Eu sou Dara

1376 Words
Dara narrando Olá, pessoas... Pessoas legais, chatas, animadas, divertidas, introvertidas, piranhas, solteiras, casadas, enroladas, felizes e infelizes, qualquer coisa ou só perdidas como eu! Meu nome é Dara Santiago, eu moro no litoral sul do nordeste desde que me entendo por gente. Vinte e cinco anos atrás, nascida do bucho de Diana e jogada nos braços da Dona Salu, minha vó. É ela quem me criou desde então, me dando amor e o cuidado que talvez eu mereça... ou não. Minha vida tá uma confusão, e só hoje percebi que, na verdade, ela sempre esteve. Tenho 1,60 de altura, loira, corpo escultural — cortesia da genética e de não perder um dia de musculação. Na maioria das vezes sou simpática, generosa, expressiva, explosiva e feliz... mas em outros dias, como o de hoje, sou altamente insegura. E foi aí que percebi: eu sou um fracasso. Sempre peguei no pesado, botei o pé no mundo e fui trabalhar. Já fiz de tudo: loja de roupa, perfumaria, mercado, restaurante. Além disso, corri atrás da educação — se você abrir minha gavetinha de documentos, vai encontrar uma fileira só de cursos e formações que não me servem pra p***a nenhuma. Fiz técnico em enfermagem, gestão de negócios, comecei fisioterapia, pulei pra hotelaria, logística, moda e voltei pra saúde como gestora hospitalar. E hoje, exclusivamente hoje, percebi que minha vida é uma bagunça. Eu não sei quem sou, não sei minhas qualidades, nem meus defeitos, não sei pra onde quero ir. Atualmente, estou gerenciando um hospital enorme na minha cidade — o Hospital Português, o maior e de qualidade incomparável. Amei ser gerente por muito tempo. Amei a área da saúde. Mas hoje... hoje eu só sinto um enorme vazio. Estou deitada na cama assistindo à série “Amor da minha vida”, com Bruna Marquezine, Sérgio Malheiros, Sophia Abrahão, João Guilherme, Fe Pas Lene, Danilo Mesquita e ufa... eu sei todos. Porque meu sonho também era ser atriz, há um tempo. Eu sou cheia de sonhos. E a realidade? Cheia de nada. As lágrimas escorrem. — Porra... mais uma crise existencial — falo em voz alta. Ninguém pra escutar, só eu e o vazio. Igual ao da Bia do filme. No peito. — Esse filme fudeu comigo — murmuro, sorrindo entre lágrimas. Me sinto perdida. Olho pra baixo e vejo alguém l******o meu pé. Sorrio. — Pelo menos eu tenho você — digo, beijando o Nico, meu cachorrinho maltês. Abro a geladeira, encaro as opções e nada me interessa. Pego uma taça, o vinho, abro com o saca-rolha e vou pra varanda do apartamento. Observo os carros, as janelas distantes. Cada pessoa ali tem uma vida. Alguém. Alguma coisa. E eu? Eu não sou ninguém. Não tenho família por perto. Minha vó mora a três cidades de distância. Viemos da classe média, lutei muito pra ter estabilidade. E nesse processo, fui perdendo a sanidade. Hoje, tenho só três amigas malucas. Cada uma com sua vida. Marido, filhos... menos a Luiza. Sorrio lembrando dela. Ela é sensacional. Respiro fundo e penso: como alguém pode ter tudo e ao mesmo tempo não ter nada? Já vivi muitos romances pra saber que o amor não é pra mim. Sofri demais. Fechei meu coração. E é isso que mais dói. Eu não consigo me conectar. Tomo o vinho da taça, respiro fundo e meu celular vibra. Olho. É a Luiza. Sorrio. Ligação ON — Oi, Lu, tudo bem? Luiza: Oi, c****a! Tô tentando falar contigo há dias e tu não atende essa p***a. Tá fazendo o quê esse tempo todo? — Tu não vive sem mim, né? Luiza: Nem fodendo. — Tô aqui, de boa... tendo uma leve crise existencial. Luiza: Carai, de novo, Dara?? — Fazer o quê, amiga? Luiza: Dar, dar essa b****a pra ver se alivia o queijo. — Vai pro inferno, mulher! Luiza: Vou. Na verdade, nós vamos. E se chama LUX, bebê. — Ah, não tô afim... Luiza: Não quero saber. Te pego em uma hora. Ligação OFF Ela desliga. Eu sorrio. Conheço a Luiza desde o ensino médio, estudamos juntas na escola do bairro. Ela é dentista e minha melhor