyler me encara.
- Mas eu não peguei, um dos caras pode ter vindo aqui sem eu perceber e levado a grana. Quando a verdade aparecer, acho bom vocês se retratarem. - resmungo e pego só uma maçã perto da mesa, já que perdi a fome. Não acredito que os caras desconfiaram de mim.
Quando chegamos na faculdade, passamos pelo corredor pra ir pra sala e vemos Christian perto de seu armário. Ethan e Tyler se aproximam e o último dá um t**a na porta do armário dele. O cara toma um susto e minha gargalhada sai naturalmente.
- Ai bichona, quando você vai se apresentar vestido de mulher de novo? - Ethan zomba.
- Por que tá interessado, i****a? Quer uma roupa minha emprestada? - Christian devolve.
- Uou desafiou agora! - digo, dando risada.
- Vem cá você deve ficar ridículo pra c*****o vestido de mulher, na boa, tira a nossa curiosidade, os caras traçam você quando ta de mulher ou preferem sua versão macho? - Kristopher pergunta.
- Oh, ai vocês estão invadindo a i********e do cara. - dou risada. - Mas responde ai Chris, até eu fiquei curioso, você faz mais sucesso vestido de homem ou de mulher?
Christian bate à porta do armário e apesar de estar em minoria encara a gente sem medo algum.
- Porque vocês não vão à m***a? Ou melhor vão jogar hóquei que pelo jeito deve ser a única coisa que você sabem fazer e olhe lá né?
- Ei o que você quer dizer com esse olhe lá? - Ethan desafia.
- Se você é burro e não entendeu problema é seu. - Christian não se abala e vai embora.0
Ethan tenta ir pra cima dele, mas Tyler o segura. Fico dando risada e balançando a cabeça. Christian pode ser um v***o bissexual que se veste de mulher pra descolar uma grana. Alguns dizem por ai que ele se prostitui também, porque seus pais o expulsaram de casa e ele não tem como se sustentar, mas isso nunca foi provado.
Apesar da fama tenho que admitir uma coisa, o cara é corajoso, mas pro azar dele, quanto mais ele enfrenta a gente, mais gostamos de mexer com ele. Ainda mais sabendo que temos a faculdade no bolso. Nunca vão fazer algo contra a gente, somos os caras que trazemos troféus e prestigio pra eles e aqui na UW isso vale muito.
Mais tarde quando o treino acaba vou tomar banho feliz comigo mesmo. O treino rendeu hoje e eu fui o verdadeiro monstro do gelo, detonei os caras e se estivéssemos num campeonato teríamos levado com o pé nas costas. Meu pai está de excelente humor e por isso estou pensando de falar com ele pra recuperar minha mesada. Ele é extremamente exigente, mas sabe reconhecer quando mando bem.
Assim que entro no vestiário pra me vestir, meu pai e todos do time me encaram de cara f**a.
- O que foi gente?
Kristopher dá um passo à frente e vejo que meu armário está aberto e ele está segurando uma mochila.
- Vou achou que se deixasse o armário aberto a gente não ia desconfiar de nada né?
- Do que você tá falando?
Kristopher coloca a mochila que está segurando no banco, a abre e vejo que ela está recheada de grana, a grana que estávamos juntando pra viajar pro Canadá.
- A grana apareceu que bom, quem foi que pegou? - pergunto.
- Como você é cínico Alfonso, a mochila estava dentro do seu armário, você achou que deixando aberto não íamos desconfiar de nada? - meu pai dispara.
- O que? Gente eu não peguei dinheiro nenhum.
- Poncho na boa cara assume logo o que você fez. - Tyler me olha decepcionado. - Seu pai cortou sua grana ontem, você ficou sozinha na república e agora achamos a grana dentro do seu armário.
- Eu não peguei. - começo a perder a paciência. - Kristopher você sabe que eu não faria isso.
- Eu achava que não cara, mas pelo jeito me enganei.
- Pai eu juro pra você que não fiz isso. - olho pra ele.
Meu pai, meu melhor amigo, meus amigos, meu time todo. Todos me encaram sem acreditar em uma palavra do que eu estou dizendo. Não acredito que isso está acontecendo.
- Gente não fui eu!
- Então quem foi? - Kristopher pergunta.
