Carine narrando
capítulo 07 continuação...
No sábado, decidi me dar uma folga. O sol brilhava alto, e a cidade parecia respirar diferente. Letícia quase teve que me arrastar pra sair de casa, mas no fundo… eu sabia que precisava disso. Um dia longe de processos, ameaças veladas e olhares que queimavam mais do que deveriam.
A areia estava quente sob meus pés, o mar azul refletia uma calma que eu não sentia há dias. Letícia abriu a canga com um movimento teatral e jogou o corpo no chão como se não tivesse preocupações no mundo.
- Aleluia, né? ela disse, colocando os óculos escuros. - Já tava achando que ia ter que invadir seu escritório com uma garrafa de vinho e intervenção forçada.Sorri de lado, passando protetor no colo.
- Exagerada.
- Realista. Você tá tensa, Carine. Dá pra sentir daqui. E nem vem com esse papo de excesso de trabalho. Isso tem nome. Nome e tatuagem.Revirei os olhos, mas não consegui conter o riso.
- Eu sou a advogada dele, Letícia.
-E eu sou formada em Direito de Perceber Química. Aquilo não é só tensão profissional. Vocês trocam farpas como quem flerta com faca.
- Ele é perigoso. Literalmente. Eu não posso me envolver. Letícia ergueu uma sobrancelha, tirando o óculos.
- Ninguém falou de se envolver. Mas você já se enroscou, miga. Só tá tentando convencer a si mesma que ainda dá pra sair limpa. Suspirei, olhando pro horizonte. O vento bagunçava meus cabelos e, por um momento, desejei que tudo fosse simples como aquela tarde.
- Ele mexe comigo. Não só o jeito, o olhar… mas tudo que ele representa. É como se… como se eu estivesse sendo puxada pra algo que sei que pode me engolir inteira.
Letícia ficou em silêncio por alguns segundos, depois falou com mais doçura.
- Às vezes, o perigo não é o homem… é o que ele desperta na gente. Mas você é forte, Carine. Inteligente. E ninguém entra na sua vida sem passar pelos seus filtros. Nem esse tal de Peixe.
- Rafael. corrigi, quase num sussurro. E só o jeito como falei o nome já fez Letícia rir alto.
- Viu? Nem percebe, mas já tá com ele na ponta da língua.
- Letícia…
- Tá, tá… não vou julgar. Só digo uma coisa, se vai brincar com fogo, pelo menos aprende a dançar nas chamas. Porque esse cara… não parece do tipo que se contenta em assistir de longe.
Fechei os olhos, deixando o sol aquecer meu rosto. Ela tinha razão. Rafael não assistia. Ele tomava. Invadia. Dominava.
E o mais louco era… que parte de mim queria ser invadida....
Depois de horas de conversa, risadas e um banho de mar que parecia ter lavado parte do peso que eu vinha carregando, me despedi de Letícia com um abraço apertado e um "te amo" abafado entre os sons do calçadão. O céu começava a escurecer quando entrei em casa, com os ombros queimados de sol e a mente quase leve.
Joguei a bolsa no sofá, tirei a saída de praia e fui direto pra cozinha pegar água gelada. Estava prestes a subir pro banho quando o celular vibrou na bancada. Número desconhecido. Atendi no reflexo, ainda secando o rosto com a toalha.
- Alô? A voz do outro lado era inconfundível. Grave, lenta, quase preguiçosa.
- Esse biquíni … m*l cobre alguma coisa, novinha. O ar saiu dos meus pulmões com força. Olhei em volta, como se pudesse encontrá-lo escondido na sala.
- Rafael?
- Fica linda de cabelo molhado também. ele continuou, ignorando minha pergunta, como se estivesse falando de um quadro que acabava de admirar.
- Como você sabe onde eu fui hoje? minha voz saiu firme, mas meu coração batia acelerado no peito.
- Eu gosto de saber por onde você anda. Quem tá com você. E, principalmente, o que você usa… ou deixa de usar. Fechei os olhos por um segundo, tentando manter o foco.
- Você tá mandando me seguir ?
- Não, doutora. Mas digamos que tenho olhos por você… em mais lugares do que imagina. E hoje, esses olhos quase perderam o controle. Se soubesse que ia ver tanta pele exposta, tinha mandado um aviso: “coloque algo mais comportado”. ele riu, baixo.
- Isso é invasão de privacidade, Rafael.
- Pode chamar do que quiser. Eu chamo de cuidado. Vai que algum curioso resolve chegar perto demais. E aí? Eu faço o quê preso aqui ?
- Você não tem esse direito.
- Tenho sim. Porque, mesmo que você não admita… você é minha. Ainda que lute contra. Ainda que diga que não. E ninguém toca no que é meu.
Fiquei em silêncio, porque minha boca estava seca demais pra responder. Minhas mãos tremiam de leve, e o pior era saber que não era só raiva. Era algo mais. Uma adrenalina quente, viciante.
- Só… cuida do que fala, Rafael. Isso pode te prejudicar. Pode me prejudicar.
- Ah, novinha… quem te disse que eu me importo com consequências? Se fosse por elas, a gente nem teria começado esse jogo. E agora que começou, vou até o fim.
- Boa noite, Rafael. murmurei, tentando encerrar a ligação, mesmo sabendo que aquela conversa ainda queimaria na minha mente por horas.
- Boa noite, doutora… dorme de roupa, hein. Ou vou sonhar demais com o que vi hoje.
A ligação caiu, e o silêncio da minha sala me pareceu ensurdecedor. Deixei o celular de lado, subi pro quarto, e deitei na cama ainda de biquíni, com a imagem dele grudada na minha pele como o sal do mar.
Era perigoso. Era loucura.Mas era real eu estava mas que envolvida com ele ,não só com o caso , mas com o jeito que ele falava com desejo , com certeza ...
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