OS IRMÃOS CAPÍTULO 3

4973 Words
Anie ficou muda. Sabia bem, assim como a irmã, que ele não falhava em suas previsões. Ficou alguns minutos em silêncio para depois dizer determinada; _Devemos voltar e protegê-lo! Analva a fitou como se estivesse louca. _Protegê-lo do quê? Como? Ele disse-me que o viu morto, mas não disse como ou quando. E se ele previu, bem sabes que nada poderemos fazer. É inevitável! Anie a fitou e abaixou a cabeça. _Tem razão... Mas e quanto a Luza? Talvez pudéssemos evitar, prometendo-a para algum nobre... - Mais uma vez interrompeu-se. Lembrou-se do momento em que dissera a pequena Luza que iriam embora. Rebelara-se, como nunca havia feito antes e se recusara teimosa, a deixar Korar... Será que já o amava? Anie deu sinal para que o condutor de sua carruagem parasse e desceu procurando pelo carro onde viajavam Luza e a babá. Assim que encontrou, subiu acordando as duas. Tirou Luza da carruagem, para poder falar a sós com ela. Quando estavam sozinhas, olhou bem fundo em seus olhos. _Porquê não queria se afastar de seu primo Korar? _Há! É isso? Ele contou-me que seria sua rainha e estávamos combinando o que mudaríamos no palácio. Anie arregalou os olhos surpresa e perplexa. Deus! Eles só tinham quatro anos, como podiam conversar sobre essas coisas? _Como podem ter tanta certeza de que irão se casar? A menina revirou os olhos. _Kildar contou á Korar. A menina disse em tom de impaciência, como se fosse o óbvio. Estava explicado! Até as crianças sabiam do dom de Kildar e confiavam. Era impressionante como as crianças tinham mais facilidade para aceitar as coisas com naturalidade e sem o medo do que não entendiam, assim como os adultos. Colocou-a de volta na carruagem e voltou para sua e prosseguiram viajem. Mas seus pensamentos divagavam. Amava Luza como a filha que ela não teve. Não desejava que se casasse obrigada. Pois se assim fosse, arrumaria logo um noivo pra ela. Mas queria que ela conhecesse o amor. E que se casar fosse sua decisão. Viveu a maior parte de sua vida como esposa de um homem que nunca amara, apesar de lhe ter um enorme carinho. Podia não reclamar, e nem contar nada pra ninguém, mas no fundo, sentia falta de um verdadeiro amor. Nereu, depois de muito considerar, resolveu o que devia fazer para tentar amenizar o coração de Vlarur e salvar a vida de Kildar por pelo menos, algum tempo. Não tinha certeza se sua decisão deixaria o filho menos rancoroso, mas precisava agir. Nereu mandou que trouxessem Kildar, e assim que esse chegara acompanhado de sua babá, o rei pediu que todos se retirassem, deixando-os a sós. Ele pegou a criança em seus braços e o sentou no trono. _Kildar... Terei que enviá-lo para uma casa de campo, não muito longe daqui, onde amigos de minha confiança, cuidarão de ti. _Por que vovô? _Tu corres perigo aqui. _Mas não desejo ficar longe de ti e de mamãe... _Sua mãe irá contigo, e eu o visitarei todos os dias, mas não deve contar nada a ninguém, está bem? O menino assentiu e saltou do trono, já ia sair quando se virou e o fitou. _Isso não vai ser bom, vovô. - Disse e se retirou. A maturidade de seus netos, nunca deixava de o surpreender...O que será que ele quis dizer com aquilo? Será que os riscos aumentariam, por estar mandando-o para outro lugar? Será que fizera bem em não permitir que suas filhas o levassem? Eram perguntas que só o tempo responderia.Com ar cansado voltou-se e sentou-se ao trono, imaginando quanto tempo ainda lhe restava para governar seu reino. Vitor estava ansioso. Suas irmãs lhe contaram da antipatia de Vlarur com seu filho e isso o deixara preocupado. Aquele