OS IRMÃOS CAPÍTULO 1
OS IRMÃOS
Em uma época muito distante, existiu um rei muito bom para seu povo .Todos o amavam, sem desconfiar que por trás daquela máscara de bondade e compreensão existia um homem vil e m*l, que não se detinha quando queria algo.
As únicas que conheciam esse seu lado eram a esposa e as duas filhas; Anie e Analva, que sentiam na pele a maldade daquele homem, através de chibatadas impiedosas. Ficaram várias vezes sem comer, quando ele se encontrava de m*l humor. Quando algo o perturbava, não deixava transparecer, guardando toda sua raiva para a família, punindo-as com sua fúria.
E foi assim que Jakeline, sua esposa, começou a tramar uma fuga com suas filhas. Começou a tirar moedas do tesouro do rei as escondidas e contava com a ajuda de um fiel e*****o para ajuda-la a esconder o tesouro. Ela se apaixonou por esse e*****o de pele escura, que sempre lhe dedicava o carinho e atenção que precisava, e muitas vezes até lhe fazendo curativos nos maus tratos do marido. Ela engravidou pela terceira vez. Teve muito medo do filho nascer de pele escura e o rei m***r a ambos. Assim, adiantando seu plano, fugiu levando suas filhas e o e*****o. O rei, inconformado e furioso, em seu orgulho, ordenou que vasculhassem o reino atrás deles, oferecendo uma bela recompensa para quem informasse seu paradeiro. Não demorou muito e foram encontrados. Pois, fora os criados do palácio, que entendiam o motivo de sua fuga, pois presenciavam as cenas de brutalidade, o povo, revoltou-se contra aquela que ousou trair aquele rei, que muito os amava e não pouparam esforços para encontrá-los.
O e*****o foi morto enforcado, depois de muito torturado pelo próprio rei. Jakeline fora jogada numa cela nos porões do palácio. As filhas ficaram proibidas e impedidas de ir visitá-la. Ele estava cansado também de suas filhas. Não suportava mais olhar para elas, pois eram a constante lembrança da mãe traidora que não lhe dera um filho homem.
Alguns dias depois, de mandar a mãe para o cárcere, o rei mandou as filhas para o rei do reino vizinho, oferecendo-as como concubinas. O seu amigo, Aschan, ficou muito agradecido, pois ambas eram jovens e belas. Uma de quinze anos e outra com treze.
Jakeline, chorou a morte de seu amado e*****o. Mas ninguém viu suas lágrimas. Ficou sabendo da sua morte e da forma c***l como foi tratado, por uma das criadas que lhe levavam comida. Essa comida era levada, pela misericórdia das criadas, pois o rei não dera ordem alguma para que lhe dessem o que comer. Já, quando soube de suas filhas, ficou aliviada. Pelo menos saíram do julgo do pai. O rei Aschan, podia ter muitas concubinas, mas pelo que sabia, não era c***l com nenhuma delas. Então acreditou que as filhas estariam melhor com ele do que com o próprio pai.
E chegada a hora, Jakeline deu a luz á um menino. Não nasceu de pele escura, apesar de o rei não acreditar que era seu filho. Sem vê-lo, mandou que um dos seus guardas, Icarèias, o levasse embora para longe. Alguns conselheiros do rei que foram até o cárcere de Jakeline, viram a criança e imediatamente identificaram as características do rei na criança. Tentaram traze-lo a razão, mas ele não dera ouvidos.
Icaréias, já era casado há alguns anos e sua esposa não lhe gerara um filho, então o tomou e o levou para casa, aonde viria a ser criado como seu filho.
Jakeline, após a separação prematura do filho, e devido também aos maus tratos, pois o rei mandava chicotea-la algumas vezes por dia e como ainda estava de resguardo, não resistiu e faleceu. O seu marido não a enterrou com honrarias e o povo o apoiou.
O rei esperou o tempo devido ao luto, para evitar falatórios da plebe e casou-se de novo e um ano depois nascia seu herdeiro, o príncipe Vlarur. Quanto a criança que Icaréias levou, nem tinha mais lembranças.