- Eu que vou saber, a pessoa devia ser homem o suficiente e assumir que roubou a gente e tá pondo a culpa em mim. - me defendo.
- Chega Alfonso! - meu pai esbraveja. - Eu não esperava uma atitude tão infantil de você.
- Pai, não fui eu. Acredita em mim!
- Eu não acredito em você, em como você consegue ser irresponsável, você não merece estar nesse time, não merece todo o esforço que eu tive durante anos com você. Nós todos decidimos e você está expulso do time, não é mais o capitão e não vai mais jogar com a gente.
- O que? Vocês não podem fazer isso, pai. Gente não fui eu, isso é uma injustiça. - encaro todo mundo.
- A gente não quer um ladrão liderando a gente, alguém que não é de confiança. - Ethan me encara.
- Mas que m***a eu to falando que não fui eu. - esbravejo. - O verdadeiro culpado está ai no meio de vocês e é tão covarde que nem se manifesta.
- Chega Alfonso, me dói muito dizer isso, mas você está fora do time. - meu pai me encara.
Ninguém. Nem um dos meus amigos fica do meu lado, ninguém acredita em mim, nem mesmo Kristopher que sempre foi meu melhor amigo, nem mesmo Tyler e Ethan que moram comigo ficam do meu lado. De repente pela primeira vez na vida eu estou sozinho e isso dói mais do que a acusação que estão fazendo.
- Quer saber? Dane-se vocês, eu vou provar que não roubei p***a de dinheiro nenhum e o culpado vai se ver comigo. - aponto o dedo pra cada um deles e dou as costas.
Anne
Saio da sala e desejo que o piso me engula quando vejo Amber Winters e seu seleto grupinho de bajuladoras vindo na minha direção. A garota é tão nojenta, que dentro de sua própria república, ela seleciona apenas quatro garotas para andar, ou melhor, desfilar com ela pela faculdade. E elas consideram uma honra andar logo atrás de Amber e mais honroso ainda andar do seu lado direito ou esquerdo.
Ela tem cabelos loiros naturais que vão à altura dos s***s, olhos azuis e uma pele branca e praticamente perfeita. Está de delineador, cílios postiços, sombra dourada e batom rosa choque nos lábios. Está usando um conjuntinho de saia e blusa cor de rosa. A saia é curta e com o salto alto suas pernas ficam mais longas e valorizadas. Teoricamente é proibido usar roupas tão curtas na faculdade, mas Amber pode.
Reparo que logo atrás dela todas as suas amigas estão de calça jeans, sapatilha e blusa de alcinha rosa como sua líder. Todas são loiras, algumas tingidas, mas todas têm o cabelo mais curto que Amber, na altura dos ombros. Todas estão apenas de rímel e batom. Uma das regras da casa das populares é que você não pode ter o cabelo mais cumprido que o da líder e menos ainda andar mais ou tão arrumada quanto ela. Em seu grupinho Amber é a única que pode usar salto alto e roupa curta na faculdade, apenas pra se manter superior a suas seguidoras e chamar mais atenção. As outras só podem usar saltos em eventos, se Amber deixar e o salto não pode ser maior que o dela.
Os motivos pra eu ter sido expulsa da casa das populares é porque não era loira, não pretendia me tornar loira e menos ainda cortar cinco palmos do meu cabelo pra que ele ficasse mais curto que o de Amber. Além disso me recusei a usar lente de contato castanha, porque não podia ter olhos azuis como a líder. Ao contrário desse bando de robôs, eu prezo a personalidade e o estilo de cada um.
Revirando os olhos decido ignorá-las e seguir em frente. Mas é claro que elas não pensam como eu e num estalar de dedos de Amber, as garotas se reposicionam e andam lado a lado, em fila, bloqueando o corredor. Amber que está um passo à frente, para na minha frente e me olha como se eu fosse um inseto.
- Está sabendo queridinha que esse ano não vai ter eleição?
- É Amber to sabendo, fazer o que né? Tem gente que não consegue bancar as coisas por conta própria, então precisa do dinheiro do paizinho pra se manter no topo.
- O que você quer dizer com isso? - ela sorri com falsidade e coloca as mãos na cintura.
- Que seu pai tá pagando sua estadia no Grêmio, porque se fossemos fazer uma votação justa, você não ganharia. Queridinha. - sorrio com a mesma falsidade que ela.
