O passado pode machucar. Mas como eu vejo É: Você pode fugir dele ou aprender com ele.
Optei pelo mais difícil, aprender com ele...E até hoje não me arrependo. Te digo que aprender com ele, te dá mais capacidade para ver a vida por um lado diferente. O que poucas pessoas conhecem.
De agora em diante você irá conhecer o meu passado. Detalhe por detalhe. Tudo o que passei. Irei confiar a você, este diário. Meus netos virão hoje me visitar, neste momento estou em um hospital, minha saúde não está lá as mil maravilhas... Deve ser pela minha idade. 85 anos não é fácil. Junto à você, irei contar a eles... Espero que vocês aprendam algo com isso. Bom, vamos nessa!
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Querido diário o****o.
Agora estou na escola... Ou melhor, inferno. Louca pra ir para casa, mas o que me deixa mais entristecida é que saber, que lá é pior que aqui.
Hoje foi o dia de fotos da turma e uma sozinha, eu insisti para que mamãe me desse dinheiro para poder pagá-la, e com muito sacrifício, ela deu. Eu fiquei linda!
Não vejo a hora de chegar logo o dia do meu aniversário!
10 anos é a idade que eu mais quero ter!! Mamãe poderá me deixar sair para ir na padaria ou mercado...Dizendo ela. Mas eu quero passar um dia ao lado dela, como uma mãe e filha de verdade. Ela nunca me tratou bem, ou melhor...Depois que descobriu um segredo, piorou mais ainda.
Eu sinto vergonha disso. Mamãe sempre me olha com cara de nojo, como se eu fosse a culpada, se eu pudesse voltar a trás, no primeiro dia ...Eu teria pulado da janela, e mesmo machucada, sairia correndo e gritando. Mas eu sou muito medrosa e tímida, isso me daria mais vergonha ainda.
Enfim, passado é passado.
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O sinal bateu, guardei meus materiais, muito animada, peguei o pequeno envelope que continha as duas fotos, e fui com ele na mão até em casa. Sorrindo de felicidade, mamãe iria dizer depois de tantos anos...Que eu era a princesa dela! Tenho certeza!!
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Entrei em casa, joguei minha mochila e a lancheira no sofá e corri até a cozinha.
Eu: Mamãe! Aqui as fotos! — entreguei o envelope a ela —
*Ela olhava da fotografia para mim. De mim para a fotografia. Então disse: “Meu Deus, como ela pode ser tão feia. Feia. Feia.”
— Aquilo fez meu coração se apertar e uma vontade de chorar apareceu —
Eu: Mas ...Eu vesti a fantasia que você me deu, meu cabelo está bonito, mamãe! — protestei —
Ela: Continua sendo feia! Guarde essa merda de foto, guarde seus materiais, tome um banho e venha para almoçar.
— Ela praticamente jogou as fotos em mim. As peguei do chão, chorando e segui até a sala, peguei minha mochila e segui até meu quarto, no meio do corredor meu irmão aparece —
Ele: Porque tá chorando, pirralha?
Eu: Nada! — tentei continuar meu caminho, mas ele me bloqueia —
Ele: Qual é, Alice...Desembucha!
Eu: É que hoje eu trouxe aquelas fotos que eu insisti pra mamãe me dar dinheiro para pegá-las...Aí eu mostrei pra ela, e sabe o que ela disse? Que eu sou feia! — Eu disse limpando as lágrimas com as mangas da minha blusa de frio —
Ele: Ela só estava sendo sincera...— ele deu de ombros e saiu andando —
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Eu comecei a chorar muito mais. Entrei no meu quarto, tranquei a porta e me joguei na cama. Depois de uns minutos eu guardei minha mochila, coloquei as fotos no meu álbum...Eu sentia tantas saudades do papai...
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--- Flashback ON ---
Pai: Ice, qual algodão doce você quer? Rosa ou branco?
— Eu e meu pai paramos nossa caminhada no parque para comprarmos algodão, que eu insisti para que ele comprasse —
Eu: Branco!! — sorri —
Pai: Um branco e um verde, por favor!
— O tio sorriu, pegou os algodões, meu pai pagou e continuamos a caminhar. —
Eu: Papa, quando iremos visitar a mamãe? — eu disse enquanto comia —
Pai: Meu amor...Você sabe que sua mãe é uma pessoa...Chata, principalmente com você, não é?!