Enquanto Vlarur crescia com toda comodidade e cercado de varias babás que o mimavam, o outro filho, crescia no meio de crianças plebéias.
Ao contrário da forma como tratava suas filhas, o rei amava seu herdeiro e sorria sempre com suas travessuras. Já a nova esposa, não era tratada com mimos, mas também não sofria com maus tratos, pois o rei lhe era grato por ter lhe dado um herdeiro. Porém uma grave doença a acometeu e mesmo com os melhores médicos do reino, ela veio a falecer antes de Vlarur completar um ano. Nereu se recusou a procurar nova esposa.
Leiane, a mãe adotiva do outro filho, o chamou Vitor, pois se sentiu vitoriosa por depois de anos ter alguém a quem chamar de filho. Por seu lado, Vitor também a amava e ao pai, e jamais desconfiou que não fossem seus verdadeiros pais. Porém todos da aldeia, sabiam qual era sua procedência, e com fidelidade guardaram o segredo de Leiane e Icaréias. Visto que nessa aldeia, não tinham o mesmo apreço pelo rei, como o restante do reino. Pois sabiam, pelos criados do rei que moravam ali em sua maioria, que ele não era uma pessoa digna.
E assim, tempo passou.
Numa tarde ensolarada, o rei, atendendo aos suplícios de Vlarur, deu permissão ás babás de passearem com ele pela aldeia. Não ficou preocupado, pois todos no reino o amavam e jamais machucariam seu filho.
Vlarur ao longe percebeu crianças num campo, correndo umas das outra e se escondendo atrás de árvores, se aproximou seguido das babás que não o perdiam de vista.
Chegou perto de um garoto um pouco mais alto que ele, mas que devia ser da mesma idade. Vlarur estava com sete e o garoto devia ter uns sete ou oito.
_O que estão fazendo?-Perguntou tímido.
O garoto que estava distraído olhando para outro lado, se virou imediatamente. Ao passo que Vlarur ficara surpreso, pois apesar de ter certeza que nunca tinha o visto, ele lhe lembrava alguém, o outro garoto lhe olhou de cima em baixo e depois com um sorriso irônico demais para sua idade o fitou.
_O que faz aqui ..."alteza"?
Vlarur recuou um passo, como ele poderia saber quem era?
_Como sabe quem sou?
O garoto riu.
_Todo mundo sabe. Já cansamos de ver seu pai te exibindo por ai. E também qualquer um te reconheceria com esses trajes.
Vlarur se olhou e depois olhou para as roupas do garoto, percebendo, só então, o contraste de suas roupas finas, com as de algodão que o garoto usava.
_Porque usa roupas de algodão?
O garoto sorriu mais ainda.
_Porque, meu pai não é rei.
_E gostaria que fosse?
_Não mesmo!
Vlarur entendeu. Sentiu-se invejoso da liberdade do garoto. Não tinha ninguém o seguindo o tempo todo.
_O que está fazendo?
O garoto pareceu começar a ficar impaciente.
_Brincando, oras!
_Brincando?
O garoto o fitou sério. Será que ele não sabia o que era brincar?
_Não sabe brincar?
Vlarur ficou mudo de vergonha. O garoto percebeu e apiedou-se dele.
_Venha! Vou ensiná-lo.
Vlarur o seguiu contente. As babás não se importaram, pois sabiam que as crianças da plebe, foram ensinadas a amar e respeitar ao rei e seu herdeiro. Assim sendo, sentaram-se na grama e ficaram observando o garoto apresentar Vlarur aos outros e aos poucos, o príncipe foi se soltando, entendendo e se divertindo com a brincadeira. Naquela tarde ainda aprendera muitas outras brincadeiras com os novos amiguinhos.
Quando o sol começou a se pôr, as babás o chamaram para irem embora.Com muito custo, conseguiram convencê-lo, pois ele se recusava a se separar dos novos amiguinhos.
