Capítulo 7. As irmãs descobrem

634 Words
O caminho de volta para casa parecia mais longo do que nunca. Amélie andava com passos apressados, o vento frio levantando poeira e mexendo os fios curtos de seu cabelo castanho. O coração batia acelerado. A imagem daqueles homens a carruagem n***a, o olhar duro do pai, e o jovem de olhar penetrante ainda não saíra de sua mente. Quando ela empurrou a porta de madeira da casa, o cheiro familiar de pão e ervas a recebeu. As irmãs estavam reunidas na cozinha: Teresa, a mais velha, sovava massa sobre a mesa, Clara, costurava junto à janela, e Isabel, a terceira, remendava uma toalha. Todas levantaram os olhos ao vê-la entrar. — Amélie! — exclamou Teresa, enxugando as mãos no avental. — O que houve? Papá está bem? Você está pálida! Amélie fechou a porta atrás de si e respirou fundo. — Eu… eu fui levar o casaco dele. — A voz saiu trêmula. — Mas quando cheguei lá… havia homens com ele. Clara arregalou os olhos. — Homens? — Sim. Um deles… era o cobrador, acho. E o outro… o outro parecia importante. — Ela hesitou, buscando as palavras. — Chamaram-no de senhor Estefano Cavalcante. O silêncio que se fez foi quase palpável. Isabel deixou cair a agulha que segurava. — Você disse… Cavalcante? Amélie assentiu, inquieta. — Sim. Por quê? Vocês o conhecem? As três trocaram olhares aflitos. Teresa foi a primeira a reagir largou a massa e se aproximou, segurando os ombros da irmã. — Amélie, você precisa me dizer exatamente o que aconteceu. O que eles disseram ao papá? — Eles estavam… cobrando algo. Papá ficou nervoso. Disse que ia pagar, mas o homem o jovem falou que o tempo era o que custava mais caro… — Ela mordeu o lábio, tentando lembrar. — Depois, quando me viram, ficaram todos em silêncio. Isabel levantou-se, aflita. — Eu sabia… — murmurou. — Eu sabia que havia algo errado com o dinheiro que papá escondia! Teresa a olhou, severa. — Não tire conclusões ainda. — Mas é claro que é isso! — interrompeu Isabel, nervosa. — Os Cavalcante emprestam dinheiro a meio vilarejo, Teresa. E quem não paga… todos sabem o que acontece. — Chega! — a irmã mais velha ergueu a voz, cortando o pânico que começava a se espalhar. — Não vamos deixar o medo nos dominar. Virou-se para Amélie, mais calma. — Você falou com esse Estefano? A jovem hesitou, lembrando-se do olhar dele intenso, quase hipnótico. — Um pouco. Ele perguntou se eu era filha de papá. Só isso. Isabel cruzou os braços. — E como ele era? Amélie abaixou o olhar, sem saber explicar. — Parecia… diferente. Não como os outros. Não rude, mas… perigoso. — Um leve rubor subiu-lhe ao rosto, e ela rapidamente desviou o assunto. — Vocês acham que papá deve mesmo algo a eles? Teresa suspirou fundo e se sentou à mesa, passando a mão na testa. — Acho que sim. E temo que a dívida não seja pequena. Clara se aproximou da janela, olhando para o horizonte. — Se os Cavalcante já foram até ele, é porque o prazo acabou. E eles não têm piedade de ninguém, Teresa. A mais velha assentiu, os olhos marejados. — Precisamos pensar no que fazer. Não podemos deixar papá lidar sozinho com isso. Amélie, sentada agora à beira da mesa, sussurrou: — Ele parecia… cansado. Triste. Teresa olhou para ela, com ternura e preocupação misturadas. — Ele está se afogando, Amélie. E nós temos que encontrá-lo antes que seja tarde. O vento soprou pela janela aberta, trazendo o som distante de um sino. E, por um instante, todas ficaram em silêncio cada uma imaginando o que poderia acontecer se a família Cavalcante resolvesse cobrar o preço de uma dívida que o destino talvez já tivesse selado.
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