capítulo 02

1431 Words
Rafael ( Peixe ) narrando capítulo 02 A maioria das pessoas me olha com medo. Outras, com respeito. E tem aquelas que fingem neutralidade, mas eu vejo o tremor no canto da boca, o olhar que desvia rápido demais. Eu aprendi a ler pessoas antes mesmo de saber contar dinheiro. Mas ela…Ela entrou naquela sala como se fosse dona do mundo. Alta, corpo curvilíneo sem exagero, postura impecável. Usava um blazer justo, saia lápis, salto alto e um coque apertado que não combinava em nada com o fogo que ela carregava no olhar. Assim que a vi, soube: essa mulher vai me dar trabalho. Meu nome é Rafael Sampaio, mas me chamam de Peixe e sou dos grandes se e que me entende . Trinta e sete anos. Cresci no meio do tráfico, subi rápido, tomei o que era meu. Ninguém me deu nada , eu tomei. Hoje, sou o nome que a polícia sussurra e os inimigos temem. Só que, por ironia do destino, minha liberdade estava nas mãos de uma advogada que parecia ter saído direto de um escritório chique, não de uma delegacia. - Doutora... disse com aquele sorriso que sempre desarma , avaliando ela na cara larga mesmo .- Achei que viria alguém mais... velho. Ela não piscou. Me encarou como se soubesse exatamente quem eu era. Fria. Profissional. Mas o jeito que o maxilar dela travou… ah, eu vi. Ela me sentiu. - E eu achei que traficantes não falassem tanto. respondeu, afiada como uma navalha. A provocação me fez sorrir de verdade. Ela era diferente. Não tinha medo, não recuava. Havia algo de perigoso ali… algo que me atraiu de imediato. Quando ouvi seu nome , Carine , senti como se fosse uma melodia estranha no meio da minha rotina brutal. Ela parecia tão certa, tão limpa… e eu, tão sujo. Mas mesmo assim, quis chegar perto. Quis descobrir se aquela advogada toda certinha gemia o meu nome com a mesma firmeza com que defendia seus argumentos. - Tu vai me tirar dessa, Carine? perguntei, apenas para vê se incomodo. Gosto de cutucar. De mexer com limites. - Eu sou sua advogada. Não sua babá. E definitivamente não sua cúmplice. língua afiada essa mandada Ela disse com uma firmeza, mas eu vi a hesitação nos olhos. Eu era o tipo de perigo que ela nunca enfrentou , e o tipo de desejo que ela não sabia como controlar. - Ainda. devolvi, e deixei a palavra pairar no ar, como uma promessa. Naquele momento, eu soube duas coisas com certeza, Primeiro, ela era boa no que fazia. Segundo… eu faria de tudo pra tê-la. No tribunal. E na minha cama , como todas as que já passaram por mim , era questão de honra . E o mais louco? Uma parte de mim queria protegê-la de tudo isso. Até de mim mesmo. Mas já era tarde. Carine Costa tinha entrado no meu jogo. E agora… ela era minha peça favorita. Ela abriu a pasta sobre a mesa da sala de interrogatório, os dedos longos e precisos deslizando pelas folhas como se cada detalhe importasse. Carine falava pouco, mas quando abria a boca, o ambiente mudava. O policial na porta parou de fingir que não ouvia. Até o relógio pareceu bater mais devagar. - As acusações são graves. Tráfico internacional, associação criminosa, porte ilegal de armas… ela listou, sem levantar os olhos. - E os sorrisos? Vai me acusar de charme em excesso também? Ela finalmente me encarou. Aqueles olhos escuros não vacilaram, mas eu vi a faísca. Ela sentia. Negar seria inútil. E, se eu soubesse alguma coisa sobre química, é que quanto mais a gente tenta conter, mais perigosa fica. - Não sou como essas mulheres que você manipula por aí. Eu vim aqui pra te defender, não pra cair nos teus joguinhos, Rafael. - Eu não jogo, doutora. Eu domino e me chama de Peixe . Ela soltou o ar com força, como se a paciência tivesse um limite curto comigo. Mas não saiu. Ficou. E isso já dizia mais do que qualquer resposta afiada. - A polícia tem escutas, fotos, registros de movimentação suspeita em quatro estados. Vai ser uma luta. Eu preciso que você confie em mim. PEIXE . o vulgo saiu com ironia dos lábios dela . - E