Antes de ir, Vlarur se virou para o garoto.
_Como se chama?
_Vitor.
As babás se entreolharam surpresas, pois não era segredo para o povo da aldeia que Vitor, era o nome do primogênito do rei.
_Então Vitor, virá aqui amanhã?
_Venho todos os dias.
_Se importa, se voltar todos os dias também? É que essa foi a melhor tarde que já passei em toda minha vida.
_Não me importo. Será sempre bem-vindo.
Vlarur sorriu e segurou na mão de uma das babás, dando adeus enquanto se afastava. Nereu, o rei, proibira Vlarur de voltar a se misturar com a plebe, quando esse, voltando do passeio lhe contara contente sobre os novos amiguinhos.
Vlarur ficara triste e fizera greve de fome até que Nereu, o pai, preocupado com sua saúde, resolveu permitir que voltasse todas as tardes para brincar com seus amiguinhos. O que o rei nem imaginava, era que durante esses encontros com outros meninos, Vlarur e Vitor se aproximaram muito e a amizade deles se aprofundou. Vlarur não queria se afastar nunca de Vitor, e o seguia o tempo todo o admirando. Já Vitor, por seu lado, ainda tinha um certo receio de que Vlarur fosse vir a ser como o pai dele, e por isso mantinha uma certa distancia, apesar de se divertir com ele. Sua ignorância quanto a realidade do povo da plebe, lhe fazia rir.
O tempo passou e Vlarur e Vitor se tornaram belos rapazes. Vlarur com quinze e Vitor com dezessete anos. Tornaram-se amigos inseparáveis e Vitor passou a freqüentar o palácio e Vlarur sua pequena casa.
Leiane se mostrara apreensiva com a primeira visita de Vitor ao palácio, mas acalmou-se quando percebeu que ele não fora reconhecido, apesar de se parecer irremediavelmente com o rei.
Tanto o rei, quanto Icaréias, não viam com bons olhos essa amizade, porém ambos se abstinham de dizer algo, temendo apagar o brilho, feliz, que se via no olhar deles quando se encontravam juntos. Mas os motivos dos dois eram diferentes. Nereu temia que o garoto, por ter crescido no meio pobre, servisse de má influencia para seu Vlarur. Já Icaréias, temia que um dia o rei viesse a perceber as semelhanças gritantes entre Vitor e sua falecida esposa.
Vlarur se parecia com a mãe, mas seus cabelos e olhos eram castanhos, idênticos aos do rei. Já Vitor herdara os olhos verdes e os cabelos negros da mãe, porém se parecia fisicamente com o rei. Vlarur, chegou um dia a perguntar-lhe de quem herdara os olhos verdes e os cabelos negros já que, seus pais não tinham nenhuma daquelas características. Ele não soube explicar. Quando Vitor indagou da mãe, essa lhe respondeu evasiva, que se parecia com suas tias, que moravam longe dali. Vitor aceitou aquela explicação e não voltou mais a pensar naquele assunto.
O pai de Vlarur resolvera dar uma festa de boas vindas, para seu primo. O duque Louis, que viria com sua esposa e filha passar uma temporada no palácio. Vlarur convidou Vitor, o que já era de se esperar. O que não se imaginava era que essa festa, seria o marco da rivalidade entre os dois.
Izabelle, filha de Louis, era considerada a mais bela de todo o reino. E os amigos Vlarur e Vitor concordaram entusiasmados, ao vê-la, que realmente merecia o titulo de mais bela.
Seus longos cabelos tinham um tom dourado e vermelho que mexiam com a imaginação dos rapazes, e os olhos de um azul, que lembrava o céu, e seu rosto era como de um anjo.
Izabelle passaria uma temporada no reino, e foi com muito gosto que descobriu dois amigos ali.
Assim que fora apresentada aos rapazes, se unira a eles e estavam sempre juntos.Com um tempo, se apaixonou perdidamente por Vitor, e considerava Vlarur como seu melhor amigo.
