Halley Narrando...
Era como um sonho. Eu trabalharia em uma linda empresa com um prédio de fachada de vidro, no centro de Nova Iorque, e as contas do asilo da minha vó seriam pagas pelo Sr. Morgan, o que facilitaria e muito minha situação financeira. Até imaginei que pudesse mudar de apartamento mais pra frente, escolher algo mais confortável ou coisa do tipo. Mas, por enquanto, continuarei fazendo o que preciso fazer antes de pensar em me mudar.
A entrevista foi muito legal, e eu passei. Vou ser assistente administrativa e trabalhar direto com Allan Morgan, o filho do Sr. Morgan. Ele já me avisou que o cara não é flor que se cheire, mas não me importo. Espero que ele não implique comigo, apenas.
Cheguei vestindo uma calça preta e uma camisa branca. Não consigo usar saltos, nem sei andar em cima de um, então escolhi um tênis Oxford preto e amarrei meu cabelo castanho escuro e longo em um r**o de cavalo. Eu não acho que seja uma mulher atraente, me sinto simples e comum. E eu uso óculos de descanso quando estou no trabalho, porque tenho vista cansada.
– Bom dia! – Cheguei falando com meus novos colegas de trabalho.
– Bom dia, novata. – Um homem um pouco mais velho que eu disse, eu ainda não sabia quem ele era. Ele esticou a mão com um grande sorriso no rosto. – Meu nome é Jack. Prazer em conhecer e seja bem vinda.
– Obrigada. – Respondi, sorridente.
– Vou te levar até sua mesa. Você vai ser treinada por mim, e irá atender ao Allan, nosso chefe. Tome cuidado com ele, as vezes ele é um babaca. – Eu soltei uma risadinha com a forma como ele disse. Ele sussurrou, como se fosse um segredo.
– Quem é um babaca, Jack? – Um homem alto, com barba cerrada e totalmente diferente de todos ali dentro perguntou. Ele tinha talvez uns trinta centímetros a mais que eu, olhos castanhos, pele branca como a minha. Era forte e ao invés de estar com roupa social, estava com um jeans rasgado e camiseta branca.
– Ninguém, senhor Allan. Ninguém. – Jack disse.
– Acho bom não estar me prejudicando com a novata. – Ele piscou um dos olhos para mim. Meu Deus, esse cara é um babaca.
– Não, não estou. – Allan sorriu de forma satisfeita.
– Ótimo. Venha, novata, quero que você faça algumas coisas para mim. – Allan saiu andando e eu olhei para Jack.
– Vai! – Jack sussurrou, e eu acompanhei Allan, com pressa.
Entramos no escritório dele e ele fechou a porta. Começou a tirar a camiseta, e eu arregalei os olhos. Ele viu minha cara de assustada, e soltou uma risada.
– Relaxa, não vou fazer nada com você. Vou apenas colocar o terno. – Ele soltou uma risada. – Olha, eu preciso que você tire cópia de todos os documentos que estão na mesa e revise. – Ele pegou uma camisa social branca de dentro de um armário, e começou a colocar. Vi suas tatuagens no peitoral e também abaixo do umbigo. Duas labaredas enorme ali... Jesus, esse homem é uma perfeição.
– Certo, senhor Allan. – Peguei os documentos e olhei para o lado, evitando olhar para o corpo sarado dele.
– Depois que revisar, se estiver tudo certo, você me avisa para eu assinar. – O olhei novamente, com estranheza. Ele estava colocando a calça do terno, e a camisa ainda estava com alguns botões abertos.
– Você não vai revisar? – Ele soltou uma risada debochada.
– Não, você vai. Eu não vou fazer isso. Meu papel nesse escritório é obrigar vocês a trabalharem, entendeu? – Concordei com a cabeça. Allan terminou de arrumar a calça e a camisa, pegando a gravata no armário. – Você sabe dar nó em gravatas? Eu não tô afim de pedir para o Jack, ele vai me dar um sermão de novo.
Coloquei a papelada na mesa, peguei a gravata da mão dele e coloquei em mim mesma, iniciando o nó.
– Como é que um chefe não sabe dar um nó em gravata? – Falei, rindo.
– Não sabendo, uai. Tenho coisa mais importante pra fazer. – Fiquei surpresa, mas como ele falou de forma divertida, não pareceu grosseria. – Meu pai disse que você é confiável, que é neta da Sra. Johnson. Meu pai me contou a vida inteira coisas maravilhosas sobre ela, espero que você seja boazinha como ela.
– Espero ser metade do que ela é, um dia. – Sorri para ele, e ele sorriu de volta.
– Ele me falava sobre os pães de côco que ela fazia. Você sabe fazer? Sempre tive vontade. – Ele de abaixou, e eu coloquei a gravata nele. Ajeitei o nó e a gola da camisa, e logo depois, me afastei.
– Sei. Minha avó diz que fica igualzinho o dela. – Falei com um sorriso.
– Então sua primeira missão para casa é fazer o pão de côco. Tô ansioso, quero pra amanhã. – Eu ri e peguei novamente os papéis.
– Sim senhor. Mais alguma coisa?
– No momento não. É Halley, certo? – Concordei com a cabeça.
– Como o cometa. – Falei.
– Quando ele irá passar novamente? – Allan questionou.
– Em 2061. Dia 28 de julho. É a data do meu aniversário, por isso me chamo Halley. Meu pai era fissurado em astronomia... – Allan sorriu.
– É um nome lindo por um motivo melhor ainda. Já imaginou se você nascesse no dia que um daqueles planetas que se chamam letras e números foram descobertos? Seu nome poderia ter sido XZ3872, por exemplo. – Soltei uma gargalhada ao ouvir.
– Pois é. Imagina só. – Respondi. – Bom, vou fazer minhas obrigações.
– Qualquer dúvida, chame o Jack. Ele vai te ajudar. – Allan disse.
Saí da sala dele, animada por saber que ele ao menos era uma pessoa divertida. Seria complicado de trabalhar se além de irresponsável ele fosse um completo babaca, mas ao menos, é uma pessoa legal de se conviver. Pelo menos até agora.