maldito velho! Devia ter permitido que elas o trouxessem! Ali não correria riscos...Estava a pensar nessas cousas quando Diny entrou na sala do trono. _Querido... Já está tarde, porque não vem para a cama? Vitor a fitou. Desde que se casara com ela, se mostrou compreensiva e dedicada, e ainda, era muito bela. Quando viu pela primeira vez, aqueles cabelos da cor do fogo e olhos cinzas, pensou estar diante da própria Izabelle. No entanto, olhando-a assim, de camisola e cabelos soltos, com olhar selvagem e lábios convidativos, totalmente sensual, não conseguia deixar de se perguntar porque não a amava como amou Izabelle? Ela o merecia muito mais, que aquela esnobe! Porém, os assuntos do coração eram misteriosos e insolúveis. Casou-se com ela por pressão de seus pais e de suas irmãs. Mas seu carinho por ela, acabou se transformando em amor, quando era lhe dera o maior presente de todos, sua filha Liza. Porém, naquele dia, preferia estar sozinho, e mesmo sabendo que a magoaria, respondeu-lhe; _Quero ficar sozinho está noite... Sinto muito. Ela lançou-lhe um olhar magoado, mas retirou-se sem retrucar. Desde que, suas irmãs chegaram com noticias de seu filho, ele tomara atitudes frias para com ela. Não conseguia se perdoar por sentir ciúmes de uma criança, mas lhe era inevitável. Talvez se ele a tratasse com mais indiferença... Mas a tratava com o mesmo carinho que dedicava a filha! Assim, jamais deixaria de amá-lo! Ao chegar a porta de seu dormitório, observou o homem que o guardava. Era jovem, atlético e belo. Uma boa companhia para aquela noite. Convidou-o a entrar e esse lhe dera o prazer que precisava e o marido negava. Quando começou com essas pequenas traições, sentiu culpa. Porém, com o passar dos anos, descobriu que o amor que queria era aquele que seu marido nutria secretamente pela mulher de seu irmão. E como sabia que ele jamais poderia, mesmo se esforçando ,lhe dedicar aquele amor, deixou de se importar. No dia da partida de Kildar, Vlarur discutia com o pai. _O garoto pode levá-lo para onde quiser, já que sua presença me é nociva, mas eis que não concedo permissão a minha esposa, pois a preciso do meu lado! E é onde deve ficar! O rei se aproximou e tocou-lhe o ombro. _Receio que Kildar precisará mais da mãe do que tu. Já não vai casar-te novamente? Que sentimento r**m e egoísta o faz querer mantê-la ao teu lado, apenas para fazer-lhe sofrer a decepção de vê-lo casado com outra? _Como ousa julgar-me? Sabes bem, que ela não me é uma boa esposa. _Então porque reter sua partida? _Acaso é Kildar mais importante que Korar? Acha que ele não precisa da mãe? _Tu nunca deixaste que ele se apegasse à mãe, afastou-o dela. Creio que nem notará sua ausência. E além do mais, ele tem o amor do pai, coisa que Kildar jamais conheceu. _Odeio Kildar, pois é filho daquele que ofendeu tua casa! _Por acaso Kildar ofendeu-o com seu nascimento? Vejo que sim. Porém é um inocente! E não pode nem deve ser julgado e condenado pelo erro de seu pai. Pois lhe digo filho ingrato e que tanto desgosto me traz, que se houvesse que pagar pelos meus erros, essa cabeça dura, não estaria mais acima do teu pescoço! Se quiser cobrar de alguém, deixe de covardia e vá ao teu irmão! O rei disse nervoso e com lágrimas nos olhos se retirou, antes que o pranto lhe envergonhasse. Porém, as lágrimas que o pai não derramou estavam implícitas em suas palavras. E o coração de Vlarur se abrandara e foi com certo alivio que permitira a mulher, que ainda amava, partir com seu bastardo. Imaginando nesse momento que seria mais fácil, com a partida de Kildar, nomear