Uma Nova Alina

1149 Words
O sol da manhã atravessava as janelas altas como se quisesse me lembrar de que o mundo lá fora ainda existia. Mas aqui dentro, naquela mansão imensa, silenciosa e sufocante, eu era uma prisioneira de luxo. E Lorenzo era meu carcereiro… com aliança no dedo. Acordei sozinha, como esperava. Mas dormir tinha sido impossível. As palavras dele na noite anterior ainda ecoavam na minha mente: “Sonhe comigo. Porque eu vou sonhar com você…” Ridículo. Arrogante. Insuportável. Levantei, vesti uma das camisolas de seda que encontrei no armário — todas vermelhas ou pretas, todas provocativas — e fui até a janela. A vista era deslumbrante: jardins perfeitamente podados, uma piscina imensa, e além, o mar. Lorenzo tinha tudo que o dinheiro podia comprar. Mas, mesmo cercada de beleza, eu sentia como se estivesse cercada por grades invisíveis. Um leve bater na porta me fez virar. – Senhora Salvatore, o senhor Lorenzo está no escritório. Ele pediu que descesse para o café às nove – disse a governanta, Marta, sem emoção. – Que horas são? – Oito e quarenta. – Estou pronta em dez minutos. Ela assentiu e desapareceu. Dez minutos depois, com um vestido neutro que encontrei entre as opções mais discretas (um milagre), desci até a sala de jantar. A mesa estava posta novamente com um banquete que alimentaria uma pequena cidade. E no centro, claro, lá estava ele. Lorenzo Salvatore, em seu terno escuro, óculos de leitura nas mãos e uma xícara de café na frente. Tão calmo e perfeito que parecia entalhado à mão por um escultor c***l. Ele me observou enquanto eu me sentava. – Dormiu bem? – Dormi, o que não significa que esqueci onde estou. – Excelente. Sua memória é útil. Comecei a me servir de frutas, tentando ignorá-lo. Mas Lorenzo não era do tipo que se ignorava com facilidade. – Preciso que esteja pronta às dez. Vamos ao fórum. – O quê? – Você vai dar entrada oficial no casamento. Depois disso, ninguém poderá contestar a validade. – Como assim? Já não assinamos o contrato? – Um papel não significa nada sem um carimbo do Estado. E quero que tudo esteja muito… oficial. – Claro – respondi, forçando um sorriso. – Afinal, você é o rei do controle. – E você, uma excelente atriz. O café da manhã seguiu em silêncio por alguns minutos, até que passos ecoaram pelo corredor de mármore. Uma mulher surgiu na sala. Alta, esguia, cabelos loiros perfeitamente presos em um coque elegante. Usava um conjunto de linho branco e salto alto, e seus olhos azuis analisaram cada centímetro de mim como se eu fosse sujeira no sapato dela. – Lorenzo – disse ela, sem sequer me olhar. – Preciso falar com você. Em particular. – Bom dia, mãe – ele respondeu, erguendo-se. – Pode falar aqui. Alina é minha esposa, lembra? Ela finalmente me encarou. Um sorriso curto, falso, nasceu em seus lábios. – Então é você. – Eu mesma – respondi, mantendo a coluna ereta. – Alina Duarte Salvatore. Muito prazer. O olhar dela queimava como gelo seco. – Seu sobrenome pesa nesta casa. Espero que esteja à altura do fardo que escolheu carregar. – Eu não escolhi nada. Mas já que estou aqui, pode ter certeza que vou suportar o que for necessário. Lorenzo observava em silêncio, como se se divertisse com o embate. A mãe dele parecia prestes a dizer mais, mas recuou com elegância. – Não vou me estender. Só queria conhecê-la pessoalmente. A imprensa vai procurar por detalhes, e quero estar preparada. – Talvez a senhora possa dizer que seu filho tem um gosto estranho por contratos conjugais. Ela ignorou o comentário e se virou. – Estarei no jardim, Lorenzo. Espero que o senhor saiba o que está fazendo. Quando ela saiu, respirei fundo. – Que mulher encantadora – murmurei. – Parece que puxou muito a ela. – Cuidado, Alina – ele disse, com o tom de voz mais baixo. – Minha mãe pode parecer fria, mas quando decide destruir alguém… ela é muito mais eficiente que eu. – Adoro ser avisada com antecedência – sorri, sarcástica. – Facilita a preparação do funeral. – Só não se torne um problema – ele respondeu, se levantando. – Ou ela vai tratá-la como um. A ida ao fórum foi rápida, burocrática e sufocante. Fotos, testemunhas contratadas, mais papéis. Saí de lá com um anel de ouro no dedo e uma certidão nas mãos. Oficialmente casada com o homem que eu mais desprezava no mundo. Quando voltamos, Lorenzo foi para o escritório e me deixou livre pela casa. Aproveitei para andar. Precisava conhecer meu novo campo de batalha. Subi até o segundo andar, onde encontrei um corredor com quadros de família. Rostos sérios, nobres. Nenhum sorriso. Era como se aquela casa não conhecesse a palavra "alegria". Virei à esquerda e parei bruscamente diante de uma porta entreaberta. Uma risada feminina veio de dentro. – Essa é a tal esposa? Jura que vai levar essa palhaçada adiante? Minha espinha gelou. Me aproximei em silêncio e espreitei pela fresta. Uma mulher estava sentada na beirada da mesa do escritório de Lorenzo. Cabelos loiros platinados, vestido justo, pernas cruzadas com elegância estudada. Ela falava com Lorenzo como se tivesse i********e de sobra. – Você está cometendo um erro, Lorenzo. Essa garota não é do seu nível. – Isso não te diz respeito, Mirella. – Ainda me diz – ela respondeu, se aproximando dele. – Depois de tudo que tivemos? – Tivemos, Mirella. Passado. E você sabe disso. – E mesmo assim está se prendendo a uma qualquer com sobrenome de lixo? Meu sangue ferveu. Eu deveria ir embora. Evitar o confronto. Mas nunca fui boa em fugir. Empurrei a porta e entrei. – Olá. Desculpa interromper. Estavam falando de mim? Mirella se virou, surpresa. Depois me olhou dos pés à cabeça com nojo evidente. – Lorenzo, não me diga que ela anda solta pela casa assim? – Essa casa é dela agora – respondeu ele, recostando-se na cadeira. – Esposa, lembra? – Hm. Que desperdício – ela disse, encarando-me com desdém. – Bom, foi um prazer. Acho que não vou mais incomodar. – Já incomodou – respondi, sorrindo falsamente. Ela me lançou um último olhar envenenado e saiu com os saltos estalando no mármore. Fechei a porta e virei para Lorenzo. – Ex-noiva? – Algo assim. – E ela ainda vem aqui? – Tenho negócios com a família dela. Mas não se preocupe, Alina. Eu gosto de você muito mais do que gostava dela. – Você não gosta de mim – falei, firme. – Ainda não – ele corrigiu. – Mas quem sabe… Ele me encarou de um jeito que fez meu corpo inteiro se arrepiar. Havia algo nos olhos dele… uma promessa perigosa. E eu, estúpida que sou, senti um leve frio na barriga. Era só o começo. E eu já estava começando a me perder.
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