Maria Clara
Não demorou muito pra gente chegar em Angra. Por volta das três da tarde já estávamos aqui. O Iago correu tanto na estrada que eu nem vi as horas passarem, mesmo com a paradinha rápida que a gente fez pra almoçar.
Quando ele entrou no estacionamento do hotel, fiquei encarando a janela, totalmente distraída, com aquele friozinho estranho subindo pelo estômago. Era como se minha mente tivesse acordado de repente: meu Deus, o que eu tô fazendo aqui?
Eu, que sempre vivi na linha, sem uma aventura pra contar história, agora tô aqui em Angra com um cara que eu m*l conheço.
De todas as minhas zero loucuras da vida, essa é, oficialmente, a primeira.
— Vai ficar aí? — perguntou, quando abriu a porta do carro pra mim.
Balancei a cabeça, sorrindo sem jeito, e saí. Joguei a mochila nas costas tentando parecer tranquila, mas minhas pernas estavam bambas.
Ele estendeu a mão, quase num reflexo.
— Deixa que eu levo pra tu.
De início, neguei com um aceno rápido. Mas logo lembrei do meu pai. Ele sempre carrega as coisas da minha mãe, até as mais leves, só pra mostrar cuidado. Sempre admirei isso nele. Suspirei, rendida, e entreguei a alça da mochila.
Iago pegou sem esforço, jogou nas costas e ainda puxou a mala pequena de rodinhas que era dele. O contraste dele. O jeito bruto, as tatuagens, aquela expressão fechada, com o simples gesto de carregar minhas coisas me deixou mais nervosa ainda.
Seguimos juntos até o lobby.
E a, cada passo que eu dava eu só conseguia pensar: no que é que eu tô me metendo?
Fomos até a recepcionista e ele falou o seu nome, seco, objetivo, como sempre.
— Um quarto de casal, suíte? — a moça de sorriso largo e batom nude, perguntou.
— Não. — cortei de imediato, tão nervosa que até gaguejei um pouco.
A recepcionista riu baixinho.
Com certeza percebeu meu desespero.
— Dois quartos. Um pra ele e outro pra mim. — completei, sentindo o olhar dele em mim.
Não disse nada, só me encarou de lado. Depois pegou as chaves sem discutir. Os quartos eram de frente um pro outro.
Entramos no elevador e eu permaneci de cabeça baixa o tempo inteiro, como se o piso fosse mais interessante que tudo. Mas a verdade é que eu não sabia como reagir. Ele não parava de me olhar, como se estivesse me medindo o tempo todo. O ar ali dentro ficou tão denso que quase me faltava oxigênio.
Assim que a porta se abriu, disparei pra fora, aliviada, com o coração batendo como louco.
No corredor, ele passou o cartão na porta do quarto. A luz verde piscou, e a maçaneta girou revelando um paraíso: uma suíte enorme, cama larga, lençóis tão brancos que até doíam os olhos, luz suave, cada detalhe pensado pra ser perfeito. No banheiro, uma banheira de hidromassagem que mais parecia uma piscina.
— Os quartos são iguais. Se tu quiser ficar nesse ou no outro… — ele disse do meio do quarto.
Não respondi. Me atraía mais a vista da varanda. Caminhei até lá, deslizei a porta de vidro e deixei a maresia me envolver. A varanda se abria inteira pro mar. Aquele azul infinito se encontrando com o céu, as ilhas espalhadas pelo horizonte e os barcos ancorados balançando de leve.
Encostei na mureta, abri os braços e respirei fundo, como se pudesse engolir o mundo inteiro de uma vez. Agradeci em silêncio por estar ali, viva, com saúde, depois de tudo.
Pra mim que sempre vivi dentro da linha, sem grandes aventuras, agora estava diante da primeira da minha vida
Nem percebi quando ele veio. Só senti a sua presença. Quando abri os olhos, ele estava encostado também, do meu lado olhando o mar. O vento forte bagunçava meu cabelo, e havia um sorriso pequeno — quase imperceptível — nos lábios dele. Mas suficiente pra me deixar confusa.
Ele sorriu?
Tentei ajeitar os fios que batiam na minha boca, atrapalhados pelo vento. Então a mão dele tocou meu rosto, afastando delicadamente cada mecha que escondia minha pele. O calor da mão dele contrastou com a brisa fria e fez minha piscada sair mais lenta, demorada.
Meu coração parecia uma escola de samba, ensaiando só pra mim.
Nunca tinha estado num quarto sozinha com um homem que não fosse meu pai. Minha pele ardia, minhas bochechas queimavam, e eu sabia que estava vermelha.
— Alguém já te falou que você fica linda assim? — ele perguntou, a voz grave, o olhar em chamas.
— Assim como? — murmurei, olhando pra ele sem entender, mas já tremendo.
Ele retirou a mão, deu dois passos em minha direção. O espaço entre nós diminuiu tanto que o ar pareceu fugir.
— Tímida. Sem jeito. — os olhos dele desceram pra minha boca, lentos, perigosos. — É bom saber que eu tenho esse poder sobre o seu corpo.
Fiquei sem ar.
Era como se ele tivesse arrancado o fôlego de dentro de mim.
O Iago caminhou mais, até estar a um palmo de mim. Uma mão pousou firme na minha cintura. O corpo dele, quente, se inclinou até o meu pescoço. Fechei os olhos, apertando-os. O cheiro dele me invadiu, misturado ao perfume da maresia, e foi como se todo o meu corpo pegasse fogo ao mesmo tempo.
Quando abri os olhos, os dele estavam grudados nos meus, tão perto que parecia impossível não me perder ali. Eles me chamavam, me pediam, me prendiam.
