Mia Miller
O que você faria se sua vida estivesse desmoronando? Se tudo aquilo que você amava, tudo pelo qual você lutou, estivesse sendo arrancado de você?
Era exatamente assim que eu me sentia. Sem soluções. Sem fé. Sem nada. E para piorar, eu estava nas mãos de um homem que parecia mais um predador do que um protetor.
Desde o incidente no quarto "escondido", Ethan tinha desaparecido da minha vista. Eu m*l o via pela casa, e a ausência de notícias sobre Lorenzo só fazia minha angústia aumentar. O silêncio, a espera, tudo parecia uma tortura lenta e calculada.
Agora, eu estava na mesa de jantar, sozinha. A comida intocada à minha frente. O silêncio era sufocante, quebrado apenas pelo som dos meus próprios pensamentos. De repente, ouço passos. Meu corpo se enrijece. Aquele cheiro tão inconfundível, tão perturbador me atinge antes mesmo que ele entre na sala. Ethan.
"Você está aqui," sua voz é baixa, mas firme.
Levanto-me rapidamente,e sinto inevitavelmente os meus olhos encontrando os dele, e imediatamente sinto aquela tensão que já era bem familiar, aquela eletricidade no ar que sempre parecia existir quando eu estava no mesmo espaço que ele.
"O que você quer?" minha voz sai mais forte do que eu esperava.
Ele avança dois passos, sua presença dominando o espaço enquanto se apoia em uma das cadeiras. A forma como ele me olha, como se pudesse ver através de mim, me deixava extremamente nervosa.
"Vim apenas lhe dar duas notícias," ele diz com a voz fria e controlada, como sempre.
Minha respiração fica presa na garganta, enquanto espero. O que ele tem a dizer agora? Mais ameaças? Mais jogos?
Dele eu só poderia esperar coisas ruins.
"Eu investiguei sua vida," ele começa, e sinto um frio percorrer minha espinha. "Sei que você cursou Administração."
Sua declaração é como um golpe. Ele sabe tudo sobre mim.
"Você vai ser responsável pela administração do bar. Eu estou ocupado com outras coisas," ele continua sem dar espaço para discussão. "E, para deixar claro, eu posso fazer o que quiser com você. Recusar uma ordem minha não é uma opção."
A forma direta e crua com que ele fala, a certeza no tom de voz, faz com que meu coração dispare. Ele estava me controlando, me manipulando, e o pior de tudo... parte de mim sabia que não tinha escolha, eu só não sabia o por que.
"Você não pode fazer isso," tento argumentar, mas minha voz falha."Estou preocupada com meu filho, não tenho cabeça para…"
"Posso, e vou," ele responde, o olhar fixo em mim, cheio de uma intensidade que me faz estremecer. "E a outra notícia é sobre o filhote."
Por que ele chama meu filho de filhote? Que ódio!
"Estamos planejando um resgate," ele diz, como se fosse algo trivial, mas eu percebo a faísca de algo em seus olhos. "E você vai fazer o que eu mandar, ou nunca verá seu filho novamente."
A tensão entre nós era nítida e quase sufocante. Por mais que ele fosse frio e implacável, havia algo ali, uma corrente de desejo, algo que eu odiava admitir que sentia também. A proximidade dele, o calor de seu corpo, o tom autoritário… tudo parecia uma dança perigosa, um jogo que nenhum de nós estava disposto a perder.
Ele ficou alguns minutos em silêncio antes de finalmente se virar para mim.
"Vamos sair. Você precisa de roupas novas. Não quero andar com uma maltrapilha ao meu lado."
Arregalei os olhos, surpresa com a rudeza. Como é que é?
Apenas assenti, decidindo não discutir. No final das contas, iríamos encontrar Lorenzo, e tudo estaria resolvido. Eu não me importava com o que viesse depois.
Entrei no veículo e me sentei ao lado dele, enquanto Ethan falava incessantemente ao telefone. Ele parecia um homem extremamente ocupado, envolvido em mais do que apenas negócios. Não conseguia imaginá-lo sendo um bom pai para meu filho, mas agora era tarde demais para lamentar as escolhas feitas.