— Aquilo já era a resposta...Minha mãe não gostava de mim —
Eu: sei, papa...— suspirei —
Pai: Maaaaaaas...Nós iremos viajar amanhã, como presente de aniversário, eu e você...Vamos esquiar! Que tal? — ele disse entusiasmado —
Eu: EBAAAAA!
— Meu pai me pegou no colo e eu o abracei —
Pai: Eu te amo, minha pequena Ice!
Eu: Também te amo, papa!
— No caminho para casa —
Pai: Então, hoje eu vou passar a noite toda trabalhando e você irá ficar com a Dinda (era a empregada e babá), e amanhã bem cedinho ela vai te acordar, e você tem que arrumar as malas e se arrumar, e depois nós iremos, tudo bem!?
— Ele disse alegre —
Eu: Sim, sim! — balancei as pernas, alegre —
~
Chegamos em casa, meu pai fazia brincadeiras...E falou pra eu ir tomar banho, obedeci.
Terminei, coloquei um pijama, penteei meus longos cabelos castanhos, e desci, sorrindo. Meu pai estava na cozinha, me esperando pro jantar...Me sentei com ele, e começamos a comer.
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Pai: Está tudo combinado, né?
Eu: Sim!
Pai: Essa é a minha garota!
— Passamos o jantar todo conversando, meu pai foi me colocar para dormir, me deitei na cama e ele me cobriu, depois deu um beijo em minha testa. —
Eu: papa, você vai vir mesmo me buscar, não é?! — eu disse insegura —
Pai: Claro que sim. Agora durma, amanhã teremos um dia cheio!
Eu: Okay...Boa noite!
Pai: Boa noite.
— Ele saiu e fechou a porta, demorei um pouco para dormir, mas consegui —
~
Acordei sozinha no outro dia, e olhei no relógio, eram 13:00 ...Logo desci correndo da minha cama e abri a porta, fui até a sala e encontrei Dinda, sentada no sofá, chorando.
Fui até perto dela, e a cutuquei.
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Dinda: Alice, meu amor...Desculpe-me!
Eu: Tudo bem, Dinda. Mas por que está chorando?
Dinda: É que seu papai, ele teve que viajar pro trabalho, e vai ficar longe de nós.
— Como eu só tinha 6 anos, isso me convenceu —
Eu: Ah...Ele sempre faz isso! Papa sempre arruma outra coisa pra fazer, mas dessa vez...Justo no meu aniversário.
Dinda: Eu fiz um bolo pra você...Venha!
— Ela se levantou, pegou minha mão e fomos até a cozinha, em cima da mesa tinha um bolo enorme, com muito chantilly ...Eu amo!!! Corri para a mesa, peguei um prato e colher, Dinda forçava um sorriso, cortou um pedaço do bolo e colocou em meu prato. Comi alegre, enquanto ela falava ao telefone, até que deixou escapar: ´´ Quando será o enterro do Senhor John? ´´ Eu poderia ser nova... Mas eu entendia muito bem o significado da palavra ´´ enterro ´´ ...Me levantei, e comecei a chorar. Dinda se virou pra mim e desligou o telefone, e me pegou no colo —
Eu: O que aconteceu com o papa?
Dinda: Você está nova demais para saber, Ally.
Eu: Não! Me fala, Dinda...É sério, ME FALA! — gritei —
Dinda: Seu pai estava vindo te buscar, mas o carro bateu contra um caminhão...E ele...Não resistiu...
— Agora nós duas chorávamos, ela me levou até meu quarto e começou a fazer mais malas para mim —
Eu: Dinda! Pra quê isso?
Dinda: Você terá que ir morar com sua mãe...— ela disse entre choros —
Eu: Não!! Eu fico com você, Dinda! Mas com a mãe eu não fico!
Dinda: Me perdoe...
--- Flashback OFF --
~
A perda não é uma ausência. É um mar brutal constantemente vivo, exige forças muito além do que posso prometer.
Depois de tudo, meu mundo virou de cabeça para baixo. Sem meu pai ao meu lado, as coisas ficaram mais estreitas, minha vida se dificultou e eu fui obrigada a amadurecer. Mesmo tendo tão pouca idade, eu já sou bem mais madura que crianças mais velhas...Aprendi a pensar, agir e reagir. É difícil, mas é uma obrigação.
