No silêncio absoluto entre os mundos — onde o tempo escorre como sangue n***o e a própria realidade parece chorar em agonia — ela despertou.
A câmara de pedra, antiga e esquecida, ressoava com o eco de um feitiço ancestral. Uma maldição pronunciada em línguas mortas, tão velhas quanto o próprio universo. O ar vibrou, cheio de um poder que não deveria mais existir ali. O selo foi quebrado, não por mãos humanas, mas por um sussurro vindo da f***a que Liora, sem saber, havia criado.
O Guardião Caído, uma entidade que ninguém ousava nomear em voz alta, libertava aquela que estivera presa por mais de uma década — com um único e sombrio propósito: reabrir o Ciclo Espectral e retomar o equilíbrio quebrado.
Ela emergiu da escuridão, os olhos faiscando como um fogo antigo, a cor exata dos de Liora, mas com um brilho mais gélido, profundo e inquietante. Eram olhos que guardavam eras, segredos e dores esquecidas.
— Saphira Vexley — seu nome soou como um trovão dentro da câmara de pedra, ecoando nas paredes que conheciam o poder dos Vexley.
A irmã esquecida. A primeira filha do Véu. Aquela que o mundo havia tentado apagar.
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Enquanto isso, no coração do Colégio das Sombras, a vida lutava para voltar ao normal.
Os corredores, que antes transbordavam magia e risos, agora cheiravam a poeira, ferro queimado e esperança contida. Estudantes cansados trabalhavam juntos para reconstruir as alas danificadas pelos últimos eventos catastróficos — misturando magia antiga e tecnologia futurista. Feiticeiros recitavam encantamentos para fortalecer as paredes, centauros patrulhavam os terrenos e mutantes treinavam em campos abertos, preparando-se para o que pudesse vir.
Mas a paz era frágil, uma camada tênue sobre um abismo de incertezas.
Liora caminhava pelos corredores como uma sombra, observando tudo com olhos inquietos e uma alma carregada de presságios. Desde a explosão de energia que lhe dera fama e temor, todos a olhavam diferente. Não mais apenas como aluna, mas como um oráculo vivo — uma arma ambulante e um risco latente.
Selene, sua melhor amiga e companheira de batalhas, tentava quebrar o silêncio pesado com um sorriso nervoso.
— Achei que, se você explodisse, pelo menos ganharia uma semana de folga… Mas não. Agora tem um professor querendo te estudar como se fosse uma relíquia e outro querendo te treinar como se fosse uma arma.
Liora não respondeu. Uma dor surda latejava dentro dela, um chamado profundo que parecia vir de além dos muros do colégio — um sussurro feito de sangue e promessa. Algo chamava por seu sangue. Algo esquecido.
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Na Torre do Tempo, isolado em sua câmara repleta de artefatos e runas, Zephyr Kael vivia entre o passado e o futuro.
Ele estava inclinado sobre um grimório arcano que mais parecia um dispositivo tecnológico, conectado a inteligências artificiais que analisavam em tempo real as linhas tênues entre as realidades paralelas.
Seu olhar ficou fixo na tela que pulsava com informações.
Dois selos mágicos apareciam destacados — não apenas o de Liora, mas outro, esquecido pela história e escondido do mundo.
— Há… outra — Zephyr sussurrou, com uma mistura de espanto e medo. Seu coração acelerou ao perceber que aquela descoberta poderia mudar tudo.
Nesse instante, diante de seus olhos, uma mensagem apareceu como escrita em chamas vivas:
"A irmã se ergueu. O espelho se quebrou. Preparem-se para a união."
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Enquanto isso, Saphira andava com passos firmes pelas ruínas de um mundo que o tempo havia engolido.
Ela era a sombra do passado, a chama que o presente tentava apagar. Presa por anos numa dimensão fora do tempo, ela havia sido alimentada por memórias distorcidas e fragmentos de sua própria existência — uma prisão onde o silêncio e a raiva se tornaram sua única companhia.
Cada dia naquele limbo moldou sua alma: uma sede insaciável por identidade, por justiça — e, sobretudo, por vingança contra aqueles que a haviam condenado ao esquecimento.
Ela lembrava de Liora, sua outra metade.
Do dia em que o Colégio escolheu manter uma e apagar a outra.
— Eles te deram um nome, uma vida, um lugar — sussurrou para o céu acinzentado, sua voz carregada de amargura. — Eu sou o que sobrou da escolha deles. O que foi descartado.
Uma sombra viva tomou forma atrás dela — o Guardião Caído.
— Está pronta? — perguntou, sua voz ecoando como o som de uma tempestade.
— Eu sempre estive — respondeu Saphira, estendendo a mão, sua armadura espectral refletindo a luz que não existia. — Traga-me até ela.
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No Salão da Lua, o epicentro das decisões mais secretas, o Conselho da Convergência estava reunido.
Meridius Thorne, o enigmático arqueomago de Hogwarts; a severa diretora Stark; representantes da SHIELD, da Ordem dos Lycans e da Irmandade Mutante estavam lado a lado em uma mesa redonda feita de obsidiana n***a.
— Não temos escolha — disse Thorne, sua voz grave cortando o silêncio. — A guerra dos mundos vai começar. Precisamos preparar os alunos. Formar os Espectros.
— Crianças? — replicou a diretora Stark, a incredulidade em seu tom. — Você quer que eles se tornem soldados?
— Não soldados — respondeu Thorne, com um olhar implacável. — Escolhidos. A última linha entre a criação e o fim.
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Na biblioteca oculta, entre tomos encantados e hologramas flutuantes, Liora se perdeu entre as páginas esquecidas da história do Véu.
Uma página chamou sua atenção — marcada com seu nome verdadeiro, escrito em letras douradas: Lyara Vexley.
Ao lado, um nome apagado, quase invisível, mas que vibrava com energia própria:
Saphira.
O coração de Liora disparou.
— Eu tenho… uma irmã? — murmurou, a voz falhando.
A página se iluminou, revelando a imagem de duas meninas idênticas, presas dentro de uma câmara mágica que parecia pulsar com poder.
Duas versões de um mesmo poder.
Um destino dividido para conter o caos.
A legenda apareceu lentamente:
"Quando uma desperta, a outra é chamada."
Liora desabou de joelhos, as lágrimas escorrendo em silêncio.
Selene a encontrou naquele estado e sentou-se ao seu lado, apertando sua mão com força.
— Você nunca esteve sozinha, Lio. Mas agora… precisamos descobrir se ela é amiga ou inimiga.
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Naquela mesma noite, a lua desapareceu, engolida por uma escuridão impenetrável.
Um portal se abriu no céu, uma f***a n***a que rasgava o tecido da realidade, pairando sobre o Colégio das Sombras como uma ferida aberta.
E por ele, Saphira desceu.
Não como uma visitante qualquer.
Mas como uma deusa da guerra.
Vestida com armadura espectral que cintilava como obsidiana fundida, seus olhos flamejavam com um fogo que queimava além da alma.
Atrás dela, um exército de seres corrompidos dos mundos fundidos — sombras distorcidas, monstros nascidos do caos e da dor.
— Irmã… — sua voz era como trovão e seda juntos. — Vim recuperar o que é meu.
O chão tremeu.
E o destino do Véu, do Colégio, e do próprio universo, começou a se reescrever naquela noite.
A lua n***a tingia o céu de um n***o profundo, engolindo as estrelas, enquanto um vento gélido varria o Colégio das Sombras. O ar parecia pesar com um presságio antigo, como se a própria noite temesse o que estava para acontecer.
Saphira Vexley pousou suavemente no chão, mas o impacto de sua presença reverberou como um trovão silencioso.
Seu exército espectral — sombras deformadas, rostos perdidos em agonia, corpos feitos de pura energia corrompida — emergiu do portal atrás dela, espalhando um frio sobrenatural que congelava os ossos.
Liora, ainda ajoelhada na biblioteca, sentiu um estrondo na espinha. Algo dentro dela despertou — uma mistura de medo, raiva e uma saudade impossível.
Selene correu para os corredores, seu rosto uma máscara de determinação.
— Liora, eles chegaram. Não é uma visita comum.
No salão principal do colégio, professores e alunos começaram a se preparar. Escudos mágicos foram erguidos, feitiços de contenção formaram barreiras, e os centauros alinharam seus arcos.
Mas nada poderia apagar o brilho c***l nos olhos de Saphira.
Ela avançou, cada passo uma promessa de tempestade.
— Irmã, — sua voz ecoou, como aço raspando em pedra — você foi escolhida para um destino que eu rejeitei, mas que agora vamos compartilhar.
Liora levantou-se, sentindo o poder pulsar em suas veias. Seus olhos refletiam uma chama azulada, fria, porém viva.
— Por que voltou, Saphira? Por que me trouxe guerra?
— Porque o ciclo deve se fechar. Porque só juntas podemos quebrar as correntes do Véu que nos aprisionam. — Ela ergueu a mão, e sombras dançaram, tomando forma de lâminas espectrais.
Enquanto isso, na Torre do Tempo, Zephyr Kael corria contra o relógio. Os selos mágicos que mantinham a separação entre as realidades começavam a falhar.
— Se elas unirem forças, — murmurou, os dedos voando sobre as runas — será o fim do equilíbrio.
Meridius Thorne, ao lado dos representantes da SHIELD e da Ordem dos Lycans, observava as imagens que chegavam por uma esfera cristalina.
— Preparem os Espectros. — ordenou ele com voz grave. — A guerra não é apenas para os adultos. Os escolhidos devem lutar para manter o véu entre mundos intacto.
No meio do caos, Liora e Saphira se encararam.
Era mais que uma reunião de sangue.
Era o encontro de dois destinos forjados no fogo da traição, do abandono e da promessa de poder.
As palavras ficaram presas na garganta.
E o silêncio foi quebrado pela primeira investida das sombras.