Capítulo 20. Falsa benevolência

598 Words
Na manhã seguinte, o sol ainda m*l havia rompido o horizonte quando Francesca Cavalcante já estava sentada à sua escrivaninha. O quarto era amplo, imponente, decorado com cortinas pesadas e móveis escuros. Sobre a mesa, repousava um maço de cartas seladas e uma pena mergulhada em tinta preta. Ela escrevia com calma, a caligrafia precisa e elegante.Cada palavra era um golpe silencioso, um fio a mais em sua teia de manipulação. "Às filhas do senhor Frederic Pérez," "Em reconhecimento aos serviços prestados por vosso pai à madeireira e à boa reputação que ainda conserva, a família Cavalcante deseja oferecer uma oportunidade de trabalho honesto e digno, como forma de quitar a dívida que vosso pai estende.Precisamos de uma jovem discreta e educada para atuar como dama de companhia em nossa casa, auxiliando nos cuidados domésticos e na organização de pequenos eventos.Aguardamos resposta o quanto antes."—Francesca di Cavalcante Depois, selou o envelope com o brasão da família e o entregou a um criado que aguardava na porta. — Leve isto à casa dos Pérez — ordenou. — Entregue diretamente à mais velha das filhas. Seja educado, mas não aceite recusa. Diga que é uma oferta de boa vontade… de minha parte. O criado assentiu e partiu imediatamente. Francesca recostou-se na poltrona e deixou escapar um pequeno suspiro.Seus olhos, porém, brilhavam frios como o vidro de uma taça. Logo em seguida, sua criada de confiança Lourdes entrou no quarto com um sorriso largo de quem já era acostuma as maldades de sua patroa. — Com licença senhora, está..radiante hoje Ela sorriu sem olhar para ela. — Estou fazendo as coisas seguirem conforme eu desejo, querida. — Isso tem a ver com o senhor seu filho, senhora ? Ela finalmente a fitou com um ar de desdém. — Meu filho está prestes a manchar o nome que construímos por gerações. Se ele não tem juízo, alguém precisa tê-lo por ele. Lourdes deu uma risada breve, seca, tão c***l quanto sua patroa. — E o que pretende fazer com a pobre moça? — Nada que o destino já não lhe preparasse, — respondeu Francesca, voltando o olhar para o papel. — Ela será útil à família. E, quem sabe, aprendendo a servir, compreenderá a distância entre uma casa nobre e uma cabana de madeira seca. Lourdes ficou em silêncio. Sabia que, quando Francesca tomava uma decisão ninguém ousava contradizê-la. Enquanto isso, no vilarejo, o mensageiro montado a cavalo se aproximava da casa dos Pérez.O sol dourava os campos e a poeira subia sob os cascos do animal. Teresa, a irmã mais velha, estava no quintal, estendendo roupas, quando viu o brasão prateado no envelope e o nome “Cavalcante” gravado na cera.Seu coração gelou. — O que eles querem agora? — murmurou, levando o envelope às mãos trêmulas. Lá dentro, Amélie ouviu a movimentação e saiu para o pátio, curiosa.Quando viu o símbolo da família que tanto a inquietava, sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. Teresa leu a carta em silêncio. Ao terminar, olhou para as irmãs com os olhos arregalados. — Eles… estão oferecendo um trabalho. Amélie franziu o cenho, desconfiada. — Um trabalho? Na casa dos Cavalcante? Teresa assentiu, mas a voz falhou: — Sim. Querem uma de nós como dama de companhia. As irmãs se entreolharam em um silêncio pesado, como se cada uma pensasse o mesmo isso não era uma oferta, era uma armadilha.E do outro lado da cidade, em seu quarto, Francesca sorria levemente, observando o jardim pela janela.O jogo havia começado e ela sabia que Amélie, cedo ou tarde, seria levada até ela.
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