A verdade é que eu não tinha escolhido um bom pai para Lorenzo. Na verdade, eu nem sequer tive escolha.
Enquanto ele falava, eu observava suas feições. Olhos azuis penetrantes, cabelos escuros, uma jaqueta que acentuava sua figura de forma quase provocante. Qualquer mulher se renderia a Ethan; isso era evidente.
Após alguns minutos que pareciam intermináveis, o carro finalmente estacionou.
"Você tem meia hora para escolher as roupas," ele disse com a mandíbula cerrada.
Ele saiu do carro rapidamente, fechando a porta com firmeza. Ótimo, ele realmente ia entrar comigo para escolher roupas? Que maravilha.
"Não é necessário," disse seriamente, tentando manter a compostura.
"O quê?"
"Você vir comigo," respondi, tentando não deixar transparecer minha irritação.
"Não confio no seu gosto para roupas. Assim como não confio no seu gosto para muitas outras coisas," ele respondeu com um sorriso sarcástico.
"Uhum… principalmente no meu gosto para homens. Esse é péssimo," ironizei, tentando manter minha voz calma.
Enquanto eu seguia pelo corredor de roupas, ele me acompanhava de perto, seu olhar irritado cravado em mim. A cada peça que tocava, eu ficava mais chocada com os preços. Meu Deus, era um absurdo.
"Não olhe as etiquetas, Mia," ele ordenou, sem sequer olhar para mim.
Meus olhos se arregalaram a cada peça absurdamente cara que eu tocava. Mas não era de se surpreender; estávamos em uma das boutiques mais conceituadas do Colorado.
"Não estou acostumada," murmurei, ainda em choque.
"Acostume-se," ele respondeu friamente. "Você é a mãe do meu filho, gostando ou não. Não quero que ande como uma mendiga."
Seu olhar de desprezo me atingiu como um golpe. Eu vim comprar roupas ou receber uma humilhação gratuita?
Eu escolhi as roupas que precisava, mas ainda estava em choque com a quantidade de dinheiro que Ethan estava disposto a gastar comigo. Por mais que ele fosse o pai do meu filho, a verdade é que m*l nos conhecíamos. Foi apenas uma noite, e agora eu me via presa em uma situação que parecia estar fora de controle.
Depois de passar pelas roupas, Ethan me chamou.
"Vem comigo, preciso te mostrar uma coisa."
Sem saber o que esperar, segui Ethan até uma parte mais afastada da boutique. Subimos algumas escadas e, de repente, estávamos em um terraço. Fui recebida por uma vista incrível do céu do Colorado, com as montanhas ao fundo e as estrelas começando a brilhar.
"Minha mãe sempre comprava roupas aqui," ele disse, olhando para o horizonte. "Eu odiava essas visitas, era um tédio sem fim. Mas um dia, enquanto ela estava ocupada, eu encontrei esse lugar. Sempre achei que tinha algo de especial aqui."
Fiquei observando Ethan por um momento, e pela primeira vez, vi algo nele além do homem frio e distante que eu conhecia. Naquele terraço, falando sobre sua mãe, ele parecia... humano. Senti uma conexão, algo que eu não esperava sentir.
Nossos olhares se cruzaram e estavámos muito perto um do outro observando o céu.
Mas esse momento de suavidade foi rapidamente interrompido quando ele voltou a ser rude, trazendo-me de volta à realidade.
"Sinto muito pela perda da sua mãe."
"Faz muito tempo. Não quero falar, isso não muda nada," ele disse com firmeza, virando-se para mim com aquela expressão dura. "Amanhã, vamos colocar o plano em ação para resgatar Lorenzo. Vai ser um tiro no escuro, mas é a nossa única chance."
A forma como ele falou, sem nenhum traço de emoção, me fez lembrar quem Ethan realmente era. Aquele momento breve de vulnerabilidade sumiu tão rápido quanto veio. E embora eu tenha visto um lado dele que parecia mais real, eu sabia que não podia baixar a guarda com ele, jamais.