Korar, como futuro herdeiro do trono. Como sempre planejou. Vitor estava sentado em seu trono, quando um mensageiro pediu permissão para falar-lhe. Um de seus amigos, vindos da aldeia e trabalhava ao seu lado, conhecido como Tambor, veio lhe dar a noticia. _Senhor, um guarda do reino de teu pai, disse ter uma mensagem para ti. _Onde ele está? _Aguarda-o na ante sala do trono. _Faça-o entrar. Tambor saiu para cumprir-lhe a vontade e Vitor ficara imaginando o que poderia ser. O homem entrou, depois da devida reverencia disse-lhe; _Trago-lhe mensagem de meu rei. _Aproxime-se. O homem aproximou-se e o entregou um papiro, que Vitor abriu imediatamente. “Querido filho”; Será que posso começar assim? Será que tenho esse direito? Bom, primeiro, quero lhe pedir perdão, por todo m*l que causei a ti, a tua mãe e as tuas irmãs. Mesmo que seja tardo meu arrependimento, espero que o aceite, assim como aceito todo o ressentimento, merecido, que sei nutrir por teu pai. Mas há aqui um assunto que muito lhe interessa, pois falo de alguém que ambos amamos. Kildar, teu filho com Izabelle. Devo lhe informar que essa criança, por motivos de segurança, aos quais já deve ter tomado conhecimento através de suas irmãs, não se encontra mais no palácio. O local onde poderá encontrá-lo, caso seja essa sua vontade, está no final dessa carta. Peço-lhe encarecidamente, que leia e o retenha na memória. Apenas na memória. Entenda que não deve guardar essa carta, pois tenho fortes motivos para acreditar que, em tua casa habita junto contigo, um espião e traidor que conspira contra ti, junto ao teu irmão. Por favor, queime-a. Nereu ““. Vitor ficou a imaginar em sua mente como seu pai era fisicamente. Havia tempos que não o via. Parecia mudado. Começou a acreditar que suas irmãs estavam certas ao dizer que ele se arrependera do que fez no passado. E isso o deixava imensamente feliz. Mesmo que não houvesse mais jeito de voltar atrás, se satisfazia com o arrependimento do pai. Quando o conhecia apenas como seu rei, ele o admirava. Talvez, agora como filho, também pudesse admira-lo. Acreditava que também errara muito com Izabelle. E nem merecia seu perdão. Mas a juventude e o poder que aquele rei que nem chegou a conhecer lhe dera, subiu-lhe a cabeça. Acreditava que podia fazer e ter tudo, sem enfrentar consequências. O que descobriu tardiamente que não era verdade. Sofria por seu filho ter sido criado por um homem que o desdenhava. Ficava a imaginar, o quanto, esse menino, não tentara agradar seu suposto pai, para ser aceito. O que fizera fora h******l. Não tinha moral nenhuma para julgar seu pai. Vitor terminou a leitura e fitou o mensageiro a sua frente. _Vá em paz! E diga a seu soberano que sua vontade será respeitada e agradeço pela informação, pois me aliviara e alegrara o coração. O mensageiro fez-lhe nova reverencia e saiu. Analva, que chegara alguns minutos antes, ouvira toda conversa, temerosa de interrompê-los, mas assim que seu irmão ficara a sós, se aproximou cautelosa. _O que houve, meu irmão? Vitor entregou-lhe a carta, sem nada dizer, apenas observando as mudanças de expressão conforme ela fazia a leitura. Assim que terminou, fitou o irmão. _E o que pretende fazer? Ele permaneceu pensativo e mudo por alguns instantes antes de respondê-la sem fitá-la. _Queime-a. Analva sorriu consigo mesmo e se aproximando da lareira lançou-lhe a carta, observando contente enquanto em poucos segundos ela se transformara em cinzas. Mas o que mais a alegrou foi o fato de saber que aquele fora o primeiro passo para realizar seu sonho de ter toda sua família reunida e