Tirica narrando O dia já tinha começado torto, com aquele vento estranho batendo de leste, um friozinho b***a raspando a pele como se estivesse avisando alguma coisa que a gente só entende quando já é tarde. Eu tava na laje da boca, sentado no tijolo, cigarro queimando torto no canto da boca e o rádio chiando de leve, aquela chiadeira que não diz nada e, ao mesmo tempo, diz tudo pra quem conhece o som da favela respirando. Embaixo, os vapores se revezavam com a naturalidade de quem já nasceu sabendo o passo, as donas fechavam roupa no varal e xingavam o vento, as crianças chutavam garrafa vazia no beco como se fosse final no Maracanã. Era dia comum na quebrada, e foi justamente por isso que o estalo bateu antes do primeiro grito no rádio: dia comum demais. O “ligação” da alta veio do na

