Fecho a porta do quarto devagar, como se tivesse medo de acordar a própria mansão. Coloco o porta-retrato dos meus pais sobre a escrivaninha o sorriso deles parece pequeno demais naquele quarto enorme, mas ao mesmo tempo me dá uma sensação de lar.
Depois começo a arrumar minhas roupas no guarda-roupa. Ele é tão grande que minhas coisas parecem perdidas lá dentro.
— Bem… vou ter que comprar roupas novas — murmuro para mim mesma enquanto penduro a última peça. — As minhas não combinam nem um pouco com o clima dessa cidade.
Decido ver o banheiro.
E quase grito.
No centro, há uma banheira de mármore preta, enorme, brilhando como obsidiana, com detalhes brancos que parecem veias. O chuveiro é elegante, alto, com metais antigos. No canto, o vaso. No outro, uma pia com torneiras prateadas… e um espelho gigante, que reflete cada detalhe da minha expressão surpresa.
— Meu Deus… parece que eu sou uma princesa.
Dou uma risadinha nervosa.
— Não viaja, Ravena. — Falo para o meu reflexo.
Ainda assim, o quarto, o banheiro, a casa inteira… dá a sensação de que estou dentro de um castelo sombrio.
E, claro, a primeira coisa que faço é pegar o celular e ligar para Luna.
Ela atende com a voz arrastada.
— Oi… Ravena?
— Oi, Luna! Já cheguei — digo empolgada… mas na mesma hora percebo. O tom dela. O silêncio ao fundo. A respiração pesada.
Ela estava dormindo.
Coloco a mão na testa.
— Desculpa, Luna. Eu não devia ter ligado… Esqueci completamente que você sempre desmaia depois de show.
Ela dá uma risadinha sonolenta.
— Tá… eu tô viva… só… morta de sono — ela resmunga. — Mas me conta, como é a mansão? Você já conheceu alguém? É assustadora? Parece m*l-assombrada? Eu quero detalhes.
Olho para o espelho novamente.
E sinto o frio do corredor na lembrança.
Sinto a voz de Nicolas ecoar na minha mente.
"A casa pode ser difícil para quem não está acostumado."
Respiro fundo.
— Luna… essa casa é enorme. Linda. Mas… sei lá. Tem alguma coisa nela. Algo que eu não consigo explicar.
Silêncio do outro lado.
Então Luna fala, a voz baixa, de brincadeira… mas com uma pontinha de verdade:
— Ravena… você tá com medo?
Eu olho para a porta do quarto.
E por um segundo… sinto como se algo estivesse me observando do corredor escuro.
Um arrepio sobe pela minha nuca.
— Talvez um pouco — admito, num fio de voz.
— Você pode voltar pra casa se estiver com medo, Ravena — Luna provoca, e eu consigo até imaginar o sorrisinho dela, mesmo sem vê-la.
Reviro os olhos, encarando meu reflexo no espelho do banheiro.
— Não mesmo. É só que… a cidade em si é muito misteriosa — admito, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. A luz amarelada do espelho deixa meu rosto ainda mais pálido.
— Também, com esse nome, né? “Vale das Sombras” — ela ri. — Mas e os moradores da mansão?
Dou um pequeno suspiro.
— Na verdade, ainda não. Só conheci o mais velho… o Nicolas.
— Aaaah — Luna alonga a vogal com malícia. — E? Ele é bonito?
Olho para o espelho de novo e sinto até meu estômago dar um pequeno salto. A imagem dele — cabelos pretos longos, olhos intensos, postura séria — volta inteira na minha mente.
— Luna… ele é lindo — confesso, rindo baixinho. — Sério. Bonito de um jeito… diferente. Ele parece alguém que não pertence a esse século. Ou a este mundo.
— Ihhhh, lascou. — Ela gargalha. — E os irmãos Ravencroft? Se forem todos assim, você tá ferrada, amiga.
— Não sei como eles são — respondo, mordendo o lábio sem perceber. — Mas se forem como o Nicolas… eu vou acabar me apaixonando.
Digo brincando, mas meu rosto esquenta de verdade.
Luna não perde tempo.
— Que sortuda! — ela praticamente grita. — Você vai morar numa mansão gótica com três irmãos bonitos, ricos, misteriosos e provavelmente m*l-humorados. Ravena, isso é um livro. Sua vida virou um livro!
Dou uma risada curta, mas meu coração acelera de novo — pela memória de Nicolas e pelo frio que percorre o corredor do lado de fora do meu quarto.
— Tomara que seja um livro romântico — digo, tentando parecer leve.