Ela mudou.
E essa mudança era mais perigosa do que qualquer ameaça externa. No dia seguinte ao confronto em meu escritório, a confiança tênue que eu estava construindo com ela se desfez em cinzas. Eu não compreendia o porquê.
Aurora estava distante, quieta. Seus olhos, que antes me liam com uma inteligência voraz, agora me evitavam como se eu fosse o sol e ela, um ser da noite.
Não havia mais o desafio, apenas um silêncio perturbador que ecoava pelos corredores da minha mente.
Estava cansado. De início, tudo o que eu queria era manter a distância. Mas agora, é como o incomodo que se instalou em mim quase me sufocasse.
Sentei em meu escritório bravo e na mesma medida tudo o que eu mais queria era esconder a inquietação que surgia dentro de mim.
Pedi a um de meus homens que fossem chamá-la. Queria testá-la.
Quando Aurora passou pela porta, seu semblante foi a primeira coisa a chegar até mim.
— Cansada? — a questiono.
— Com dor de cabeça — responde seco.
— Peça remédio a um dos homens, Tenho certeza de que eles terão o que precisa.
— Vou me lembrar disso.
Irritado resolvi jogar uma pergunta casual sobre um dos arquivos que ela havia revisado, querendo ver a faísca de inteligência que tanto me intrigava.
— O que encontrou sobre a transação da Carga Seis? — deixei que as palavras saíssem enquanto me servi de uma dose de uísque. Observando-a por cima da borda do meu copo de uísque.
Aurora respirou fundo e desconfio que se eu não tivesse prestando atenção o suficiente, eu não teria visto a mudança que passou em seu semblante.
Suas palavras em resposta saíram perfeita, citando datas e valores, mas sua voz era monótona, sem vida.
— Estava tudo em ordem, Senhor Valente. Assinado e arquivado."
— E a sua intuição, Aurora? — insisti, sentindo a frustração subir. — Você não sentiu nada? Nenhuma mentira por trás dos números?
Ela me encarou por um breve segundo, o olhar opaco.
— Minha intuição estava ocupada com a tarefa. Nada além dos números.
A frieza dela me irritou profundamente.
— Eu a te tirei da rua, a ofereci um mundo que nunca teria. Te expus minha única vulnerabilidade. Está é a sua gratidão?
— Quer ouvir um, obrigada, da minha parte?
Eu a peguei me analisando. Cada movimento, cada palavra e isso me enfureceu.
Eu não sou um homem que se preocupa; sou um homem que controla. Mas ela se tornou uma anomalia em minha vida, um problema que eu não conseguia resolver.
O que ela estava escondendo? O que ela sabia que a fazia agir como um fantasma em minha própria casa?
— Está dispensada — respondo sem paciência.
— Como quiser — sua resposta seca, fria e quase m*l educada me fez questionar se eu não deveria dar um fim em tudo isso.
Tenho experiencia de mais para saber que qualquer ameaça deve ser eliminada o quanto antes.
Talvez Aurora, com a sua forma de analisar as pessoas, mas sem deixar que elas a vejam seja o meu perigo. Um perigo que eu mesmo trouxe para dentro de casa.
Tomo todo o liquido do meu copo e fecho os olhos. Controlando o que sinto.
Algum tempo passa até que resolvo seguir para cozinha.
Não que eu esteja com fome, mas a cozinha é o lugar onde consigo distrair minha mente.
Estou passando pela porta quando eu a vejo. Parada em frente a geladeira tirando um garrafa de água dali.
Aurora me olha sobre os ombros, me encarando.
Ela parecia um pássaro preso em uma gaiola de ouro.
Olhei sobre a mesa da cozinha. A comida já tinha sido preparada e coloca-la ali para o caso de eu querer algo.
Aurora fechou a porta da geladeira com mais força do que o necessário. Sem pedir licença se sentou a mesa.
A porcelana fina, as roupas caras que eu a mandei comprar, a comida gourmet que meu chef preparava – parecia que ela não se importava com nada. Ela não estava feliz.
Sigue a dispensa e peguei uma garrafa de vinho e duas taças.
Ela podia me irritar, mas ainda era um mistério do qual eu queria decifrar.
Percebi que mesmo com alguma variedades em sua frente., ela m*l tocou na comida, levava um pedaço pequeno de pão a boca e mastigava como se estivesse passando m*l. O silêncio estava me sufocando.
E minha paciência se esgotada.
— O que está acontecendo? — perguntei, mantendo a voz calma, mas com uma ameaça subentendida que só ela seria capaz de captar.
Ela cruzou os braços, a postura defensiva.
— Não há nada acontecendo, Senhor Valente. Estou apenas... focada no meu trabalho.
Eu me levantei, inclinando-me sobre a mesa.
— Não minta para mim. Seus olhos são mais transparentes que o vidro. Você não está focada no trabalho. Você está tramando. Você está mudando de ideia sobre nosso acordo?
Seus olhos se arregalaram por um segundo, e o medo que eu vi ali não era de mim, mas de ser descoberta. Isso confirmou minhas suspeitas. Ela havia encontrado algo.
— Eu não mudaria de ideia sobre nada que envolva a minha vida — ela respondeu, a voz forçada e firme.
— Ótimo — eu disse, voltando à minha cadeira — Porque a sua vida, neste momento, me pertence. E se você descobriu algo que ameaça a mim, você ameaça a si mesma. Fui claro, Aurora?
Ela confirmou com a cabeça, mas eu não acreditei. Pela primeira vez na vida, eu não conseguia ler a pessoa à minha frente.
E a incerteza me enchia de uma fúria silenciosa que eu m*l conseguia conter. Eu teria que recorrer a métodos que não gostava: rastreamento e vigilância. Aurora tinha se tornado um alvo, e o pior de tudo, o alvo estava sob o meu teto.