Com o salto alto, Amber fica apenas um pouquinho mais alta do que eu, mas se ela acha que isso e a sua posição de líder vão me intimidar está muito enganada.
- Você tá provocando a pessoa errada Anne. - ela me olha de cara f**a, estreitando as sobrancelhas.
- É mesmo? Olha você deveria tomar cuidado, fazendo essas caretas vai ficar toda enrugada.
Ela desmancha a cara na mesma hora e relaxa o rosto. Não sei como esse povo aguenta viver nesse mundo de perfeição, sendo que a perfeição não existe.
- Agora dá pra pedir pro seu bando de robôs sair do meu caminho?
- E se a gente não quiser? - ela se inclina na minha direção.
Não resisto e dou um pisão em seu pé. Amber dá um gritinho desaforado e todas as garotas a seguram. Ajeito a mochila nas costas e vou embora, sem ligar pros gritos esganiçados de Amber, ou seriam ameaças contra mim? Minha única resposta é levantar minhas duas mãos e mostrar os dois dedos do meio pra elas, antes de virar o corredor e sumir de vista.
Alfonso
Ao chegar na minha república, tudo que eu quero é me jogar na cama e esquecer o dia de hoje, mas pra minha surpresa quando chego nos degraus da porta vejo três malas ali. Espera essas malas são minhas. Que p***a é essa? Subo os degraus e vejo um bilhete na porta.
“Poncho, você não pertence mais à essa casa, nem ao time. Não queremos traidores entre a gente!”
Preciso ler o bilhete três vezes pra entender o que está escrito ali. Como é que é? Os caras que eu considerava meus brothers, meus amigos, estão me expulsando da república?
- Hei, abram essa porta! - esmurro a porta, ficando cada vez mais furioso.
Ninguém vem abrir e me irrito ainda mais, sei que eles estão lá dentro, vi os caras vindo pra cá.
- Deixem de ser cuzões e abram aqui! - começo a chutar a porta.
Vasculho meus bolsos e a mala em busca das minhas chaves, mas é claro que elas não estão comigo, na certa os caras roubaram enquanto eu estava no vestiário.
- SEUS FILHOS DA p**a, ABRAM AQUI! - grito, enfurecido.
Continuo chutando, esmurrando a porta e xingando. Chega um momento que me canso e percebo que ninguém vai vir abrir a porta pra mim. Esse é um recado mais do que claro que eles viraram as costas pra mim. Dou mais um chute na porta e acabo quebrando as luminárias que ficam na entrada, um pequeno castigo por eles não terem acreditado em mim e me expulsado da república sem nem falar comigo.
- Bando de merdas, vocês vão se ver comigo. - ameaço apontando o dedo pra porta.
Me sento nos degraus tentando decidir o que fazer. Ainda tenho esperanças de que um deles virá abrir a porta pra mim e me ajudar, mas os minutos vão passando e ninguém aparece. Aposto que os desgraçados estão espiando pela janela ou pelo olho mágico e já viram que ainda não fui embora.
Começo a pensar em como vou provar minha inocência, mas a ideia que vem à minha cabeça é absurda e a pessoa que me vem à cabeça pra pedir ajuda, provavelmente vai bater à porta na minha cara.
- Não, isso é loucura. - balanço a cabeça.
Tento pesar em outra ideia, mas nenhuma me vem em mente. Tem poucas horas que estou vivendo nesse inferno e sei que não vou aguentar isso por muito tempo. Sem alternativa melhor, arrasto minhas malas e com o pouco da grana que me resta pego um táxi e vou atrás da única pessoa que talvez possa me ajudar.
Christian abre a porta pra mim, mas a fecha na minha cara assim que me vê. Que novidade!
- Chris, por favor, preciso falar com você, por favor, cara me ajuda!
A porta se abre de novo e Christian me fuzila.
- Cadê os babacas dos seus amigos?
- Acho que no momento não são meus amigos. - suspiro.
- É o campus inteiro tá comentando sobre o que você fez.
- Juro pra você que não roubei nada. - minha voz sai meio desesperada, alguém precisa acreditar em mim.
- To pouco me fodendo se você roubou alguma coisa Poncho, o que eu quero saber é o que você tá fazendo aqui na minha casa?
