Uma boa aposta

1388 Words
POV Camila Cabello Bati com a pilha de manuscritos na mesa de Ally, fazendo ela dar um pulo. -Que isso Camila? -Que isso pergunto eu. Você cogitou, por um minuto sequer, que eu ia aceitar publicar qualquer uma dessas porcarias? -Eu te falei que não tinha lido esses manuscritos, você que insistiu em ler. -Pois se livre deles. São horríveis Ally, não vale a pena publicar nenhum. -Tá bom. - Ela revira os olhos pegando os manuscritos e os guardando na gaveta. -Tem mais algum? - Pergunto rápido. -Até tem, mas não tive tempo de ler. -Tudo bem, me dá eles que eu mesmo avalio. -Vai bater com eles na minha mesa de novo? Sorrio de canto e estendo a mão. Ally pega outros manuscritos em uma outra gaveta e me entrega. Voltei ao silêncio da minha sala e comecei a ler os manuscritos. Manuscritos na verdade é jeito de falar, é tudo digitalizado e enviado por e-mail, Ally que imprime tudo pra eu poder ler. Descarto cada maço de papel após ler três ou quatro páginas, são escritas medíocres, sem potencial nenhum. Passo várias horas nisso e m*l percebo que chega a hora do almoço até Ally entrar na minha sala. -Você precisa comer Mila. Levanto a cabeça e olho pra baixinha, seus saltos agulha preto desfarçam seu tamanho, seu vestido azul de manguinhas se molda a sua cintura, mas é solto em seu quadril e no comprimento até dois dedos acima do joelho. Seu cabelo está preso em um r**o de cavalo alto e sua maquiagem é leve. -Que horas são? - Pergunto verificando meu relógio e constatando que passa da uma. - Você já almoçou? -Não, estava esperando você. -Então vamos, a gente almoça juntas. Vamos até um pequeno bistrô ali perto e pedimos um almoço simples. -Gostou de algum manuscrito Mila? -Bom, tem um certo P. James Nhicols, ele tem dificuldade em conjugar alguns verbos e se perde um pouco no tempo de narração, mas a história é até que boa. -Ah, Um Veraneio Qualquer? -Isso. -Não se empolgue. Ele perde o fio da meada lá pro meio. Bufo diante disso e termino meu almoço. Voltamos a editora e me tranco novamente, descartando um manuscrito após o outro. Quase na hora de sair vou até Ally. -Tem outros? -Até tem Mila, mas não olhei ainda. -Me dê aqui por favor. Ela me passa outros manuscritos e volto a minha sala. Cansada das leituras, passo os olhos por alguns títulos e vou me desfazendo deles. Até que um me chama atenção: Mais um desses acasos Michele Morgado Pego aquele por ter um nome diferente dos outros e analiso. Pode ser que esse valha a pena. Não sei se existe definição exata pra Fundo do Poço, mas passar um belo domingo de verão, trancada em meu apartamento, com pijama de flanela, devorando pizza gelada e assistindo maratona de Harry Potter deve se encaixar muito bem. Sorrio diante desse primeiro parágrafo, não sei exatamente se por citar minha série favorita ou se pelo fato de eu conseguir visualizar a cena descrita. Prossigo com a leitura. O fato é que jamais, em toda minha história eu me encontrei em uma situação como essa. Abandonada pelo meu "amor", esquecida pelos amigos e longe dos meus pais. Meu celular toca me despertando mais uma vez, mas meu estado de completa desolação não me deixa criar forças pra me esticar e atender. Talvez você se pergunte como uma jovem rica, bonita e cheia de saúde pode ter chegado nesse estado. Bom, vou começar do início... Fico completamente presa a essa narração. Ao fim do primeiro capítulo chamo Ally que logo entra na minha sala. -Oi Mila. -Ally, procure entre seus emails o livro: Mais um desses acasos, o nome da escritora é Michele Morgado. Leve pra casa e leia durante o fim de semana. -Promissor? -Acho que sim. Ela sorri e volta pra sua mesa. Vamos embora, mas eu passo o fim de semana pendurada no livro. Fico encantada com a narração, muitas vezes rindo, outras me emocionando, o fato é que a história me prende. Termino o livro na tarde de domingo: Sigo pela rua de mãos dadas com aquele homem maravilhoso, sem saber o que nos espera. O futuro que nos aguarda é uma incógnita, tal como a forma que aconteceu esse nosso amor. No fundo somos apenas mais um desses acasos. Não me contenho e ligo pra Ally que me atende no