capítulo 6 o homem melancólico

647 Words
Na cidade de Vale das Sombras. — Tudo bem… agora que todos nós já sabem da novidade, vou para o meu quarto Peter diz, se levantando com aquele jeito calmo demais que sempre parece esconder algo prestes a quebrar. Ele sobe as escadas em silêncio. Sempre silencioso demais. Poucos minutos depois, a casa inteira é preenchida por uma melodia triste, lenta… como se o próprio piano estivesse chorando através das mãos dele. Eu suspiro. — Sabe, Nicolas… Draco começa, jogado no sofá, girando uma maçã na mão como quem gira problemas na cabeça — nosso irmão devia sair mais. Ou arrumar uma garota. Ou alguém pra divertir ele, sei lá. Ele é muito sozinho. Eu cruzo os braços, ouvindo a música descer pelas paredes da mansão como névoa. — Não é só solidão respondo. — Peter é… complicado. Draco ri, um riso curto, sem humor. — Complicado? Ele é simplesmente sombrio. Olha pra música dele, Nicolas. Tudo é triste. Tudo é… pesado. Parece que ele carrega o mundo nas costas. Eu não respondo de imediato. Porque Draco tem razão. Peter sempre foi o mais quieto entre nós, o que sente mais fundo, o que se prende mais ao que não quer lembrar. E no fundo… todos sabemos o porquê. Draco continua: — Ele não aceita o que somos. Ele nunca aceitou. Acha que pode fingir, esconder, sei lá… ser “normal” tocando piano com a quela tristeza toda. Eu olho para o teto, onde a melodia se arrasta como se pedisse ajuda. — Peter nunca lidou bem com nossa natureza. Ele tenta controlar… mas isso só torna tudo mais sufocante pra ele. Draco dá de ombros. — Então ele devia achar um jeito de soltar um pouco dessa carga. Uma garota ajudaria. Alguém que tirasse ele daquela caverna emocional. — Você fala como se fosse simples murmuro. — Mas pra Peter… nada é simples. Draco joga a maçã para cima e pega de volta. — Bom… com a nova babá chegando, a casa vai ficar mais interessante. Quem sabe ela não dá um choque de vida nesse nosso vampiro melancólico? Eu olho para ele com reprovação. — Draco… — O quê? ele sorri malicioso. — Só estou dizendo a verdade. A gente sabe como ele fica quando algo ou alguém mexe com ele. No quarto de Peter. Eu deixo os dedos descansarem sobre as teclas do piano, a melodia interrompida por um suspiro pesado. — Não sei por que o Nicolas contratou outra babá… murmuro para mim mesmo. — Se ela não corre do Laila, o Draco vai fazer ela correr. Eu me levanto devagar e caminho até a janela, apoiando as mãos no parapeito frio. A lua cheia ilumina a escuridão da noite, refletindo no lago distante. A mansão fica afastada da cidade, cercada por uma floresta que usamos para caçadas… um mundo à parte do resto das pessoas. O vento entra pela janela, frio, carregando o cheiro da madeira e da terra úmida. Fecho os olhos por um instante, sentindo a solidão me envolver. — Acho que fiz a escolha errada quando deixei o Victor me morder… sussurro, a lembrança queimando como ferro em brasa dentro de mim. Volto a tocar. Cada nota escapa como um sussurro da minha alma, pesada e cortante. Sinto cada parte dessa música pulsar dentro de mim, porque eu a criei quando vi meu amor nos braços do meu próprio irmão. O piano chora junto comigo, cada acorde carregado de dor, ciúme e arrependimento. A melodia não é apenas som; é lembrança, é acusação silenciosa, é tudo que não consigo dizer em palavras. Olho para a lua pela janela, tentando me perder no reflexo frio dela, mas não há escapatória. A música é minha confissão, e a noite, minha cúmplice. E eu continuo tocando, mesmo sabendo que cada nota me aproxima mais do que jamais poderei esquecer… ou perdoar.
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