Depois que meu padrasto fez aquilo comigo, eu amadureci mais ainda, você não imagina o quanto. Sofrer abuso s****l é uma das piores coisas, ainda mais quando se tem minha idade...Você perde sua inocência, sanidade, a capacidade de ser feliz...E principalmente, sua infância.
***
Mãe: Qual seu problema, garota? Tem meia-hora que eu tô te gritando pra ir almoçar! — ela disse quase derrubando minha porta e me levando até a cozinha, enquanto puxava meus cabelos. Ela me ´´jogou´´ na cadeira, mas eu segurei a vontade de chorar, deixei só a raiva tomar conta. Comi, rangendo os dentes... Se eu pudesse, eu a matava agora! —
Meu Irmão: iih, mãe! Olha, ela está te olhando torto!
Eu: Cuida da sua vida, Eduardo! — mostrei o dedo do meio pra ele —
Mãe: Come logo essa comida antes que eu a enfie pelo o seu nariz! — minha mãe disse me jogando um olhar fuzilante—
~
Não disse mais nada, continuei a comer...Terminei e coloquei o prato na pia, enquanto meu irmão i****a ria de mim.
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Eu: Mamãe, amanhã é meu aniversário...Vamos sair juntas?! — falei quase implorando —
Mãe: Que?! Sair com você? Pra poder passar vergonha de novo? Vou nada... Se quiser, pode sair com seus amigos, mas eu não vou.
Eu: Mas eu não tenho amigos.
Mãe: Problema seu...Agora some daqui que eu tenho que lavar a louça!
— Eu não disse nada, só saí batendo os pés e me joguei no sofá...Amanhã era meu aniversário, o que eu iria fazer? Pagar alguém pra bancar meu amigo o dia todo? —
~
Passei o dia inteiro pensando, mas cheguei à conclusão que eu iria sair sozinha...SE minha mãe deixasse.
Passei o resto da tarde e metade da noite fazendo atividades da escola.
Dormi que nem vi, só acordei no outro dia...Era sábado, graças a Deus! Me levantei depois de uns minutos, fiz minhas higienes e tomei banho.
Saí, e meu irmão estava sentado em minha cama...Aquilo me assustou, ele quase nunca entrava no meu quarto.
~
Eu: O que você quer? — eu disse rangendo os dentes —
Eduardo: Só brincar...Ué! — ele se levantou —
Eu: Sai daqui, seu babaca! — empurrei ele —
Eduardo: Vai, pirralha...Vamos lá! Deixa-me ver como é que já está seu corpo, é coisa rápida...Caso contrário, eu posso te testar também, você irá gostar! — ele me segurou —
Eu: Vou contar pra mãe!
Eduardo: Ela saiu...— Ele me jogou na cama, mas continuei a segurar a toalha —
Eu: Vai embora! É sério...— eu disse quase chorando —
Eduardo: Han...Nossa! Pra dez anos, você já está bem... viu, Ally. . . — ele passou as mãos em minhas pernas, subindo a toalha. —
Eu: CHEGA! SAI DAQUI SEU i*****l, EU VOU CONTAR PRA MÃE, VOCÊ VAI VER — Eu disse chorando e desesperada —
Eduardo: Ela não vai acreditar...Depois a gente continua, tchau!
— Ele saiu do meu quarto, rindo. Logo em seguida corri e tranquei a porta. —
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Não consegui acreditar, que meu irmão estava me assediando...E agora? Minha mãe nunca vai acreditar em mim.
Eu não quero passar por isso de novo, por que isso tem que acontecer comigo? O que eu fiz de errado?
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— Me arrumei, preparei uma mochila, saí do meu quarto e corri até a cozinha, peguei comida, suco, Toddynho...e outras porcarias, coloquei dentro da mochila, a fechei e saí daquele inferno. Eu não sabia andar por aquela cidade, mas qualquer coisa era melhor do que minha casa. —
~
Ainda não acredito que meu irmão fez isso comigo...E ele vai fazer mais vezes, eu tenho certeza! Estou com tanto medo...