- Preciso da sua ajuda. Os caras do time vão dar uma festa na república hoje e preciso entrar lá. O problema é que como Poncho não vão me deixar entrar, preciso ir vestido de mulher, achei que você pudesse me emprestar alguma coisa, uma peruca qualquer coisa pra eu me disfarçar e entrar.
- Pensou errado, se manda!
Chris tenta fechar a porta, mas coloco o pé na frente e empurro.
- Por favor cara, eu to desesperado. O time inteiro vai estar lá, vai ter bebida, eles vão ficar bêbados. Pode ser minha única chance de arrancar a verdade de um deles. Eu sei que o ladrão vai estar lá, bêbado ele pode confessar o que fez, por favor, me ajuda. Eu juro pra você que nunca mais os caras vão zoar com você, eu faço o que você quiser, pra você topar me ajudar. Posso te dar grana, p******o na escola o que quiser.
- Você acha que você me engana com esse papo? - ele abre a porta e me fuzila com seus olhos.
- Eu juro pra você, eu sou inocente e quando provar minha inocência, vou recuperar meu lugar como capitão e os caras vão me respeitar de novo. Me ajuda, eu faço o que você quiser.
- Até me colocar no seu time? - ele cruza os braços.
- O que? - eu pisco surpreso, por essa eu não esperava.
- Se eu te disser que sempre quis jogar hóquei pela faculdade? Se eu te disser que sou bom nisso e apenas não me aceitaram ano passado na seleção porque sou gay, o que diria?
- Você tá me zoando?
- To falando sério. - Chris cruza os braços e vejo que está falando sério mesmo. - Se quiser que eu te ajude, vai ter que me colocar no seu time.
- Mesmo que eu consiga te colocar, você vai ter que ser avaliado, nisso eu não posso interferir.
- Então consiga pelo menos essa avaliação, garanto que jogo melhor que você.
- Ai você tá me desafiando? Não abusa não hein!
- Você quem sabe? Não sou eu quem tá com o filme queimado e desesperado pra cair nas graças da faculdade de novo. - ele me olha com ironia.
- Ok, me ajuda e amanhã mesmo quando eu estiver no topo de novo, eu arrumo um horário pra gente fazer uma avaliação e ai cara vai ser com você. Se eu ver que você é bom mesmo, eu fico do seu lado.
- Fechou, agora entra ai.
Suspiro aliviado e entro, não acredito que estou na casa de Christian, o cara que até hoje cedo estava me zombando e que acabei de prometer um teste pra jogar no meu time. Se isso tudo não for um sonho, melhor, pesadelo eu vou acreditar piamente naquela frase: “O mundo dá voltas!”
A casa dele é simples, com dois cômodos apenas divididos em sala e cozinha. Quando Chris some num corredor vou atrás dele e chegamos ao seu quarto. Na verdade parece mais um estúdio de fantasias ou um camarim, cheio de araras com roupas, penteadeira com inúmeras maquiagens e perucas penduradas pra todos os lados. Quase não vejo sua cama e o computador no meio daquela bagunça.
Christian me encara com atenção e fecho a cara pra ele.
- Ei o que foi? Tá me comendo com os olhos é?
- Não i****a, nem se você fosse o último cara do planeta eu traçava você.
- Que nojo! E quem disse que eu ia querer você? - me defendo. - Meu negócio são garotas viu?
- Tá, cala a boca e dá uma voltinha!
- Que? - arregalo os olhos pra ele.
- Eu preciso ver o seu tamanho mais ou menos pra escolher uma roupa pra você.
- Se você se aproveitar da situação eu vou embora daqui e te denuncio. - resmungo virando de costas pra ele.
- Muito bem, já tá se comportando como uma mulherzinha.
Mostro o dedo do meio pra ele e quando o encaro de novo cruzo os braços.
- E ai?
- Tenho um vestido aqui que em mim fica grande, mas em você vai ficar perfeito. - Chris vai até uma das araras e tira um do cabide, é preto e tem uns desenhos estranhos. - O duro é que ele é de alça, a gente vai ter que por um casaco por cima pra esconder seus braços e te proteger do frio. Também vamos ter que colocar uma meia calça em você pra esconder suas pernas, ou você prefere depilar?
- Depilar? Nem fodendo, de jeito nenhum.
- Vamos usar meia calça então, hoje à noite vai fazer frio.
