ALLONSO ALBUQUERQUE
Cheguei em casa sentindo o peso de mil dias sobre as costas.
Tudo que eu queria era um banho. E cama.
Pela primeira vez em semanas, minha cama me parecia um paraíso.
— Boa noite, menino Allonso. — disse Bentinha com aquela voz suave e maternal que só ela tem.
— Boa noite, Bentinha...
— Vai querer jantar agora?
— Mais tarde. Só preciso tirar essa carcaça cansada do corpo.
— Menino, você está magro... E com essas olheiras fundas. Assim você me mata do coração.
— Prometo comer alguma coisa depois do banho, tá bem?
Ela me lançou um olhar desconfiado, mas não insistiu.
Desde que voltou a trabalhar aqui, a casa parou de parecer um túmulo.
A solidão ainda me acompanhava — mas pelo menos agora ela dividia espaço com o cheiro de comida caseira e o som de uma chaleira
