Capítulo 34

2704 Words
Eduardo Galdeia Passei o restante da manhã trancado no escritório e a tarde peguei o celular discando o numero do Roberto. Rolei a caneta uma, duas vezes entre os dedos esperando a ligação ser completada. — Roberto, é o Eduardo Galdeia. Tá podendo falar? — Tô sim, meu amigo. O que aconteceu? Apoiei o cotovelo na mesa, a mão espremendo a testa. — Cara, aconteceu uma situação gravíssima. Ontem à noite minha filha foi sequestrada e levada pelos criminosos do morro onde o Terror domina. Voltou pra casa machucada, chorando e em estado de choque. A gente já sabe que quem tá no comando lá dentro é o filho dele, o Iago. Mas com certeza o velho também tem o dedo nessa p***a. Essa p***a foi a mando dele. Ouvi ele respirar fundo do outro lado. — Impressionante como a cada dia esses criminosos se sentem mais à vontade pra agir. Endireitei na cadeira, girei a caneta na mão. — Esse cara não era nem pra tá solto. — Um cara desse tem que morrer na cadeia. — Pois é, aí eu protocolei hoje cedo o requerimento no Ministério Público pedindo investigação. Mas tô te ligando como amigo porque eu não posso esperar. Eu preciso de segurança pra minha família, Claudio. Eu preciso de garantia de que esse moleque vai ser preso. Ele, o pai, a mãe, todos. Eles não podem continuar circulando como se fossem gente de bem. — Vamos agir, Eduardo. Vou acionar o comando da Polícia Civil e o BOPE ainda hoje. Amanhã cedo, antes do sol nascer, a operação começa. Vou mandar reforço pra sua casa também. Respirei fundo, ajeitei os óculos no rosto. — É isso que eu precisava ouvir. Amanhã cedo eu quero notícia. — Vai ter. Pode contar comigo. Já vou acionar o delegado pra expedimos o pedido de prisão. — Obrigado, Roberto. — larguei a caneta sobre a mesa e encostei na cadeira, sentindo a madeira da cadeira ranger no movimento. Desliguei. Abri a gaveta, puxei um charuto, cortei a ponta e acendi. Traguei devagar, soltando a fumaça enquanto olhava pro teto. O que mais me deixava puto era saber que esse vagabundo tinha entrado dentro da minha casa, sentado na minha mesa e ainda teve a audácia de encostar na minha filha. Como é que eu não vi essa p***a? Como é que eu deixei esse marginal me fazer de trouxa? Esse pilantra se infiltrou na minha familia, com aquele papo manso de que tinha salvado a Maria Clara. Puta que pariu! Eu devia ter percebido essa p***a, devia ter sacado antes quem aquele moleque era. O celular vibrou de novo na mesa, peguei e vi que era outro número conhecido. — Eduardo, acabei de falar com o Claudio. Ele me contou o que aconteceu com a sua filha. Sinto muito, meu amigo. Segurei firme o charuto entre os dedos. — Pois é. Ela voltou machucada, traumatizada. Tá em casa, mas você sabe… não tem como ficar bem depois de passar por isso. — A gente vai subir lá nesse morro. Vamos achar esse sujeito. Passei a mão no rosto. — Você já sabe o que é pra fazer. Do outro lado, a resposta veio curta: — Pode deixar comigo. — Obrigado Encerrei a chamada, larguei o celular de lado e fiquei só encarando a fumaça. Iago Horas atrás — antes da Maria Clara descer do morro. Acordei com a Maria deitada no meu braço, a perna dela jogada por cima da minha, cabelo espalhado no travesseiro e descendo pro meu peito. Rosto colado em mim, respiração mansa, perfume dela entrando no meu nariz e batendo direto na mente. Fiquei quietão. Nem me mexi direito. Só observando a cena, ela toda encaixadinha em mim e eu viajando nesse corre. É estranho