Melanie
Aquela mulher era odiável! Ela me tratava como se eu fosse uma débil mental e me chamava de burra a cada momento, me batendo toda vez que fazia algo errado. Quem ela pensava que era pra estar me tratando assim!?
Eu estava com raiva e minha pele estava queimando, apesar da pouca roupa. Odiava aquele lugar, aquele homem e aquela vaca!!
Estava com livros bem pesados sobre a cabeça e um sapato de salto alto nos pés que me apertava os dedos. Queria sair dali, gritar com ela e correr até minha casa. Queria ver a minha mãe, saber se ela estava bem. Mas não podia. Não queria por em risco sua vida e não queria que ele me batesse, já não estava nem mais aguentando essa mulher.
Quando por fim, caída pela última vez no chão, ví Daniel entrar pela porta fazendo meu coração disparar, confesso que naquele instante senti um misto de alívio e pavor tomar conta do meu corpo por inteiro e me fazendo tremer na base, como dizem por ai. Ele me ajudou a levantar e me colou ao seu corpo, a próxima coisa que senti foram arrepios percorrerem por todo meu corpo enquanto ele falava. O que era isso? Quando ele mandou que eu continuasse, nada falei, apenas fiquei em silencio, mas então ele me beijou... Juro que eu não queria, mas ele me forçou... Depois eu já não respondia mais por nim, até que ele se afastou e saindo da sala me mandou continuar com os treinamentos.
Deixei meu corpo cair no sofá, definitivamente deveria sair daquele lugar bem rápido. Então percebi que alguém me observava da porta, encarei por um momento o segurança que parecia estar transformado em pedra maciça alí. Uma perfeita estátua viva. Soltei um longo suspiro, levantei já calçada com os devidos saltos, iria voltar ao treinamento quando ouvi um barulho alto. Havia algo de errado ali. Ao ouvir algumas vozes olhei para a porta onde o segurança estava,ele parecia um pouco inquieto, olhando para o outro lado a cada segundo, então eu ví, caído no chão ali perto havia um homem.
- Vamos logo, ajude aqui - ouvi a voz de alguém a falar, provavelmente um dos homens que estava perto do segurança caído, vi o homem perto da porta sinalizar pra mim e ouvi a mesma voz dizer algo como "Não se preocupe, ela não vai fugir", logo correu ao encontro dos outros homens.
Eu estava sozinha, olhei ao meu redor e nada, nem ninguém estava por perto. Não havia nenhum guarda me vigiando. Tirei os sapatos e andei até a porta, eles estavam levando pra longe o homem, que parecia não estar nada bem, a porta estava aberta e era a minha chance. Pensei, saindo da sala indo para a porta da frente. Ao passar pela mesma avistei três guardas do lado de fora, fui rápido e silenciosamente para trás de um grande vaso dourado com bordas brancas e amarelas no fim da varanda que cercava a enorme casa branca e amarela na qual me encontrava há poucos minutos. Olhei na direção dos guardas que pareciam estarem concentrados em algo.
- Cinco minutos para a troca de turno - fez-se, por fim, ouvida uma voz no rádio que um deles carregava junto ao peito, o mesmo logo respondeu algo como "Entendido, senhor", ou poderia ser outra coisa, eu estava nervosa demais para prestar atenção.
Então em cinco minutos seria trocado o turno...
Deixa eu lhes contar uma coisa, sempre fui muito observadora. Desde pequena tenho essa coisa de prestar atenção a vários fatos que estão acontecendo ao mesmo tempo ao meu redor e hoje prestei atenção em mais uma cisa do que apenas a "aula" da madame bruxa. Eu percebi que, nas trocas de turnos, as portas passam pelo menos dois minutos sem proteção. Esse era o tempo que eu teria.
Eu estava ali encolhida e completamente atenta. Não devem ter se dado por minha falta ainda. Um minuto, dois, três, quatro... Eu tinha apenas mais um minuto e menos de uma chance.
- Troca de turno agora - foi o que eu ouvi sendo dito no rádio, então os três se retiraram.
Era agora ou nunca... Esperei que eles saíssem dali e estivessem a uma boa distância e então eu sai, sorrateiramente, de meu esconderijo. Só espero não estragar tudo. Passei o mais silenciosamente e distante de onde eles estavam, saindo dali e, finalmente, correndo pela calçada rumo a qualquer lugar, mesmo não conhecendo nada dali e nem sabendo em que parte da cidade eu me encontrava. Acelerei o passo e então pude ouvir vozes masculinas a falarem alto, como se estivessem discutindo e passos rápidos de alguém correndo.
Eles perceberam que eu sumi...
Corri tão rápido quanto nunca antes, virei uma esquina passando por várias pessoas e nem ligando mais se eu estava com roupas minúsculas ou não, só pensava que tinha que achar um lugar onde me esconder. Ví uma praça ao longe com algumas pessoas, talvez se eu chegasse lá eles não pudessem me pegar. Minhas pernas já doíam como se estivesse correndo a semanas e meus pulmões pareciam estar em chamas, faltava-me o ar. Eu precisava parar e respirar.
Comecei, involuntariamente, a perder velocidade, eu estava suada e cansada. Tentei correr o meis rápido, precisava chegar a algum lugar onde tivessem várias pessoas, um lugar para estar a salvo. Minhas pernas fraquejaram já se enrolando uma na outra na minha tentativa de continuar correndo. O sol batia contra minha pele, fazendo-a arder. Meu corpo fraquejou... Eu estava começando a ficar mais cansada, um pouco tonta.
Eu só precisava atravessar mais uma rua agora, já não mais corria e agora apenas andava rapidamente. Um carro preto parou a minha frente e sem tempo para desviar ou correr para outra direção me puxou pra dentro. Comecei a me debater, tentei gritar, mas de nada adiantou. Puseram-me um pano cobrindo a boca, havia algo nele... Mas não sei dizer o que, tudo o que sei é que aquilo foi a última coisa de que me lembro.
Ele havia conseguido me pegar novamente.