vivendo em paz. Kildar, apesar de sempre se sentir indesejado e ignorado por Vlarur, que acreditava ser seu pai, conseguia ser feliz. No palácio, se divertia com amigos que ninguém mas podia ver, mas estavam ali. Quanto a seu irmão, não tinha permissão para brincar e nem chegar perto dele. Os adultos acreditavam que os amigos com que conversava eram imaginários e pouco caso faziam, quando o viam conversar sozinho, apesar de se apiedarem. Agora, era com alegria que conhecia seu novo lar, acompanhado de sua mãe. Era uma imensa fazenda com rios, lagos e muitos animais. A enorme sede, tinha trinta e seis quartos e seus habitantes, apesar de nobres, eram gentes simples. Ao redor da sede, havia várias casinhas, com jardins bem cuidados. Nelas moravam os trabalhadores do lugar. Pela recepção, notava-se que ali, senhores e trabalhadores mantinham uma relação de família. O que Kildar mais apreciou fora a sincera acolhida dos filhos dos trabalhadores e a permissão de poder brincar com eles. Os donos da fazenda, sr. e sra. Moiro, não tinham filhos e adoravam crianças, cuidando delas com afeto enquanto seus pais trabalhavam. Para eles não era um incomodo, mas um prazer ter aquelas crianças em casa. Os que foram crescendo receberam instruções de nobres estudando nas melhores escolas, pois os Moiros desejavam que tivessem futuro melhor que os dos pais. Embora, os recebiam de volta após terminarem os estudos com alegria e espanto. Alegavam que amavam aquela terra e aquela gente, se negando a viver longe dali. Vitor deixou que se passasse um mês, para convocar uma pequena comitiva para visitar seu filho. Levava consigo suas irmãs, sua filha, sua esposa, seus pais adotivos e os amigos saudosos de suas famílias que abandonaram para o seguirem. A alegria e expectativa era geral. Os amigos de Vitor preferiram ficar na aldeia onde cresceram para reverem seus entes queridos e aproveitar cada segundo, antes de retornarem ao reino de Vitor. Os pais de Vitor, suas irmãs e sua esposa e filha seguiram viagem para o endereço fornecido pelo pai. Vitor achou melhor assim, pois não podia deixar de lembrar-se das palavras do pai de que havia um traidor em seu meio. Quando chegaram a fazenda foram recebidos com alegria, como se fizessem parte da família. Sentaram-se e muito conversaram, mas Vitor, ainda não havia visto seu filho e impaciente interrompeu a conversa. _Onde está Kildar? A senhora Mouro, foi quem lhe respondeu. _Estás a brincar no jardim. Se quiser pode ir vê-lo agora, mas acredito que as damas prefiram conhecer seus aposentos e descansarem e se refazerem da longa viagem e seu pai parece ter muitos assuntos em comum com meu marido, então se não se importar providenciarei... _Que seja então. Mostre-me apenas o caminho. O senhor Mouro chamou um garoto que apareceu imediatamente e pediu que o guiasse até Kildar. E assim eles saíram. Porém, assim que o garoto que o acompanhava avistou Kildar, apontou-lhe a direção e saiu correndo e deixando-o sozinho. Vitor não se importou e foi ao encontro do garoto, com olhos lacrimejantes e um nó na garganta. Deteve-se quando percebeu que ele não estava sozinho. Uma linda mulher de vestido amarelo e simples, olhos azuis e cabelos vermelhos mesclado com dourado o acompanhava. Ambos sorriam e pareciam felizes. Vitor observava aquela cena, sabendo que era a mais bela visão que seus olhos já lhe concedera. Havia se esquecido completamente que ela também estaria ali, e não estava preparado para a emoção e o amor que sentia explodir-lhe no peito com a oportunidade de revê-la. Ainda a amava e daria a vida para tê-la