pra c*****o ter uma mulher na minha cama, acordando comigo de manhã. Nunca deixei isso rolar antes. Sempre foi meter e tchau, cada um no seu canto. Dá pra contar nos dedos as mina que já passaram nessa casa. No máximo umas três e quando passaram, foi no quarto do pecado. No meu quarto, mulher nenhuma nunca pisou. Só ela. O lance com a Maria é diferente, visão. Meu corpo parece que sossega quando ela tá comigo. Um bagulho bom pra c*****o. Passei a mão nos cabelos dela, prendi de leve na nuca. A safada se enroscou mais ainda e eu fechei os olhos curtindo o pouco de paz que essa mina me dá. Só de imaginar que ela vai acordar e ir embora… já me deixa maluco. Vontade de prender ela aqui no morro e não deixar ela ir embora nunca mais. Fico pensando como vai ser quando ela sacar de quem eu sou filho e do porque eu só me aproximei dela. Certeza que ela se manda e nunca mais volta. Soltei o ar passando a mão na cara. É complicado ficar pensando nessa p***a porque antes de mim e dela tem o meu pai, a minha mãe e o pai dela. Complicado pra c*****o! Fechei os olhos, puxei o cheiro dela fundo, deixei entrar até a alma e decidi levantar. Levantei devagar, desenrosquei meu braço debaixo dela e ajeitei o lençol cobrindo o seu corpo pequeno. Fui de pé em pé e encostei a porta do quarto. Na cozinha, botei a chaleira no fogo pra poder passar um café. Peguei o celular, sete da manhã já piscando na tela, mensagem atrás de mensagem. Mandei o papo pro WL que hoje de manhã eu não ia botar a cara na boca, f**a-se quem reclamasse. Vou ficar em casa de boa com ela. Entrei na conversa com a minha coroa. Quero apresentar ela pra Maria, ver a reação da dona Manuela, porque sei que vai ser cena. Mensagem Tá onde? — digito. Saindo pra academia — ela responde na hora. Dá um pulo aqui em casa comigo antes. — digito Claro, meu filho. Mas tá acontecendo alguma coisa? Não. Só quero te apresentar uma pessoa. Te busco aí. — digito e fim de papo. Larguei o celular na mesa e desligo o fogão sem nem esperar a água ferver. Fui direto pro banho, joguei uma água rápida, vesti uma bermuda e parti com uma camisa jogada no ombro e um boné. Vou deixar ela dormindo e rapidão tô de volta. Entrei no carro, baixei os vidros e botei um som baixo. Já tô até vendo a cara da minha mãe quando eu chegar com ela lá, viado. Vai ficar toda animada. Era o sonho dela eu apresentar uma mina direita pra ela. Encostei na porta da casa dos meus coroa, e lá tava a dona Manuela, de conjunto de academia, cabelo preso. Ela já veio sorrindo. Destravei o carro e ela entrou. — Até fiquei com medo de perguntar... quem é essa pessoa que você quer me apresentar? — ela mandou rindo. Eu dei aquele sorriso curto, sem graça, ajeitei a mão no volante. — Medo por quê, c*****o? — Porque você nunca trouxe ninguém pra mim conhecer, Iago. Do nada aparece com uma menina... Você tá namorando, é isso? — Não, mãe, não tô namorando. Mas é uma menina que eu tô ficando. Especial. Queria que tu conhecesse. Certeza que tu vai curtir ela. — Só não vem me apresentar p**a, Iago! — respondeu na lata. Comecei a rir. Minha mãe era direta até na hora de me meter pressão. — Ela não é p**a não, pô. É mina de família. Ela suavizou e deu um sorrisinho de canto. — Menina de família? Deus obrigada por ter ouvido minhas súplicas — falou erguendo as mãos pra cima e nos dois rimos. — Vou parar na padaria rapidinho pra comprar um bagulho pra comer, lá em casa não tem p***a nenhuma. Estacionei, desci da nave, peguei