Capítulo 12. Visita de Estefano

661 Words
O sol já havia se escondido atrás das colinas quando uma carruagem escura parou diante da modesta casa dos Pérez. As rodas estalaram sobre a terra seca, chamando a atenção das irmãs que ainda estavam acordadas, sentadas à mesa tentando decidir o que fariam caso o pai não voltasse naquela noite. Clara foi a primeira a se levantar, com o coração apertado. — Quem viria aqui a essa hora? Teresa foi até a janela e puxou a cortina com cuidado. Ao ver o brasão dourado pintado discretamente na lateral da carruagem, empalideceu. — Santo Deus… é um Cavalcante. As três trocaram olhares tensos. Antes que pudessem decidir o que fazer, ouviram o som firme de passos no alpendre e, logo em seguida, três batidas pesadas na porta. Amélie, sem saber por quê, sentiu o coração disparar. Algo dentro dela dizia que sabia quem estava do outro lado. Quando abriu a porta, a luz das lamparinas revelou Estefano Cavalcante, impecavelmente vestido, com o sobretudo preto e o olhar intenso. Por um instante, ele pareceu surpreso também como se não esperasse vê-la tão de perto, sob aquela luz suave que realçava seus olhos cor de mel. — Boa noite, senhorita Pérez, — disse ele, inclinando levemente a cabeça. A voz era cortês, mas carregava uma firmeza que impunha respeito. — Vim falar com seu pai. Amélie hesitou. — Meu pai… não está em casa, senhor. — Não está? — ele ergueu uma sobrancelha, observando-a atentamente. — Imagino que deva retornar em breve. Teresa, que até então observava da sala, aproximou-se com cuidado. — Senhor Cavalcante, meu pai saiu há algum tempo. Se deseja tratar de negócios, posso pedir que volte amanhã. Estefano pousou o olhar sobre ela, depois novamente em Amélie. — Negócios não esperam o amanhecer, senhorita. — A pausa foi longa. — Principalmente quando envolvem dívidas. O silêncio na sala foi quase palpável. Teresa apertou o xale nos ombros, tentando conter a indignação. — Então veio cobrar? À noite? Não há limite para as formas que os Cavalcante escolhem de humilhar os outros? Estefano manteve a calma, mas seu olhar endureceu ligeiramente. — Não vim humilhar ninguém. Vim conversar. — E, voltando-se a Amélie, acrescentou num tom mais suave: — Eu apenas esperava encontrar seu pai… mas vejo que não terei essa sorte. Amélie abaixou os olhos. — Ele… ele voltará logo, senhor. — Espero que sim, — respondeu Estefano. — O tempo é um luxo que nem sempre podemos ter. Por um momento, o silêncio se instalou entre os dois. Havia algo estranho naquele olhar que ele lançava uma mistura de interesse genuíno e algo que Amélie não sabia decifrar.Ela sentiu o rosto corar, desconfortável com a própria reação. Teresa, percebendo o clima, interveio rapidamente: — Se me permite, senhor Cavalcante, não é apropriado permanecer aqui a essa hora. Estefano desviou o olhar, consciente da tensão. — Tem razão. — Ele ajeitou o chapéu e deu um passo para trás. — Direi a seu pai, quando o encontrar, que espero sua resposta em breve. Antes de se afastar, voltou-se novamente para Amélie. O olhar dele se suavizou, e por um instante o tom altivo deu lugar a algo quase… humano. — Espero, senhorita Pérez, que sua família encontre uma solução que não envolva mais sofrimento. E então ele inclinou a cabeça em um gesto de cortesia, virou-se e caminhou até a carruagem. As rodas voltaram a girar, afastando-se lentamente na escuridão. Dentro da casa, o silêncio reinou.Amélie ainda olhava pela janela, o coração batendo rápido demais. — Ele não veio apenas cobrar, — murmurou Teresa, séria. — Eu vi o modo como olhou para você, Amélie. Clara cruzou os braços. — E se for isso… então as intenções dele são ainda piores do que imaginávamos. Amélie afastou o olhar, confusa e assustada. Lá fora, o som distante da carruagem se perdeu entre as colinas, mas algo dentro dela dizia que aquela não seria a última vez que veria Estefano Cavalcante.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD