Dara narrando
Ir para o Rio de Janeiro sempre foi meu sonho de menina. Sempre gostei de novelas, de filmes brasileiros, e sempre admirei cada pedacinho desse lugar. A viagem pro Rio era um d****o antigo, e eu sempre imaginei que seria perfeita. Talvez por isso eu tenha adiado tanto: era como se, adiando, eu pudesse manter o sonho intacto na minha cabeça.
Sempre sonhei em desfilar no calçadão de Copacabana, fazer uma filmagem toda gostosa e postar com a música "Garota de Ipanema".
🎵 Música 🎵
Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela, a menina que vem e que passa
Num doce balanço, a caminho do mar...
Moça do corpo dourado, do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar...
Minha imaginação sempre foi fértil. Sonhar com o Rio é de graça. Quero conhecer o Pão de Açúcar, andar de bondinho, ir a um pagode na Lapa, a uma boate no Leblon, tomar uma água de coco num quiosque na Barra, jantar no Paris 6, conhecer a pizzaria do Bruno Gagliasso, e sim... subir o morro, só pra saber como é tudo por lá.
— Já tô com o roteiro prontinho. — falo para as meninas.
Luiza: Oxente, confio de olhos fechados. Tu esperou por anos pra vir pro Rio.
Nara: Pois é, já foi pra Europa, pros Estados Unidos, rodou o mundo todo… mas pro Rio, que era o sonho, viveu adiando.
— Demorou, mas chegou. Vamos arrasar... Quem aí quer dar a xereca pros bandidos? — digo rindo, fazendo o passinho dentro do carro. Elas caem na gargalhada.
Nara: Já vou avisando: nada de subir p***a de morro, viu?
— Apois a gente vai.
Nara: Não, Dara. É perigoso.
Luiza: Pois eu vou!
— Menina, só vamos conhecer! Que m*l tem?
Luiza: Tem até guia turístico, é de boa.
— Sem brincadeira, amiga. É de boa mesmo. Eu tô só zoando com esse negócio de bandido. Tu sabe, né? É perigoso sim. E como eu falei: são todos feios mesmo, e tem esse lance de facção. Tá repreendido! — digo me benzendo.
Nara: Sei lá... tu é doida.
Luiza: Apois eu não tô, não. Se aparecer um bandidinho musculoso, eu pego.
— Novidade, papa anjo! — rimos e seguimos pro aeroporto.
---
Chegamos no aeroporto animadas. São cerca de 4 horas de viagem de Recife até o Rio — coisa rápida. Confesso que meu coração tá na mão. Tô eufórica, feliz e realizando um dos meus maiores sonhos. Estar com as meninas deixa tudo ainda mais especial. Conheci a Nara uns 10 anos depois da Luiza, e eu e a Lu sempre dividimos esse sonho.
Quero aproveitar essas três semanas intensamente, sair muito, curtir tudo e viver essa loucura. Depois volto pra minha vida mais ou menos boa — mas que é minha. Eu gosto das coisas que conquistei. Cheguei muito longe, considerando de onde vim. Apesar das crises de ansiedade e das existenciais, eu gosto da minha vida fria e vazia. Gosto de ser quem sou e de ter um lugar pra voltar no fim do dia. E nem sempre foi assim.
---
As quatro horas de voo passam, e eu continuo do mesmo jeito que saí: calça folgada verde militar, cropped mostrando o umbigo com um piercing, colares, anéis, cabelo loiro solto ao vento e óculos escuros.
Luiza: Chegaaaaamos, Rio de Janeirooo!
— AAAAAH! Eu vou surtar! — grito enquanto o avião pousa.
Nara: Bora logo pegar nossas malas e aproveitar essa cidade maravilhosa.
Pegamos nossas coisas e seguimos pra fora do aeroporto, cheias de entusiasmo. Muita gente, todo tipo de gente — bonita, elegante, despojada, gente de todas as classes.
Nara: c*****o! Aqui tem muito homem bonito.
— Tem mesmo.
Luiza: Dá pra tu desencalhar, amiga. — ela brinca, me cutucando.
— Vai tomar no cu, Luiza! Não quero saber de homem, não.
Nara: O único homem que ela quer é o chocolate. — elas riem.
— Pelo menos ele não me trai! — Chocolate, no caso, é meu vibrador. Um apelido carinhoso. Um homem preto, gostoso e imaginário. Falando assim, pareço doida — e talvez eu seja mesmo. Uma doida desiludida que nunca gozou de verdade na mão de homem nenhum. Por isso, não gosto o suficiente.
