Kyungsoo deu um passo para trás ao notar a quantidade de pessoas que circulava por ali, parecia ser gente demais, uma quantidade que ele não estava acostumado a ver junta. Jongin notou isso, o olhou vendo o quanto parecia receoso, o ômega estava gelado quando entrelaçou seus dedos aos dele. Sorriu e o menor sorriu de volta sem graça, suas bochechas estavam um pouco vermelhas.
— Sei que um monte de pessoas juntas pode parecer assustador, mas confie em mim, não é. — ele disse — Elas estão muito ocupadas cuidando de suas próprias vidas agora, ninguém vai te ferir, e lá dentro você vai continuar respirando da mesma forma que respira aqui fora.
— Uhum.
— Ei! — o alfa sacudiu a mão que segurava para lhe chamar atenção — Não faz essa cara de quem está com medo, não precisa ter medo quando eu estou com você.
O menor o olhou por dois segundos, se sentiu ainda mais envergonhado. Seu coração ficava quente quando Jongin falava coisas assim, mas ele não conseguia entender o que se passava ali dentro, apenas confiava de verdade no doutor que o salvou. Jongin tinha um jeito único de fazê-lo sentir que tudo estava realmente bem, e que aquela multidão era apenas uma multidão, que não sairia ferido se entrasse ali.
Não pensou muito quando o abraçou, apenas queria abraça-lo, sentir o quanto o corpo grande do alfa o protegia e o fazia se sentir bem. O moreno o abraçou de volta e beijou seus cabelos, ele compreendia melhor como Kyungsoo funcionava a cada dia, como aquele ômega pensava e o que o fazia bem ou m*l.
— Obrigado, Jongin.
— Não precisa me agradecer, estou feliz assim.
O ômega ainda amassou a camisa do Kim entre os dedos antes de soltá-lo, ficava feliz em saber que o outro gostava de tê-lo por perto. Jongin também precisou parar para pensar no que ele próprio havia dito, e havia sido sincero, ele gostava de ter Kyungsoo por perto, sua casa deixara de ser tão solitária, além de ser muito bom ter alguém o esperando quando chegasse em casa.
É, era bom tê-lo por perto.
— Agora vamos, precisamos encher essas duas mochilas antes do horário do almoço!
Kyungsoo não tinha um estilo certo para gostar, ele gostava de roupas em tons pasteis ou listradas, algo que Jongin dizia ser algo que combinava com ele. Entraram em muitas lojas de roupas, o Kim havia levado duas mochilas para que pudessem encher as duas, mas acabou comprando outra que achou ser muito fofa e que combinava com as roupinhas novas do ômega.
Gostava de ver como ele sorria quando encontrava algo que gostava, além de ter rido bastante com a empolgação do ômega ao experimentar um casaquinho cheio de gatinhos na estampa. Kyungsoo também adorava sapatilhas e tênis, seu pé era bem pequeno, era bem difícil encontrar algum que servisse nele que não fosse na sessão infantil.
— Um adulto que calça 34, seus pés são muito fofos. — a atendente da lojinha comentou enquanto trazia o modelo do tamanho, demorara muito para achar — Ômegas baixos são tão adoráveis, queria ser desse tamanho. Aliás, quanto você tem de altura?
— Eu não sei.
— Ele tem 1,55m. — Jongin respondeu por ele, pediu para que o medissem após o acidente, precisava saber a altura e o peso de seus pacientes antes de passar qualquer medicação, e acabou decorando os números de Kyungsoo por ser um dos que mais passaram tempo internados.
A moça que os atendia meneou a cabeça para o lado, os olhou por um instante.
— É a primeira vez que eu vejo um alfa saber a altura certa de seu ômega, ele sabia até quanto você calçava. — ela sorriu maliciosa quando o Kim pegou o tênis em suas mãos para colocar ele mesmo nos pés de Kyungsoo — Não se fazem mais namorados assim.
— Jongin é muito atencioso.
Ele já havia entendido que não era bom dar muitas informações para estranhos, se ela acreditava que eles eram um casal, deixaria que ela pensasse assim, era melhor. Além de que, mesmo que não fosse dizer em voz alta, o ômega gostava de que fossem vistos assim, sentia seu coração ficar quente quando as pessoas os confundiam com um casal. Via isso na TV, bons amigos sempre eram confundidos com casais em filmes clichês, ele sabia que não estava dentro de um filme clichê, mas tinha todo o direito do mundo de aproveitar aqueles poucos segundos em que poderia fingir que estava.
