Negão
Dias atuais
Estava saindo do quarto e indo para sala, já tinha tomado café da manhã. Agora cedo eu e os moleques vamo para casa desse infeliz que deve. Quando chego na sala está o Vitinho junto dos caras e também está o j**a. Todo ferrado da surra que dei nele ontem. Na verdade queria rir, mas o bagulho é sério. O filho da p**a fez isso só por causa de uma b****a. Ai, ai… Só de pensar a raiva volta e quero bater nele de novo! Chego na sala e Vitinho vem até a minha direção.
— Chefe estamos prontos para ir pegar o seu dinheiro. O senhor vem? — Pergunta, levanto a sobrancelha do lado esquerdo. O filho da p**a me deve e não ir lá cobrar?
— Claro que vou cobrar o desgraçado! — Viro o rosto e encaro o j**a que quando percebe que estou olhando para ele abaixa a cabeça na hora. Sabe que está no vacilo comigo. Se está vivo é porque fui misericordioso. — Vamo logo! Não quero esperar mais um minuto!
— Beleza. — O Vitinho se vira e olha para os moleques. — O CAMBADA, SIMBORA! VAMO NA CASA DO COROA! — Ele gritou para os caras. Nós saímos da mansão. Estava saindo e senti alguém pegar no meu braço. Virei e era a Juliana.
— O que foi? — Perguntei me desvencilhando dela.
— Só tome cuidado. — Ela disse com a voz baixa e com a cabeça baixa. Dou um passo para frente, ergo minha mão no seu queixo, levantando para olhar pra mim.
— Eu sempre tomo cuidado. — Me afasto dela. — Nada vai acontecer comigo e outra, vou cobrar pro um pobre coitado que me deve, não se preocupe!
— Mas quando você sai… — Levo o dedo na sua boca a interrompendo.
— Já disse que não vai ser nada demais. Agora para com isso! —Sacudiu a cabeça que sim. Dei um beijo na sua testa e depois saí. Até entendo essa preocupação da Juliana. Ela deixou seus pais lá em Minas Gerais para trabalhar aqui no Rio de Janeiro, começou como diarista em algumas casas na Barra da Tijuca, estava indo tudo bem, quando ela começou a namorar um infeliz que se aproveitava dela. O filho da p**a até batia nela! Foi até parar no hospital. Vitinho que me contou o que estava acontecendo com ela,ele estava começando a ter uma amizade com ela, quando soube eu mesmo fui tirar satisfação. Na minha favela não admito isso! O desgraçado quando me viu ficou pianinho e bati nele como ele fez com a Juliana, ordenei para ele vazar da minha favela. Se não me obedecesse às minhas ordens estava todo queimado! O merda se mandou e contratei a Juliana para trabalhar e morar comigo, mas a não a trato como empregada, pelo contrário, tenho muito carinho e respeito, nada mais que isso. Agora tenho que pensar em ir na casa desse velho e cobrar o que me deve.
***
Chegamos na casa do desgraçado. Acenei para um dos vapor bater na porta, mas nada, o cara não respondeu. O vapor me fita o que fazer.
— Arromba essa p***a! — Ordenei. O vapor com o fuzil pendurado no corpo pela alça, joga ele para trás, recua para pegar equilíbrio e começa a chutar a porta que abre caindo por dentro da casa, quer dizer, do barraco. Quando entramos foi isso que estava aparecendo.
— c*****o! Não tem nada! Tem um fogão… — Um vapor foi até a cozinha. Deu uma olhada, depois volto para onde estávamos. — O gás está vazio, parece que faz dias. E a geladeira vazia também. A pia estava cheio de resto de comida que não aguentei ficar ali porque tava vedendo muito. — Disse o vapor que estava ao meu lado. Vou andando e olhando a casa. Não tem nada! O filho da p**a vendeu tudo que estava aqui dentro por conta da minha droga. A sala vazia, a cozinha só podridão, como falou o vapor. Nem quero ir ao banheiro. Sinto o cheiro de merda daqui. Estou com vontade de vomitar.
— n***o? n***o? — Ouço o Vitinho me chamar. Parece que está no quarto. Peço para os moleques continuar procurando o desgraçado. Assim que entro vejo tudo revirado e o Vitinho sentado na cama olhando alguns papéis. Vitinho é o único que sabe ler e escrever, bom, eu também sei, não é atoa que administro o meu negócio. No começo ele não queria saber disso, vivia na rua fumando maconha, mas dei o papo pra ele. Você quer ser vapor por resto da vida ou estudar e ser gerente? Porque pra mim tinha que ser assim e claro, que ele aceitou a segunda opção. Hoje ele é o gerente da boca e sem contar que ele é meu braço direito. Apesar do vacilo do j**a, confio cem por cento no Vitinho. Hoje é esse homem respeitado e pintoso (vamo dizer assim), a mulherada é louca pra dar pra ele, mas ele disse que gosta de uma gata aí. Que devagar vai conquistar ela. Eu o respeito por isso. Me aproximei dele.
— Que merda, Vitinho! Os moleques procurando o coroa e você lendo aí! — Dou bronca nele. Ele me fita.
— O viciadão está bem ali caído no chão. — Ele apontou para um corpo no chão.
— c*****o, só falta tá morto? — Caminho até o corpo, me agachei para ver se estava respirando, mas me levantei rapidamente, estava fedendo muito. Faz dias que não sabe o que é água e um sabonete. p**a merda! Me afastei e Vitinho se aproxima de mim com tais papéis e me entregou. — Porque você me entregou isso?
— Dar uma olhada n***o. — Ele ajeita o fuzil para trás. Abri para ver, depois olhei para ele.
— Isso aqui é apostila de medicina! Não, isso é xerox dos livros de medicina e pelo que estou vendo de números de páginas são muitos.
— Sim. E olha para o quarto. As prateleiras, livros de medicina, autonomia e etc. Olha ali? — Aponta o Vitinho para onde está a mesa. Virei meu rosto olhando para ele, depois para a mesa que estava cheio de cones de cocaína. — Com certeza tinha um notebook e mina ficava estudando.
— Está falando da filha? A tal que o j**a estava de olho? — Meu braço direito sacudiu a cabeça. — Esse filho da p**a desse velho, com certeza pegou o notebook, vendeu para comprar as drogas e prejudicando a filha! Não só isso, a casa toda! Levo as mãos na cintura e dou aquela bufada de ar.
— Cobramos assim mesmo? — Pergunta o Vitinho. Tiro a mão da cintura e levo para o rosto, esfrego os olhos. Depois olho para ele.
— Mesmo ele estando na merda, não posso ficar no prejuízo. Fiquei com pena da filha… Fazer medicina nesse país não é fácil, tu sabe o que estou falando e esse MERDA! Faz isso… — Não consigo achar palavras para descrever. Acho que se matasse ele estaria fazendo um favor para ela. —Vou sair daqui. Não estou aguentando esse fedor, argh! Fala para os moleques pegar ele, jogar uma água e depois levar para lá na sala.
— Ok chefe. — Joguei apostila na cama, saí do quarto. Logo o Vitinho fez um gesto chamando os vapores para fazer o que mandei. Agora fiquei com isso na cabeça, apesar disso tudo que eu vi… Ela continua estudando?