Ele se aproximou dos meus lábios devagar. Eu estava pronta, rendida, conformada. Mas, em vez disso, ele desviou e depositou um beijo demorado no sinal que eu tenho no rosto. Tão demorado que parecia uma marca, como se quisesse gravar o toque dele na minha pele.
— Daqui a pouco eu venho te buscar. Quero te levar num lugar. — falou contra minha pele, e a voz dele ecoou dentro de mim.
Assenti com a cabeça, mas nem consegui soltar uma palavra sequer. Minhas pernas não respondiam. Eu estava mole.
Ele se afastou devagar, mas sem desviar os olhos dos meus. Caminhou até a cama, deixou minha mochila lá e foi até a porta. Ainda me encarava quando saiu.
Eu fiquei parada, sem força, encostada na mureta de vidro, com a sensação de que todo o quarto tinha sido tomado por ele.
Meu Deus… que homem é esse?
Iago
Assim que entrei no quarto, larguei a mala no canto e respirei fundo. Tava doido de vontade de acender um. Abri o zíper, catei a caixinha onde guardo meus becks, sentei na beira da cama e risquei o isqueiro.
Dei a primeira tragada, segurei a fumaça, olhei a vista pela janela do quarto e deixei o pulmão queimar até soltar devagar. O mar lá embaixo parecia calmo, mas minha cabeça não.
A parada é que essa mina… é até maneirinha, passa esse ar de santinha, meio bobinha e ingênua. E tá caidinha por mim sem eu nem ter encostado nela ainda. Só que meu bagulho é outro. Não tenho paciência pra ficar brincando de romance, delicadeza, essas p***a. Minha vida não é essa vibe.
Ela nem é o tipo de mulher que eu curto.
Tô começando a me arrepender de ter trazido ela pra cá. Só de imaginar que, no primeiro beijinho que eu der, vai colar em mim igual chiclete, me enchendo de gracinha, já sinto a preguiça bater.
Sem contar que a mina é a cara daquela assombração.
Quer saber? Vou dar um rolé rápido com ela, só pra cumprir tabela, depois meto o pé pro com ela pro Rio. Se pá, ainda colo na Rafaela mais tarde. Pelo menos lá o bagulho é certo.
Apaguei o baseado no cinzeiro e fui direto pro banho. Deixei a água cair e depois me joguei na cama nu. Sempre curti dormir assim.
Apaguei.
Quando abri os olhos já era sete da noite. Passei a mão no rosto e levantei meio zonzo. Catei uma calça bege, camisa preta da Lacoste, tênis e joguei uma corrente no pescoço. Nos dedos os anel que eu curto usar e passei o perfume no cangote. Escovei os dentes, ajeitei o cabelo com a palma molhada e saí.
Bati na porta dela e fiquei de braço cruzado esperando. Demorou uns dois minutos até abrir.
— Vamo lá. — soltei, encarando.
Ela apareceu de pijama, cabelo preso pra cima.
— Podia ter avisado, eu nem me arrumei ainda. — disse, indo correndo até a mochila.
— Não precisa se arrumar muito, não. — rebati, entrando e fechando a porta.
— Eu quero. — devolveu séria, mas sorrindo, enquanto separava as roupas. — Não gosto de sair de qualquer jeito.
Fiquei na porta, acompanhando os movimentos dela, até eu ir pra varanda. Vi pelo vidro quando ela entrou no banheiro. Aproveitei, puxei o celular do bolso, abri o w******p e comecei a responder as minas lá do morro. Duas, três conversas ao mesmo tempo. Depois mandei uma mensagem pra Rafaela avisando que mais tarde eu ia brotar lá.
O toque do celular dela me cortou. Virei, vi o aparelho vibrando em cima da cama e peguei. A mão fechou na hora quando o nome do PM apareceu na tela.
Nem sei porque eu fiquei puto! Mas fiquei.
Ouvi a porta abrindo e joguei o telefone em cima da cama. Fingindo que não vi nada.
Ela saiu do banheiro já vestida, cabelo molhado, toalha numa mão secando, a outra segurando a frente do vestido salmão, batendo nas coxas e cheio de florzinha branca.
— Você pode fechar pra mim? — pediu, virando de costas, mostrando o fecho que começava lá embaixo e ia até o meio das costas.
Dei um passo, encostei na cintura dela e puxei ela pra mim. Segurando o zíper devagar. O cabelo molhado grudava no ombro dela, escorrendo água pela pele lisa cheia de pintinhas clara. Meu olho desceu até o fim do tecido e a mente gritou pra fazer o contrário: abrir tudo.
Aproximar foi automático. O corpo chegou antes da consciência. Minha boca quase encostando no ombro dela, e a p***a da ereção veio na hora, sem eu controlar. O cheiro da pele dela bateu, diferente de qualquer mina que já trombei, e foi como tomar um choque de 220 percorrendo o meu corpo todo.
Prendi a respiração, sentindo a proximidade, a energia dela batendo na minha. Um bagulho que eu não esperava. O instinto era puxar mais, colar, morder a pele. Mas travei. Porque o plano é outro.
Ela virou o rosto, me pegando no flagra.
— Conseguiu? — perguntou, olhando por cima do ombro.
Afastei rápido e cocei a nuca.
— Não levo jeito pra esses bagulho não. Resolve tu aí. — falei, seco.
Ela se virou pra mim sem entender e eu já fui até a porta.
— Quando tu arrumar, bate lá. — soltei e saí, sem olhar pra trás.
No corredor, passei a mão no rosto e murmurei um xingamento baixo.