Henrique fez um gesto para Amélie, ainda percebendo seu receio, e disse com firmeza, mas gentil:
— Espere aqui um instante. Vou chamar alguém que vai ajudá-la.
Pouco depois, uma mulher elegante, porém prática, aproximou-se. Era uma das empregadas de maior confiança de Henrique, conhecida por sua discrição e eficiência.
— Nora — disse Henrique, apresentando a mulher —, por favor, cuide da senhorita Pérez. Quero que ela tome um banho, se troque e, depois, venha se juntar a mim para lanchar algo.
Nora assentiu com um sorriso compreensivo.
— Não se preocupe, senhorita Pérez. Eu vou cuidar de tudo — disse, a voz suave, transmitindo segurança.
Amélie engoliu em seco, os olhos ainda marejados de emoção e cansaço.
— Eu… eu não sei… — murmurou, hesitante, olhando para Henrique. — Eu nem sequer tenho o que vestir.
Henrique se aproximou levemente, colocando uma mão tranquilizadora sobre o ombro dela.
— Não precisa se preocupar — disse calmamente. — Apenas confie nela. Ela vai ajudá-la e não há pressa.
Amélie respirou fundo, ainda com o coração acelerado, e deixou Nora guiá-la pelo corredor até os aposentos preparados para ela.
O quarto era simples, mas elegante, limpo e aquecido, com uma cama confortável, roupas limpas e toalhas macias já organizadas.
Nora explicou com paciência:
— Vou preparar um banho quente para você, depois lhe darei roupas limpas. Tudo será feito com calma, não precisa se apressar.
— Nora, não sairá do quarto até eu acabar, sairá?
— Não, tem minha palavra.
Amélie assentiu, ainda um pouco tensa, mas gradualmente sentindo a segurança transmitida pela mulher.
Enquanto se preparava para o banho, percebeu que, pela primeira vez em muito tempo, havia alguém cuidando dela de forma genuína não como uma serva ou um objeto, mas como uma pessoa que merecia cuidado e respeito, mas ela temia que isso fosse apenas uma armadilha.
Depois de tomar banho e vestir roupas limpas e simples, mas confortáveis, Nora levou Amélie até a sala de jantar, onde uma mesa estava preparada com alimentos leves e quentes.
— Pode comer à vontade, senhorita — disse Nora, com um sorriso gentil. — Creio que logo o senhor Henrique aparecerá para lhe falar.
Amélie sentou-se, ainda tímida.
Henrique permaneceu discretamente no hall próximo à sala de jantar, observando enquanto Amélie comia, ela parecia faminta e aquilo apertou seu coração.
O contraste entre a menina cansada e suja que ele havia encontrado e a jovem agora limpa, com roupas simples, mas arrumadas, chamou sua atenção.
Ele não pôde deixar de notar a expressão dela: ainda tímida, ainda cautelosa, mas havia um leve alívio nos olhos, uma suavidade que antes estava escondida sob o cansaço e o medo.
— Ela parece… diferente — murmurou para si mesmo, quase sem perceber, os olhos acompanhando cada gesto delicado dela enquanto ela se alimentava.
Não era apenas admiração pela beleza dela, que ainda o impressionava, mas uma sensação de p******o e responsabilidade.
"Ela não é tão jovem, quase menina, não deveria ter passado por tanta humilhação ” pensou, mantendo a postura firme, mas a mente ocupada em garantir que Amélie se sentisse segura e acolhida.
Quando ela finalmente pareceu mais relaxada, ele se aproximou, mantendo um sorriso tranquilo e encorajador.
— Fico feliz que esteja confortável agora — disse, a voz baixa, quase íntima. — Podemos começar devagar, sem pressa.
Amélie ergueu os olhos, ainda hesitante, mas com uma ponta de confiança surgindo naquele olhar cauteloso.
— Obrigada… por… por tudo — disse, a voz quase um sussurro, os dedos ainda entrelaçados no guardanapo, nervosa, mas já menos assustada.
Henrique assentiu, percebendo que aquele momento era apenas o começo de uma longa jornada de confiança que precisariam construir juntos.
Ele se sentou à mesa, silencioso por alguns instantes, apenas observando-a, pronto para dar o próximo passo quando ela se sentisse segura o suficiente para conversar.