consigo para sempre. Mas seu pensamento o punia. Será que tinha o direito de sequer dirigir-lhe a palavra? O m*l que fez para ela era irremediável. Será que merecia seu perdão? Ainda assim, seu amor era mais forte que seu receio de rejeição merecida. Como se pressentisse que estava sendo observada, virou-se e seus olhos se encontraram. Vitor não viu ódio, nem temor neles, apenas doçura, enquanto que ela devia estar vendo vergonha e arrependimento nos seus. Izabelle pegou Kildar pela mão e caminhou até ele. _Izabelle... -Ele disse com voz embargada. Ela olhou para Kildar. _Eis aquele que veio conhecer. Ele se abaixou e fora pego de surpresa por lágrimas e um abraço forte de seu filho. _Porque demorou tanto? _Desculpe... -Foi a única coisa que pode dizer enquanto levantava com ele nos braços e sério, fitou Izabelle. _Contou a ele? _Não foi preciso. Ele tem o dom da visão e da premonição. Sabíamos que viria, mas não quando. A sensação de tê-lo nos braços pela primeira vez era indescritível. Sentiu o mesmo amor incondicional que sentira ao pegar Luza nos braços pela primeira vez, Era pra ele um milagre. Tinha dois filhos lindos. Vitor beijou o filho e esse demonstrou vontade de descer de seus braços. _Papai, posso ir ver minhas tias e minha irmã? - Ele disse assim que foi posto de volta ao chão. _Claro! Elas também estão ansiosas por vê-lo. - Vitor respondeu com voz embargada pela rápida aceitação do garoto e por ter sido chamado de pai. Mas sentiu um pouco de incerteza de deixa-lo se afastar assim tão rápido. O garoto deu um sorriso e saiu saltitando satisfeito e deixando os dois a sós. _Acho que lhe devo desculpas... Vitor comentou. _ Esqueçamos o passado. Kildar foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida. _Na minha também. Ficaram em silêncio por alguns instantes, ambos sem coragem de se fitarem. _Sua filha é linda... _Sim. Luza é uma pequena dama rebelde. _Sua esposa está o acompanhando? _Sim. Ficaram novamente mudos. _Como fora seu casamento com Vlarur? Foi feliz? _Ele foi um bom marido até o nascimento de Kildar, quando ficou claro quem era o pai, pelas semelhanças inconfundíveis. Quando isso aconteceu passou a desprezar-me. _Mas tiveram outro filho... _Concebido da mesma forma que Kildar. Vitor recuou um passo. Sabia que ela não disse para criticá-lo. Mas sua ira por seu irmão era incontrolável em seu peito. _Sinto muito. Tenho vontade de matá-lo! _Não sabes o que dizes. _Porque diz isso? _Não tinha direito de fazer isso comigo, mas sou sua esposa e devo-lhe obediência. _Ainda pensa assim? Acha que deve sacrificar-se para não ofender aos outros? _Não. Não penso mais assim. Vitor abaixou a cabeça. Realmente o que seu irmão fez com ela, não era digno. Mas e o que fizera? Ele pelo menos era seu marido, ela não corria o risco de ser desonrada pela família. Sabia que o que faria a seguir era de extrema arrogância, mas não podia deixar passar a oportunidade. Levantou a cabeça e olhou-a nos olhos. _E... Ainda me ama? Ela o fitou e um sorriso suave brotou em seus lábios. _Sim. Amo-o. Jamais deixei de amá-lo. Vitor perdeu todo medo e receio e a abraçou. _Então venha comigo para meu reino e divida sua vida comigo. _E sua esposa? _Tenho direito de ter quantas esposas quiser, mas prometo-lhe que me contentarei apenas com tu e Diny. _Talvez ela não goste da ideia de que tenha uma segunda esposa. _Amo Diny e a conheço bem. A recebera como a uma irmã. Ele disse, mas no fundo de seu coração, não sabia qual seria a reação de Diny. E então se beijaram. O que não sabiam , era que, da janela do aposento de Diny , eram