A Primeira Noite na Mansão

1060 Words
O carro preto deslizou pela longa estrada de pedras como se estivesse prestes a me engolir. A mansão dos Salvatore surgiu à frente como um castelo sombrio saído de um pesadelo — imponente, fria, silenciosa. Exatamente como o homem com quem eu agora estava casada. Casada. A palavra ainda latejava na minha cabeça como uma sirene de emergência. Segurei firme a alça do banco de couro enquanto o motorista estacionava. A porta se abriu antes que eu tivesse tempo de pensar em fugir. Um homem de terno cinza me estendeu a mão. – Senhora Salvatore, seja bem-vinda. Travei. Engolir aquele título foi como engolir vidro. Desci do carro e fui imediatamente engolida pelo ar gelado da noite. O portão se fechou atrás de mim com um estalo que soou mais como uma sentença. A casa era gigantesca, moderna por fora, mas carregada por uma atmosfera sombria. Duas colunas de mármore branco sustentavam o terraço, e janelas altas se erguiam como olhos silenciosos. E então ele apareceu. Lorenzo estava no alto da escadaria, de mãos nos bolsos, usando uma camisa preta de botões dobrados até os antebraços. A luz das luminárias acariciava seus traços angulosos, e por um breve instante, desejei que ele fosse só um homem bonito e não o carrasco da minha liberdade. – Chegou cedo – comentou, descendo os degraus com a mesma elegância letal de sempre. – Não achei que fosse apropriado atrasar para o meu primeiro dia de prisão. Ele sorriu, aquele meio sorriso que não tocava os olhos. – Você vai ver que essa prisão tem seus prazeres. Basta se comportar. Não respondi. Me limitei a cruzar os braços e encará-lo. Se ele queria submissão, teria que arrancar à força. Fomos recebidos por uma governanta baixa e sisuda chamada Marta. Ela nos conduziu por um corredor longo e luxuoso, onde o chão brilhava tanto que eu via meu reflexo. Passamos por um salão de estar com uma lareira acesa, depois por uma biblioteca imensa com prateleiras até o teto. Cada detalhe da casa gritava riqueza. Mas não havia calor. Nem um traço de alegria. Aquela mansão era uma jaula de ouro. – Seu quarto é no fim do corredor – disse Lorenzo, quando Marta nos deixou a sós. – Segunda porta à direita. – Meu quarto? Ele se virou lentamente, as sobrancelhas levemente erguidas. – Esperava dormir comigo já na primeira noite, Alina? Minha garganta secou. O calor subiu pelo meu pescoço, e o maldito sorriso debochado voltou aos lábios dele. – Não se preocupe – continuou, aproximando-se até estar perigosamente perto. – Ainda temos muito tempo. Três anos, lembra? Vai ter todas as noites que quiser… ou que eu quiser. – Você é nojento. – E você é irritantemente charmosa quando tenta me insultar. – Você quer me quebrar, é isso? – encarei. – Quer me ver rastejando, implorando, chorando? – Eu quero que você entenda quem manda aqui – respondeu, a voz mais baixa. – Só isso. E confie em mim, Alina… eu vou conseguir. – Nem em mil anos. Ele sorriu de novo. Um sorriso vagaroso, cheio de intenções. – Ainda bem que temos três. Virei as costas antes que perdesse o controle e fizesse uma loucura. Entrei no quarto indicado e fechei a porta com força. Encostei a testa na madeira e respirei fundo. Pela primeira vez desde a assinatura do contrato, as lágrimas vieram. Não duraram muito. Eu não podia me dar ao luxo de fraquejar. Ainda não. O quarto era luxuoso, com uma cama king-size, cortinas pesadas e móveis de madeira escura. Havia até uma penteadeira de espelho dourado e um armário que parecia maior que meu antigo apartamento. Sobre a cama, uma caixa de veludo com um cartão ao lado. “Para a senhora Salvatore. Instruções para o jantar.” O bilhete não estava assinado, mas era óbvio quem o havia deixado. Abri a caixa. Um vestido vermelho. Curto. Justo. Obsceno. Soltei uma risada amarga. Lorenzo não perdia tempo. Peguei o vestido, caminhei até o espelho e o encostei no corpo. m*l cobria as coxas. Era feito para provocar. Para me expor. Por um segundo, considerei não usá-lo. Mas então pensei em Daniel. Em tudo que estava em jogo. E vesti. Quando desci as escadas vinte minutos depois, o silêncio da casa parecia ainda mais opressor. Fui conduzida até a sala de jantar por um mordomo, onde Lorenzo já me esperava à cabeceira de uma mesa longa e impecável, com velas acesas e vinho tinto em taças de cristal. Ele me olhou de cima a baixo. – Perfeita. – Vá para o inferno. – Já estou lá – murmurou, indicando a cadeira ao lado dele. – E você é a minha companhia. Sentei com um suspiro. A comida foi servida: filé mignon, risoto trufado, aspargos. Tudo requintado, caro, absurdo. E eu sem fome. – Tem certeza de que não vai fugir? – ele perguntou, bebendo o vinho. – Ainda dá tempo. – Fugir só pioraria a situação de Daniel. – Exato. Você é esperta, Alina. Não faça burradas. – E você? Vai cumprir sua parte? – Amanhã, às oito da manhã, o juiz receberá uma nova testemunha. Anônima. Ela vai inocentar seu irmão. O promotor vai retirar a denúncia até o fim do dia. – Você tem mesmo poder pra tudo isso? – Tenho poder pra muito mais – disse, encarando-me com um brilho estranho nos olhos. – E você vai descobrir isso… cedo ou tarde. Eu o encarei por um longo momento, tentando entender aquele homem. Quem era ele por trás da máscara de vingança? Será que Lorenzo já amou alguém? Será que já foi ferido? – Você sempre foi assim? Frio? c***l? – Eu fui feito assim. Pela vida. Pela sua família. Terminamos o jantar em silêncio. Ao fim, ele se levantou e me ofereceu a mão. – Nosso casamento começa agora, Alina. Hora de cumprirmos nossos votos. Minha pele arrepiou. – Eu vou dormir sozinha. – Por enquanto. Ele se inclinou, os lábios perto da minha orelha, e sussurrou: – Mas sonhe comigo. Porque eu vou sonhar com você… toda noite. Subi as escadas sem olhar para trás, tentando afastar o calor que aquelas palavras deixaram na minha pele. Eu o odiava. Odiava cada célula daquele homem. Mas havia algo nele… Algo que fazia meu coração bater forte por razões que eu não queria admitir.
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