pão, umas paradas que mulher curte. Iorgute, presunto, mussarela e até suco. Só que a fila tava do c*****o, perdi tempo pra p***a. Voltei pro carro voado. Minha coroa falava toda animada, mas eu só tava com a mente nela. Encostei na porta de casa e vi o portão meio aberto. Estranhei. Joguei as sacolas na mesa e chamei ela. — Maria? — chamei alto. Casa vazia. Meu coração já começou a bater descompassado. Minha mãe me olhou séria sentada no sofá. — Será que ela foi embora? — Ela não sabe andar por aqui. — puxei o celular, entrando nas câmeras. E vi ela saindo de casa. — c*****o… ela meteu o pé assim que eu sai — soltei sem acreditar no que via. — Então vai atrás dela, Iago. Onde ela mora? — Não mora no morro, não… é da pista. — já peguei a chave da moto, pilhado. — Então corre atrás dela, antes que ela se perca. — minha coroa levantou, saindo de casa comigo. — Vai lá, meu filho. Puxei o radim, passei o papo pros cria. Que confirmaram que ela tava descendo o morro. Subi na moto e fiz um gesto pra minha mãe. — Sobe aí que te deixo na academia. Ela negou. — Vai te atrasar. Vai atrás da garota. Só assenti, acelerei e virei a esquina voando. Desci olhando cada beco e meu celular vibra. Olho a tela e ê meu pai. Recusei. Mais uma, mais duas. Na quarta atendi, puto, pilotando com uma mão. — Fala, que foi? — soltei. — Onde tu tá, Iago? — voz alta dele. — Tô por aqui no morro. — Tá atrás da filha do promotor? — meu coração quase saltou pela boca. Ele sabe dela. Como esse filha da p**a sabe? — Tô. — Então deixa essa mina ir embora e cola aqui na boca agora. Quero falar contigo. — Depois eu colo. — Tu que sabe… tem um menor no rastro dela, é só eu mandar que os cria vão… — Cala a boca p***a! — corto na lata, voz rispida, mão suada na embreagem e olhos varrendo cada esquina. — Eu tô brotando aí, mas não encosta nela. — Tô na tua sala, Iago. — ele solta firme. Caralho… sangue do meu sangue jogando contra mim. Viro a moto puto e subo pra boca. Tento ligar pra ela, mas a p***a só chama, ela não atende. Entro na boca, abro a porta da minha sala e já vejo geral. Meu pai na minha cadeira, RD e o WL encostado na parede. Os três me olham na hora que entro. — Vou te dar o papo reto — aponto o dedo, sem pestanejar — tu não vai nunca mais querer me botar na coleira. Essa p***a eu não aceito de ninguém, ainda mais de tu. Tu tem minha moral, tem minha lealdade, mas não tem o controle da minha vida. — Abaixa esse dedo e regula esse tom comigo — ele levanta da cadeira devagar. — Quer ser tratado diferente? Então se comporta como sujeito homem, c*****o. Não como um o****o que fica deslumbrado com b****a. — O o****o aqui foi quem segurou essa p***a inteira enquanto tu tava fodido atrás das grades — rebato, explodindo por dentro. — Tava preso porque comprei a ideia de uma criança mimada — ele rosna, as veias do pescoço saltando — E não caio mais nessa.. O que essa mina tava fazendo aqui dentro do meu morro? — RESPONDE, c*****o! — ele vem pra cima de mim, me empurra e eu bato as costas na parede com força.. RD cola no meio, abre os braços, empurra nós dois. — Calma, Terror.