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Morte
E aí, rapaziada. Como vocês sabem, eu me chamo Jorge, mas agora o meu vulgo é Morte. Eu estou com 26 anos e já faz mó cota que eu assumi o Dona Marta. E como eu digo por aqui: essa vida não é fácil. Entrar é fácil, mas sair é f**a. Eu cresci admirando o amor que o meu pai sentia pela minha mãe e falei pra mim mesmo que, quando eu crescesse, eu queria algo igual. E eu achei a Sofia. Era tudo que eu procurava em uma mulher: bonita, inteligente, independente e que me amava do jeitinho que eu era. Mas como eu sempre falo, a vida não é um morango. Pelo contrário, essa p***a é um abacaxi: a gente descasca da forma que dá e, quando vai comer, tá azedo pra c*****o.
Eu me lembro como se fosse ontem. Os cu azul subiram o morro atrás de mim, e o bagulho tava ficando doido. Mas a gente tava ganhando. Eles começaram a recuar, e foi aí que o meu vapor veio gritando:
— Chefe! Chefe! A patroa tá dando à luz! O teu moleque vai nascer!
Sabe aquele momento que te bate um desespero? Foi isso que aconteceu comigo. Eu coloquei a mão na cabeça e saí correndo pra minha casa. Na hora eu nem pensei. Abri o cobre pra tirar a Sofia de lá, e foi aí que a surpresa veio: o meu vapor jogou a pistola na minha cara e só aí eu percebi que aquele bagulho era uma armadilha.
Morte: Qual foi, Sabão? Tá de s*******m com a minha cara? Que p***a de brincadeira de mau gosto é essa? Tu falou que minha mulher tava dando à luz e agora tá jogando a arma na minha cara? Qual foi? Tá traindo quem te estendeu a mão na tua pior?
Sabão: Foi m*l, chefe. Mas o Santana me ofereceu uma grana muito boa pra entregar a tua cabeça e a cabeça da tua mina. Minha coroa está precisando de uma operação. Eu não tô podendo dar mole, não. E nessa vida de traficante eu não vou conseguir essa grana nunca. Então, papo reto: passa a arma pra mim, senão eu vou meter uma bala no meio da cara da Sofia.
Encarei ele durante alguns segundos, desacreditado. Depois encarei a Sofia, que começou a chorar.
Morte: Fica calma, amor. Tá tudo bem.
O Sabão pegou o rádio e falou alguma coisa com o Santana do outro lado. Foi aí que, no reflexo, eu peguei meu celular no bolso e consegui ligar pro meu pai. Eu não falei nada, tá ligado? Mas dava pra ele ouvir tudo que tava acontecendo. Depois de alguns minutos, o Santana entrou na minha casa. Ele me olhou e deu um sorriso diabólico.
Santana: É, vagabundo. Eu falei que não ia dar pra tu se esconder pra sempre, né? Uma hora ou outra o rato tem que sair do esgoto onde tá se escondendo. Tua hora chegou, Morte. E agora eu vou acabar com a tua vida.
Quando ele falou isso, entraram vários policiais na minha casa. E papo reto, eu comecei a olhar de um lado pro outro sem ver saída. O que tava acontecendo ali?
Morte: Eu me rendo, mano. Mas deixa a minha mina sair daqui. Ela está grávida.
Santana: Hahaha! Você acha que eu vou ter alguma compaixão dessa vagabunda? Marmita de bandido? Ela vai morrer juntinho contigo.
Quando ele falou isso, eu me descontrolei. Fui pra cima dele e saímos na porrada. O bagulho começou a ficar doido e foi aí que eu ouvi os primeiros tiros. Meu pai tinha entrado com os vapores e uma confusão começou a se formar. Se eu pudesse falar qualquer coisa... eu escutei o disparo e escutei o grito da Sofia.
Na hora, meu mundo parou. Eu não queria saber de mais nada. Fui na direção dela, pedindo pra ela ficar acordada, mesmo com a bala comendo ao redor. E foi aí que eu tomei o primeiro tiro vindo do Santana.
Ele se aproximou pra dar o segundo, mas eu fui mais rápido e atirei nele de volta. O tiro pegou no braço dele. Foi aí que ele mandou os homens começarem a recuar. Meu pai começou a meter bala neles, e foi aí que o segundo tiro me atingiu nas costas. Eu caí do lado da Sofia, mas mesmo assim eu continuei implorando pra ela ficar acordada. As lágrimas começaram a cair do meu rosto de maneira instantânea, tá ligado?
Coringa: Calma, calma! Nós vamos levar vocês pro hospital. Os vapores estão fazendo eles descerem!
O caminho até o hospital foi f**a. Eu tava com muita dor e cuspindo sangue, mas eu não conseguia tirar os olhos da Sofia. Ela já estava desmaiada e eu tava chorando pra c*****o. Fomos de entrada e aí eu apaguei.
Quando eu acordei no dia seguinte, eu vi minha coroa sentada do meu lado. Eu comecei a gritar pelo nome da Sofia, e foi aí que a minha mãe se aproximou. Eu percebi que os olhos dela estavam inchados. Ela colocou a mão no meu ombro e falou:
Bruna: Eu sinto muito, Jorge... Mas a Sofia não sobreviveu.
Morte: Não! Não me diz que isso é mentira, p***a! Ela não pode ter me deixado aqui, c*****o! Ela não pode ter me deixado aqui! — eu falei chorando, e a minha mãe me abraçou.
Bruna: Você precisa se acalmar. Eu sei que é difícil, mas você precisa ficar bem... por causa do filho de vocês.
Morte: O bebê sobreviveu? — eu perguntei entre soluços.
Bruna: Sim, ele sobreviveu. Ele está no berçário.
Morte: Mãe, me diz que essa p***a é um pesadelo e que eu vou acordar.
Bruna: Infelizmente eu não posso, meu amor. Mas vai ficar tudo bem. Nós vamos dar um jeito, eu prometo.
Meu mundo acabou naquele dia. E algo dentro de mim morreu junto com a Sofia. Quando eu saí do hospital, eu entrei na casa do Sabão e matei toda a família dele. Que se f**a que eles eram inocentes. Depois eu cacei ele até achar. E matei também. Dez meses se passaram e eu nunca mais consegui me relacionar com nenhuma mulher. Nunca mais me apaixonei por ninguém. E nem quero. Com a ajuda da minha família, eu estou criando meu moleque. E assim eu sigo, tá ligado? O bagulho aqui no Dona Marta é doido. Ninguém entra e nem sai sem ser revistado. f**a-se que essa p***a é morro que vem turista. Eu já avisei os vapores que eu quero atividade total. E qualquer vacilo aqui gera morte. E ninguém quer perder o pescoço.
Mas é aquilo, né? Mesmo no meio de uma ditadura, sempre surge um vacilão. E dessa vez estão entregando as minhas cargas pra polícia. Eu ainda não descobri quem é o p*u no cu, mas quando eu pegar... ele vai implorar pela morte.