~
— CUIDADO! Foi a única coisa que eu consegui ouvir, e depois, algo bater contra mim, eu praticamente voei, e alguém cai por cima de mim. Ambos soltamos um ´´ UGH! ´´ minha cabeça estava doendo, pois bateu no chão. —
Eu: Você é cego?! — eu disse enquanto ele se saía de cima de mim —
Ele: Me desculpa... Mas você que estava errada, pois aqui é a pista de skate!
— Me foquei naquele garoto, ele era loiro e tinha lindos olhos azuis...Nunca vi ninguém tão perfeitinho igual a ele! —
Eu: Ah...— eu me levantei e estendi a mão à ele —
Ele: Presta mais atenção...— ele pegou minha mão e eu o puxei —
Eu: Beleza...— peguei minha mochila e continuei a caminhar —
Ele: Menina?! — ele quase gritou —
Eu: Não, o Bozo! — me virei para ele —
~ O garoto riu ~
Ele: Me chamo Rafael, e você?
Eu: Pra que eu deveria te falar o meu nome? Ambos não iremos mais nos ver depois disso.
Rafael: É, verdade...Então, você sabe andar de skate?
Eu: Sei. — Menti —
Rafael: Manja?
Eu: Claro!
Rafael: Faz um Ollie — ele me entregou o skate —
~
Que p***a é Ollie? Meu Deus, é um 360? SOCORRO
~
Eu: Minha perna está dolorida...E eu tenho que voltar logo para casa. — Menti novamente —
Rafael: Tudo bem, no dia em que nos vermos novamente, você terá que fazer um Ollie!
Eu: Ah, é fácil demais! Manda algo mais radical, que não seja de skate.
Rafael: No dia veremos, até mais!
Eu: até.
— Continuei a caminhar, até que eu paro, e me viro...Rafael ainda me olhava —
Rafael: Que foi? — ele disfarçou m*l pra caramba —
Eu: Me chamo Alice. — Sorri —
Rafael: Alice...— sorriu também — Quantos anos você tem?
Eu: Hoje é meu aniversário, e faço 10...E você?
Rafael: 12! — ele disse contente —
Eu: Legal!
Rafael: Que tal comemorarmos seu aniversário!?
Eu: Ué — franzi a testa —
Rafael: Sei lá, ir na sorveteria?! — ele arqueou a sobrancelha —
Eu: Piquenique! — sugeri —
Rafael: Vamos lá!
~
Seguimos caminho, Rafael era tagarela, sempre puxava assunto, fazia piadas...Ele era bem legal. Até me fazia esquecer dos problemas.
Fomos até um lugar vazio que só havia gramado.
~
Rafael: Eu vou lá em casa buscar algo para comermos.
Eu: Não precisa, eu tenho!
Rafael: Certeza?
Eu: — enchi os pulmões — ABSOLUTA! — Eu disse com um sorriso vitorioso —
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Estendi minha toalha no chão e organizamos a comida. Rafael pegou um cupcake, colocou um tubinho de chocolate, e na ponta um marshmallow, eu até ri daquilo.
~
Rafael: Esse é seu bolo de aniversário improvisado! Então...Parabéns!
— Eu ri de novo —
Eu: Obrigada!
Rafael: Por nada...Agora, antes de apagar a vela, feche os olhos e faça um pedido.
— Fechei os olhos e fiz meu pedido. Depois assoprei a ´´vela´´. —
~
Ficamos um bom tempo comendo, rindo, contando um pouco sobre cada um...Rafael disse que sonhava em ser uma coisa chamado ´´ Youtuber´´, eu não fazia ideia do que seria, só concordei, dizendo que era ´´hilário´´.
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Rafael: Bom, já são...— ele olhou no celular — Cinco da tarde! UAU, Eu tenho que ir, amanhã vamos nos encontrar aqui de novo?
Eu: Claro!
Rafael: duas horas, está bom?
Eu: Ótimo.
— Rafael sorriu, me ajudou a guardar as coisas na mochila, eu a peguei e voltei a colocá-la nas costas. —
Rafael: Vamos tirar foto?
Eu: Claro!
— Rafael me puxou pra perto dele, arrumou lá a câmera, e antes que ele apertasse para tirar a foto, eu dei um beijo na bochecha dele. A foto saiu assim: Meus cabelos tapando o rosto do Rafael, que sorria radiante, minha boca tinha afundado na bochecha dele. Nós rimos muito da foto, e ele foi embora. Meus olhos o acompanharam até sumir por uma esquina...Fui para casa com um sorriso bobo, entrei, e minha mãe estava me esperando...Com um fio na mão... Certamente iria me bater com aquilo.
