Ellen narrando Acordei num pulo, o coração disparado como se os tiros ainda estivessem ecoando do lado de fora. Meu peito subia e descia como se eu tivesse acabado de correr da polícia por entre os becos da favela, mas não era nada — era só o silêncio. Um silêncio pesado, que engana, que esconde as cicatrizes da guerra e bate como tapa no escuro. Me sentei na cama ainda meio zonza, sentindo o corpo suado, os músculos doloridos. Mas não era dor de cansaço qualquer. Era como se eu tivesse lutado a noite inteira, num campo invisível, contra um inimigo que só existia na minha cabeça — ou talvez nos noticiários. Olhei pro lado. Ele ainda tava ali. Coringa. Dormindo profundamente, com a respiração pesada, o corpo nu coberto só até a cintura. Um homem que carrega guerra até dormindo, mas qu