segundo toque. -Oi Mila! -Oi Ally. Fez o que eu pedi? -Ler aquele romance maravilhoso? -Você também gostou? -Eu amei Mila, ri muito, chorei mais ainda... -Eu sei. -Vamos publicar? -No que depender de mim... Ouço uma voz rouca chamando Ally. -Você tá acompanhada baixinha? - Pergunto sorrindo. -É... O Troy tá aqui. -O Troy da contabilidade? Uau... Vou querer saber de tudo depois. -Tchau Camila. Sorrio quando ela desliga o telefone. Tomara que eles fiquem juntos, fazem um belo casal. ... Chego na editora e encontro Ally em pé na frente da minha sala, com um belo vestido preto soltinho, um salto nude e uma maquiagem leve. -Cabelos soltos, sorriso de orelha a orelha... Transou o fim de semana todo né Ally? -Ai cala a boca Camila. Vamos entrar e discutir esse romance? Ela balança o manuscrito diante dos meus olhos. Entro seguida de perto por ela, ambas nos sentamos, uma de cada lado da escrivaninha. -Antes de discutir esse romance incrível me conta, como foi que aconteceu você e o Troy? -Você não vai sossegar enquanto não souber né? -Claro que não. Ela suspira e me mede inteira, dos meus tênis brancos, passando pelo macacão jeans e chegando ao meu cabelo solto. -Tudo bem dona Camila. Algumas semanas atrás ele me chamou pra jantar, aceitei porque ele é bem lindinho. Enfim, passamos a nos encontrar algumas vezes e aí ontem ele apareceu lá em casa com flores, bombons e filmes. -Aposto que não assistiram nem a metade. - Dou risada da sua expressão. - Ele é bom? -Ele é perfeito, mas vamos falar do livro ao invés das minhas atividades sexuais? Dou outra risada. -Eu adoraria falar sobre minhas atividades sexuais, mas elas não existem então... -Isso é porque você trabalha demais Camila. Qual foi a última vez que saiu com alguém? Penso um pouco. -Acho que quando a Luna tinha um ano. -Credo Camila, deve tá com a b****a cheia de teia de aranha. Solto uma gargalhada acompanhada de Ally. -Não Ally, eu tenho um vibrador. -Ai me poupe de outro relato sobre como o Sr.R é melhor do que qualquer namorado. -Porque? O Sr.R é perfeito. Ele não me deixa na mão, não exige exclusividade, não tem ciúmes, não quer sair pra jantar e não fica bravo quando eu tô com dor de cabeça. Além disso tudo, o Sr.R jamais vai me fazer um filho. Ally bufa diante do meu discurso. -Ao livro então? - Pergunta séria. -Ao livro. -Eu já pensei em várias capas, pensei da gente encenar a fotografia da Mandy e do Paul na praia. -Não, acho que eles se esbarrando no calçadão ficaria melhor. -Aquela é a pior cena Mila. Podia ser então eles pulando de paraquedas. -Bom, antes disso tudo, precisamos entrar em contato com a escritora. -Verdade, precisamos marcar uma reunião. -Sim. E se ela já tiver alguma proposta cubra. Sinto que esse livro vai nos render bastante dinheiro. -Concordo Mila. É incrível não é? -Não precisa de nenhum ajuste Ally, nenhum. -Eu sei. Tava olhando a data do e-mail, essa escritora tem enviado esse livro pra gente a dois anos. -Sério? Nossa Ally, a gente podia ter perdido a chance de publicar um livro incrível. -Sim. Mas eu já fiz meu dever de casa, nenhum livro de Michelle Morgado foi publicado até hoje. -Menos m*l. Entre logo em contato pra gente garantir pelo menos a reunião. -Pode deixar chefa. -Assim que tiver a resposta você já imprimi o contrato padrão. -Certo. -E já deixa os formulários prontos também. -Tudo bem. -Agora sobre assuntos menos agradáveis, conversou com a Liz? -Conversei. Consegui fazer ela me contar onde tá internada. -Ótimo, a tarde você procura a Ari e nós vamos fazer uma visita. -Você acha mesmo o certo? -Ally, tenho poucas amigas e não vou largar as que tenho. -Tudo bem. -Agora vá mandar aquele e-mail. Acho que essa Michelle Morgado é uma boa aposta. -Boa aposta? Pelo que eu li essa mulher é uma mina de ouro. Sorrio e ela sai da sala. O pior é que Ally sempre tem razão, pelo que eu li esse pode ser o livro que vai levantar ainda mais a moral da editora. Cruzo os dedos esperando que em breve eu tenha a notícia boa de que a escritora vai aceitar a reunião e que logo vamos estar publicando o livro maravilhoso que ela escreveu.
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