Mãe: Por onde você andou? — ela franziu o nariz —
Eu: Fui comemorar meu aniversário com meu amigo.
Mãe: Mas você não tem amigos.
Eu: Arrumei um.
Mãe: tira a calça...— ela preparou o fio —
~ Tirei minha calça e ali mesmo ela começou a me bater...Só parou quando comecei a chorar e minhas pernas e braços estavam quase em carne viva. Por fim, ela deu um tapa em meu rosto, o que fez seu anel fazer um corte médio. Fui até meu quarto, chorando, as lágrimas queimavam o corte em meu rosto..., mas aquilo não era incômodo. Tranquei a porta, e corri pro banheiro, antes que o sangue manchasse meu tapete. Tomei um banho gelado, todos os cortes ardiam, eu praticamente fui mutilada. Se você visse os estados das minhas pernas e braços, choraria comigo. Terminei, peguei uma pomada que tinha lá e passei em meu corpo todo, aquilo só piorava a dor, mas me ajudaria. Vesti meu pijama e me deitei. ~
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Meu despertador estava tocando, eram 10:00 da manhã...Eu dormi!? Nem me dei conta, e muito menos descansei.
Fiz minhas higienes, coloquei uma blusa de frio, calça, sapatilha, fiz um r**o de cavalo e fui para a cozinha. Tinha panquecas no prato, comi algumas e fui pra sala, assistir desenho.
Eu estava triste...A dor só me consumia ainda mais.
Minha mãe e meu irmão foram para a cozinha, eu os escutava conversarem e rirem...Como mãe e filho felizes.
Fiz o máximo para ignorar, e continuei a assistir, então eles vieram para a sala. Minha mãe mandou eu sair de onde estava sentada, não disse nada, me levantei e ela me empurrou e me chamou de lerda. Até quase caí. Me sentei no chão, sem dizer um ´´A´´.
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Eu: Mãe, hoje vou passear com meu amigo.
Eduardo: Seu amigo imaginário, Gasparzinho?! — ele riu debochando —
Mãe: Edu, para. — Ela disse segurando a risada — Você não vai, Alice. Será que vou ter que te bater de novo? — meu irmão sussurrou um: ´´sim´´ — Vai ficar dentro de casa!
Eu: Mas você falou, que quando eu fizesse 10 anos eu poderia sair de casa!
Mãe: Pois agora estou dizendo que não vai! Não é não! Tá difícil de entender ou tenho que desenhar?
— Eu saí da sala e fui pro meu quarto. Tranquei a porta e me sentei no chão. Eram 12:45...Fiquei lá, sem me mexer até 13:00. Eu iria sair sim! Custe o que custar...Eu vou!
Ouvi alguém bater na porta e eu abri, era o Eduardo, ele me empurrou, me fazendo cair sentada no chão. Logo trancou a porta e me levantou pelo pescoço —
Eu: SAI DAQUI! — Gritei —
Eduardo: Shhhh — ele me deitou na cama, e tirou minha calça, aquilo só me desesperou mais ainda —
Eu: MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE! — Eu gritei, chorando —
Eduardo: Ela saiu...Agora somos eu e você, princesinha!
— Ele tirou a calça junto com a cueca, eu estava assustada, aterrorizada, eu só queria morrer naquela hora. então ele começou a fazer coisas comigo, enquanto meus braços ficaram amarrados e um pedaço de pano em minha boca...Aquilo doía, eu só conseguia sentir o desespero e a ardência. Então ele para, volta a se vestir e antes de sair diz: ´´ Ela nunca irá acreditar em você. ´´ —
~
Ele sai do quarto e me tranca. Consigo me desamarrar depois de alguns minutos, corri pro banheiro e comecei a vomitar, depois tomei banho e vesti qualquer roupa que desse pra esconder os cortes e a vermelhidão em meu corpo. Peguei meu urso que papa tinha me dado, e sai pela janela. Fui correndo até onde eu e Rafael combinamos de nos encontrar...Ele era a única pessoa que estaria comigo, ele era a pessoa em que eu confiaria sempre.