- Tá!
- Agora vamos ver uma peruca. - Christian encara a infinidade de cores e escolhe uma de cabelos negros.
Quando estende pra mim, entendo que é pra eu colocar e após me atrapalhar um pouco consigo coloca-la. Quando me olho no espelho, tiro a peruca.
- Eu to ridículo.
- É porque ainda não tá vestido de mulher. Senta na cadeira que eu vou te maquiar.
- Que? Nem fodendo!
- Cara você tem um dos rostos mais conhecidos da faculdade, só uma peruca e roupa de mulher não vai adiantar. Você quer ser reconhecido e esculachado mais ainda?
Sua pergunta me fazer revirar os olhos e eu sentar na cadeira. Christian puxa a mesinha e começa a me maquiar. A princípio não reclamo, mas quando ele inventa de passar rímel no meu olho reclamo. Christian me xinga e me manda ficar quieto. Sem acreditar no que estou fazendo, calo a minha boca e deixo ele me arrumar. Quando ele passa o batom, acho extremamente esquisito aquela coisa grudando na minha boca, é diferente beijar uma menina de batom e usar batom.
Quando termina a maquiagem, estou sentado ali há quase uma hora. Christian não me deixa ver a maquiagem e me manda trocar de roupa. Quando coloco o vestido, a meia calça e o casaco que escolheu, ele tira uma foto minha.
- É só uma precaução. Se você não arrumar o teste pra mim, vou espalhar essa foto pela faculdade inteira. Agora veste a peruca e esse salto alto.
Depois de sua ameaça o obedeço e quase não consigo ficar de pé em cima daquela coisa.
- E ai posso me olhar no espelho agora?
Dando risada, Christian vai até o espelho de corpo inteiro no canto da parede e tira o lençol da frente. Não reconheço a pessoa que vejo na minha frente e ao ver que sou eu mesmo dou um grito tão alto, que acredito que até a faculdade pode me ouvir.
- Até que você ficou bonitinho.
- Vai se f***r eu não vou sair na rua desse jeito. - esbravejo.
- Se você quiser entrar naquela festa vestido de mulher, vai ter que ser assim, Poncho.
Me olho no espelho de novo e tenho vontade de morrer.
- Eu to ridículo! - esbravejo.
- Tá mesmo, mas ainda está faltando alguma coisa.
- Meu você passou sombra, rímel e batom em mim, já tá bom você não acha?
Christian vai até a penteadeira e me estende um potinho com lentes de contato.
- Seus olhos verdes são chamativos, precisa disfarçar eles. Coloca as lentes.
- Melhor lente de contato, do que mais maquiagem. - resmungo e me viro pro espelho.
Coloco as lentes e meus olhos ficam castanhos, que diferente. Quando encaro Christian, ele ainda não parece convencido.
- Coloca esses óculos. - ele me estende uma armação preta. - Não tem grau pode usar.
Assim que coloco, me viro pro espelho. Me sinto ridículo e super diferente.
- Agora sim você está pronto. Acho muito difícil alguém te reconhecer, a não ser que você dê bandeira com a sua voz. Treina um pouco, tenta falar como uma mulher.
- Como eu faço isso?
Christian revira os olhos e começa a falar e fazer uns trejeitos de garota.
- Anda, tenta me imitar. Se vai se passar por mulher tem que ter alguns trejeitos mais suaves.
Faço o que ele manda, afino a minha voz e começo a falar. Christian se racha de rir e cai sentado na cadeira.
- Quando eu ia imaginar que o capitão do time de hóquei ia vir até minha casa e ainda se vestir de mulher?
- Da pra parar de me zoar?
- Desculpa, mas é impossível, viu só como é bom ser zoado. - ele joga isso na minha cara e calo a boca. - A gente ainda tem um tempo antes da festa, treina a fala e a andar de salto, vai.
Ignorando a vontade de estrangulá-lo faço o que ele manda. Christian ri da minha cara o tempo todo e não perde a chance de me zoar, mas quando dá a hora de sair, ele aprova minha roupa e meu comportamento.
Me sentindo humilhado, derrotado e no fundo do poço pego dinheiro emprestado do Christian e pego um táxi pra ir pra festa. Espero que meu plano dê certo e hoje mesmo eu recupere minha dignidade.