observados, Apesar de não poder ouvi-los , imaginavam que estavam se reconciliando. Quando se beijaram afastou -se da janela com lágrimas nos olhos e jogando-se em seu leito dando vazão ao pranto. Sabia que ele levaria ela junto com eles, e ela, que já não tinha sua atenção, seria esquecida de vez. Mas não deixaria que seus medos atrapalhasse o passeio. Aprovava que Luza se desse bem com seu irmão. Evitaria Vitor e Izabelle. Mas seria gentil com eles. Pois sabia que no coração não se mandava. Os dias que passaram na fazenda, foram cheios de atividades e alegria. Vitor anunciou na véspera de irem embora que levaria consigo Isabelle e Kildar. foram aplaudidos com alegria. Somente Diny se absteve de fazer qualquer comentário, se recusando a atender aos pedidos de Isabelle e Vitor para conversarem. Apesar de ser gentil na sua negativa de conversar com eles, pois ainda se sentia muito triste com aquela decisão. Dedicou seu tempo na fazenda brincando e cavalgando com Luza e Kildar, e acabara se afeiçoando ao garoto, tratando-o com mesmo carinho e paciência com que tratava Luza. Por insistência de Kildar, Diny levou-o e sua filha para nadarem na lagoa da fazenda. Luza foi logo entrando na água espirrando-a por todo lado. Kildar ficou para trás um momento e falou ao ouvido de Luza -Não fique apreensiva. Papai não vai abandona-lá e nem deixar de amá-la. Será mais feliz de agora em diante. - Ele lhe disse e pulou na água. Diny não pode deixar que uma lágrima escorresse por seu rosto. Seria muito bom, se o que Kildar dissera, fosse verdade, mas não via como poderia ser feliz, vivendo sobre o mesmo teto que aquela que roubou o amor de seu marido. Com certeza ele passaria a ignorá-la de vez, talvez até se desfizesse dela considerando-a um peso. Após a despedida, cheia de abraços e lágrimas das pessoas da fazenda, ficou determinado que Diny e Isabelle seguiriam viagem na mesma carruagem. Imediatamente, Diny, soube que aquela fora a forma que encontraram para que ela não fugisse de uma conversa, não retrucou e aceitou resignada. Quando a comitiva passou a seguir viagem, ambas ficaram em silêncio. Izabelle procurava a melhor forma de interpelar Diny e derrubar o muro de indiferença que construiu. Não podia deixar de notar o olhar magoado dela e pediu a Deus em uma oração silenciosa que lhe botasse as palavras certas em sua boca. _Diny... começou, mas ela permaneceu em silêncio e indiferente. _Diny, sei que deve estar magoada por ter de dividir o homem que ama com outra mulher, mas podíamos tentar ser amigas. Seria tudo mais fácil. Não posso e nem quero tomar seu lugar de primeira esposa, apenas quero que meu filho cresça com seu pai e sua irmã. E também desejo ser feliz. E como poderia ser feliz sabendo que essa felicidade traz mágoa e desespero a outra pessoa? Diny a fitou. _Ele sempre a amou. Vai ignorar-me agora com sua presença. Não pense que a culpo. Sei que as coisas do coração são incomandaveis. E espero que seja feliz com ele. _Suas palavras me causam dor como se uma faca transpassasse meu peito. Como pode acreditar que ele não a ama? Acaso alma alguma pode amar duas? _A felicidade dele ao seu lado demonstra seus sentimentos. Nunca o vi tão feliz. _Porque lhe faltava algo importante. Imagine tu, se tivesse dois filhos a quem amava com todo o coração. Um deles fosse tomado de ti. Conseguiria tu, ser feliz, mesmo tendo um dos filhos que tanto ama longe do seu lado? Não sentiria que faltava algo em sua vida? E se esse filho um dia lhe fosse restituído, sua alegria não transpareceria em todo seu vigor em seu semblante? Pense bem Diny. Na