Porém sem que soubessem Vlarur e Izabelle eram prometidos, um para o outro desde o seu nascimento. E Izabelle sabia que um casamento com alguém da plebe, estava fora de cogitação. Assim, guardou segredo do seu amor até para seu amigo Vlarur, que também a amava em silêncio. E o tempo de sua estada ali foi passando e os três se aproximando cada dia mais.
Já Vitor, se apaixonara por ela, e não via inconvenientes nesse amor. Esperou até o dia em que ficaram sozinhos e revelou a Izabelle seus sentimentos. Ela o abraçou.
_Ah! Que triste e terrível destino que fez com que nos conhecêssemos e nos apaixonássemos sem podermos de fato consumar esse amor. Pois, eis que esse é um amor impossível!
Ela disse em seus braços. Ao ouvir suas palavras Vitor a afastou fitando-a com inconfundível desprezo.
_Porquê impossível? Acaso, por não ter título, não sou digno de ser amado por ti?
_Claro que não me importo por sua condição social ser inferior, mas minha família irá se opor por tal motivo.
_Podemos falar-lhes do nosso amor. Afinal, não o premeditamos. Aconteceu. Se mesmo assim não aceitarem, fugiremos para longe daqui.
_Não é tão simples assim!
Vitor, a fitou furioso.
_Não passa de uma maldita esnobe! Vá! Vai se juntar á sua gente de "sangue azul"! Não quero que manche sua honra, com a minha presença nociva da humilde classe 'inferior“!”.
Izabelle, ao ouvir suas duras palavras, saiu correndo aos prantos e nem percebeu Vlarur, até esbarrar-se nele. Ele a fitou indagador e preocupado, mas ela simplesmente balançou a cabeça em negativa e seguiu em disparada.
Vlarur seguiu e encontrou-se com Vitor.
_Sabe o que aconteceu com Izabelle? Encontrei-a chorando e correndo como se fugisse de algo.
Vitor o fitou. No seu olhar ainda espelhava a dor e a fúria por ter sido rejeitado ,por aquela a quem seu coração se entregou.
_ Acreditas, que lhe revelei meus sentimentos e ela disse-me que era um amor inoportuno, pois eis que pertenço à classe inferior?
Vlarur recuou um passo, com olhar surpreso.
_Tu a amas?
Vitor o fitou um tanto surpreendido também.
_Pensei que soubesse.
Vlarur sentiu a ira explodir-lhe no peito.
_Pois ela tem toda razão! O fato de ser meu amigo e freqüentar o palácio, não significa estar a altura da pretensão de desposá-la! Não tinha o direito de aborrecê-la com suas fantasias absurdas! Deve se colocar em seu lugar!
Vitor ao ouvir a explosão do amigo, abriu o sorriso irônico. O mesmo que Vlarur aprenderia a vir odiar.
_Então a ama...
Vlarur sustentou seu olhar.
_Sim. Amo-a.
Vitor se pôs a rir.
_Por quê ri? Não vejo o que pode ter de tão engraçado nisso.
Vitor o fitou com olhos lacrimejantes de tanto rir e conseguiu se controlar.
_Vlarur, Vlarur...Sempre desejando aquilo que não pode ter...
_Porque não posso tê-la? Sou da nobreza! E mais ainda...Seu futuro rei!
Vitor riu mais ainda.
-_Izabelle não é para ti. O que pode oferecer para ela, além de luxo e escravos pessoais? Jamais poderia defendê-la, já que jamais ganhou nem na esgrima ou em qualquer luta de seu amigo aqui? Poderia roubá-la de ti sem muito esforço.
Vlarur ergueu as mangas da blusa.
_Vou lhe provar agora mesmo, que sou capaz de defender uma mulher de seus avanços!
