O baile já se aproximava do fim, e o salão começava a perder um pouco do brilho inicial.
As últimas danças haviam terminado, e os convidados conversavam em pequenos grupos, rindo baixinho e saboreando os últimos goles de vinho.
Amélie permanecia próxima à porta lateral, aguardando ordens para recolher as bandejas e limpar as mesas. O corpo cansado e a mente exausta sentiam o peso de horas de trabalho constante, mas ela mantinha a postura, escondendo o cansaço e a tristeza que a consumiam.
Foi nesse momento que um jovem, elegantemente vestido com um fraque escuro, aproximou-se. Tinha cerca de uns vinte e oito anos, postura impecável e um sorriso cordial que transmitia simpatia. Ele parou diante dela, inclinando-se levemente em uma mesura polida.
— Boa noite senhorita — começou, com uma voz suave. — Posso lhe perguntar algo? Uma moça tão jovem como você, trabalhando nesta festa… não deveria estar desfrutando de tudo isso?
Amélie corou levemente, mas respondeu com firmeza, tentando não demonstrar a vergonha que sentia.
— Boa noite, senhor. Eu… estou trabalhando, sou apenas uma criada— A voz saiu baixa, mas clara.
O jovem arqueou uma sobrancelha, surpreso, mas sem perder a cortesia.
— Entendo… isso é admirável, devo dizer. Muitas pessoas da sua idade nunca sequer pegaram em uma bandeja.
Ela desviou o olhar, o coração acelerado, sem saber exatamente como reagir.
— Eu… não tenho escolha — murmurou, quase para si mesma.
O rapaz sorriu de maneira compreensiva, quase triste, mas manteve a educação.
— Lamento que uma jovem tão talentosa e bonita tenha que carregar esse fardo… sozinha. — Ele pausou por um instante. — Posso pelo menos ajudá-la com essas bandejas?
Amélie hesitou, surpresa com a gentileza dele.
— Não… eu consigo, obrigada — disse, tentando recobrar a compostura.
Ele assentiu, respeitando a resposta, mas ainda manteve os olhos sobre ela, demonstrando interesse e curiosidade genuína.
— Espero que, um dia, não precise mais carregar esse peso. E que possa aproveitar festas como essa.
Amélie sentiu uma mistura de emoções: vergonha, timidez e uma pequena centelha de esperança.
Por alguns segundos, foi como se ela pudesse imaginar um mundo diferente, onde não estivesse à margem, onde pudesse simplesmente sorrir e dançar, sem medo, sem obrigações pesando sobre seus ombros.
Ela respirou fundo, endireitando-se e pegando novamente a bandeja, tentando afastar o calor que subia às faces.
— Talvez… um dia, com licença senhor — respondeu baixinho, com um pequeno sorriso que escapou sem querer.
O jovem assentiu, respeitoso, e afastou-se, desaparecendo entre os convidados, deixando Amélie com o coração acelerado e uma sensação estranha de que talvez, por alguns instantes, ela pudesse sonhar com outra vida.
O jovem, ficou parado perto da última mesa, acompanhou Amélie enquanto ela se afastava cuidadosamente, segurando as bandejas com mãos firmes, mas visivelmente cansadas.
A cada passo que ela dava, ele não conseguia deixar de notar a postura delicada e firme ao mesmo tempo, a maneira como o cabelo castanho escuro caía sobre os ombros, e os olhos cor de mel que, mesmo cansados, carregavam uma luz própria, uma força silenciosa que o intrigava profundamente.
“Que moça… tão jovem e ainda assim tão forte… e bonita…” — pensou, a voz interna cheia de admiração. — “Não é apenas aparência. Há algo nela… algo que chama a atenção sem esforço, sem artifícios.”
Ele viu o jeito como Amélie mantinha a calma mesmo com o trabalho árduo e os olhares de todos ao redor.
Havia um misto de coragem e vulnerabilidade que parecia impossível de ignorar.
Ele não podia deixar de notar os olhares masculinos que caíam sobre Amélie incessavelmentente, afinal, ele mesmo era um deles.
"É impossível não notar…” — murmurou para si mesmo. — " A beleza dela é... irresistível."
Enquanto ela sumia entre as sombras e as luzes tremeluzentes do salão, o jovem continuou parado, perdido em pensamentos sobre ela.
Um desejo silencioso surgiu, não apenas de conhecê-la, mas de protegê-la, de descobrir a história por trás daqueles olhos atentos e aquele semblante que carregava tanto peso e tanta determinação.
E por alguns segundos, o baile, o luxo e as conversas ao redor desapareceram de sua mente, substituídos apenas pela imagem de Amélie a moça que, mesmo trabalhando como serva, havia capturado sua atenção de forma completa e inesperada.
— Eu preciso ter essa moça pra mim...nem que eu precise compra-la da família Cavalcante.— Murmurou baixo para si mesmo.