— Você gostou? — o alfa perguntou se referindo aos tênis.
— Gostei, mas parece ser caro.
— Kyungsoo, eu sou um médico cansado e chato que só gasta com, no máximo, os juros dos boletos atrasados que eu esqueço de pagar. — Jongin parecia decepcionado consigo mesmo enquanto falava, como se estivesse se dando conta disso apenas agora — Me deixe comprar sapatinhos pra você.
O ômega colocou as mãos sobre seu rosto, pela primeira vez sentindo que realmente tinha i********e para isso, passou o polegar ao redor de seus olhos delicadamente e sorriu.
— Está cheio de olheiras. — constatou.
— Faz muito tempo que não sei o que é dormir direito.
— Você não vai trabalhar hoje, vai ficar em casa e dormir a noite inteira. — Kyungsoo não sabia mandar em alguém, seu tom era o de quem estava pedindo algo, mas o jeito que ele o olhava tornava um “não” muito difícil de ser dito.
Mas Jongin tinha tantas coisas para organizar naquela noite, já tirara o dia inteiro de folga, deveria ir para o hospital pela noite.
— Não posso, tenho um plantão.
— Por favor, fica em casa.
Como ele fazia aquilo? O Kim não estava mais conseguindo negar, Kyungsoo tinha razão, precisava descansar, trabalhava demais, algo que já não era mais saudável. Jongin cuidava muito da saúde dos outros, mas já fazia um tempo que não ligava para a própria.
— Vou ligar pro hospital, verei o que posso fazer.
O menor sorriu comemorando.
— Vamos ficar com os tênis.
Quando saíram da lojinha, as mochilas já estavam cheias, haviam comprado muita coisa, e mesmo que Kyungsoo se incomodasse um pouco por ter alguém gastando tanto assim com ele, estava feliz. Saltitava um pouco e cantarolava uma música enquanto voltavam para o carro, o bendito carro que Jongin sempre esquecia onde havia estacionado e reclamava consigo mesmo sobre sua memória estar com sérios problemas.
Céus! Ele precisava mesmo descansar.
— Que música é essa? — perguntou ao notar que nunca havia ouvido antes — A que você está cantando.
Kyungsoo parou por um momento para tentar lembrar.
— Ah, não sei, comecei a pensar nela ontem. — sua expressão se fechou, ele era péssimo em esconder coisas, especialmente porque sempre ficava nervoso.
— Lembrou de alguma coisa?
— Não.
— Kyungsoo, você tem que me dizer quando lembrar de algo, pedi para que não me escondesse nada.
O ômega parou de andar, ele estava mesmo escondendo algo que havia se lembrado, mas achava essas coisas tão insignificantes, não sabia que deveria contar até mesmo detalhes assim. Jongin não lhe dissera que estava investigando seu passado porque achava, ou melhor, tinha certeza de que ele havia sido vítima de um crime. Kyungsoo achava que só estava o ajudando a recuperar a memória, nada além disso.
O alfa sabia que deveria contar, mas ainda não havia encontrado o momento certo para lhe explicar tudo, ainda era coisa demais para que ele entendesse direito, e não queria o deixar com medo.
— Eu estou dentro de um carro, no bando de trás, essa música está tocando no rádio, está escuro, é de noite, eu fico olhando pela janela, mas tem poucas pessoas nas ruas, quase ninguém, acho que era de madrugada. — contou o que havia se lembrado enquanto fazia o jantar — É só isso.
— Mesmo que pareça pouco, sempre me diga.
— Tudo bem.
Quem estava com Kyungsoo saía com ele de madrugada, mas ainda era pouca informação, talvez saísse sempre, ou talvez nunca saísse. E por que deixá-lo no banco de trás? Ele deveria ir no banco do passageiro, estava o mantendo escondido o colocando no banco de trás?
— Vamos almoçar, estou com fome. — o Kim abriu a porta do carro, pensaria naquilo depois.
— Você sempre está com fome.