Ele disse avançando para Vitor, mas esse apenas bastou-lhe golpeá-lo com um soco no estômago do amigo para que caísse ao solo com resmungos de dor. Vitor aproximou-se ajoelhando ao seu lado e puxando-o pelo cabelo, até que seus lábios alcançassem-lhe o ouvido e lhe sussurrou:
_Porquê, apesar ter tudo o que o dinheiro pode comprar, fica a desejar e invejar o pouco que seu pobre amigo tem? Pensa que nunca percebi? Invejava a minha posição de líder entre meus amigos, invejava o carinho que me dedicavam, invejava o amor de meus pais, invejava minha liberdade de ir e vir sem ter alguém me seguindo e vigiando meus passos todo tempo, invejava minha casa simples e a forma que meus pais me tratavam, e agora quer para ti a mulher que amo...Talvez se mereçam, mas ela me ama. E lhe dou minha palavra, que se, um dia vier a se casar com ela, lhe asseguro que antes ela passará por minha cama. E lhe juro, que jamais voltaremos a ser amigos. Tu me traíste!
_Saia daqui! Guardas!
Vitor o soltou e levantou-se lhe lançando um olhar de perda e foi-se embora caminhando tranqüilo. Era o fim de uma amizade, que nunca lhe trouxera nada de bom. Apenas o peso de ser livre.
Anie e Analva sentiram repulsa, quando viram, o homem, a quem seu pai lhes entregara. Era um homem de barba espessa e mantinha sempre um ar de quem estava sujo. Além disso, lhes pareceu ser bem mais velho que ambas, apesar de cinqüenta e oito anos, não ser uma idade considerada avançada. Foram obrigadas a servi-lo, mas nenhuma das duas jamais lhe gerara filhos. Ele não se importava, cansado de ver suas concubinas perderem a cintura, sem no entanto lhe gerarem um herdeiro, dando-lhe apenas meninas, que ele considerava inúteis. E assim que chegavam à idade de se casar, as oferecia para qualquer um que manifestasse vontade de tê-las, pois era com alivio que se livrava das filhas.
Anie e Analva se tornaram suas preferidas e á elas era permitido todas regalias que sonhassem. Nada lhes era negado, já que conquistara a confiança e o coração do rei.
Valendo-se disso, ambas descobriram o que acontecera á mãe e ao irmão recém-nascido. Porém, passaram-se alguns anos até descobrirem o paradeiro do irmão. De comum acordo, assim que souberam que o irmão estava sendo criado, por uma família da plebe, pediram ao rei que o adotasse como seu legítimo herdeiro, visto que não tinha um. Após muito insistirem, o rei concordou, já que não tinha filhos e apenas filhas, porém Aschan, o rei daquele reino e senhor das irmãs, colocou a condição de que o garoto só viria a saber que era herdeiro de todo um reino após sua morte. Não desejava nem conhecê-lo e pouco lhe importava o que seria do reino após sua morte. E assim se fez. Casou-se com Anie, a mais velha, e Vitor sem o saber, passara a ser filho e herdeiro de Aschan.
Após alguns anos...
Anie e analva se entreolharam. Estavam velando ao seu senhor, e ambas sabiam o que significava aquela morte repentina do rei. Era chegada a hora de vingarem sua mãe e o irmão repudiado. E até, o pobre e*****o que um dia, ousou amar sua senhora. Após o enterro pomposo e digno de um rei e esperado os meses de luto ,elas saíram escoltadas por cem guardas armados para buscarem o irmão.
Quando, após muitos dias de viajem, chegaram à aldeia do reino vizinho, procuraram por Leiane. Tiveram muita dificuldade para obter informações precisas, pois os aldeões eram gente desconfiada e acima de tudo leais. Temiam o que uma rainha de outro reino podia querer com uma simples plebéia. Mas, por um acaso do destino. Anie fora reconhecida por sua babá, Léa, e essa a abraçou e chorando lhe contou de suas saudades.
_Não trabalha mais no palácio? Perguntou quando a babá se recompôs.
_Não, minha filha. Seu pai considerou-me muito velha para cuidar de seu herdeiro.