você? Confia em mim, Carine? Ela hesitou. Um segundo. Dois. Depois, fechou a pasta com firmeza e se levantou. - Eu confio na justiça. E por agora, isso é o que você tem. A porta se abriu com um rangido abafado. Ela saiu sem olhar pra trás. Mas eu fiquei olhando. Fiquei imaginando aquele coque desfeito, aquela voz firme sussurrando meu nome, aquele corpo colado no meu, rendido, entregue. Mas não era só t***o. Era o desafio. Era o proibido. Era saber que aquela mulher, que parecia intocável, já estava presa em mim. Mesmo que ainda não soubesse. Carine Costa podia tentar manter a distância. Podia usar aquela muralha de ética, postura e argumentos como escudo. Mas eu era Rafael Sampaio, o Peixe. E eu não sabia perder. Ela era advogada. Eu era criminoso. Ela era a lei. Eu era o caos.E mesmo assim… estávamos em rota de colisão. E quando acontecesse e ia acontecer , nenhum tribunal no mundo ia poder absolvê-la do que viria depois.... Passei o resto do dia com a imagem dela martelando na minha cabeça. Era estranho isso… Ter tanta gente querendo a minha cabeça e, ainda assim, eu só pensar em uma mulher que podia acabar com a minha liberdade com uma simples assinatura. Naquela noite, na cela, encostei a cabeça na parede fria e fiquei olhando o teto rachado, como se tivesse resposta ali. Mas só tinha mais dela. O jeito que me olhou. A raiva contida. O desejo disfarçado de desprezo. Essas coisas eu reconheço de longe. Já vi olhares assim de esposas de juiz, de delegada disfarçada, até de jornalista querendo furo exclusivo. Tem mulher que se atrai pelo perigo. Mas Carine… ela era diferente. Ela se debatia contra isso. Tentava negar até pra ela mesma. E quanto mais fugir , mais eu vou correr atrás, porque eu gosto do proibido . No dia seguinte, ela voltou. Blazer claro, cabelo solto dessa vez. Veio diferente. Mais suave. Mas ainda com a mesma postura de quem segura um leão só com a caneta. - Dormiu bem, Rafael? - Melhor que esperava. Sonhei contigo. Ela revirou os olhos, mas sorriu. Pequeno. Quase imperceptível. Mas eu vi. E aquilo já era vitória. - Trouxe os relatórios dos depoimentos. Um deles pode nos ajudar, mas preciso que você mantenha a boca fechada e pare de bancar o conquistador barato. Isso aqui é sério. - Tudo que envolve você é sério, doutora. Ela bufou e jogou o papel sobre a mesa. Tava cansada de bancar a durona, mas não ia baixar a guarda tão fácil. Eu gostava disso. - Vamos precisar revisar tudo, linha por linha. Se esse cara falar o que penso que vai falar, posso conseguir um habeas corpus até o fim da semana. - E aí eu saio… e levo você pra jantar. - Você sai… e vai direto pra uma investigação maior. Tem gente mais graúda nessa história, e você sabe. Fiquei em silêncio por uns segundos. Olhei ela nos olhos. - E se eu entregar alguém maior, você me tira de vez? Ela me estudou. E aí eu vi aquele era o ponto fraco dela. A justiça. O certo e o errado. Ela ia até o fim por um caso bem feito. Mas se envolvesse sentimento… a balança podia desequilibrar. - Se você colaborar… eu faço minha parte. Levantei devagar, me aproximando da mesa. Ela não recuou, mas endureceu o olhar. Testando limites de novo. - E se eu disser que a única coisa que quero entregar… é você, Carine? Ela travou. Rápido. Mas travou. O coração acelerou, eu vi na veia pulsando no pescoço. Ela me sentia. Talvez mais do que devia. - Então você não entendeu nada. - Entendi tudo. Você só não tá pronta pra admitir. Ela pegou os papéis de volta com firmeza, fingindo encerrar a conversa. Mas antes de sair, se virou. - Eu não sou tua. E nunca vou ser. - Ainda. Ela não respondeu. Mas o jeito que a porta bateu quando saiu me disse tudo. Ela estava com raiva. E desejo. Os dois ao mesmo tempo. A melhor mistura. Porque Carine Costa estava caindo na minha labia . E eu estava ali pra segurar. Ou arrastar junto pro fundo. adicionem na biblioteca meus amores ....
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD