“Pensem o que quiserem de ti; faz aquilo que te parece justo.”
- Pitágoras
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04. Destino
C H R I S T O P H E
Neville fechou as pálpebras do companheiro de batalha.
Meus homens tentavam esconder suas expressões chocadas com um esforço que não fazia diferença: estavam claramente atônitos com a cena repentina que seus olhos testemunharam.
Gaston era o único que mantinha-se neutro.
Ele me conhecia; sabia de minhas imprevisibilidades, e também o que esperar de mim.
Devolvi a espada ao suporte dentre vários outros na parede da fortaleza.
A arma que escolhi para realizar a execução de Talbot possuía o cabo feito de cobre, em formato de duas serpentes cruzando-se entre si; seus olhos feitos de pequenas safiras amarelas. Minha espada de combate.
Apesar de Talbot ter cometido faltas imensamente graves, ele era um soldado. E um soldado merecia morrer como um.
— Espero que tenham entendido o recado — adverti aos insolentes responsáveis pela desordem causada em minha tropa —, não quero voltar a ouvir sobre invasões que não lhes foram ordenadas. Que Deus tenha piedade de suas almas se algo assim voltar a acontecer.
Com os olhares baixos, os homens assentiram:
— Sim, vossa majestade.
Neville ergueu sua mão.
— Peço permissão para falar, meu rei.
Consenti:
— Diga.
— Quanto a mulher que matou Bellamy? A filha de Gaston... Qual será seu destino?
Pergunta interessante.
Eu me sentia intrigado pela mulher, até então, sem rosto. Tinha sua identidade: a primogênita de meu conselheiro. Mas nunca a vira antes. Pelo ofício de extrema importância, Gaston não tinha muito contato com a família, tampouco podia trazê-la ao palácio.
A audácia da moça em atentar contra meus homens poderia ser explicada por ser filha de quem era. Contudo, eu ainda não sabia exatamente o que pensar de sua pessoa.
"Corajosa ou tola?" — meu raciocínio dividia-se entre as duas palavras.
Já Gaston abandonara a expressão neutra do conselheiro do rei para adquirir a face preocupada de um pai.
Enfim, diante da pergunta feita, seu olhar temeroso e a expectativa dos demais, respondi:
— Ela terá o mesmo destino daqueles que traem a coroa.