— gritou, encarando ele. — Não segura ele não, RD — WL solta. — Deixa ele falar, quem sabe o Iago se liga nos bagulho. Meu pai me encara com os olhos fechados de raiva. — Fala! Tu tem noção de quem tu botou aqui dentro, c*****o? — Tenho — respondo sem baixar a cabeça. — A parada sempre foi o pai dela. Não sei porque tu tá pesando na da mina. — Tá vendo, RD? — ele aponta, indignado. — Eu que tô pesando na da mina — ri, se afastando. RD me olha e n**a balançando a cabeça. — Eu te falei o quê, Iago? Era só chegar na mina pra arrancar informação, não pra meter a mina na tua cama. Agora tem até vídeo da mina rodando por aí. Imagina se essa b****a cai na mão do pai dela, tu tá fudido, e nós vai junto. — Que vídeo, p***a? — pergunto, sem entender nada. — Ah, não tá sabendo, né? — fala debochando, puxa o celular e estende pra mim. — Olha aí a merda que tu me arrumou.— meu pai solta e eu pego o celular da não dele. O vídeo tá tremido, mas dá pra ver a confusão que rolou no baile. Em segundos um flash dela aparece ajoelhada perto do moleque no chão. Logo depois a câmera pega minha cara e a da p*****a da Rafaela. — O que tem demais nessa p***a?— devolvo o celular, e ele começa a andar de um lado pro outro, rindo nervoso. — O que tem demais, Iago? — ele aponta o dedo, gritando na minha direção. — Tu acha que o promotor vai curtir essa p***a? Ele vai usar isso pra te engolir e pra mim engolir. Tu tá jogando meu plano no lixo por causa de b****a. — ELA NÃO FOI COMIGO. — explodo, a voz estourando. — EU NEM SABIA QUE ELA IA TA NAQUELA p***a. — Então por que caralhos tu aparece do lado dela? — RD me pergunta. — Tá cego, p***a? Eu tava tirando a Rafaela dali. — Tirou uma e trouxe a outra pro nosso morro — o cuzão do WL soltou seu veneno. Eu avanço nele de cara fechada e o RD mete o braço no meu peito de novo. — Tu é um cuzão! — aponto o dedo na cara dele, o sangue latejando na têmpora. — Sou cuzão não, irmão. — rebate, tentando soar calmo. — Tô é preocupado contigo e com o morro. — Meu ovo que tu tá preocupado comigo. — rio sem humor. — Tu tá é se fazendo seu arrombado. Meu olhar volta pro meu pai. — Quem te mandou essa merda? WL ergue a mão e eu encaro ele. — Fui eu, irmão. Dou mais um passo e o RD segura no meu braço. WL mantém o queixo erguido, mas o medo transparece nos olhos dele. — Então é isso? — digo baixo, o olhar nele. — Depois ainda vem meter essa de amizade. Tu é um traíra, arrombado... o****o fodido. — Tu tá errado de trazer essa mina pra cá — ele solta. — Então porque não chegou em mim e passou a tua visão? Tu queria é me queimar pro meu pai seu o****o. — Que te queimar, viado. Tu tá se perdendo, irmão. Se o pai dela descobre que ela pisou aqui, nós tá fudido. — Tu é um porco! — rebato, gesticulando. — Por isso eu digo que não tenho amigo e não tenho mermo. — Fiz pensando em tu. — Meu p*u que tu pensou em mim — rio com deboche. — Ele fez o certo! Não vou deixar tu f***r o morro inteiro por causa de p*****a nenhuma! — meu pai solta alto. — NÃO FALA ASSIM DELA! — grito. — TU NEM CONHECE A MINA PRA DIZER ESSA p***a. — Não preciso conhecer e nem quero — ele corta. — Pois devia querer. Porque ela não tem nada a ver com as paradas do pai dela. — f**a-se, Iago. f**a-se. Eu não quero essa mina aqui dentro. Se ela pisar no meu morro, mando os menor sentar o dedo nela. Eu balanço a cabeça, puto de raiva e ele se joga de volta na cadeira. — E outra coisa. Tu tá fora da gerência do morro. Respiro fundo, o sangue fervendo. — Eu posso até ter vacilado botando ela aqui dentro — falo encarando os três de frente, peito aberto — mas se errei, o erro é meu. Não devo p***a nenhuma pra nenhum de vocês.. Meus olhos passam por cada um devagar. — E sobre o morro.. faz o que tu quiser — viro as costas e saio batendo a porta com força.
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