Os dois almoçaram num restaurante de comida italiana, o que era só mais uma desculpa para Jongin se entupir de massa e ficar reclamando de si mesmo por comer essas coisas, algo que Kyungsoo achava muito engraçado. O Kim era o exato tipo de pessoa que reclamava de algo sobre si mesmo o tempo todo, mas nunca fazia nada para mudar isso, como se gostasse de ficar reclamando.
Ele sabia que Jongin comeria massa no dia seguinte de novo. Também não entendia muito bem suas reclamações, o alfa estava em uma boa forma, não estava nenhum pouco gordo como costumava dizer que estava, e muito menos com a pele seca ou o cabelo ressecado. E se isto era estar em sua pior forma, Kyungsoo não conseguia imaginar como ele ficava quando estava “bem”.
Os dois só foram pra casa quando Jongin comprou um daqueles cremes de pele milagrosos.
— Jongin. — o chamou quando já estavam no corredor de casa — Por que as pessoas sempre acham que somos um casal?
— Elas não estão acostumadas a verem um alfa e um ômega juntos como amigos, sempre esperam que sejam um casal. — ele respondeu rápido, essa sempre era a resposta — Isso te incomoda?
— Não.
O Kim abriu a porta do apartamento e Kyungsoo entrou primeiro, o esperou porque queria pegar a mochila para guardar suas novas coisas, eles haviam comprados outras coisas além de roupas e sapatos, coisas estas que o ômega estava muito ansioso para colocar em seu quarto. Jongin acabou indo com ele por achar que a mochila estava pesada demais para alguém que se arrebentou todo em um acidente de ônibus carregar.
Achava fofo o jeito que ele parecia feliz com suas novas roupas, quase como uma criança fica quando ganha um brinquedo, chegava a se perguntar se o ômega ficaria feliz se lhe comprasse uma casinha de bonecas.
— E se pintarmos as paredes com a sua cor favorita? — o alfa sugeriu ao achar que o quarto era verde demais, um verde que estranhamente parecia incomodar se ficasse olhando muito tempo — Esse quarto é verde demais, não acha?
— Gosto dessa cor.
Kyungsoo estava dobrando as roupas para colocar dentro do roupeiro, ele estava bem vazio antes, assim como as gavetas da cômoda também estavam. Separava por cor para ficar mais fácil de achar, e parando para reparar bem eles haviam comprado roupas demais, por isso a mochila estava tão pesada, haviam amassado tudo também.
— Quando eu ainda morava com os meus pais eu vivia pintando as paredes, mudava os móveis de lugar e pregava quadros por toda parte, eu era um jovem bem inquieto.
— Você ainda é inquieto.
— Sou obrigado a concordar. — o alfa acabou deitando na cama, suas costas estavam doendo — Ah, amassei todas as suas roupas quando as coloquei na mochila, nem percebi que estava fazendo isso.
Kyungsoo sentou-se na cama, bem perto de onde o mais alto estava, as pilhas com as roupas estavam separadas sobre o espaço que o Kim não ocupava, passou as duas palmas sobre elas tentando diminuir o amassado, não adiantava muito, mas o peso de uma sobre a outra as desamassaria com o tempo.
— Não há problema, posso engomá-las depois. — por algum motivo ele gostava de engomar — Posso engomar as suas também, você vive andando com camisas amassadas.
Andar amassado por aí era quase o seu estilo.
— Kyungsoo. — o chamou — Não precisa fazer essas coisas por mim, você não é meu empregado.
Ele sabia muito bem disso, mas não adiantava repetir. Não era o empregado daquela casa, era um hóspede, mas se sentia m*l com a ideia de não fazer nada, além de ser um pouco entediante, não achava justo passar o dia inteiro jogado usando a internet enquanto a casa ficava bagunçada e acumulando poeira. Não era obrigado a nada, mas seria muita ingratidão não fazer nada por quem estava o hospedando e lhe dando tudo quanto precisava.
— Eu só quero fazer algo por você. — o disse.
— Ainda está se recuperando de um acidente grave, não faça muito esforço.
O ômega concordou com a cabeça.
Jongin segurou uma de suas mãos, algo que fez Kyungsoo voltar sua atenção para isso, juntou ambas as palmas vendo o quanto sua mão parecia pequena junto a mão do Kim, sorriu para isso. Ele era carinhoso, carinho este que era direcionado a alguém que não conhecia, e isso era algo que o ômega não conseguia entender direito, era como coisa de filme. Era seu próprio filme clichê, pensou.