Em uma tarde chuvosa, no movimentado supermercado "Mercantil Nova Era", localizado no coração da cidade, Maya, deslizava pelo seu turno como operadora de caixa. Mantendo como sempre seu rosto, escondido atrás de uma máscara sorridente, escondendo a turbulência de seus pensamentos. Ela estava cansada e odiava sorrir desde que perdeu sua família, mas ainda sim sorria para os clientes, era uma farsa que ela mantinha apenas para manter seu emprego.
Maya sempre encontrava refúgio na leitura das novels que colecionava avidamente. Ela se imaginava como as heroínas destas histórias, destemidas e autênticas, e livres. A ideia de um apocalipse, que parecia tão distante nas páginas de seus livros favoritos, era uma fantasia na qual ela se agarrava, um evento que finalmente libertaria sua verdadeira essência.
Enquanto o turno se arrastava, os pensamentos de Maya vagueavam para além das paredes do supermercado. Ela sonhava com um mundo onde não precisaria usar uma máscara novamente, um mundo onde poderia ser ela mesma sem medo de julgamentos ou expectativas.
*Ponto de vista de Maya:*
Todos os dias eram repetitivos e monótonos. Estava cansada. Ao chegar em casa, o que me recebia era uma casa escura e vazia. Pelo menos na maior parte do tempo. Na outra, eram os malditos cobradores. Eu costumava pensar: "Estou sozinha no mundo. Se eu sumir, não teria ninguém para me procurar. Minha vida não tem propósito e nem tenho sonhos. O que estou fazendo aqui?"
Tinha muitas contas deixadas para mim pela minha irmã. Ela faleceu cedo, aos seus 23 anos. Os agiotas logo me acharam. Tive que escolher entre trabalhar o dobro ou me vender. A resposta era óbvia. Ao raiar do dia, vendia sacolé nas ruas. Ao entardecer, trabalhava como caixa em um supermercado. Pela madrugada, em um barzinho, como garçonete.
"Oi, Maya. Mesa 4, por favor."
"Pra já." (Ah, claro, com um enorme sorriso. Eu estava cansada, com fome e sono, mas e daí? Quem vai pagar as contas? Realmente... quero chorar.)
Mas desde o acidente, fui incapaz de sentir qualquer emoção sincera. Talvez seja porque Emma me amaldiçoou.
O som do celular quebra o silêncio da noite. Eu estava com os olhos cheios de lágrimas. Atendi aquela chamada sem saber o que esperar do outro lado da linha. A voz trêmula da minha irmã Emma ecoou pelo telefone, cheia de dor e desespero.
"Maya... Eu... Eu estou em um acidente de carro...", sussurra Emma, lutando para manter a calma.
Meu coração estava apertado com uma sensação de medo e impotência. m*l conseguia respirar enquanto ouvia a voz fraca através do celular.
"Emma, por favor, fique calma. Onde você está? Eu vou te encontrar agora mesmo", eu disse, com a voz embargada pelo choro.
"Não... Não há tempo... Maya, escute... Eu preciso te dizer algo...", continuou Emma, lutando contra a dor.
"O que é, Emma? Por favor, me diga", implorei, sentindo um nó se formar em minha garganta.
"Eu... Eu queria te dizer... Eu sinto muito por tudo... Por todas as vezes que brigamos... Por não ter sido uma boa irmã... E pelas dívidas, eram da conta do hospital da mamãe, realmente achei que poderia salva-la. Eu te amo tanto, Maya", disse Emma, com suas palavras cortando o meu coração como uma faca.
As lágrimas corriam livremente pelo meu rosto enquanto eu estava ouvindo as palavras finais de Emma. Eu me agarrei ao celular como uma criança. Aquilo era a única coisa que ainda mantinha nossa conexão.
"Emma, por favor, não desista. Fique comigo, vou chamar uma ambulância. Eu te amo tanto, não posso perder você também", eu estava desesperada. Queria tanto manter minha irmã comigo. Deus já não me tirou o bastante? Pelo menos Emma.
"Maya... Por favor, *tosse* prometa que vai seguir em frente... Que vai viver uma vida feliz... *Sussurro* e que vai ser forte por mim, pela mamãe e por você. Agora, está sozinha", Emma disse essas palavras cruéis, com sua voz enfraquecendo a cada palavra.
"Eu prometo, Emma... Eu prometo", sussurrei em vão, sabendo que era a última promessa que poderei fazer à ela. Mas ela já não estava lá para ouvir.
A voz de Emma desapareceu junto com sua respiração do outro lado da linha. Sobrou apenas um vazio avassalador. Naquela noite, eu permaneci imóvel, segurando o celular com força, enquanto as lágrimas continuaram a cair, inundando-me com uma dor indescritível.
Aquele foi nosso último adeus.
*tap*
algo gelado tocou minha bochecha
- café ~ disse liam
- da pra parar de atrapalhar? ~ disse Maya
- atrapalhar seus pensamentos muito importantes? ~ liam
- sim eram importantes, pelo menos para mim ~ Maya
liam costumava aparecer nas horas mais inusitadas, talvez fosse por isso que esse trabalho de todos os outros costumava ser o mais suportável
- affs não posso com você , obrigada, você é tão gentil que um dia vai ser abençoado com a Mega-Sena ~ maya
- deus te ouça haha ~ liam
- deus já está ouvindo essa baboseira, trabalhar que é bom ninguém quer! ~ gerente
eu e liam nos entreolhamos com um olhar de "fomos pegos" e voltamos as nossas funções.
______________________________________
Naquela tarde, enquanto Maya digitava os códigos de barras e trocava cumprimentos com os clientes, algo estranho começou a acontecer. As luzes começaram a piscar e os sistemas eletrônicos falharam. Uma sensação de tensão pairava no ar, como se o mundo estivesse prestes a mudar de alguma forma irreversível.
E então, sem aviso prévio, o apocalipse que Maya tanto imaginara nas páginas de suas novels se tornou realidade. O caos se espalhou pelo supermercado enquanto criaturas sombrias emergiam das sombras, trazendo consigo o início de uma nova era.
Enquanto o mundo ao seu redor mergulhava na escuridão do desconhecido, Maya percebeu que sua jornada estava apenas começando. Ela finalmente teria a oportunidade de mostrar suas verdadeiras cores e enfrentar os desafios que estavam por vir, sem a necessidade de sorrir com uma face falsa para o mundo.