Prólogo 2

1020 Words
PASSADO *Jamaica* Jamaica tinha esperado muito por aquele dia. Era realmente difícil estar apaixonado pela melhor amiga e ter que esconder isso por... Quantos anos? Ele não conseguia definir exatamente quando se apaixonou por Elisa, mas foi em algum momento entre os filmes que assistiam juntos, as fofocas que compartilhavam, o jeito como ela sorria para ele e o modo como estava sempre ali... Viu só? Estava perdido por ela. Fazia tempo demais desejando elevar a amizade a outro nível, mas não podia se precipitar, a amizade de Elisa era a coisa mais valiosa que ele tinha na vida, não podia botar tudo a perder só por ser afobado. Como diziam no morro, ele tinha que dar um passo de cada vez, tinha que comer pelas beiradas. Vinha fazendo exatamente isso nos últimos meses: olhando para ela sem esconder a intensidade do que sentia, tocando-a alguns segundos a mais que o necessário, deixando escapar o quanto estava linda em cada oportunidade... Sinceramente? Esse jogo de provocações amigáveis entre os dois só vinha o deixando ainda mais louco por ela. E era por isso que não esperaria mais. A última coisa que buscou antes de finalmente se declarar, foi a aprovação do irmão dela. Eles se davam bem desde que entraram para o movimento, eram vapor no morro e não confiavam em ninguém, mas sabiam que podiam se apoiar um no outro. Como Lucas era irmão mais velho de Elisa e a defendia de tudo, Jamaica se sentia no dever de pedir um tipo de autorização antes de se declarar. Não que fosse desistir caso ele negasse o apoio, não mesmo. A única pessoa que poderia impedi-lo de ficar com Elisa, seria ela mesma. Não que achasse que isso fosse acontecer. Era impossível ignorar como ela vinha lhe olhando ultimamente, como as vezes se perdia enquanto olhava os olhos dele, ou quando ele sorria e o olhar dela se prendia nos seus lábios... Era nesses momentos que precisava de muita força de vontade para não mandar tudo para o alto e beija-la de uma vez. Ele queria fazer as coisas do jeito certo. Elisa merecia que as coisas fossem feitas do jeito certo. Ela merecia tudo. E agora ele daria tudo a ela. Finalmente teve uma conversa com Lucas sobre o assunto, aliás, foi até uma conversa engraçada, porque antes mesmo que dissesse o que queria, Lucas veio com a ideia dele cuidar de Elisa. Bom, Lucas não precisava nem pedir, ele sempre cuidaria dela, independente do que acontecesse. Suas mãos suavam quando viu Elisa se aproximar. Ela estava linda como sempre, os cabelos lisos e negros soltos sobre as costas, o corpo, cada dia mais bonito, envolto em um vestido verde e... Jamaica franziu as sobrancelhas, tinha alguma coisa errada com o olhar dela. — Tá tudo de boa? — perguntou quando ela o abraçou, afundando o rosto no seu peito — Lizzie? — Tudo ótimo — quando se afastou, havia um sorriso nos lábios dela. Elisa ficou nas pontas dos pés e estalou um beijo na sua bochecha — Você tá bem? Tem alguma novidade para me contar? O coração dele vibrava no peito. Tudo bem, aquela era a hora. Tentou manter a postura, mesmo que sua pele formigasse. Quando segurou as duas mãos dela, Elisa ergueu o olhar e, assim que viu o dele, arregalou os olhos. Será que ela sabia? — Lizzie, eu, hum... — merda, como era mesmo o discurso que ensaiou a semana toda para falar? Quer saber? Não importava, nunca precisou enfeitar as palavras com ela. Era só mandar a real — Eu gosto de você. Tipo, estou completamente apaixonado por você por muito tempo e queria saber se você quer namorar comigo. Silêncio. Ele até se perguntou se tinha mesmo dito em voz alta. Mas pela forma como as mãos dela ficaram geladas nas suas, imaginou que sim. — Lizzie? Essa é a parte que você diz que sim e que não sabia quanto tempo mais eu ia esperar antes de falar... — Não — o tom de voz dela, mais do que a palavra, fez o sorriso nos lábios dele se apagar. Ela soou fria, e o olhar parecia cheio de... nojo? Desprezo? Indignação? — O quê? — ele balbuciou, perdido, se dando conta de que não tinha imaginado uma hipótese onde ela reagiria daquele jeito estranho. E, sim, ele imaginou que podia ouvir um não, mas achou que ela o diria do mesmo jeito leve e descontraído de sempre, talvez até o zoasse... Lis meneou a cabeça. — Não quero namorar com você — ela hesitou, provavelmente vendo a dor no olhar dele. Aquele tom estava o matando — Desculpa, Tiago, é que, sabe, você é envolvido com o tráfico e eu nunca me envolveria com um traficante... — ela deu um passo para trás, soltando suas mãos — Eu sinto muito. Mas não havia um pingo de sentimento na voz dela. Elisa estava sob a fachada de garota durona que adorava usar. Ele conhecia bem aquela fachada, nunca a odiou tanto como naquele momento. Queria pedir a ela para parar com aquilo, para ser sincera. Para explicar porque estava lhe olhando como se fosse um desconhecido para quem ela precisava atuar. Ao invés de dizer qualquer uma dessas coisas, Jamaica assentiu, tentando se recuperar. Ele ainda registrava as palavras que os dois trocaram, quando ela murmurou que precisava dormir e simplesmente virou as costas e saiu. Ele achou que a dor que sentia no peito quando voltou para casa naquela noite, era a pior coisa que poderia sentir. Infelizmente, estava enganado. Semanas depois, quando descobriu que Elisa estava ficando com um outro vapor do morro, a dor se mostrou ainda mais aguda. As palavras “você é envolvido com o tráfico e eu nunca me envolveria com um traficante” ecoavam na sua mente sempre que a via com o cara, como se zombassem dele. Doía tanto que ele se convenceu que deixaria aquilo para trás. Ela não o queria? Beleza, ele podia viver com isso. Mas não seria tão fácil assim, Jamaica só não sabia disso ainda.
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