vida podemos fazer duas escolhas; ser feliz ou não ser feliz. Faça sua escolha. Mas pense com carinho. _Tudo que disse faz sentido e me prova que é uma boa alma, mas gostaria de conversar com Vitor, antes de decidir o que farei. No mesmo instante, Izabelle fez sinal para que o condutor parasse e desceu sem dizer mais nada. Alguns minutos depois Vitor apareceu e sentou no lugar antes ocupado por Izabelle, e a carruagem voltou a se movimentar. Ele pegou nas mãos de Diny e a fitou. _Diny... Perdoe-me. Não devia ter tomado decisão tão séria sem antes consultá-la. É uma das pessoas mais importantes em minha vida, e não tinha direito de lhe fazer essa desfeita, mas quero que saiba que a amo tanto quanto amo meus filhos e Izabelle, e que me fez o homem mais feliz do mundo quando aceitou ser minha esposa. Sei que não a mereço e nem a venho tratando como a rainha que é, mas peço-lhe, por nossa filha, que não me abandone, pois não saberia viver sem ti. E prometo-lhe, que terá o mesmo carinho e atenção que Izabelle. Diny soltou suas mãos. _Terá o consolo de sua amada Izabelle, não quero viver com as migalhas do amor de ambos. Creio que nem sentirá minha ausência, assim como fez durante várias vezes e durante esses anos que vivi do teu lado. Quantas vezes me negaste afeto? Você sabe? Por que, eu, perdi as contas. _O que quer que faça para provar que não a troco por ti? Quer que a mande de volta? Ela o olhou confusa, desconfiada e surpresa. _E faria isso por mim? _Claro. _Então faça! Vitor pegou em sua mão e tocou-a com os lábios antes de descer da carruagem. Diny ficou o observando subir na carruagem que vinha logo atrás e saltando daquela em que viajava, se aproximou para ouvir o que seria dito, pois em seu coração não acreditava nas palavras de seu marido. _Sinto muito Izabelle, mas ela não a aceita... – Ele falava baixo, com tom de voz triste. Izabelle se pôs a chorar copiosamente. _oh Vitor... Que infelicidade... Mas não posso culpá-la. _O culpado fui eu. Negligenciei-a, a ponto de ela não crer que a amo como minha vida... _O que iremos fazer? _Tu terás que voltar para a fazenda... _Entendo... Cuide bem de sua esposa... e de Kildar. _Não o levarei comigo... Não posso tirar-te esse consolo. _Abrirás mão de criá-lo junto a ti? Nesse momento Diny entrou sem avisos e os fitou com olhos lacrimejantes, e com voz embargada lhes declarou; _Ninguém voltará para aquela fazenda. Iremos viver todos juntos e em paz. Sinto muito por tê-los posto á prova, mas é que só agora me dei conta... -Seu pranto a interrompeu e Izabelle e Vitor a abraçaram juntos e contentes. Quando chegaram ao palácio, houve uma grande festa, e todos do reino comemoraram o novo casamento de seu rei. Vitor tratava as duas esposas com mesmo carinho e atenção. Como prometera a Diny. Ao passo que elas, ao invés de rivais se tornaram amigas e confidentes. Saiam sempre a passeios com seus filhos e o clima de harmonia e felicidade que reinava no palácio pareceu contagiar todo o povo daquele reino. O povo amava seu rei, por ser ele justo e lhes ter criado condições de viverem dignamente, pagando o mínimo de impostos. Assim todos respeitavam suas decisões e se alegravam com suas alegrias. Nereu, longe de ter forças para privar-se de seus netos preferidos, visitava constantemente Kildar e Luza. Apesar de Vitor permitir sua entrada no palácio para as visitas, jamais tolerou sua presença, retirando-se para uma rústica cabana de propriedade do palácio, que ficava em meio à floresta, onde permanecia até o dia em que o pai fosse embora. Em seu coração, ainda pesava o que o pai havia feito