Cheguei no parque e o vi, sentado em seu skate, ele me olhou e fui de encontro com ele ,e o abracei forte, chorando.
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Rafael: O que aconteceu? — ele disse preocupado e acariciando meus cabelos —
Eu: Meu irmão me machucou, e minha mãe também! — eu disse o apertando —
Rafael: Como? Me diz! — ele ficou assustado —
Eu: Promete não contar pra ninguém?
Rafael: Prometo!
Eu: Meu irmão... E-ele ...me amarrou e fez coisas comigo, ele machucou a ...minha...— não consegui terminar a palavra, só consegui chorar mais ainda —
Rafael: Entendi...Tudo bem, e sua mãe?
Eu: ela me bateu ontem, eu tô cheia de cortes... Rafael, me ajuda! — supliquei —
Rafael: Quer passar uns dias lá na minha casa?
Eu: Sim, por favor!
Rafael: Tá, vamos...
— Eu fui até a casa dele, abraçados. —
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Não era muito longe, e era um apartamento. Entramos lá e subimos as escadas, chegamos e ele abriu a porta, ele entrou primeiro e em seguida, eu.
Abracei meu urso e encostei na parede, enquanto ele trancava a porta.
Quando terminou, me olhou.
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Rafael: Você poderá ficar aqui o tempo que quiser, tudo bem?
Eu: Sim...Obrigada!
— Eu o abracei —
Rafael: De nada...Quer trocar de roupa?
Eu: Sim.
— Ele me levou até o quarto dele e me entregou uma camisa dele e uma bermuda e saiu do quarto. Tirei minha roupa e a joguei debaixo da cama e vesti as que Rafael tinha me dado. Eu estava um pouco mais aliviada. Fui pra a sala, e ele estava sentado. Me sentei ao lado dele e tentei fazer minhas mãos pararem de tremer. —
Rafael: Eu tô aqui com você agora...Não precisa mais ter medo.
Eu: Tudo bem...
Rafael: Vou fazer milkshake, quer vir?
— Assenti e fomos até a cozinha, ele pegou as coisas, enquanto eu olhava. Então começamos a preparar, ele conseguiu me fazer rir. Voltamos pra sala, ele ligou a TV, que estava passando um programa de pegadinhas. Tomamos o milkshake e ríamos muito com aquele programa. A porta faz barulho e olhamos em direção a ela, uma mulher entrou, nos olhou e sorriu —
Ela: Olá, crianças! — ela disse sorrindo e trancando a porta —
Eu/Rafael: Oi...— sorrimos —
Ela: Quem é sua amiga, Rafael? — ela me olhou ainda sorrindo enquanto colocava a bolsa no sofá —
Eu: Alice, prazer!
Ela: Igualmente! Me chamo Andrea, mas se preferir me chame de tia...— ela acariciou meus cabelos e seguiu para um dos quartos —
Eu: Ela vai brigar se eu ficar aqui ?! — sussurrei —
Rafael: Não, minha mãe é legal!
Eu: ufa...— suspirei —
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O dia todo foi calmo, Tia Deya era legal...E divertida!
Agora eu sei pra quem Rafael puxou...Ela dizia quase todo instante que amava sorvete, o que era engraçado.
Na hora de dormir, ela disse para que Rafael dividisse a cama comigo, e ele assentiu. Ela deu boa noite e entrou no quarto.
Logo em seguida eu e Rafael fomos pro dele. Nos deitamos na cama, embrulhamos e nos abraçamos.
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Eu: Te devo essa, Rafael! — sussurrei —
Rafael: Que nada, você já é parte da minha vida e eu gosto muito de você...Não precisa agradecer!
Eu: Também gosto de você...e muito...
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Rafael não disse nada, só acariciou meu cabelo e logo em seguida, dormi.
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Acordei, eu estava em minha casa...Aquilo tudo foi um sonho? Por um lado, me senti aliviada, por outro...triste.
Me levantei, fiz minhas higienes e logo percebi que eu estava com as roupas do Rafael. Abri minha porta, que estava com a maçaneta quebrada...Saí e caminhei até a sala, devagar, estava revirada, a cozinha completamente destruída...Aquilo me assustou. Fui até o quarto da minha mãe, e quando abri a porta, não acreditei no que vi...