Anie sentiu revolta. Depois daquela mulher ter servido com lealdade e dedicação ao rei por tantos anos, ele, por recompensa, descarta-a sem considerações. Esse era o pai que conhecia. Mas seu reinado de falsidades e mentiras estava chegando ao fim. Logo todo o povo do reino, saberia quem era na verdade aquele homem, que há tantos anos, regia suas vidas.
Anie fitou a babá.
_Se for de sua vontade, convido-a para vir comigo ao meu palácio, onde lhe dou minha palavra, será tratada como m****o da família real.
Léa sentiu o nó na garganta se apertar e seus olhos já umedecidos, deixou que as lágrimas refreadas viessem à tona .Deixou-se cair por terra e passou a beijar a mão de Anie.
_Oh! Obrigada alteza! Não sei como lhe agradecer...Não sabe como é difícil uma velha sobreviver...Já que ninguém nos dar valor...
_Pare ba! -interrompeu-a Anie.- Não tem o que agradecer. Tenho-a como uma mãe e é como filha que lhe proponho vir comigo. Levante-se! Se quiser mesmo ajudar-me, leve-me até meu irmão.
A babá se levantou e a fitou séria.
_Deixe-o em paz, por favor! Aqui ele é querido e amado por todos... E nem desconfia que Leiane não é sua mãe verdadeira...
_Não duvido que ele seja feliz aqui, nem do carinho que lhe dedicam os pais adotivos, afinal fora criado em meio à gente de bem e de princípios , mas é chegada à hora de ele se tornar àquilo que nasceu para ser; Um rei!
_Rei? Mas, minha senhora...Seu pai sequer reconheceu o pobre como seu filho...
_Mas meu falecido marido sim! Oficialmente ele é filho do rei Aschan. E lhe asseguro que em breve seu povo saberá a verdade sobre seu rei.
_Não adianta. Já lhes contei como seu pai é r**m, mas não me deram créditos. Acharam que dizia aquelas coisas como vingança, por ter ele me dispensado.
_Agora será diferente.
_Diz isso com tanta certeza.
_Porque tenho! Agora vamos, mostre-me o caminho.
Sem alternativas e acreditando que fazia o melhor para todos, Léa levou-as até a casa de Leiane. Um dos guardas tomou a dianteira e foi bater a porta. Uma senhora rechonchuda, de olhar maternal e sereno e cabelo castanho claro, atendeu-as com uma vassoura na mão, como se fosse usá-la como arma. Olhou para Anie e Analva, com cara de poucos amigos. Pelo visto a notícia de que a procuravam, chegara na frente da comitiva.
_O que querem?
Anie e sua irmã se entreolharam e num mudo acordo, desceram da carruagem em que viajavam e se aproximaram.
_Viemos para levar nosso irmão. -Analva decretou com uma mesura.
_Não sei quem é seu irmão!
_É aquele, ao qual, chama de filho.
Leiane arregalou os olhos temerosos.
_Não! Não vão levar meu menino! Abandonaram-no a própria sorte e agora que já é um rapaz querem o tirar do seio de seu povo? Não permitirei, enquanto tiver um fio de vida!
Anie se aproximou e falou com voz doce;
_Agradecemos muito, o que fizera por meu irmão. Mas agora, se o ama deve o deixar partir. Ele será coroado e vai lutar por seu povo, não seria justo, impedi-lo de ser aquilo para o que nasceu. Deixamo-lo que crescesse no vosso meio, para que não se tornasse um homem, egoísta, vil e perverso. Queríamos que tivesse princípios diferentes daquele que fora responsável por seu nascimento. E pelas informações que obtivemos, tu fizeste um bom trabalho. Ele está pronto para assumir seu lugar.
Leiane abaixou a vassoura com olhos umedecidos.
_ Não é justo que o tirem de mim!
_ Não o tiramos de ti. Ele continuará sendo seu filho. Mas precisa deixá-lo ir. É o melhor para ele. Quanto tempo mais acredita que Nereu, não descobrirá sua verdadeira identidade e fará de tudo para matá-lo? Lá, para onde vou levá-lo, estará seguro.
Leiane teve que concordar que elas estavam certas. Não era justo impedi-lo de viver uma vida boa. Afinal, é o que toda mãe deseja para seu filho. Que ele seja feliz e próspero. E seu filho era um rei por direito. Seus olhos se encheram de lágrimas.
_É com muita dor que o deixarei partir se essa for sua vontade... Ele trouxera tantas alegrias para essa casa...
_Entendemos seu apreço. Onde está ele?
Leiane se afastou e convidou-as a entrar.
_Já deve estar chegando. Mandei um amiguinho atrás dele.
As irmãs então entraram e sentaram, admirando o ambiente acolhedor do lugar. Apesar de pequeno, era um bom lugar pra se viver. Sabiam, agora, que seu irmão tivera tudo que era necessário verdadeiramente nessa vida; amor e um lugar para chamar de lar. E eram agradecidas aquelas humildes pessoas que com todo carinho, o acolheram em seu seio.
Vitor vinha a todo galope. Sentiu medo quando viu todos aqueles guardas em frente sua casa. Será que Vlarur mandou os guardas para o prender e a sua família, para vingar-se? Porém quando se aproximou mais, percebeu que aqueles não eram os guardas do palácio, pois seus uniformes eram diferentes, e tinham outro brasão, que não conhecia. Ele atravessou a multidão de curiosos que se juntaram aos guardas em frente sua casa. Apeou do cavalo e se aproximou da porta. Antes que entrasse sua mãe saiu e correndo o abraçou aos prantos. Por trás dela duas mulheres apareceram. Vitor imaginou que fossem as tias de quem sua mãe lhe falara, pois reconhecia nelas muitas semelhanças físicas, como a altura, a cor dos cabelos e olhos.
Para espanto de Vitor e de todos aldeões ali presentes, as mulheres emocionadas ajoelharam-se e o mesuraram como se fosse ele o próprio rei, e a centena de guardas as imitaram.
Vitor afastou a mãe e olhou-a, dentro dos olhos.
_O que está acontecendo?
Leiane leu nos olhos do filho, confusão e temor. Ela apontou as mulheres.
_Elas vieram te buscar... São...suas irmãs.
Vitor a encarou como se tivesse enlouquecido.
_Está brincando não? Pensei que era filho único.
Leiane convidou-o a entrar para que conversassem longe dos ouvidos curiosos e com a ajuda das irmãs, lhe contou toda sua história. Vitor, rapaz de personalidade forte, sentia cada vez mais enojado com tudo aquilo. Significava que o rei, a quem dedicava verdadeira lealdade e admiração, não passava de um ser extremamente perverso, sem honra e sem apreço pelos seus semelhantes. Significava, que Vlarur era seu meio irmão e estava predestinado a ocupar o lugar que por direito de nascimento era seu. Quando conseguiu controlar toda fúria que sentia dentro de si, fitou com carinho, aquela que por dezessete anos, conhecera por sua mãe. Claro que jamais desconfiaria que era adotado, pois Leiane lhe dedicou desde sempre, amor incondicional, que só as verdadeiras mães sabem demonstrar aos seus filhos. Não !Ele não perdera nada por não ter sido criado no luxo do palácio. Se fosse assim, jamais teria conhecido aqueles que lhe criaram, que lhe ensinaram a força da honra. Teria perdido muito se não tivesse tido a chance de conviver com pessoas simples na verdade, porém ricos. Ricos de coragem, de lealdade, de amor ao próximo. Pensando nessas coisas virou-se para as duas irmãs;
_Porquê ele as mandou irem embora, já que não tinham culpa sobre o que fizera a mãe, nem a desconfiança de serem bastardas como eu?
Analva sorriu triste.
_Ele nos odiava por não termos nascido homens.
Vitor deu um soco na mesa.
_Aquele velho nojento! Ele pagará por cada ofensa que cometera contra meus parentes! Vingarei todos! Irei convosco se me permitir levar meus pais adotivos e alguns amigos que aceitarem me acompanhar. Não posso sair daqui, deixando os que amo, pois eis que temo que caiam represálias sobre eles para atingir-me.