a sua mãe, as suas irmãs, e a ele próprio. Sentia que se aproximasse de Nereu, estaria de alguma forma, traindo a sua família. Nereu se sentia ofendido, mas a alegria de estar com seus netos era maior. Luza amava o avô e ficava contente com suas visitas. Ficavam os três, horas conversando, cavalgavam juntos, nadavam juntos e riam juntos. Nereu às vezes chegara a desejar que eles não fossem irmãos, para poderem se casar. O amor que Luza lhe dedicava, era tão grande e sincero, que lhe enchia o coração de alegria. Quanto a Izabelle, fora apresentada ao reino como Belle, a segunda esposa, pois Vitor temia o m*l que Vlarur poderia lhes causar, caso viesse a descobrir que tomara para si, sua esposa. Apenas os mais íntimos conheciam sua verdadeira identidade. E foi nesse clima de muito amor e fraternidade que Kildar cresceu. As suas visões continuavam e eram respeitadas. Com o passar dos anos, Kildar desenvolveu o dom da intuição. Sabia com antecedência o que lhe diriam as pessoas e o que lhes aconteceria ao longo de suas vidas. Sabia os problemas dessas sem que nada lhe dissessem. Mas abstinha-se de contar-lhes o que via de seus futuros, temendo magoar ou causar desesperança naquela gente que aprendera a amar. Tinha permissão para ir uma vez por mês na fazenda onde permaneceu por algum tempo, já que sentia uma paz inexplicável lá. Quinze anos se passaram. Vlarur se casara novamente com a jovem Lioná. Que contava na época com apenas treze anos. O coração de Korar se entregara á Lioná, que era apenas dois anos mais velha que ele. Esse amor, o fez corteja-la secretamente. Seu pai não desconfiava de nada. Quando Korar completara dezenove anos, seu pai começara a procurar-lhe uma esposa. Mas esse ainda se encontrava apaixonado por Lioná e ela o correspondia. Lioná tivera duas filhas e alimentava a duvida de quem seria seu verdadeiro pai, do marido ou do enteado? Sempre se perguntava se o motivo por ter se apaixonado por Korar, era a indiferença e o tratamento impiedoso que recebia do marido que vivia a compará-la com Izabelle, jamais lhe dando maiores atenções, salvo no dia de suas núpcias, pois fora, nessa ocasião, carinhoso e terno, ou era seu destino se apaixonar pelo filho do marido? Vlarur pouco se importava com as filhas, dedicando todo seu amor e dedicação a Korar. Lioná e Korar jamais suspeitaram que Vlarur tinha conhecimento do adultério contra ele cometido por ambos. Secretamente, planejava o fim de Lioná, mas para isso, precisava que o filho se casasse primeiro, para por seus planos em ação. Se acabasse com ela imediatamente, o filho, que acreditava amar aquela traidora, investigaria com afinco sua morte e viria a odiá-lo se descobrisse a verdade. Porém, já casado, suas atenções estariam voltadas para a esposa e mesmo lamentando e ou abalado, se conformaria com a sorte da amante. Nereu se aproximou do filho quando esse, com tais pensamentos, observava Korar e Lioná a um canto, conversando como cúmplices e soltando risinhos secretos. _ Vlarur, preciso lhe dizer algo, já que sinto que logo, não estarei mais aqui entre os meus. Vlarur desviou o olhar e fitou o pai. _ Que desejas? - Seu tom era de enfado. Nereu respirou fundo, como a se preparar para uma batalha. _ Anunciarei daqui três dias, o nome do herdeiro que deverá lhe proceder no trono. Um brilho de interesse surgiu no olhar do filho. _ É um segredo, ou pode adiantar-me? _ Assim, como esta prescrito nas leis e nas tradições, o herdeiro deve ser o primogênito. _ O que quer dizer... _ Kildar. Vlarur se levantou irado.
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