Segura

961 Words
Aurora O acompanhei enquanto ele se desencostava do batente e começa a caminhar em minha direção. Como quem não tem medo do perigo, peguei um prato, coloquei o lanche que acabei de fazer em cima dele e o coloquei ao meu lado, fazendo sinal de que aquele seria dele. Ele não usava terno, apenas calças de moletom escuras e uma camiseta justa, que expunha os músculos tensos do seu corpo. O corte em sua testa havia sido limpo, mas a cicatriz vermelha era um lembrete do que ele havia arriscado por mim. Em seus olhos não havia frieza. — Você não deveria estar aqui –- me disse as mesmas palavras de quando chegou. Se acomodando no banco ao meu lado, o vi puxar o prato para si e depois de pegar o lanche, deu a primeira mordida. Eu não deveria ficar encarando seu lábios. Nem seu corpo, mas estava difícil não fazer. — É você quem não deveria estar aqui — falo abrindo um pequeno sorriso. — Deveria estar deitado, descanso. Seu corte está vermelho. Deve estar com dor. É, eu me importava. — Eu sou o dono desta casa. Posso estar onde eu bem entender. E mesmo com a pancada e no corte na cabeça, me lembro muito bem de avisar que não gosto de pessoas na minha cozinha. Talvez, se fosse em outros tempos, eu fraquejaria com seu comentário. Mas diferente de outras vezes, ele não parece estar bravo. — Você me trouxe de voltar. Me dei a liberdade de estar onde bem entendo. Estou onde você me colocou — o desafio. Estou descobrindo que é divertido fazer isso. Largando o lanche no prato o sentir se aproximar. Eu estava montando meu próprio lanche quando me senti invadida. Perto. Perto o bastante para me fazer engolir seco. Parando a poucos centímetros de mim, a intensidade do seu olhar me fez prender a respiração. — Você acha que depois do que aconteceu naquele beco, eu conseguiria dormir? Você é o caos na minha vida, Aurora. E eu tenho que te manter perto para te controlar. — Você me chama de caos, quando na verdade, você é o caos, Lorenzo! Você construiu sua vida sobre os escombros da minha família, e agora vem aqui exigir ordem? — talvez estejamos tomando o rumo perigoso. Mas não é bem isso que estamos fazendo desde o primeiro dia. Empurrei seu peito com uma das, queria voltar a manter uma distância segura. Foi em vão. Ele agarrou meus pulsos e me puxou contra si, a força do seu corpo aniquilando a minha resistência. — Você não sabe do que está falando. — Por que não explica? O que foi? Vai querer me dizer que não tem culpa de nada? — Sabe o que é engraçado? Mais cedo, enquanto se jogava em cima de mim, você não estava me culpando. — Você também me beijou — acuso. — Eu te beijei porque eu te odiei por ter me deixado exposto — ele rosnou, a voz profunda e grave. — Eu te beijei porque você me fez perder o controle. Você sabe o que é perder o controle, Aurora? É o inferno. — Bom então estamos quites. — Como assim? — Parece que é a raiva que nos guia afinal — digo firme. Ainda segurando meu pulso, sou puxado, de uma só vez. Lorenzo consegue fazer com que nossos corpos se grudem. Sei que ele pode sentir o tremor que me invade, aos poucos, centímetro por centímetro. Meus olhos se fixam em seus lábios. Sei que ele faz o mesmo. Não sei explicar e nem dizer quem foi que tomou a iniciativa. A questão é que agora seus lábios cobrem os meus. Forte, sem paciência e ao mesmo tempo dizendo mais do que somos capazes em palavras. Estávamos entrando em uma guerra. Em uma guerra só nossa. Sua boca dominou a minha, e eu me senti ceder, tudo em mim gritava para me afastar, na mesma medida em que tudo gritava por mais. O ressentimento e o desejo se misturaram, criando uma atração insana. Rendida, eu me agarrei à sua camisa, meus dedos apertando o tecido, tentando empurrá-lo e puxá-lo ao mesmo tempo. Eu senti a mesma urgência selvagem que ele. Era a prova de que o sentimento que ele negava também me estava destruindo. — Você é minha — rosnou entre o beijo. Fui empurrada, meu corpo só parou quando minhas costas se chocaram contra a parede da cozinha. Seus dedos, agora em minha coxa me fizeram tremer. Empurrei seu corpo, me lembrando de onde estamos. Ele se afastou, ofegante, a testa encostada na minha. A respiração dele era tão irregular quanto a minha. — Você é minha, Aurora — sussurrou as mesmas palavras. Eu não respondi. Apenas o empurrei com uma força renovada e me afastei. Eu havia permitido o beijo, mas não permitiria a submissão. Ele me observou, o olhar predador voltando. Ele sabia que havia ganhado a batalha daquela noite. — Vou para o meu quarto — sussurro. — Disse que estava com fome — sorri. — Perdi — as palavras saem mais insolentes do que eu pretendia. — Amanhã, você vai trabalhar no escritório. Você será minha sombra — diz se afastando, me dando espaço para que eu possa me mexer — Mas não se engane. Você pode me odiar pelo que meu nome fez, mas você me pertence, Aurora. E eu nunca mais vou te largar. Era como uma sentença fria. Lhe dei as costas e sai da cozinha pela mesma porta que entrei. Ele havia me levado de volta, me beijado com paixão e me reafirmado como sua posse. E, para meu horror, uma parte de mim sentia-se estranhamente segura por ter um demônio tão poderoso a me proteger.
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