companhia. Luiza nunca solta minha mão. — v***a, desligou na minha cara... — murmuro, indo pro banheiro. Ligo a ducha. A água quente desce pelo meu corpo. Passo as mãos por mim inteira, e quando chego perto da minha i********e, não resisto. Deito na banheira. Deixo tudo fluir. O mundo gira em câmera lenta. Me toco. Tiro o vibrador da gaveta lateral. Ligo e posiciono sobre o c******s. A vibração toma minha alma, e alguns minutos depois... g**o. Forte. O alívio é real. — Tenho que parar com isso — olho pro lado. Nico me encara. — Não me julga, ninguém faz isso melhor que eu mesma. Sim. Eu tô falando com o cachorro. Sim. Sou viciada em me masturbar. Entro de novo no chuveiro, termino o banho, escolho uma roupa. Não sou muito fã da noite. Sempre fico vazia no dia seguinte. Mas às vezes... gosto. Gosto de sair. Ser a p*****a. Voltar carregando e sendo carregada pela Luiza. Já namorei. Já me apaixonei. Já fui feita de trouxa. Mas sempre enjoo. Prefiro ficar sozinha. Talvez porque nenhum homem me fez gozar. Talvez por isso eu não faça questão deles. Já estou pronta. Vestido preto de alça com brilho, cabelo em babyliss, maquiagem impecável. Pego minha bolsa. Notificação. Mensagem: Luiza: Tô aqui embaixo. Ônix branco. Desço. Entro no carro. Sábado em Boa Viagem é agito. E a cidade mais cara da região, com as melhores baladas, não decepciona. Luiza: p***a, vai casar? — Reclama demais. Luiza: Repara se eu sou tu... — ela me abraça. — Tá linda, como sempre. — E você... magnífica. Cinco minutos depois, chegamos. Na frente da boate, movimento total. Muita gente bonita. Descemos do carro. E claro: todos olham. Não é pra menos. Eu sou linda. E a Luiza também. Ela é castanha iluminada, corpo escultural pós-lipo e mastopexia. Já foi obesa, mas hoje? Um arraso de mulher n***a. Entramos animadas. Música eletrônica. Nos juntamos ao grupinho de amigos. A vibe é boa. Todo mundo rindo, bebendo. E eu? Já baixei a simpática... Luiza: Finalmente a Thifany chegou! — ela grita rindo, me vendo descendo até o chão. — Não somos tão diferentes... Luiza: SUPER! Sim. Me chamam de Thifany quando bebo. Dizem que viro outra. Da mulher fechada pra... p*****a. Nara: Aaaai que saudade da Thifany! — me abraça. Nara é minha outra amiga. Menos doida que a Luiza, mas ainda assim, doida. — Chegou a v***a master. Tava dando pro Gustavo, né? Nara: Hã? — Vai, faz a sonsa. Rimos. Dançamos. A noite segue. DJ Neif tá no comando — não gosto muito, mas o povo vibra. Famoso depois que foi pro rancho do Maia. Música rolando > Engravidou, vai ter um menino... Quem mandou tu dar a xereca pros bandido... Todo mundo canta. Dança. Vibra. Luiza: Minha amiga Thifany precisa daaaaar, ela só bate s******a! — Rapariga, tá sem o que fazer, é? Luiza: Oxe, amiga! Tô te ajudando. Nara: Quer dar pra bandido, não? Teve um tempo que tu era doida pra ir pro Rio atrás deles... — Tá repreendido, menina. Era só brincadeira. Leitora de fanfic. Pessoalmente, é tudo véi barrigudo e assassino. Luiza: Fora a pisa das mulher dele que tu ia levar! Rimos. Nara: A viagem pro Rio que a gente nunca fez... — Meu sonho. Tenho até roteiro pronto. Luiza: Desde o fundamental tu fala nisso. E por que a gente nunca foi? — Sei lá. Sempre espero o momento certo... e nunca dá certo. Nara: Quer saber? A gente vai! Vocês pagam que eu sou lisa, mas tô dentro! Luiza: Dou valor. A gente vai! — Se todo mundo vaaaai... eu também voooou! Luiza: Você não! Olho, confusa. Nara/Luiza: QUEM VAI COM A GENTE É A THIFANY! Todas rimos. --- Duas semanas depois... Luiza: BORAAAAA DARA! Vamos perder o voo! — Tô indo, rapariga de João Dantas! Nara: Quem é João Dantas, hein? Vocês sempre falam... — Oxe... e a gente sabe? Luiza: Quem chamava a gente assim era vó Salu. — Deve ser dono de cabaré da época dela! Sorrimos. Entro no carro. — PARTIU RIO DE JANEIRO, MEU AMOOOOOR!
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