---
Pegamos um táxi e seguimos para o Copacabana Palace. Eu observo tudo pela janela, encantada. Parece que sempre morei aqui, tudo é tão familiar… O rádio toca uma música do Diogo Nogueira.
🎵 Música 🎵
Vamos amor
Vamos curtir, bora pra beira do mar
Vamos pra onde está fazendo mais calor
E ninguém pode nos achar…
[...]
— Beira do maaaaaar! — completo a letra, enquanto o taxista dá milhões de dicas sobre o que fazer no Rio. Me sinto em casa.
Quando o carro para em frente ao hotel, eu respiro fundo, abro os braços, fecho os olhos. Corro pro calçadão e começo a cantar, gesticulando, enquanto as meninas riem do outro lado da pista.
— Olhaaaa que coisa mais linda, mais cheia de graça... é essa Dara que vem e que passa! — volto correndo pro g***o, empolgada.
Luiza: Vem, malucaaa. Vamos guardar nossas coisas.
Nara: E aí, nossa guia? Pra onde agora?
— Pelo horário, já são meio-dia. Vamos almoçar em algum quiosque, pegar uma cor, e de noite... pagodinho na Lapa, pra sentir o Rio.
Luiza: Fechadíssimo!
Nara: Então bora correr!
---
Subimos pro quarto, trocamos de roupa — eu coloco um biquíni com saída de crochê — e descemos pra orla. O dia é perfeito. Aproveitamos cada segundo. Jantamos, passeamos no Cristo, fizemos o roteiro com o guia. O Rio não decepciona. É tudo tão, tão incrível.
Três dias depois...
Já fizemos tanta coisa nesses três dias que parece uma semana. Hoje é sábado, dia de praia e de novo, pagodinho!
— Hoje é dia de boate no Leblon!
Nara: É… nada de baile, hein?
Luiza: Eu queria ir, mas confesso que tô com medo também.
Nara: Vocês viram quando passamos no pé do morro, né? Muita a**a…
— Fazer o quê? Tudo bem. Amanhã a gente vai só no restaurante da Vidigal pra conhecer e continua por aqui mesmo. Ainda tem Angra dos Reeeeiis… Búzios! — ainda sonhando acordada.
Luiza: Fechado! Será que tem um Alex gostoso lá, tipo Verdades Secretas?
— Véi, a gente parece vivendo fanfic.
Luiza: Mas o que custa? Sonhar é de graça.
Nara: Finalmente, um acordo. Tô afim de morrer, não. — rimos.
[...]
O calor tá grande. Tô com a parte de cima do biquíni e uma saia de crochê. Estamos sambando, curtindo uma música ao vivo na praia. Ao lado da nossa mesa, outro g***o bem animado. Uma menina branca, cabelo preto, me olha com simpatia. Outro olhar assim… impossível não perceber. Tem uma morena linda também, cacheada, magrinha, animadíssima sambando. A gente acaba se esbarrando sem querer.
— Desculpa, desculpa! Nem te vi! — falo, sorrindo.
Xx1: Relaxa! Tá tudo bem. Você não parece ser daqui, né?
— Não! A gente é de fora.
Xx1: Deixa eu adivinhar… Nordeste?
— Ué, como você sabe?
Xx2: Difícil não saber. O sotaque entrega. — a outra responde, se aproximando.
— Caramba! A gente fala assim tão diferente? — dou risada.
Sophia: Eu gosto! Aliás, prazer, sou a Sophia. Essa é a Geovana.
— O prazer é meu! Eu sou a Dara. Essa é a Nara e essa é a Luiza. — apresento, e elas se cumprimentam.
Geovana: São só vocês? Querem juntar com a gente?
Luiza: Adoraríamos!
Juntamos as mesas. Elas apresentam o resto do pessoal: o namorado da Geovana, Gabriel, um tal de Ravi, e o Pedro — bonito, moreno, musculoso, com um sorriso de deixar tonta. Mas ninguém deu em cima de ninguém. A vibe foi muito com Sophia e Geovana. Já são umas 18h e... surpresa: Luiza e Pedro já estão se pegando, beijo pra todo lado. Nara? Já tá com Ravi. E eu? Como sempre: com ninguém. E tudo bem por mim.