Anie e Analva se entreolharam contentes.
_Tu és o rei! Sua vontade seja lei desde já.
Leiane, muito contente porquê já não ficaria longe de seu filho, passou a arrumar seus poucos pertences, depois que mandou que chamassem seu marido no palácio, e Vitor saíra para convidar seus companheiros.
Após duas horas, Leiane, Icaréias ,Vitor, e seus amigos ,que aceitaram acompanhá-los, estavam prontos para seguirem viagem. Porém no meio do caminho, foram parados por guardas do reino e o próprio rei se encontrava à frente. Anie saltou da carruagem, alertando aos outros que permanecessem lá. E se aproximou do rei, sem fazer reverência.
_Qual motivo o levou a interromper nossa caravana? Deixe-nos ir , em paz!
O rei a olhou de cima sem reconhecê-la.
_Quem és tu, que ousara entrar no meu reino, sem a devida cortesia?
_Sou tua filha! A rainha de Aschan!
Nereu arregalou o olho surpreso. Não sabia que seu amigo desposara uma de suas filhas.
_E o que faz aqui, filha ingrata? Vem ao reino de seu pai e nem o visita!
Anie apertou os olhos e cerrou os dentes.
_Seria muita hipocrisia de minha parte se o fizesse! Jogou-me na mão de seu amigo para lhe servir de concubina e ainda pede considerações?! Não lhe devo amor! E pode tirar essa máscara de pai ultrajado. Todos que aqui estão conhecem seu verdadeiro interior, podre e escuro como sua alma.
Nereu a fitou com desprezo.
_Meu amigo fora muito bom para ti, tornando-a sua esposa, pois eis que não merecia esse gesto. Mas acaso sabe ele que viera até o reino de seu pai, para destratá-lo?
Anie sorriu irônica.
_Seu "amigo” está morto. E sua morte será um marco de novos tempos. Não só para aquele reino, ao qual agora pertenço, mas também ao seu. Estarei viva para o ver sendo derrubado do trono.
_Muito se engana. Sei que Aschan não fizera um herdeiro. Se o fizesse, eu saberia. E sem herdeiro, não haverá um novo rei com forças para me derrubar.
_Aschan deixou, sim, um herdeiro.
Nereu a olhou, confuso.
_Acaso tu lhe deste um herdeiro?
_Na verdade, fostes tu, o responsável por sua geração.
_Estás delirando! Diga logo quem é ele!
_Sou eu!
Uma poderosa voz, como a do próprio rei, se fez ouvir, por traz de Anie, que sorriu orgulhosa ao reconhecê-la. Vitor se aproximou e parou ao lado da irmã.
_E tu rapaz? Que fazes aqui? Pois o rei ainda não sabia que seu filho Vlarur se desentendera com Vlarur.
Vitor ergueu a sobranceira, fingindo espanto.
_Estou decepcionado! Então não reconhece seu próprio filho?
Anie fitou o irmão. Estava mais alto que ela, e era muito parecido com o pai, apesar da cor de seus olhos e cabelo, serem idênticos aos da mãe. Como o pai podia não reconhecê-lo?
_É verdade. -Assegurou Anie. -Esse é seu filho rejeitado!
Nereu olhou incrédulo para Vitor. Sentiu como se levasse um soco no estomago. Aquele rapaz era o seu filho? Logo ele que conviveu todos esses anos em seu meio, como amigo de Vlarur? Como pudera não perceber? Ele parecia consigo e tinha os mesmos atributos físicos, além de se parecer com a mulher mais bela que já conhecera... Jakeline!
_Tu? -Disse confuso. -Porque nunca disseste nada? Usou o bom coração de Vlarur para espionar-me?
_ Também desconhecia que não fui gerado por minha mãe Leiane. Mas isso não muda o que fez com minha verdadeira mãe e com minhas irmãs. Odeio te. Odeio teu filho. Odeio ter o seu sangue!